Tony
Quando deixei a sala de reunião minha cabeça latejava e eu havia demitido a minha diretora de marketing. Remorso era algo que eu não sentia naquele momento. Fome? Sim. Dor de cabeça? Sim. Tensão? Sim. Mas remorso não.
Atravessei o corredor até a minha sala, ignorando os cochichos enquanto eu passava por algumas salas e, ignorando na mesma medida, os olhares apavorados dos empregados que tinham a infelicidade de passar por mim. Para o bem deles, ao longo do tempo, adquiram a habilidade de identificar o meu humor e manter distância em momentos como esse.
Jeanine, minha secretária, continuou sentada quando passei por sua mesa. Ela, mais do que qualquer outra pessoa tinha a habilidade necessária para lidar comigo. Ela era capaz de me dar uma péssima notícia em meu pior momento e ainda receber toda a minha carga de merda com uma cara de paisagem. Na sequência, ela apenas me daria a próxima notícia ou me atualizaria sobre a minha agenda como se nada tivesse acontecido. É claro que não foi sempre assim. Essa foi uma caraterística trabalhada.
Sem uma palavra, entrei em minha sala e desabei em minha cadeira, girando na direção das enormes janelas panorâmicas que proporcionava uma bela vista da cidade. A noite caíra e Milão dava um espetáculo de luzes. Seja dos prédios de arquitetura moderna, seja dos prédios e monumentos históricos que estão por toda parte ou ainda dos carros que iam e vinham em ritmo frenético levando as pessoas para casa ou para o tão famoso happy hour.
A porta se abriu atrás de mim sem uma batida e, mesmo sem virar, eu sabia de quem se tratava. Sim, eu podia ver o seu reflexo no vidro a minha frente, mas não era só por esse motivo que sabia de quem se tratava. Havia algumas razões: 1) Ele era uma das poucas pessoas que invadiam a minha sala sem bater ou sem ser convidado 2) Ele estava irritado pelo que eu havia acabado de fazer e 3) Sim, eu podia ver o seu reflexo na vidraça.
De qualquer modo, eu não me virei para olhar pra ele diretamente. Ao invés disso, continuei contemplando a cidade que pulsava logo abaixo. – O que você acabou de fazer? – questionou.
- O que tinha que ser feito. Não que eu tenha que te dar satisfação.
- Sim, estou ciente de que você não precisa da minha permissão nem aprovação para nada. Mas, porra! Custava ter sido mais educado?
- Educado? Essa mulher vem fazendo um trabalho de merda a quanto tempo?
- Ela é nova e está começando.
- Aí fora está cheio de gente nova e começando com mais competência do que ela vai possuir a sua vida inteira. Ela que se qualifique e depois entre no mercado de trabalho.
- Você deixou todo mundo nervoso naquela sala. Eles não sabem o que fazer agora... – eu me virei para olhá-lo de frente.
- Agora? Eles não sabem o que fazer há muito tempo, Amadeo. Olha, sem trocadilho com o seu nome, mas eu não quero amadores. E que fique claro para a próxima pessoa que assumir o lugar dela e da sua equipe: Eu quero o melhor. Originalidade, qualidade e criatividade. Não vou engolir nenhum copie e cole.
Ele ergueu as mãos em uma postura defensiva. Amadeo, como meu amigo de longa data, sabia que eu tinha um ponto – Certo – ele falou, enquanto se aproximava mais e se acomodava em uma das cadeiras a minha frente. – Mas ainda temos um problema a resolver. A festa anual com os investidores será daqui a um mês e nós precisamos ter datas de lançamento ou alguma coisa palpável até lá.
- Não é como se fôssemos apresentar uma proposta nesse evento.
- Eu sei, mas qual assunto você acha que vai predominar. Temos que ter alguma coisa em mente. A sensação que eu tenho é que estamos estacionados há seis meses.
- E você ainda me pergunta por que eu fiz o que fiz? Seis meses! Você mesmo falou, estamos estacionados há seis meses quando já poderíamos ter um produto lançado no mercado. Tudo que eu pedi aquela incompetente foi um projeto publicitário inovador, nada da mesma lenga-lenga de sempre e ela fodeu com todas as chances que ela teve, então faça-me o favor de não me crucificar pelo que aconteceu naquela sala.
- Ok. Qual o plano?
- Encontrar alguém que possa fazer o serviço. Você sabe que a minha ideia de ter um departamento de publicidade e propaganda era prioridade, mas tendo em vista a experiência terrível, vamos ter que trabalhar com alguém de fora.
- Uma licitação?
- Nos moldes convencionais seria muito demorada e, nesse momento, tempo é o que nos falta. Além disso, dinheiro é o que menos importa agora. Vou pedir a Ugo que encontre algumas empresas experientes e faça uma proposta. Vamos fazer uma apresentação sobre o projeto daqui a uma semana, e eu quero você lá, Você é o nosso diretor de tecnologia, portanto, o mais indicado para apresentar o nosso produto. Depois disso, os interessados terão duas semanas para nos apresentar uma proposta para a campanha.
Ele acenou concordando, ao mesmo tempo em que retirou o telefone do bolso – Certo. Eu estou indo ver Ugo nesse instante, gostaria que eu mesmo falasse com ele?
- Seria ótimo.
- Considere feito. Mudando de assunto... Você vai ao clube esta noite?
- Não. – Meu tom agora era mais ameno – Não hoje. Amanhã, porém, eu tenho uma cena no salão principal com Beatrice. Você vai?
- Sim, mas não pretendo demorar. Hoje foi um dia e tanto. Estou exausto.
- E quando não é, meu amigo?
- Bom ponto. – ele se levantou – Vê se esfria a cabeça. Vou cuidar dos detalhes com Ugo.
- Obrigado – Ele saiu fechando a porta atrás de si. Eu me voltei para a janela panorâmica reconsiderando a ida ao clube hoje. Eu bem que estava precisando de algum jogo esta noite, mas voltando pra minha mesa, achei que trabalhar seria uma boa maneira de passar o tempo. Amanhã... Amanhã eu iria ao clube.
Penny- Certo. Isso é apenas meio louco. Não me leve a mal, eu respeito a sua opinião, mas não entendo como alguém consegue sentir prazer em ser espancada.- Não se trata de ser espancada. É tudo uma questão de conhecer os seus limites e se permitir. – Isabel disse seriamente. Não era a primeira vez que esse assunto vinha à tona. Ela estava explorando esse estilo de vida recentemente. Sim, antes disso ela era como eu. Pasmem! – Eu sei exatamente tudo o que você está pensando. Eu já estive aí cheia de preconceitos e ignorância. Mas quer saber? Eu me encontrei. Eu descobri um mundo de possibilidades de sentir prazer e estou satisfeita comigo mesma.Eu tomei um longo gole da minha cerveja e recoloquei a garrafa long neck sobre a mesa – E se você e Bruno terminarem?- Eu não estou fazendo isso por Bruno. Não mesmo. Eu estou fazendo isso por mim. Eu nunca me senti plenamente realizada sexualmente e, quando eu conheci Bruno nós começamos devagar. Ele se segurou comigo por que ele não queria
TonyEu poderia dizer o quanto o Gaming Club estava lotado apenas pela quantidade de carros que havia no estacionamento. Avancei até a garagem privada e acionei o controle. A porta se ergueu e estacionei o meu Audi entre as vagas de Luca e Amadeo. Nós compartilhávamos o gosto pela dominação e, após alguns anos nos encontrando em outros clubes e festas privadas, decidimos montar o nosso próprio clube. Saí do carro e me apressei para a entrada, pois deveria entrar em cena em cerca de meia hora. Eu sabia que Beatrice estaria esperando. Ela foi sempre pontual todas as vezes que estivemos juntos, mas ela era uma boa submissa e não ousaria ligar para me apressar. Nós também não éramos exclusivos, embora eu poderia dizer que ela era com quem eu mais jogava nos últimos meses. Às vezes nós incluíamos uma ou outra parceira ou parceiro, mas na maioria das vezes éramos nós dois. Diante da porta, coloquei o dedo polegar sobre o leitor biométrico e a porta se abriu com um clique. Giulio, nosso ch
PenélopeEmbora eu tivesse checado duas vezes o endereço, ainda não podia acreditar que era ali. Quando eu imaginei um clube BDSM eu tinha pensado numa boate com luzes na entrada, talvez uma placa ou banner com uma mulher vestida em couro e um cara com um chicote na mão, mas havia portões de ferro elegantes, uma discreta e requintada placa escrito simplesmente “Gaming Club” e uma câmera de segurança que falou comigo quando abaixei o vidro do carro.- Boa noite. Identifique-se, por favor – disse a voz metálica.- Sou Penélope Ferrara.- Um momento... É a sua primeira vez aqui hoje, não é?- Sim.- Seja bem-vinda. Siga em frente e depois à esquerda. Você vai encontrar o estacionamento para visitantes. Em seguida vá para o primeiro prédio. Alguém vai recolher as suas impressões digitais e dar-lhe algumas instruções. Uau! Sim. Eu estava mesmo impressionada com todo o esquema de segurança do lugar. O que me fazia questionar se eles eram muito sérios e preocupados com a segurança dos seus
- Então?- Oh! Pelo amor de Deus, eu já falei tudo que eu tinha pra falar nos últimos cinco dias. – ela continuou me olhando e eu falei – Eu meio que entendi seu ponto, certo? Quando eu estava lá não parecia mais tão absurdo assim o que vocês fazem. Deu pra ver que as pessoas realmente podem sentir prazer com... tudo aquilo que acontece lá...- Eu não estou me referindo a isso. Como você mesma explicou, isso é o que você me diz nos últimos dias, o que eu quero saber é o que aconteceu que você não está me contando. Você teve uma experiência com alguém?- Não.- Você me diria se tivesse?- Claro.- Ok. Então eu vou parar de te encher o saco sobre isso. Só quero que saiba que se você quiser falar sobre qualquer coisa eu estou aqui, ok?- Certo. Terei isso em mente. Obrigada. Agora eu preciso ir. Tenho uma reunião com Ugo Lopes, na Mazza Telecom.- Mazza Telecom? Tá falando sério?- Eu também não estou acreditando e também não quero que crie expectativas, mas eu recebi um convite para uma
Eu estava silenciosamente rezando para que ele não me reconhecesse e se essa graça fosse atendida, que Amadeo não desse com a língua nos dentes. Enquanto eu estava em cólicas por todo o inferno interno que eu estava vivendo, ele apenas sentou-se em seu lugar e mexeu no seu smartphone enquanto Amadeo foi a cada um de nós apertar a mão e ser gentil – Srta. Ferrara – Disse ao se aproximar. – que bom revê-la.- Sr. Rizzardo, eu sinto... – ele me parou balançando discretamente a cabeça de um lado para o outro ao mesmo tempo em que sussurrou um “relaxe”. Eu, no auge do meu desespero, agarrei-me nisso para me acalmar. Ele não diria nada e o senhor “foda intergaláxica” não iria se lembrar de mim. Embora, francamente, o que fez com que eu cogitasse a possibilidade dele se lembrar? Eu estava em uma sala escura com dezenas de pessoas e não era como se o pau dele estivesse sendo inserido em mim. Eu honestamente já achava difícil que ele se lembrasse da mulher deslumbrante que ele estava fodendo,
Penny- Como você pode não me falar que Antony Mazza era dono do Gaming Club.- Eu juro que eu não sabia. E sim, eu conhecia Amadeo, mas não tinha ideia de que ele trabalhava na Mazza Telecom. Além disso, eu te disse que estamos frequentando este clube a pouquíssimo tempo, eu não conheço todo mundo ainda. Na verdade, Bruno é o único que conhece as pessoas. Mas, honestamente, eu não vejo razão para você ficar preocupada. Amadeo é muito profissional...- Não é com ele que eu estou preocupada.- Então com quem é? Você chegou a encontrar Antony Mazza no clube? Ele se lembrou de você? Eu não acho que ele falaria alguma coisa para constrangê-la. Não é como as pessoas de lá agem.- Eu não acho que ele tenha me reconhecido e, sim, eu o encontrei lá, mas na ocasião não o reconheci. Ele fez uma apresentação no salão principal e eu assisti. Jesus! Você tem ideia do quanto isso é constrangedor? - Olha, se ele não te reconheceu não vejo por que você está preocupada.- Quer saber do que mais? Você
Tony- Ela é esperta. Quantas equipes entraram em contato pedindo isso – Perguntei a Amadeo depois que ele encerrou a ligação com Penélope. Eu estava em seu escritório quando a sua secretária passou a ligação. Eu me vi eufórico quando ouvi o seu nome dito pela secretária no interfone.- Apenas ela. As outras queriam apenas tirar algumas dúvidas técnicas sobre o produto, mas solicitaram apenas uma reunião.- Dê-lhes apenas o que pedirem. Assim vamos medir o brilhantismo de cada um.- Ela é muito boa. Eu vi alguns dos seus trabalhos. Tão jovem e tão brilhante. Fala a verdade... você gostou dela.- Profissionalmente?- Não. Sexualmente.- Eu não fodi com ela...- E desde quando é preciso foder para gostar sexualmente. Algumas coisas a gente apenas sabe. Ela exala sexualidade, embora eu continue dizendo que ela não tem sequer um osso submisso em seu corpo. Ela é curiosa e isso é tudo.- Eu não estou interessado. Não mesmo. Ela é bonita e inteligente, mas eu não estou interessado.- Ahã.
LucaO beco atrás da boate estava completamente vazio. Um contraste com a entrada principal, onde havia uma não muito pequena fila de jovens ansiosos para entrar nas dependências da boate. Demétrius estacionou o carro e eu pulei sem esperar que ele abrisse a porta. Eu não estava preocupado. Apesar de estarmos em uma área pública, as câmeras de segurança instaladas nas paredes do prédio que abrigava a boate eram monitoradas pelos meus homens. Prova disso, foi que a porta logo foi aberta e a batida estridente se misturou ao barulho do tráfego a nossa volta. Enquanto no piso inferior funcionava uma boate como qualquer outra, onde as pessoas bebiam e dançavam, a parte de cima abrigava um clube onde as nossas mulheres entretinham desde os machos que fazem parte da Família até políticos influentes – Olá, chefe – cumprimentou-me Greg, que havia aberto a porta.- E aí cara?- Eles já estão aqui. Estão na área vip.- Vamos ver o que ele quer.Entrei no ambiente escuro com luzes intermitentes e