Que dia estressante! Liguei mais uma vez para o meu pai e disseram que ele não queria falar comigo. Desde que resolvera se aposentar que andava muito esquisito. Se isolou na fazenda da família que ficava no interior da cidade e não atendia mais minhas ligações. O sinal do celular não pegava bem lá, então eu ligava para o fixo, só para ouvir algum dos empregados me dispensar a pedido de meu pai. Já fazia 2 meses que eu não tinha nenhum contato com ele. Droga! Dei um soco na mesa e algumas coisas saíram do lugar. Eu estava à beira de ter um colapso.
Ouço uma batida tímida à porta e vejo-a se abrir lentamente. Denise, minha mais nova assistente, apareceu só com os olhos, deixando o restante do corpo protegido atrás da porta. – Senhor Vanderbilt, o rapaz do aplicativo chegou. Devo mandá-lo entrar? – Denise, eu mandei você cancelar TO-DAS as minhas reuniões de hoje! Como você quer deixar alguém entrar agora? Você está de brincadeira comigo? – gritei a todo pulmão. A porta se fechou imediatamente e eu pude ouvir o fungar de quem estava começando a chorar. Será que realmente pedi a ela para cancelar minhas reuniões ou fiz isso só na minha cabeça? Droga! Talvez a menina nem tivesse culpa. Mas agora também já foi. Detesto gente que não aguenta uma bronquinha à toa e já cai no choro. Essa assistente não foi uma boa escolha. Nenhuma das outras cinco dos últimos 3 meses foram. Todas sensíveis demais. Ou eu que estou ficando extremamente insensível? – pensei, mas logo me desviei desse devaneio. Seria melhor eu voltar para casa antes que eu fizesse mais alguém cair em prantos. Preciso acalmar meus nervos antes que eu tenha um infarto aos 32 anos! Arrumei as coisas da minha mesa que saíram do lugar, peguei uns itens que ia precisar e coloquei na minha pasta de couro legítimo preta. Ao sair pela porta, notei Denise com o rosto muito vermelho e inchado, e minha gerente de finanças conversando com ela, com um tom apaziguador. Parei em frente ao elevador. Karol veio na minha direção e parou ao meu lado, me olhando de cara feia. Ela me conhecia desde menino, quando eu vinha visitar meu pai na empresa. Karol cuidava de mim, me dava biscoitos e arrumava itens de escritório para eu brincar enquanto meu pai estava participando de reuniões. Era a única ali que não tinha medo de falar certas verdades na minha cara. Me tratava como uma mãe que dá bronca num filho. E isso sempre foi muito bom para mim, que cresci sem uma mãe por perto. A minha saíra pelo mundo assim que completei 6 anos, pois queria desbravar as coisas boas do mundo, e criança dava muito trabalho. Fui criado pelas diversas babás que meu pai foi contratando pela vida. Nunca duravam muito, pois meu pai não cumpria os horários de chegar e deixavam elas presas na minha casa até ele aparecer. Uma delas chegou a perder o Natal com a família. Mesmo recompensando com dinheiro, nenhuma delas ficava. Valorizavam a família, o que eu achava incrível, já que a minha não estava nem aí para minha existência. – Theo, não acredito que você gritou de novo com a Denise – disse Karol com aquele tom de mãe que quer brigar e ao mesmo tempo passar a mão na cabeça do filho. – Karol, ela não cancelou minhas reuniões, como pedi. E eu estava uma fera quando ela entrou e acabei perdendo a razão um pouco. – Um pouco? Ah, Theo... Você era um menino tão doce. O que te fez ficar assim tão parecido com seu pai? Eu gostava mais da sua outra versão. – Eu também – respondi com sinceridade, pois eu achava a minha versão criança muito mais divertida. Não tinha problemas, boletos para pagar nem uma empresa para governar. – Acho que você vai precisar de uma nova assistente. Revirei os olhos para ela e entrei no elevador que acabara de chegar. Eu detestava aquela coisa toda de processo seletivo. Olhei para ela com um olhar carinhoso e de pedinte. – Nem pensar, Theo! Cansei de procurar assistentes para você espantar em menos de 1 semana de trabalho. Se vira! A porta do elevador se fechou. Karol tinha o dom de me acalmar e irritar de novo, em menos de 5 minutos. Que mulher geniosa! A única mulher na minha vida que tem a coragem de me enfrentar. Talvez seja por isso que gosto tanto dela. Acho uma chatice essas mulheres que não se valorizam e fazem de tudo para chamar minha atenção. Parece que dinheiro fala mais alto que personalidade hoje em dia. Saio do elevador e vou direto para as grandes portas de vidro da saída. Vejo que o gerente de marketing, Steve, está vindo em minha direção querendo falar algo, mas faço um gesto com a mão dispensando-o e indicando para deixar para outra hora. Ele para de andar e assente com a cabeça, visivelmente frustrado. Minha irritação ainda está à flor da pele. Não é o momento de conversar com ninguém. Mal saio pela porta da empresa e uma mulher de estatura baixa, carregando um café b**e em cheio de encontro ao meu braço, derramando café por toda sua blusa branca, deixando-a transparente e com o sutiã de renda em evidência. Imediatamente desviei o olhar, para não parecer enxerido ou tarado. Vi quando semblante da moça saiu de distração para ódio mortal em segundos. Por um momento achei graça. Então ela começo a gritar, falando sobre como eu arruinei sua blusa e seu dia. Parece que ela teria uma entrevista na minha empresa e estava reclamando comigo que chegaria toda suja nela. Estava me culpando pela própria distração. Meu sangue ferveu, mas respirei fundo, pois não queria ser o cara que fazia duas mulheres chorarem no mesmo dia. Apesar de deixar claro que a culpa era toda da distração dela, ainda me solidarizei com a blusa arruinada. Eu sabia que a vaga aberta era justamente para assistente do gerente de marketing que queria falar comigo agora há pouco. Sabia também da má fama dele com as mulheres. Ele já estava no meu radar quanto a isso. Qualquer reclamação de assédio e ele rodaria. Pobre dessa garota que vai fazer entrevista com ele vestindo essa blusa transparente. É entregar ouro a bandido. Senti uma raiva repentina me tomar com esse pensamento. Imaginei aquela criatura de pequena estatura, magra, mas com preenchimento natural nos locais certos, olhos cor de mel, cabelo castanho-escuro e liso, preso em um coque, tão vulnerável sob os olhos daquele tarado. Vulnerável? Ela quase voou no meu pescoço por causa de um café derramado, imagina o que faria com o Steve. Mesmo assim, pensar nela dentro da mesma sala com Steve fez minha raiva aumentar por completo e cerrei os punhos nas laterais do meu corpo, tentando me controlar. Ouvi-a, de repente, se desculpar pelo acidente. – Acidente? Estava era no mundo da lua... – falei em voz baixa assim que me virei e fui em direção ao meu carro. Se eu ficasse mais um segundo ali, pegaria ela, colocaria no ombro e a enfiaria dentro do meu carro, mesmo berrando, só para garantir que ela não chegasse nem perto daquele safado. Antes de entrar no carro, olhei para trás, na direção dela. Queria me lembrar de cada detalhe daquela baixinha raivosa que me atacou e, mesmo em um momento de muito estresse, me fez sorrir por tanta braveza. Parecia um Pinscher latindo para um Pitbull. Não posso negar que se trata de uma menina corajosa. Mal sabia ela que estava aos berros com CEO da empresa para a qual iria fazer uma entrevista. Pela cara pálida da menina do marketing que estava ao lado dela, sua amiga não fazia ideia de quem ele era. Chegou a puxá-la para trás para impedi-la de voar no meu pescoço. Era muita raiva para uma mulher tão pequena. Tinha traços de menina, mas a personalidade era de leoa. Sorri ao pensar nela novamente. Balancei a cabeça para tirá-la dos meus pensamentos. Pela janela, vi uma loja feminina da qual eu gostava do estilo. – Milton, pare o carro. Me deixe aqui e arrume onde estacionar. Eu te ligo para me buscar daqui a alguns minutos.Passei no balcão de entrada da Vanderbilt Enterprise para fazer minha identificação. Não acredito que eu iria para uma entrevista naquele estado deplorável. Até na foto de cadastro ficou registrada a blusa toda manchada de café. Que vergonha!Brenda foi entrando na frente porque já estava atrasada, depois daquela confusão que causei. Acho que ela nunca mais vai me perdoar, mesmo eu insistindo em dizer que CEO não costuma conhecer seus funcionários e nem devia saber que ela trabalhava lá. Brenda afirmou que ele conhecia todo mundo da empresa, mesmo não sabendo exatamente os nomes. Acho muito difícil um cara com a responsabilidade e falta de tempo dele se importar em saber quem são as pessoas que trabalham para ele.Recebi o crachá para entrar e fui direto para o quarto andar. Será que isso foi um castigo do meu pai por eu estar aqui tentando uma vaga na empresa do seu inimigo? – pensei comigo. Não viaja, Sara. Seu pai tem mais o que fazer agora do que vir aqui só para te castigar por a
Entrei na loja e me deparei com um lindo vestido vermelho em uma manequim que estava bem no centro da loja de luxo. Uma vendedora loira, magra, com uma maquiagem leve, apenas para realçar sua beleza de 20 e bem poucos anos, veio em minha direção.– Posso lhe ajudar, Senhor Theodore?Ela me conhecia das outras tantas vezes que eu fora lá para comprar um presente para alguma namorada. O fato é que eu trocava tanto de namoradas que eu estava sempre por lá comprando algum presente para a mais recente felizarda. Apesar de já estar aflorado em mim o desejo de construir uma família, não conseguia encontrar uma parceira com quem eu realmente almejasse o tal “para sempre”.– Olá, Lorena! Vou querer este para presente. – Indiquei o manequim com o exuberante vestido vermelho.Pensar naquela pequena Pinscher vestindo aquela peça fez meu membro latejar. Fazia tempo que meu amigo não era usado. Eu havia desistido de ficar saindo com essas modelos que só estavam interessadas no meu status e dinheiro
Pensei que eu fosse desmaiar bem ali. Minhas pernas ficaram fracas e senti o sangue sumir do meu corpo. Tudo o que eu menos precisava era virar assistente do filho do grande inimigo do meu pai. Tom Vanderbilt tinha acabado com a vida da gente. Ele fez meu pai perder o sonho da sua vida e se manter para sempre como um simples professor de empreendedorismo inovador, que nem um negócio próprio tinha – quanta hipocrisia! Isso o revoltou ainda mais. Deixou-o com “uma mão na frente e outra atrás” logo no momento mais importante de sua vida. Tom fechara negócio com os empresários e o deixara de fora do esquema, recebendo sozinho a mais do que generosa comissão pelo contrato firmado de fornecer transporte de qualidade e a baixos custos para facilitar a importação de produtos da Itália, projeto que tinham elaborado juntos nos últimos anos. Era um contrato milionário, e seu sócio o excluíra por puro egoísmo e ambição. Tom, que se dizia o seu melhor amigo, simplesmente virara as costas para ele
Meu pai continuou contando sobre aquele dia fatídico. Disse que acordara animado para a reunião. Diana foi para uma entrevista de emprego, e ele estava se aprontando para ir para a reunião que poderia mudar tudo para eles. Chegaria mais cedo do que o acordado com Tom, pois estava ansioso e não aguentaria ficar mais tempo naquele apartamento vazio, sem ter ninguém com quem desabafar seu nervosismo.Valter foi pegar o celular, que deixara carregando a noite toda. Droga! Viu que o fio não estava encaixado direito e restavam só 10% de bateria. Mas, não tinha problema. Levaria o carregador e carregaria lá no coworking quando chegasse. Até a hora da reunião, já estaria com a bateria cheia.Nesse momento, seu telefone tocou. Atendeu rápido com medo de a bateria acabar e ser algo importante. Era do Lawrence Memorial Hospital. Sentiu a espinha gelar. O que poderia ter acontecido?– Por favor, fale logo do que se trata, a bateria do meu celular está acabando – suplicou Valter.– Sr. Walker, aqu
Senti as mãos grandes e braços musculosos me segurarem por trás e me levarem até o sofá, que ficava em um canto do escritório. Fiquei grata internamente por aquele suporte, pois achei que realmente desmaiaria bem ali, na frente do CEO. Apesar de arrogante, ele até que foi gentil neste momento. Bati os olhos num porta-retrato que estava bem em cima da mesinha de centro, de vidro, que ficava em frente ao sofá de couro caramelo onde Theodore a havia sentado. Meu coração parou por um instante, junto com minha respiração. Era uma foto de Tom Vanderbilt ao lado de uma versão mais jovem de seu filho. Nesta, ele não estava com os olhos furados, mas dava para identificá-lo muito bem. Theodore puxara os olhos dele, agora podia perceber. De repente, caiu em si.– Tire suas mãos de mim! – vociferei, ainda sentindo muito de perto o calor daqueles braços torneados.– Sua ingrata raivosa! Eu estava tentando te ajudar. Você estava prestes a cair dura bem no meio da minha sala – explodiu ele e se afast
Apesar de não querer tocar em Sara devido ao turbilhão de sensações que ela me causava, foi inevitável. Se eu não a segurasse, cairia bem no meio do meu escritório. Apoiei-a com uma mão em suas costas e outra segurando sua mão, direcionando-a ao sofá, para que pudesse repousar. A pele nua das costas em contato com minha mão fazia-me queimar de desejo, querendo descer e tocar seu corpo inteiro. Precisava ser rápido ao colocá-la no sofá, caso contrário, ela acabaria vendo o tamanho do meu desejo através da minha calça, que agora pulsava. Ao sentá-la, fiquei muito próximo do pescoço de Sara, pois o cabelo dela estava preso em um coque formal. Aquele pescoço à mostra me fazia querer beijá-lo de leve, até que todo o corpo dela se arrepiasse em antecipação. Podia ficar horas naquele pescoço, beijando-o e sentindo aquele perfume doce que era só dela. Depois subiria meus dedos por sua nuca, por debaixo dos cabelos e os puxaria para trás, gentilmente, mas com firmeza, fazendo-a arquear o corpo
Aaaargh! Que homem insuportável e mandão! Não acredito que acabou de me obrigar a aceitar ir visitar o pai dele, o maior inimigo de seu pai, única família que lhe restara e que acabara de deixá-la. Valter, definitivamente, devia estar se revirando no túmulo de tanta decepção da filha. Eu sentia como se estivesse traindo a única pessoa que nunca me abandonou, que esteve ao meu lado em tudo, momentos bons ou ruins. Como eu odiava aquele Vanderbilt filho, do mesmo modo como cresci odiando o pai e o avô dele. Deus me livre lhe passar meu endereço. Aí ele, no mínimo, desconfiaria de quem eu era filha, meu segredo seria revelado e perderia o único emprego que me permitiria pagar mais rápido as dívidas deixadas pelo pai. Era uma família de esnobes, que achava que podia comprar as pessoas.O próprio pai do Tom, depois da traição toda, quis recompensar meu pai com algumas migalhas de dinheiro. Meu pai, orgulhoso demais, jamais aceitou. Naquele dia em que ligou para o amigo, para contar o motiv
Era tarde da noite quando meu celular tocou. Quem seria a uma hora dessas? Ninguém nunca me ligava, muito menos à noite. Corri para atender. Podia ser alguma emergência com meu pai. Olhei o visor: Sara. O que, diabos, ela queria assim tão tarde? Será que queria cancelar a viagem de amanhã? Ah, mas isso ela não ia fazer mesmo. Atendi já com a raiva à flor da pele.– Alô – rosnei.– Sr. Vanderbilt? – ouviu-a dizer, com a voz trêmula de quem estava com medo. Seu corpo inteiro gelou.– Sara? O que houve? – questionei em tom mais acolhedor, mas ela teve uma crise de choro e não conseguia mais falar. Do outro lado do telefone, eu só conseguia ouvi-la se debulhando em lágrimas. Me senti completamente impotente. Um senso protetor me dominou e quis ir correndo tirá-la de qualquer sufoco que estivesse passando. Colocaria Sara em seus braços e não permitiria que nada a atingisse.– Me envia sua localização, Sara. Estou indo para aí agora.Ela devia estar mesmo desesperada, porque assim que desli