3 | Seu admirável Professor

A boca de Jack tem gosto de suco de laranja, pão com queijo e talvez gelatina de limão? Ou tem gosto de suco de limão, pão com laranja e gelatina de queijo?

— Me solte! — demando. Aos poucos vou me livrando das mãos dele com certa dificuldade.. 

Antes de me libertar por completo, Jack me dá um selinho no queixo. Sinto as gotas de suor escorrendo pela testa, as limpo com o braço e me elevo alguns degraus. 

— Então, como a gente fica? — pergunta, também subindo alguns degraus.

— Não existe "a gente". Ficamos como antes, de preferência, você sentado em outro lugar na aula de artes. 

— Você tá brincando? Acabamos de nos beijar, cara.

— Não. Você me beijou e me forçou ainda. Não vai rolar nada entre a gente — meu peito para de transpirar e finalmente volto a subir as escadas. Jack se apressa e vem ficar ombro a ombro comigo.

— Você cuspiu em mim. Eca — ele passa as costas da mão no rosto e depois j**a a saliva para longe.

— Você lambeu, por que está com nojo agora?

— Cala a boca!

Seguimos pelos andares seguintes apenas ouvindo o som das falações nas salas ao redor. Quando chegamos no quinto, ele puxa minha mão e me faz parar. 

— Me encontra hoje à noite?

— Não.

Ainda sorrindo, continua: — Me encontra no banheiro do refeitório, às 10h00 horas? 

— Não, e pra quê?

— Para eu te ver, ué.

— Mas eu não quero te ver.

— Mas eu quero, imbecil — por fim, aproxima-se com os lábios enquanto as íris estão cintilantes.

Para! 

A questão agora não é o beijo, a questão agora é como vou resolver essa bagunça? Ele não pode achar que estamos juntos, porque não estamos. Ou estamos? Não. Eu não deixei isso claro. Ou deixei? Sim, eu deixei quando o beijei. Mas por que eu o beijei? Porque não tinha muita escolha. Na verdade, eu tinha. Não tinha. Quer dizer, esse não é o problema. O real problema é: por que o beijo pareceu bom? Não devia ter sido, era para ter sido decepcionante e irritante. De um jeito nojento que quisesse vomitar. Será que o beijo foi bom mesmo ou eu que estou querendo me aproveitar para foder Jack?

Não caia nessa loucura. Ele é um idiota que, há algumas semanas, estava te agarrando no intervalo e te chamando de putinha. Putinha! Como? Ok, acho que estou convencido.

— Você me chamava de putinha — digo, afastando-me repentinamente e subindo um degrau desajeitado. 

— Eu era um idiota — diz, também subindo um degrau. 

— Era? Ou continua sendo? Ou só está mudando por conta de ter me forçado a te beijar?

— É… talvez sim.

— Você é nojento — elevo-me por mais outros degraus. 

— Não pareceu com nojo quando me beijou lá embaixo — com movimentos astutos, ele fica apenas meio metro de distância de mim. 

— Estamos atrasados para a aula — desvio o rosto para o lado. 

— Estamos, mas para isso temos a recomposição de aula — ele vira o meu rosto e consegue roubar um beijo. Não deveria deixar. É… talvez Heather esteja certa. 

— Wesler e Tanner?

A voz grossa e autoritária faz Jack afastar os lábios o mais rápido que consegue. Viro-me para o topo da escada e me deparo com os olhos azuis de Hector. Maravilha.

— Oi, professor — Jack diz seguido de um aceno. Cara de pau.

— Vocês não deviam estar na aula agora? — ele coloca as mãos no bolso enquanto me encara como se quisesse me quebrar em vários pedaços.

— Sim, tenho uma aula agora de ciências humanas — respondo olhando para os degraus.

— É de literatura — ele corrige.

— Isso — confirmo.

— E por quê não está na aula? — ergo os olhos e Hector continua olhando firmemente para mim. Esfrego o pescoço com a palma da mão e me volto para Jack que está o encarando sem nem um pouco de medo ou apreensão.

— Ele já vai — Jack retruca por mim e eu confirmo com a cabeça. 

— E você também deve ir para aula.

— Sim — Jack aproxima o rosto do meu, inserindo um beijo suave no canto dos meus lábios. Fico momentaneamente surpreso e Hector também, que até mesmo força a mandíbula.

— Boa aula — Jack se despede e começa a descer as escadas, deixando-me sozinho com Hector. “Leve-me até a sala” queria falar, mas ele já virava o corredor.

Volto a mim e continuo a subir. Passo por Hector de cabeça abaixada, torcendo para ele não me chamar ou me parar. Pouco tempo depois, ele vem atrás, sem dizer nada, apenas com o barulho da respiração e os sapatos batendo nos degraus.

— Sério que está ficando com esse garoto? Pensei que estávamos juntos.

— Agora não Hector, depois falamos disso — mantenho os olhos ao chão. — Tenho aula ainda, lembra?

Ele se cala e continuamos o percurso silenciosamente. Quando chegamos no sexto andar, viramos em um dos corredores. A iluminação se torna forte tanto pelas luzes do teto quanto pelas janelas de cada sala que ultrapassamos. 

Ainda estava pensando no que Jack tinha dito sobre ele. Que eu não era o único. Deveria ficar conformado com isso porque também estou o usando, só que sem o objetivo de gozar na boca dele. Na verdade, também tenho o objetivo de gozar na boca dele, mas também tenho o objetivo de ele me tirar daqui.

— Espere! — Hector me chama e coloca a mão sobre meu ombro, fazendo que eu pare no centro do corredor. 

— Tá, fala logo o que quer — sabia o que ele queria falar, mas prefiro que fale de uma vez. Encosto na parede com os braços cruzados.

— Não, não é sobre isso que você tá pensando... — Hector olha ao redor. — Vem cá — ele segura minha mão e me puxa para dentro de uma das salas vazias.

B**e à porta e eu caminho até uma das mesas, sento-me sobre a mesa e aproveito para esticar o corpo. Já tinha perdido a aula de qualquer forma, então não faria diferença eu chegar mais cedo ou mais tarde.

— O que foi? — ele olha na minha direção e se encosta na porta com uma das mãos apoiando o queixo. 

— Quero saber o que está rolando entre você e o Tanner?

— Nada demais, só nos beijamos — ele balança a cabeça receoso. Seus olhos azuis cintilam pelas luzes que vêm das janelas. Os curtos cachos ruivos não saem do lugar nem por um centímetro de tão perfeitamente arrumados.

— Sério? Só isso? 

— Sim, só isso. Agora posso ir? — tiro o corpo de cima da mesa, porém Hector continua apoiando as costas na porta. Ele mexe o pulso com o relógio e dá uma pequena olhada na hora.

— Não, não pode. Abre logo o jogo Angus e acabamos com isso de uma vez. Não sabia que tinha que dizer que você é só meu.

Bufo e sinto um brevemente um longo desconforto no lado esquerdo do pescoço. Que bom, um torcicolo. 

— Hector, só transamos algumas vezes. Não devia ficar assim.

— Isso é ser idiota. Você sabe muito bem que foram só “algumas vezes”.

— Ok, ok. Jack é louco por mim e me beijou forçadamente.

— Como? — Hector levanta as sobrancelhas.

— Ele é otário, só isso — desvio o olhar de repente e passo a encarar a lixeira. — Jack me contou que você transa com outros alunos além de mim.

Hector ficou calado, mas logo balança a cabeça sutilmente em negativo.

— Ele é mentiroso.

— É? — fixo a visão no seu rosto.

— É, nunca fiquei com ninguém depois de James até você.

— Sério? Faz quanto tempo que terminou com James?

— Três anos.

— Está mentindo.

— Não, não estou, Angus.

— Não tem importância — concluo.

— Como não tem importância? — Hector chega mais perto e toca meu rosto com os dedos. 

— Você está transando como uma garota chamada Alice Kayler?

— Quem é Alice Kayler?

— Eu não sei.

— Nem eu.

— Está mentindo — afasto sua mão do meu rosto.

— Caralho? Tava vivendo de punheta todos esses anos e você vem dizer que estou te traindo.

— E não está?

— Não, An-gus!

— Filho da puta do Jack — digo irritado. — Mas se for verdade, vou fazer um inferno na sua vida.

— Então faça — Hector coloca as mãos para trás e dá alguns passos de distância.

— Eu farei —  aproximo do seu rosto.

— Então faça — Hector insere rapidamente um beijo nos meus lábios. — Eu te amo.

— Eu também, dependendo do tempo.

Ele sorri.

____∞____

Abrindo a porta, ele exibe um sorriso perverso, logo em seguida, pega em minha gola e me leva para dentro.

Precipito-me a arrancar as roupas ao tempo que Angus b**e à porta. Tento me livrar das calças com um puxão desastroso, quase caindo.

James dizia que eu era vergonhoso mesmo quando não estava mancando, mas isso era culpa minha, James poderia estar certo, mas devia me esforçar mais para não passar esse tipo de constrangimento.

Direcionando-se a mim, Angus me dá um sorriso divertido com a dificuldade de eu tirar as calças. Empenho-me em puxá-las outra vez, desta vez conseguindo arrancá-las e sem cair.

Ele move meus braços para cima, ajudando-me a desembainhar a blusa. Com a blusa e a camiseta sendo lançadas para uma cama, o agarro ansiosamente.

Puxo seus cabelos e sinto mais uma vez seu sabor. Não é um sabor de cigarros, ou de café ou de álcool. Não são nenhum desses sabores, e isso é tão bom.

“É tão errado” sussurro quando pausamos algumas vezes o beijo para respirar. Angus abre um sorriso com os olhos presos aos meus e retorna com a boca a minha. Movimento seu corpo para mais perto, fazendo meu membro prensar contra a sua barriga.

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