Capítulo 2

Que dia estressante! Liguei mais uma vez para o meu pai e disseram que ele não queria falar comigo. Desde que resolvera se aposentar que andava muito esquisito. Se isolou na fazenda da família que ficava no interior da cidade e não atendia mais minhas ligações. O sinal do celular não pegava bem lá, então eu ligava para o fixo, só para ouvir algum dos empregados me dispensar a pedido de meu pai. Já fazia 2 meses que eu não tinha nenhum contato com ele. Droga! Dei um soco na mesa e algumas coisas saíram do lugar. Eu estava à beira de ter um colapso.

Ouço uma batida tímida à porta e vejo-a se abrir lentamente. Denise, minha mais nova assistente, apareceu só com os olhos, deixando o restante do corpo protegido atrás da porta.

– Senhor Vanderbilt, o rapaz do aplicativo chegou. Devo mandá-lo entrar?

– Denise, eu mandei você cancelar TO-DAS as minhas reuniões de hoje! Como você quer deixar alguém entrar agora? Você está de brincadeira comigo? – gritei a todo pulmão.

A porta se fechou imediatamente e eu pude ouvir o fungar de quem estava começando a chorar. Será que realmente pedi a ela para cancelar minhas reuniões ou fiz isso só na minha cabeça? Droga! Talvez a menina nem tivesse culpa. Mas agora também já foi. Detesto gente que não aguenta uma bronquinha à toa e já cai no choro. Essa assistente não foi uma boa escolha. Nenhuma das outras cinco dos últimos 3 meses foram. Todas sensíveis demais. Ou eu que estou ficando extremamente insensível? – pensei, mas logo me desviei desse devaneio.

Seria melhor eu voltar para casa antes que eu fizesse mais alguém cair em prantos. Preciso acalmar meus nervos antes que eu tenha um infarto aos 32 anos! Arrumei as coisas da minha mesa que saíram do lugar, peguei uns itens que ia precisar e coloquei na minha pasta de couro legítimo preta. Ao sair pela porta, notei Denise com o rosto muito vermelho e inchado, e minha gerente de finanças conversando com ela, com um tom apaziguador.

Parei em frente ao elevador. Karol veio na minha direção e parou ao meu lado, me olhando de cara feia. Ela me conhecia desde menino, quando eu vinha visitar meu pai na empresa. Karol cuidava de mim, me dava biscoitos e arrumava itens de escritório para eu brincar enquanto meu pai estava participando de reuniões. Era a única ali que não tinha medo de falar certas verdades na minha cara. Me tratava como uma mãe que dá bronca num filho. E isso sempre foi muito bom para mim, que cresci sem uma mãe por perto. A minha saíra pelo mundo assim que nasci, pois queria desbravar as coisas boas do mundo, e criança dava muito trabalho. Fui criado pelas diversas babás que meu pai foi contratando pela vida. Nunca duravam muito, pois meu pai não cumpria os horários de chegar e deixavam elas presas na minha casa até ele aparecer. Uma delas chegou a perder o Natal com a família. Mesmo recompensando com dinheiro, nenhuma delas ficava. Valorizavam a família, o que eu achava incrível, já que a minha não estava nem aí para minha existência.

– Theo, não acredito que você gritou de novo com a Denise – disse Karol com aquele tom de mãe que quer brigar e ao mesmo tempo passar a mão na cabeça do filho.

– Karol, ela não cancelou minhas reuniões, como pedi. E eu estava uma fera quando ela entrou e acabei perdendo a razão um pouco.

– Um pouco? Ah, Theo... Você era um menino tão doce. O que te fez ficar assim tão parecido com seu pai? Eu gostava mais da sua outra versão.

– Eu também – respondi com sinceridade, pois eu achava a minha versão criança muito mais divertida. Não tinha problemas, boletos para pagar nem uma empresa para governar.

– Acho que você vai precisar de uma nova assistente.

Revirei os olhos para ela e entrei no elevador que acabara de chegar. Eu detestava aquela coisa toda de processo seletivo. Olhei para ela com um olhar carinhoso e de pedinte.

– Nem pensar, Theo! Cansei de procurar assistentes para você espantar em menos de 1 semana de trabalho. Se vira!

A porta do elevador se fechou. Karol tinha o dom de me acalmar e irritar de novo, em menos de 5 minutos. Que mulher geniosa! A única mulher na minha vida que tem a coragem de me enfrentar. Talvez seja por isso que gosto tanto dela. Acho uma chatice essas mulheres que não se valorizam e fazem de tudo para chamar minha atenção. Parece que dinheiro fala mais alto que personalidade hoje em dia.

Saio do elevador e vou direto para as grandes portas de vidro da saída. Vejo que o gerente de marketing, Steve, está vindo em minha direção querendo falar algo, mas faço um gesto com a mão dispensando-o e indicando para deixar para outra hora. Ele para de andar e assente com a cabeça, visivelmente frustrado. Minha irritação ainda está à flor da pele. Não é o momento de conversar com ninguém.

Mal saio pela porta da empresa e uma mulher de estatura baixa, carregando um café b**e em cheio de encontro ao meu braço, derramando café por toda sua blusa branca, deixando-a transparente e com o sutiã de renda em evidência. Imediatamente desviei o olhar, para não parecer enxerido ou tarado.

Vi quando semblante da moça saiu de distração para ódio mortal em segundos. Por um momento achei graça. Então ela começo a gritar, falando sobre como eu arruinei sua blusa e seu dia. Parece que ela teria uma entrevista na minha empresa e estava reclamando comigo que chegaria toda suja na entrevista. Estava me culpando pela própria distração. Meu sangue ferveu, mas respirei fundo, pois não queria ser o cara que fazia duas mulheres chorar no mesmo dia.

Apesar de deixar claro que a culpa era toda da distração dela, ainda me solidarizei com a blusa arruinada. Eu sabia que a vaga aberta era justamente para assistente do gerente de marketing que queria falar comigo agora há pouco. Sabia também da má fama dele com as mulheres. Ele já estava no meu radar quanto a isso. Qualquer reclamação de assédio e ele rodaria. Pobre dessa garota que vai fazer entrevista com ele vestindo essa blusa transparente. É entregar ouro a bandido.

Senti uma raiva repentina me tomar com esse pensamento. Imaginei aquela criatura de pequena estatura, magra, mas com preenchimento natural nos locais certos, olhos cor de mel, cabelo castanho-escuro e liso, preso em um coque, tão vulnerável sob os olhos daquele tarado. Vulnerável? Ela quase voou no meu pescoço por causa de um café derramado, imagina o que faria com o Steve. Mesmo assim, pensar nela dentro da mesma sala com Steve fez minha raiva aumentar por completo e cerrei os punhos nas laterais do meu corpo, tentando me controlar. Ouvi-a, de repente, se desculpar pelo acidente.

– Acidente? Estava era no mundo da lua... – falei em voz baixa assim que me virei e fui em direção ao meu carro. Se eu ficasse mais um segundo ali, pegaria ela, colocaria no ombro e a enfiaria dentro do meu carro, mesmo berrando, só para garantir que ela não chegasse nem perto daquele safado.

Antes de entrar no carro, olhei para trás, na direção dela. Queria me lembrar de cada detalhe daquela baixinha raivosa que me atacou e, mesmo em um momento de muito estresse, me fez sorrir por tanta braveza. Parecia um Pinscher latindo para um Pitbull. Não posso negar que se trata de uma menina corajosa. Mal sabia ela que estava aos berros com CEO da empresa para a qual iria fazer uma entrevista. Pela cara pálida da menina do marketing que estava ao lado dela, sua amiga não fazia ideia de quem ele era. Chegou a puxá-la para trás para impedi-la de voar no meu pescoço. Era muita raiva para uma mulher tão pequena. Tinha traços de menina, mas a personalidade de leoa. Sorri ao pensar nela novamente. Balancei a cabeça para tirá-la dos meus pensamentos. Pela janela, vi uma loja feminina da qual eu gostava do estilo.

– Milton, pare o carro. Me deixe aqui e arrume onde estacionar. Eu te ligo para me buscar daqui a alguns minutos.

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