Capítulo 3

Passei no balcão de entrada da Vanderbilt Enterprise para fazer minha identificação. Não acredito que eu iria para uma entrevista naquele estado deplorável. Até na foto de cadastro ficou registrada a blusa toda manchada de café. Que vergonha!

Brenda foi entrando na frente porque já estava atrasada, depois daquela confusão que causei. Acho que ela nunca mais vai me perdoar, mesmo eu insistindo em dizer que CEO não costuma conhecer seus funcionários e nem devia saber que ela trabalhava lá. Brenda afirmou que ele conhecia todo mundo da empresa, mesmo não sabendo exatamente os nomes. Acho muito difícil um cara com a responsabilidade e falta de tempo dele se importar em saber quem são as pessoas que trabalham para ele.

Recebi o crachá para entrar e fui direto para o quarto andar. Será que isso foi um castigo do meu pai por eu estar aqui tentando uma vaga na empresa do seu inimigo? – pensei comigo. Não viaja, Sara. Seu pai tem mais o que fazer agora do que vir aqui só para te castigar por algo que tenha feito – falou uma voz na minha cabeça. Respirei fundo para acalmar meus nervos. Eu precisava muito daquela vaga ou não teria dinheiro algum para começar a dar ao agiota.

Sentei na sala de espera, aguardando minha vez de ser chamada. Uma vontade de chorar estava presa na minha garganta. Eu não aguentava mais ser aquela mulher forte o tempo todo. Às vezes, eu sentia falta de ser só a menininha do papai, que deitava a cabeça no colo dele para chorar enquanto ele passava a mão pelo meu cabelo e dizia que tudo ia ficar bem. Meus olhos marejaram, e eu engoli o choro mais uma vez. Eu só queria a certeza de que tudo ficaria bem de novo. A morte de papai acabara com toda a convicção que eu tinha de que venceria na vida. Ele era meu maior incentivador. E agora eu estava sozinha.

Uma moça morena, com traços elegantes, cabelo com tranças afro, muito bem-vestida, parecendo uma modelo de meia-idade, se aproximou de mim e pediu que a seguisse. Achei que estava me levando para a entrevista, mas chamou o elevador. Será que a entrevista seria em outro andar? Mas todos os meus concorrentes estavam sendo apenas chamados pelo nome e entrando em uma salinha logo após o corredor que ficava de frente para a sala de espera.

Já sei! Ela deve estar educadamente me levando para fora da empresa, pois não estou vestida adequadamente, e ela não quer alarde. Ai, que vergonha! Aquele desgraçado me paga! Estava tão distraída em minha briga interior com o cara do café que nem reparei o elevador andar, só vi quando ele abriu em outro andar. Também não percebi qual era, mas, sem dúvida, era muito mais bonito que o anterior. Tinha uma vista de tirar o fôlego. Ufa! Ela não estava me expulsando da empresa.

A moça elegante parou diante de uma mesa e pegou uma caixa de tamanho médio e me entregou.

– Aquela segunda porta é o banheiro. Você pode se trocar lá – afirmou sem mais rodeios a mulher.

Uau! Essa empresa deve ser incrível! Viram que eu estava suja de café e estão me oferecendo trocar de roupa antes da entrevista. Que máximo! – pensei entusiasmada. Peguei a caixa, dei um sorriso animado para a moça e fui.

Meu Deus! Não podia ser verdade. Dentro da caixa tinha um lindo vestido vermelho de marca, caríssimo e de muito bom gosto. Era exatamente o meu número. Fiquei confusa. Que empresa doida é essa? Mas coloquei o vestido, porque mulher nenhuma se negaria a vestir aquela beldade. Ele vestia perfeitamente no corpo e realçava tudo o que ela tinha de melhor. Parecia um vestido mágico, feito pela fada madrinha da Cinderela para me deixar ainda mais bela. Fiquei de boca aberta ao me olhar no espelho. Nunca me sentira tão linda! Até esqueci a tristeza que havia me tomado há pouco.

A tal moça estava me esperando bem na porta do banheiro.

– Uau! Ficou lindo em você. Foi uma excelente escolha. Agora vamos para sua entrevista – falou empolgada. – Ah, e eu, na pressa, acabei não me apresentando. Sou Karoline Sanders, mas pode me chamar de Karol. Sou a gerente de finanças da Vanderbilt Enterprise.

– Peraí… Você disse “finanças”? Então tem algo errado, Karol. Eu vim fazer entrevista para a vaga de assistente do gerente de marketing.

– Sim, eu fiquei sabendo. – Ela riu como se soubesse de alguma piada interna que eu estava de fora. – Mas houve algumas mudanças de plano. Pode entrar.

Ela abriu uma sala muito ampla, toda de vidro, mostrando de cima uma vista linda de toda a cidade. Aquele andar devia ser muito alto. E o dono daquela sala tinha muito bom gosto. A decoração era bem masculina, mas realmente de ótimo gosto. Os móveis eram de madeira em tom caramelo, assim como o sofá de couro e a cadeira giratória que ficava por trás de uma mesa toda de vidro. Apesar de muitos itens de escritório, a mesa estava impecavelmente organizada.

Karol fechou a porta e fui me aproximando aos poucos da mesa principal, maravilhada com todo aquele luxo. De repente, a cadeira giratória, que antes estava virada para a paisagem, se virou para ela. Ah, não! Não pode ser!

– Ficou muito bem em você o vestido. Eu realmente tenho bom gosto – proferiu em tom acolhedor, mas com uma cara muito séria e intimidadora. – Pelo menos, ficou muito melhor do que aquela camisa cheia de café.

– Fo-foi você o ve-vestido? – questionei gaguejando, sentindo a raiva subir pela minha garganta.  – Não acredito! O que você quer de mim? Não sei com que tipo de mulher você está acostumado, mas eu não sou assim! Não quero vestidos caro nem nada de luxo em troca de…

– Em troca de quê? – perguntou ele. Eu sabia que tinha um sorrisinho sarcástico por baixo daquela máscara de seriedade. Ele se levantou e estava vindo em minha direção. – Vamos, me diga. Em troca de quê? Para que você acha que te chamei em minha sala e te dei um vestido caro? Vamos lá, me conte o que sua mente maldosa pensou sobre mim.

Agora ele estava muito perto. Eu queria gritar com ele, mas meu corpo não correspondia. Fiquei muda, estática, com o coração acelerado e as mãos suando frio. Ao ouvir suas palavras fui sentindo um calor tomando todo o meu corpo. Senti meu rosto ardendo e ficando vermelho, certamente ressaltando minha vergonha no meu rosto tão branco. O que aquele homem estava fazendo comigo? Eu precisava sair dali correndo. Foi andando ao meu redor, muito perto do meu corpo, me analisando. Me senti uma manequim em uma vitrine.

– O que você quer de mim? – consegui repetir de forma ríspida.

– O que você acha? – sussurrou tão perto da minha orelha que senti todos os pelos da nuca e do rosto se arrepiarem. Aquele era o homem mais lindo que já vira, e ele estava sussurrando em seu ouvido, brincando com as sensações do seu corpo. Aquela pele bronzeada, ressaltando os olhos muito verdes, os braços musculosos... Sacudi a cabeça para tirar ele do pensamento.

Ele saiu abruptamente de perto de mim e quase senti minhas pernas falharem. Aquele homem tinha um poder sobre mim que eu nunca tinha visto acontecer. Também eu nunca tive um namorado para despertar certas sensações em mim.

De repente, um sinal de alerta gritou em minha cabeça: ele é um Vanderbilt! Recobrei minha sanidade imediatamente.

– Se eu soubesse, não precisaria perguntar, não acha? – respondi de forma rude e determinada.

– Justo. Você está certa.

– Só para você saber, eu estou sempre certa. – Pela primeira vez, vi um sorriso se estampar naquele rosto de deus do Olimpo.

Então, ele apenas jogou uma bomba no meu colo:

– Eu te chamei aqui para te contratar como minha assistente.

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