A boca de Jack tem gosto de suco de laranja, pão com queijo e talvez gelatina de limão? Ou tem gosto de suco de limão, pão com laranja e gelatina de queijo?
— Me solte! — demando. Aos poucos vou me livrando das mãos dele com certa dificuldade..
Antes de me libertar por completo, Jack me dá um selinho no queixo. Sinto as gotas de suor escorrendo pela testa, as limpo com o braço e me elevo alguns degraus.
— Então, como a gente fica? — pergunta, também subindo alguns degraus.
— Não existe "a gente". Ficamos como antes, de preferência, você sentado em outro lugar na aula de artes.
— Você tá brincando? Acabamos de nos beijar, cara.
— Não. Você me beijou e me forçou ainda. Não vai rolar nada entre a gente — meu peito para de transpirar e finalmente volto a subir as escadas. Jack se apressa e vem ficar ombro a ombro comigo.
— Você cuspiu em mim. Eca — ele passa as costas da mão no rosto e depois j**a a saliva para longe.
— Você lambeu, por que está com nojo agora?
— Cala a boca!
Seguimos pelos andares seguintes apenas ouvindo o som das falações nas salas ao redor. Quando chegamos no quinto, ele puxa minha mão e me faz parar.
— Me encontra hoje à noite?
— Não.
Ainda sorrindo, continua: — Me encontra no banheiro do refeitório, às 10h00 horas?
— Não, e pra quê?
— Para eu te ver, ué.
— Mas eu não quero te ver.
— Mas eu quero, imbecil — por fim, aproxima-se com os lábios enquanto as íris estão cintilantes.
Para!
A questão agora não é o beijo, a questão agora é como vou resolver essa bagunça? Ele não pode achar que estamos juntos, porque não estamos. Ou estamos? Não. Eu não deixei isso claro. Ou deixei? Sim, eu deixei quando o beijei. Mas por que eu o beijei? Porque não tinha muita escolha. Na verdade, eu tinha. Não tinha. Quer dizer, esse não é o problema. O real problema é: por que o beijo pareceu bom? Não devia ter sido, era para ter sido decepcionante e irritante. De um jeito nojento que quisesse vomitar. Será que o beijo foi bom mesmo ou eu que estou querendo me aproveitar para foder Jack?
Não caia nessa loucura. Ele é um idiota que, há algumas semanas, estava te agarrando no intervalo e te chamando de putinha. Putinha! Como? Ok, acho que estou convencido.
— Você me chamava de putinha — digo, afastando-me repentinamente e subindo um degrau desajeitado.
— Eu era um idiota — diz, também subindo um degrau.
— Era? Ou continua sendo? Ou só está mudando por conta de ter me forçado a te beijar?
— É… talvez sim.
— Você é nojento — elevo-me por mais outros degraus.
— Não pareceu com nojo quando me beijou lá embaixo — com movimentos astutos, ele fica apenas meio metro de distância de mim.
— Estamos atrasados para a aula — desvio o rosto para o lado.
— Estamos, mas para isso temos a recomposição de aula — ele vira o meu rosto e consegue roubar um beijo. Não deveria deixar. É… talvez Heather esteja certa.
— Wesler e Tanner?
A voz grossa e autoritária faz Jack afastar os lábios o mais rápido que consegue. Viro-me para o topo da escada e me deparo com os olhos azuis de Hector. Maravilha.
— Oi, professor — Jack diz seguido de um aceno. Cara de pau.
— Vocês não deviam estar na aula agora? — ele coloca as mãos no bolso enquanto me encara como se quisesse me quebrar em vários pedaços.
— Sim, tenho uma aula agora de ciências humanas — respondo olhando para os degraus.
— É de literatura — ele corrige.
— Isso — confirmo.
— E por quê não está na aula? — ergo os olhos e Hector continua olhando firmemente para mim. Esfrego o pescoço com a palma da mão e me volto para Jack que está o encarando sem nem um pouco de medo ou apreensão.
— Ele já vai — Jack retruca por mim e eu confirmo com a cabeça.
— E você também deve ir para aula.
— Sim — Jack aproxima o rosto do meu, inserindo um beijo suave no canto dos meus lábios. Fico momentaneamente surpreso e Hector também, que até mesmo força a mandíbula.
— Boa aula — Jack se despede e começa a descer as escadas, deixando-me sozinho com Hector. “Leve-me até a sala” queria falar, mas ele já virava o corredor.
Volto a mim e continuo a subir. Passo por Hector de cabeça abaixada, torcendo para ele não me chamar ou me parar. Pouco tempo depois, ele vem atrás, sem dizer nada, apenas com o barulho da respiração e os sapatos batendo nos degraus.
— Sério que está ficando com esse garoto? Pensei que estávamos juntos.
— Agora não Hector, depois falamos disso — mantenho os olhos ao chão. — Tenho aula ainda, lembra?
Ele se cala e continuamos o percurso silenciosamente. Quando chegamos no sexto andar, viramos em um dos corredores. A iluminação se torna forte tanto pelas luzes do teto quanto pelas janelas de cada sala que ultrapassamos.
Ainda estava pensando no que Jack tinha dito sobre ele. Que eu não era o único. Deveria ficar conformado com isso porque também estou o usando, só que sem o objetivo de gozar na boca dele. Na verdade, também tenho o objetivo de gozar na boca dele, mas também tenho o objetivo de ele me tirar daqui.
— Espere! — Hector me chama e coloca a mão sobre meu ombro, fazendo que eu pare no centro do corredor.
— Tá, fala logo o que quer — sabia o que ele queria falar, mas prefiro que fale de uma vez. Encosto na parede com os braços cruzados.
— Não, não é sobre isso que você tá pensando... — Hector olha ao redor. — Vem cá — ele segura minha mão e me puxa para dentro de uma das salas vazias.
B**e à porta e eu caminho até uma das mesas, sento-me sobre a mesa e aproveito para esticar o corpo. Já tinha perdido a aula de qualquer forma, então não faria diferença eu chegar mais cedo ou mais tarde.
— O que foi? — ele olha na minha direção e se encosta na porta com uma das mãos apoiando o queixo.
— Quero saber o que está rolando entre você e o Tanner?
— Nada demais, só nos beijamos — ele balança a cabeça receoso. Seus olhos azuis cintilam pelas luzes que vêm das janelas. Os curtos cachos ruivos não saem do lugar nem por um centímetro de tão perfeitamente arrumados.
— Sério? Só isso?
— Sim, só isso. Agora posso ir? — tiro o corpo de cima da mesa, porém Hector continua apoiando as costas na porta. Ele mexe o pulso com o relógio e dá uma pequena olhada na hora.
— Não, não pode. Abre logo o jogo Angus e acabamos com isso de uma vez. Não sabia que tinha que dizer que você é só meu.
Bufo e sinto um brevemente um longo desconforto no lado esquerdo do pescoço. Que bom, um torcicolo.
— Hector, só transamos algumas vezes. Não devia ficar assim.
— Isso é ser idiota. Você sabe muito bem que foram só “algumas vezes”.
— Ok, ok. Jack é louco por mim e me beijou forçadamente.
— Como? — Hector levanta as sobrancelhas.
— Ele é otário, só isso — desvio o olhar de repente e passo a encarar a lixeira. — Jack me contou que você transa com outros alunos além de mim.
Hector ficou calado, mas logo balança a cabeça sutilmente em negativo.
— Ele é mentiroso.— É? — fixo a visão no seu rosto.
— É, nunca fiquei com ninguém depois de James até você.
— Sério? Faz quanto tempo que terminou com James?
— Três anos.
— Está mentindo.
— Não, não estou, Angus.
— Não tem importância — concluo.
— Como não tem importância? — Hector chega mais perto e toca meu rosto com os dedos.
— Você está transando como uma garota chamada Alice Kayler?
— Quem é Alice Kayler?
— Eu não sei.
— Nem eu.
— Está mentindo — afasto sua mão do meu rosto.
— Caralho? Tava vivendo de punheta todos esses anos e você vem dizer que estou te traindo.
— E não está?
— Não, An-gus!
— Filho da puta do Jack — digo irritado. — Mas se for verdade, vou fazer um inferno na sua vida.
— Então faça — Hector coloca as mãos para trás e dá alguns passos de distância.
— Eu farei — aproximo do seu rosto.
— Então faça — Hector insere rapidamente um beijo nos meus lábios. — Eu te amo.
— Eu também, dependendo do tempo.
Ele sorri.
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Abrindo a porta, ele exibe um sorriso perverso, logo em seguida, pega em minha gola e me leva para dentro.
Precipito-me a arrancar as roupas ao tempo que Angus b**e à porta. Tento me livrar das calças com um puxão desastroso, quase caindo.
James dizia que eu era vergonhoso mesmo quando não estava mancando, mas isso era culpa minha, James poderia estar certo, mas devia me esforçar mais para não passar esse tipo de constrangimento.
Direcionando-se a mim, Angus me dá um sorriso divertido com a dificuldade de eu tirar as calças. Empenho-me em puxá-las outra vez, desta vez conseguindo arrancá-las e sem cair.
Ele move meus braços para cima, ajudando-me a desembainhar a blusa. Com a blusa e a camiseta sendo lançadas para uma cama, o agarro ansiosamente.
Puxo seus cabelos e sinto mais uma vez seu sabor. Não é um sabor de cigarros, ou de café ou de álcool. Não são nenhum desses sabores, e isso é tão bom.
“É tão errado” sussurro quando pausamos algumas vezes o beijo para respirar. Angus abre um sorriso com os olhos presos aos meus e retorna com a boca a minha. Movimento seu corpo para mais perto, fazendo meu membro prensar contra a sua barriga.
Às 2 da tarde lembrei do trabalho que tinha com Ezra e Riky na biblioteca. Tínhamos combinado na semana passada depois deles ficarem esperando até às 6 da tarde por mim e eu não aparecer porque Kira decidiu ficar presa no banheiro do próprio dormitório. “Você tem que se ferrar sozinho e não levar a gente junto,” Riky disse durante a aula de matemática quando pedi o caderno emprestado. “Marcamos de novo na semana que vem. Espero que venha,” Ezra forçou um sorriso e deu um tapa no meu ombro. A visto eles juntos na mesa central da biblioteca com dois livros. Estão rindo de alguma coisa, mas param de rir assim que chego. — Jack, é verdade que não sabe ler? — Riky olha rapidamente para Ezra e continua: — Ouvimos o professor de literatura comentar durante a aula.Balanço a cabeça. — É, tenho TDAH. — Ah… então é por isso que suas notas são ruins em literatura? — Ezra fecha o livro para prestar atenção. — Não, isso é porque não chupo o pau dele. Riky e Ezra fi
— Não fiquem com medo, não vão levar bronca. Podem se sentar — o psicólogo Torry indica os lugares mostrando um sorriso.Jack olha desconfiado para ele, mas só decide se sentar quando eu me sento. A sala tem uma decoração bem minimalista construída em cima do cinza e do branco. Possui alguns vasos com plantas verde-escuras pelas mesas, quadros de diplomas e fotos de pássaros em preto e branco. — Soube que vocês estão tendo um relacionamento homoafetivo — o psicólogo sorri. — Foi o merda do seu professor — Jack diz em alto e bom som. — Mas a culpa foi sua — retruco. — Enfim, não importa quem é o culpado. Fico feliz por vocês dois — ele pega duas pastas e as abre. Coloca os óculos, lê por alguns segundos e depois coloca os óculos de volta na parte de cima da cabeça. — Ambos têm transtornos psicológicos. Angus tem bipolaridade tipo 2 e você, Jack, TDAH. Os dois tomam os remédios corretamente? — Eu tomo. Você sabe que Kira me dá todos os dias. — Sim, ela anota no ca
Teve momentos que Jack acariciava meu rosto com a mão sempre que eu chegava na sala. Isso com certeza é uma das coisas mais estranhas que ele já fez. E tinha também vezes que sussurrava idiotices perversas no meu ouvido. Bem, não eram apenas “idiotices perversas”, pois em alguns momentos soavam bem reais. No dia, ele tava enchendo meu saco para eu fazer uma pose para poder me desenhar. Neguei até onde consegui, mas acabei cedendo no terceiro pedido. Me sentei na pia do banheiro com os braços para trás, os pés separados e balançando no ar. Jack se agachou com o seu caderninho e o colocou apoiado em cima do joelho. Era noite já, as luzes do banheiro estavam apagadas e a única iluminação era a do poste do lado de fora. Uma luz que atravessava as janelas deixando meu corpo listrado de laranja e escuro. “Tiraria o uniforme para mim?” Jack perguntou com um sorrisinho. Não levantou os olhos do caderninho, deslizava o lápis cuidadosamente tentando deixar tudo perfeito. “E você, m
— Tá atrasado — Jack diz antes de abrir a porta. — Só dois minutos — entro assim que abre. Jack b**e à porta e dá um grande sorriso. — Me beija?— Estou sem tempo e bem enjoado depois do que vi.— Pensei que não vinha mais, por que demorou?.Meus joelhos ainda estão doendo, não o respondo e ando no sentido da pia para aliviá-los com água. Ligo a torneira, começando a esfregar cada um dos joelhos enquanto ouço Jack falar um monte de coisas sexuais sobre a minha demora. “Sim, Jack, eu estava chupando Hector, por isso estou com os joelhos doendo.” Mais fácil dizer isso para ele do que contar que descobri como Eltery se tornou líder do time de baseball. É incrível como Eltery chupando a professora de educação física consegue tantos privilégios, enquanto eu tirando todo o leite de Hector não consigo nem um “+” nas provas de literatura. Bem, ele pode não me dar notas altas, mas pelo menos me traz comidas de fora do internato e roupas. Às vezes me traz a bíblia também, junto vem uma
Misturei tanto remédio com o Ice Wine que o açúcar inseparável da bebida ficou com gosto amargo. Quase de xixi misturado com analgésicos. Viro outro gole para acabar de uma vez com essa porcaria que tinha feito.A casa está uma verdadeira paz desde o dia que tinha arrumado o barulho insuportável do aquecedor, mas por outro lado, o silêncio me causava ainda mais traumas. O simples pulo do gato do chão para a bancada já me deixava em alerta por vários minutos ou a voz dos vizinhos da casa ao lado, mesmo que bem baixa, conseguia me aterrorizar.Despejo o resto da bebida no ralo da cozinha, como o último pedaço de queijo e dou o último alimento do dia para o gato. Aproveito para varrer o carpete da cozinha e passar um pano no balcão. Não muito tarde começo a trancar todas as janelas e portas da casa. Mesmo morando no bairro mais seguro da cidade e a cidade não tendo mais que catorze mil habitantes, jamais conseguiria me sentir seguro.Pego o livro de cima da poltrona do quarto e me dirijo
Retorno ao dormitório e acabo encontrando Feller acordado. Ele está na nossa mesinha perto da janela, iluminado pelo abajur enquanto escreve alguma coisa.— Onde estava? — questiona ele, sem se virar para olhar.— Estava com Jack — respondo enquanto tiro os sapatos e deixo próximo a porta. — Você não vivia dizendo que não gostava dele?— Bem… — olho para o teto —, talvez ele não seja tão ruim — é sim. Guardo a escova e a pasta dentro da gaveta e me dirijo para a cama. — Tão ruim? Heather falou que ele vive em cima de você — a cabeleira loira de Feller balança quando se vira.— É, ele fica. Mas ele só tá tentando amizade.— Certeza?— Aham… não é da sua conta.— Idiota.Solto um risinho e ele volta a fazer o que estava fazendo. Deito-me na cama, puxando o edredom até o pescoço e cobrindo em seguida o rosto. Enquanto tento dormir, penso se Hector acredita na mentira de que eu e Jack somos apenas amigos. Ele sabe que beijei Jack algumas vezes, mas poderia inventar que somos apenas am
— De novo atrasado, Angus? — indaga Hector, no momento que entro na sala. Ele solta a caneta em cima dos papéis e ergue-se da cadeira. Todo mundo está me encarando e, alguns poucos, fingem estar com a atenção na lousa, mas com certeza estão esperando ansiosos pela minha advertência.— Desculpa — digo. Hector vem caminhando na minha direção. Seus cabelos ruivos estão em cachos perfeitos, ele transpira um perfume agoniantemente provocante e as sardas nas bochechas estão ainda mais nítidas que antes. Sua face está assustadora, ou eu estou assustado demais?Maldito Jack, se não tivesse ficado conversando com ele na escadaria não estaria acontecendo isso.— Continuem fazendo as atividades, vou falar com o sr. Wesler e volto em breve — declara e coloca a mão no meu ombro, guiando-me para fora da sala. Quando fecha a porta, continua a me mover, mas dessa vez pelo corredor até entrarmos em uma das salas de aula desocupadas. Ele não deveria me levar para a diretoria? Sinto um ligeiro arrepio n
Na quarta-feira desisti de três aulas para ensinar sobre coesão textual para Jack no refeitório, após ele insistir muito e me trancar no meu próprio dormitório. A sorte que tive foi que, se ajudasse no reforço dele e de outros alunos em Literatura, minhas faltas seriam descontadas. E qual o melhor jeito disso acontecer não sendo ajudando o garoto que é motivo das minhas faltas? Acabei aceitando já que não tinha muito o que perder. No entanto, Jack, pelo contrário, tinha bem mais o que perder.A redação que Jack está se preparando é sobre o livro The Handmaid's Tale, que será na quinta-feira, e ele quase não sabe escrever algo decente. Quer dizer… Jack não sabe escrever quase nada decente. Provavelmente deveria ter faltado quase todas as aulas do primário. Ele consegue escrever mais erros ortográficos em um texto com a mesma frequência que fala porcarias. — Bem… a coesão, para ser mais fácil de você entender, são frases e palavras que ligam o texto para torná-lo coerente. Quase semelha