— Não fiquem com medo, não vão levar bronca. Podem se sentar — o psicólogo Torry indica os lugares mostrando um sorriso.
Jack olha desconfiado para ele, mas só decide se sentar quando eu me sento. A sala tem uma decoração bem minimalista construída em cima do cinza e do branco. Possui alguns vasos com plantas verde-escuras pelas mesas, quadros de diplomas e fotos de pássaros em preto e branco.
— Soube que vocês estão tendo um relacionamento homoafetivo — o psicólogo sorri.
— Foi o merda do seu professor — Jack diz em alto e bom som.
— Mas a culpa foi sua — retruco.
— Enfim, não importa quem é o culpado. Fico feliz por vocês dois — ele pega duas pastas e as abre. Coloca os óculos, lê por alguns segundos e depois coloca os óculos de volta na parte de cima da cabeça. — Ambos têm transtornos psicológicos. Angus tem bipolaridade tipo 2 e você, Jack, TDAH. Os dois tomam os remédios corretamente?
— Eu tomo. Você sabe que Kira me dá todos os dias.
— Sim, ela anota no calendário e me entrega — Torry se volta para mim. — E você, Angus?
— Eu tomo de vez em quando, não acho tão necessário — olho para o teto já imaginando o que iria dizer.
— Angus, o seu é preocupante igualmente. É preciso que você tome diariamente.
— Eu tento, mas não consigo. Os remédios me deixam muito cansado. Só sinto vontade de dormir e… — dou três batidas na cabeça com o dedo — aqui não funciona direito, parece que estou em sono profundo.
— Mas isso é no começo, eu já tinha te dito como funcionava os remédios, Angus.
Confirmo. Olho rapidamente para Jack que está observando o chão e apenas balançando a cabeça com cada frase do Torry.
— Eu quero que você, Jack — ele diz apontando —, insista para o Angus tomar os remédios. Ok?
— Está bem.
Cruzo os braços, sabia que estava errado então não podia questionar ou discutir.
— Como tinha dito, ambos têm transtornos e vou precisar que vocês venham frequentemente no consultório. Certo?
— Não vai atrapalhar porque não temos nada além de ter dado um beijo — respondo.
— Temos sim. Iremos vim — Jack me observa com a sobrancelha erguida.
— Temos não.
— Temos sim. Quando devemos vim?
O psicólogo passeia com os olhos por nós até dar outro sorriso divertido.
— Quando acharem que estão prontos. Só não esqueçam de tomar os remédios.
Saímos da consultoria para o corredor. Jack com as mãos dentro dos bolsos e com um olhar ligeiramente pensativo.
— Nos vemos hoje à noite?
Penso em responder não ou dar uma desculpa, uma desculpa do tipo: ah, não vai dá, tenho dever.
— Preciso te contar o que Alice me contou ontem à noite.
— Por que não me conta agora?!
— Tenho aula agora, desculpe — o primeiro corredor que chegamos é o qual Jack entra. — Me encontra no banheiro do refeitório às 8 da noite. Um pouco mais cedo.
Antes de ir de vez, primeiramente ele para, volta alguns passos e me dá um beijo no canto da boca.
— Até de noite — Jack se despede.
A segunda aula é de educação física. Estou tão animado que fui me arrastando do vestiário até a quadra como se fosse um saco de lixo.
Encontro Heather sentada no topo da arquibancada com um cobertor envolta dos ombros enquanto bebe uma garrafa de gatorade.
Vou subindo as escadas ao tempo que ela balança a cabeça em negativo para alguma pessoa que não está na arquibancada.
— Romy me deu uma advertência por eu chegar atrasada, mesmo eu dizendo para ela que estava menstruada e por isso me atrasei — Heather tira o cabelo da boca, bebe um gole de gatorade, faz gargarejo e depois cospe em um canto entre os bancos.
— Ela é muito vaca.
— Sim, cara! — ela tira a bolsa de cima do banco, disponibilizando um lugar para eu sentar. — Mas adivinha? Eltery chegou bem mais atrasado que eu com a desculpa de “oh, Romy, eu acabei dormindo muito. Foi mal aí.” E ela simplesmente falou “tudo bem” e mandou ele para o vestiário.
— Ele é o líder do time de baseball, o que espera?
— Igualdade, mas essa puta não sabe o que é sororidade. Acredita que peguei ela falando com uma professora que eu precisava emagrecer?! — Heather se mexe completamente irritada no banco. — Eu queria não ter mais aula com ela. Eu odeio ela!
Dou um sorriso e coloco o dedo em sua bochecha como costumava fazer quando éramos crianças. Heather tenta segurar o riso, mas não consegue.
— Sai, Angus — ela dá um tapinha no meu dedo enquanto continua rindo.
— Vamos dar um jeito nela. Fazer cartinhas a chamando de sapo pelos olhos esbugalhados ou a chamando de lésbica não assumida que assedia as garotas.
— Boa ideia, mas quero que ela seja demitida e nunca mais consiga ser professora — Heather segue Romy com os olhos até a professora começar a se aproximar da arquibancada.
— Vocês estão com dispensa médica? Se não tem dispensa, podem vir para a quadra — ela demanda se posicionando aos pés da escadaria da arquibancada.
Heather revira os olhos e se levanta. Descemos juntos até a quadra e, quando chegamos, Romy fica nos rodeando com os braços para trás como se fosse um general.
— Não quero mais ver nenhum dos dois sentados enquanto o resto da turma faz exercícios. Entendeu? Não sabem o que fazer? Pergunta que arranjo rapidamente algo para vocês — os cabelos cacheados de Romy ficam balançando de um lado para o outro no rabo de cavalo. Se eu não prestasse muita atenção poderia realmente levar uma chicotada.
— Sim, entendemos — Heather revira os olhos outra vez e faz bico.
— Ok, Wesler vai ajudar os meninos do baseball carregando os tacos e Reezer vai dar cinco voltas pela quadra. Tudo bem?
— Não — Heather diz. — Vou voltar a ficar sentada na arquibancada.
— Você já pode ir, Wesler — Romy mexe a cabeça indicando a saída da quadra. — Eu consigo me resolver com a Reezer.
Todos os meninos estão agrupados em um banco único e extenso bebendo gatorade ao tempo que terminam de se vestir para começar a jogar.
Pego três tacos e dou para os garotos que estão nos últimos lugares do banco. Ouço algumas piadas bem típicas enquanto passo por eles, mas apenas dou um sorriso para não pensarem que conseguiram me afetar.
Entrego mais alguns tacos até começar a chegar nos primeiros lugares do banco, onde se encontram os garotos mais importantes do time. “As celebridades”.
— Já percebeu o tamanho dos peito da Romy? — um desses garotos comentam entre eles mesmos. Ambos estão de costas para mim, olhando para o campo enquanto esperam Eltery.
— Foder ela seria como foder um cavalo. Olha o tamanho dela, parece um clydesdale — o garoto da direita diz e o da esquerda ri.
— Foder um clydesdale. Aposto que seu pau não entra nem em um pombo quanto mais um cavalo clydesdale.
Observo a conversa completamente enjoado, se estivesse com coragem com certeza diria para eles calarem a boca.
— Olha a Heather ali — um deles diz.
Entrego o taco restante justamente para o Eltery, que é o último a chegar. Olho pelo campo procurando por Heather até vê-la no uniforme de baseball vindo na nossa direção.
— Que inferno a Romy fez com você? — Eltery questiona.
— Sou do time agora, fiz um acordo com ela. Me dê um taco, Angus.
Não consigo ter reação até que ela pede novamente o taco.
— E desde quando garotas podem jogar? — um dos nojentos pergunta.
— Desde de agora — Heather passa a língua pelos lábios e estende a mão.
— Ah… bem — coço a nuca. — Acabou os tacos.
— Não tem problema, ela usa o meu — Eltery entrega para ela. — Pode ir.— Obrigada, Eltery Mário. Prepare-se que vou tirar a sua liderança — Heather dá um sorrisinho e uma piscada para mim antes de correr para o centro do campo.— Até que Heather é bonitinha de rosto, só precisa emagrecer — um dos fimosentos retorna a falar.
Chego mais perto, cutuco o ombro dele e o espero se virar. — Se continuar batendo punheta para animais vai continuar com fimose.
— Como? — ele pisca duas vezes os olhos.
— É o que você ouviu — abro um sorriso e os garotos ao redor começam a gargalhar.
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Apalpando firmemente meu pau, sua mão inicia movimentos delicados e rígidos. Seus olhos escuros estão brilhando. São intensos e perversos, com resquícios tímidos. Resquícios que eu já experienciei por completo.
Agarro com força o braço da poltrona, contorcendo-me enquanto mordo os lábios. Angus olha para mim e volta a levar a boca até a minha glande.
De momento, ele passa a língua como provocação, e, em seguida, sem tirar os olhos dos meus, ele desliza a língua por todo o lado direito do meu pau. Faz o mesmo movimento com o lado esquerdo, descendo e subindo com a língua. Mas logo envolve meus testículos com as mãos e engole todo o pau.
“An…” murmuro.
Angus acaba se engasgando, porém, volta a abocanhar. Sua boca cobre quase todo o membro, similarmente como sua saliva escorre por toda minha virilha. Tento sutilmente me movimentar em sua boca, com o esforço de erguer as nádegas da poltrona e entrar mais fundo em sua garganta, mas ele começa a subir com os lábios para fora do meu pau. No entanto, acabo conseguindo segurar sua cabeça com as mãos e o forço a não deixar de engolir, porém, Angus acaba se engasgando outra vez, então sou obrigado a liberá-lo.
Seus olhos estão vermelhos e a saliva escorre pelo canto dos lábios. Eu não paro de suspirar pesadamente e de sentir um alívio por estar sentado e não se roendo de dor. E uma das melhores coisas é ver Angus abaixo de mim com a boca molhada e observando meu pau com desejo.
“Você não é virgem, estou certo?” desfaço o silêncio.
“Acertou, professor” desdenha, passando a língua ao redor dos lábios e voltando a me chupar carinhosamente.
Teve momentos que Jack acariciava meu rosto com a mão sempre que eu chegava na sala. Isso com certeza é uma das coisas mais estranhas que ele já fez. E tinha também vezes que sussurrava idiotices perversas no meu ouvido. Bem, não eram apenas “idiotices perversas”, pois em alguns momentos soavam bem reais. No dia, ele tava enchendo meu saco para eu fazer uma pose para poder me desenhar. Neguei até onde consegui, mas acabei cedendo no terceiro pedido. Me sentei na pia do banheiro com os braços para trás, os pés separados e balançando no ar. Jack se agachou com o seu caderninho e o colocou apoiado em cima do joelho. Era noite já, as luzes do banheiro estavam apagadas e a única iluminação era a do poste do lado de fora. Uma luz que atravessava as janelas deixando meu corpo listrado de laranja e escuro. “Tiraria o uniforme para mim?” Jack perguntou com um sorrisinho. Não levantou os olhos do caderninho, deslizava o lápis cuidadosamente tentando deixar tudo perfeito. “E você, m
— Tá atrasado — Jack diz antes de abrir a porta. — Só dois minutos — entro assim que abre. Jack b**e à porta e dá um grande sorriso. — Me beija?— Estou sem tempo e bem enjoado depois do que vi.— Pensei que não vinha mais, por que demorou?.Meus joelhos ainda estão doendo, não o respondo e ando no sentido da pia para aliviá-los com água. Ligo a torneira, começando a esfregar cada um dos joelhos enquanto ouço Jack falar um monte de coisas sexuais sobre a minha demora. “Sim, Jack, eu estava chupando Hector, por isso estou com os joelhos doendo.” Mais fácil dizer isso para ele do que contar que descobri como Eltery se tornou líder do time de baseball. É incrível como Eltery chupando a professora de educação física consegue tantos privilégios, enquanto eu tirando todo o leite de Hector não consigo nem um “+” nas provas de literatura. Bem, ele pode não me dar notas altas, mas pelo menos me traz comidas de fora do internato e roupas. Às vezes me traz a bíblia também, junto vem uma
Misturei tanto remédio com o Ice Wine que o açúcar inseparável da bebida ficou com gosto amargo. Quase de xixi misturado com analgésicos. Viro outro gole para acabar de uma vez com essa porcaria que tinha feito.A casa está uma verdadeira paz desde o dia que tinha arrumado o barulho insuportável do aquecedor, mas por outro lado, o silêncio me causava ainda mais traumas. O simples pulo do gato do chão para a bancada já me deixava em alerta por vários minutos ou a voz dos vizinhos da casa ao lado, mesmo que bem baixa, conseguia me aterrorizar.Despejo o resto da bebida no ralo da cozinha, como o último pedaço de queijo e dou o último alimento do dia para o gato. Aproveito para varrer o carpete da cozinha e passar um pano no balcão. Não muito tarde começo a trancar todas as janelas e portas da casa. Mesmo morando no bairro mais seguro da cidade e a cidade não tendo mais que catorze mil habitantes, jamais conseguiria me sentir seguro.Pego o livro de cima da poltrona do quarto e me dirijo
Retorno ao dormitório e acabo encontrando Feller acordado. Ele está na nossa mesinha perto da janela, iluminado pelo abajur enquanto escreve alguma coisa.— Onde estava? — questiona ele, sem se virar para olhar.— Estava com Jack — respondo enquanto tiro os sapatos e deixo próximo a porta. — Você não vivia dizendo que não gostava dele?— Bem… — olho para o teto —, talvez ele não seja tão ruim — é sim. Guardo a escova e a pasta dentro da gaveta e me dirijo para a cama. — Tão ruim? Heather falou que ele vive em cima de você — a cabeleira loira de Feller balança quando se vira.— É, ele fica. Mas ele só tá tentando amizade.— Certeza?— Aham… não é da sua conta.— Idiota.Solto um risinho e ele volta a fazer o que estava fazendo. Deito-me na cama, puxando o edredom até o pescoço e cobrindo em seguida o rosto. Enquanto tento dormir, penso se Hector acredita na mentira de que eu e Jack somos apenas amigos. Ele sabe que beijei Jack algumas vezes, mas poderia inventar que somos apenas am
— De novo atrasado, Angus? — indaga Hector, no momento que entro na sala. Ele solta a caneta em cima dos papéis e ergue-se da cadeira. Todo mundo está me encarando e, alguns poucos, fingem estar com a atenção na lousa, mas com certeza estão esperando ansiosos pela minha advertência.— Desculpa — digo. Hector vem caminhando na minha direção. Seus cabelos ruivos estão em cachos perfeitos, ele transpira um perfume agoniantemente provocante e as sardas nas bochechas estão ainda mais nítidas que antes. Sua face está assustadora, ou eu estou assustado demais?Maldito Jack, se não tivesse ficado conversando com ele na escadaria não estaria acontecendo isso.— Continuem fazendo as atividades, vou falar com o sr. Wesler e volto em breve — declara e coloca a mão no meu ombro, guiando-me para fora da sala. Quando fecha a porta, continua a me mover, mas dessa vez pelo corredor até entrarmos em uma das salas de aula desocupadas. Ele não deveria me levar para a diretoria? Sinto um ligeiro arrepio n
Na quarta-feira desisti de três aulas para ensinar sobre coesão textual para Jack no refeitório, após ele insistir muito e me trancar no meu próprio dormitório. A sorte que tive foi que, se ajudasse no reforço dele e de outros alunos em Literatura, minhas faltas seriam descontadas. E qual o melhor jeito disso acontecer não sendo ajudando o garoto que é motivo das minhas faltas? Acabei aceitando já que não tinha muito o que perder. No entanto, Jack, pelo contrário, tinha bem mais o que perder.A redação que Jack está se preparando é sobre o livro The Handmaid's Tale, que será na quinta-feira, e ele quase não sabe escrever algo decente. Quer dizer… Jack não sabe escrever quase nada decente. Provavelmente deveria ter faltado quase todas as aulas do primário. Ele consegue escrever mais erros ortográficos em um texto com a mesma frequência que fala porcarias. — Bem… a coesão, para ser mais fácil de você entender, são frases e palavras que ligam o texto para torná-lo coerente. Quase semelha
Na cama desde sexta-feira com tosse, nariz escorrendo e dor de cabeça. Durante esses dias fiquei pensando em planos e diversas ideias para mim e para Angus se não houvesse Hector no caminho. Provavelmente teríamos uma bela casa à beira do lago com varanda e balanço, além de um carro Toyota RAV4, igual o da minha mãe, e um ótimo emprego.Será que conseguimos entrar em uma boa faculdade ou pelo menos em alguma? Se não, eu trabalharia o dobro para pagar os estudos de Angus e futuramente pagarei os meus. Pensando assim, não parece tão difícil a vida fora daqui. Nos finais de semana sairemos para lugares que sempre tive vontade de ir e lugares que não vou desde criança. Como esquiar na neve, ir ao Tim Hortons, ir aos museus, comer no shopping, entre outras coisas. Kira acompanharia a gente em qualquer lugar, disso eu sei. Não consigo imaginar uma realidade que não tenha ela me corrigindo. Na verdade, não consigo imaginar uma realidade que não tenha ela, nem Angus e nem Walter. É tão estran
A quadra não tem cobertura, até porque não tem sol para isso. Heather está congelando e se esfregando em mim como se fosse uma cachorra sardenta. Romy tinha nos obrigado a correr dez vezes em volta da quadra e fazer no mínimo cinco flexões. Hoje ela está empolgada, mesmo com o inverno chegando. Na verdade, o inverno nunca foi um real problema para Romy nos escravizar.— Eltery está olhando de novo para a gente — Heather comenta se jogando no banco da arquibancada. — Eu realmente não sei o que esse imigrante tá olhando.— Heather! Isso é xenofobia.— Hoje em dia tudo é xenofobia. Se ficassem no país deles não ficariam ofendidos — ela cruza os braços e começa a encarar Eltery, que percebe e volta a correr. — Agora parou de olhar — diz e puxa a garrafa de água da lateral da bolsa.—