Capítulo 5

Pensei que eu fosse desmaiar bem ali. Minhas pernas ficaram fracas e senti o sangue sumir do meu corpo. Tudo o que eu menos precisava era virar assistente do filho do grande inimigo do meu pai. Tom Vanderbilt tinha acabado com a vida da gente. Ele fez meu pai perder o sonho da sua vida e se manter para sempre como um simples professor de empreendedorismo inovador, que nem um negócio próprio tinha – quanta hipocrisia! Isso o revoltou ainda mais. Deixou-o com “uma mão na frente e outra atrás” logo no momento mais importante de sua vida. Tom fechara negócio com os empresários e o deixara de fora do esquema, recebendo sozinho a mais do que generosa comissão pelo contrato firmado de fornecer transporte de qualidade e a baixos custos para facilitar a importação de produtos da Itália, projeto que tinham elaborado juntos nos últimos anos. Era um contrato milionário, e seu sócio o excluíra por puro egoísmo e ambição. Tom, que se dizia o seu melhor amigo, simplesmente virara as costas para ele sem piedade alguma. Todos os anos de parceria foram completamente esquecidos, jogados no lixo.

A proposta de Theodore não poderia ser mais obscena. Como eu poderia trabalhar na empresa Vanderbilt e ainda com um dos Vanderbilt em pessoa? Passei a vida ouvindo meu pai falar horrores deles, vendo-o recortar reportagens em jornais e revistas, e furar os olhos do Sr. Vanderbilt cada vez que aparecia um retrato dele estampado.

Quando eu já era mais velha, em uma das bebedeiras do meu pai, ele acabou contando a história completa. Disse que Tom e ele eram melhores amigos desde a época do colégio. O amigo o incentivou a ingressarem na mesma faculdade, para trabalharem juntos na área de transportes, que era especialidade da família Vanderbilt. Eles só precisariam achar o nicho deles dentro desse negócio, que já era muito lucrativo para a família Vanderbilt.

Valter Walker ficara na dúvida entre cursar Harvard ou Massachusetts Institute of Technology (MIT), ambas em Cambridge. Ficou tentado com a proposta de Tom, pois já sairiam da faculdade praticamente com um projeto em mãos. Deixou de lado o sonho de fazer Harvard e foi para MIT com o amigo.

Os pais de Tom alugaram um apartamento para ele em Cambridge, e ele convidara Valter para morarem juntos, já que havia dois quartos. Para Valter seria ótimo economizar passagem e tempo para ir até a faculdade todos os dias. Era a parceria perfeita, achava ele.

Durante os primeiros anos da faculdade, os dois eram inseparáveis. Pegaram as mesmas matérias e se especializaram o máximo que puderam em inovação tecnológica e eficiência operacional. A ideia era revolucionar o mercado de transportes dos Estados Unidos.

Então, em uma das festas dadas no alojamento do campus, Valter conheceu Diana. Ela também era da MIT, cursava Linguagens, Literaturas e Culturas Globais. Estava muito bêbada naquele dia e vomitando no gramado. Valter achou melhor ajudá-la a chegar de volta a seu quarto do alojamento, pois havia muitos relatos de garotas que sofriam abusos quando estavam semiconscientes. Só de pensar nisso, o coração dele se apertou. Pobre garota. Ela tinha apenas 18 anos nessa época, e ele, 20. Tom achou besteira salvar a garota, então voltou para a festa.

Valter ficou imediatamente encantado por aquele rosto angelical e cabelo ondulado castanho. Diana tinha um sorriso que iluminava o recinto. Tinha um jeito otimista de ver a vida e era muito brincalhona. Não tinha como ele não se apaixonar. Diana era tudo o que ele sonhara em uma mulher.

É claro que Tom ficou com ciúmes quando os dois começaram a namorar. Agora tinha que dividir a atenção do amigo. Diana vivia enfurnada no apartamento deles, e Tom acabava saindo de casa para não precisar conviver com ela e ver a cena dos pombinhos apaixonados. Tudo mudou a partir daí. Mas, eles continuaram seguindo os planos iniciais do projeto de inovação na área do transporte.

Quando se formaram, 2 anos depois, Tom devolvera o apartamento e voltou para Boston. Valter quis continuar em Cambridge para ficar perto de Diana, enquanto não se formava. Faltava cursar ainda mais 2 anos.

Quando Diana ia para as aulas, Valter ia a Boston visitar o amigo e trabalharem para concluir o projeto. Tinham feito um grande avanço até então, mas ainda era difícil conseguir clientes que quisessem apostar no investimento milionário para a solução inovadora de importação que bolaram. E, enquanto o projeto não saía do papel, Valter arrumara um emprego de professor temporário de empreendedorismo inovador em uma escola ali perto. Ensinava adolescentes a serem donos do próprio negócio. Precisava pagar pelo quartinho que alugara em Cambridge para ficar perto do alojamento de Diana, e por comida, é claro, e esse foi o melhor emprego que conseguira em meio período.

Assim que Diana se formara, Valter a pediu em casamento e convidou Tom para ser padrinho. A contragosto, o amigo aceitou. Foi uma cerimônia simples, pois ainda ganhava apenas como professor, e Diana era assistente de professora de português; ela ainda não havia conseguido uma vaga de titular.

Valter e Diana resolveram se mudar para Medford, uma cidade vizinha que tinha um custo mais baixo, mas ainda continuava perto de Boston, onde Valter trabalhava e ainda fazia o projeto com Tom após seu expediente escolar.

Passados 3 anos, o projeto já estava pronto há pouco mais de 1 ano, mas nunca tinham conseguido uma entrevista com potenciais investidores... até aquele momento. Quando Tom recebeu o telefonema de um amigo de seu pai dizendo estar interessado e querendo marcar uma entrevista, eles não acreditaram. Finalmente, o projeto poderia sair do papel, e eles teriam a chance de mudar a história do transporte para importações nos Estados Unidos. Era uma chance de ouro!

Marcaram a entrevista em um coworking que disponibilizava uma bela sala de reuniões. O pai de Tom pagara por ela, porque os rapazes ainda não tinham recursos suficientes. No dia e na hora marcados, Tom aguardava Valter, que estava bastante atrasado, pois haviam marcado 1 hora antes para combinar o que falariam na reunião. Tentou ligar para o amigo diversas vezes e nada... O telefone caía na caixa postal, como se estivesse desligado. O que será que tinha acontecido? O pai de Tom, então, foi até lá ajudá-lo na entrevista, para que ele não ficasse sozinho.

Os investidores italianos adoraram a proposta de importação inovadora e resolveram fazer um investimento de 10 milhões de dólares para fazer o projeto sair do papel e garantir uma importação eficiente de produtos da Itália para os Estados Unidos, a baixo custo para os exportadores. Tom manteve o semblante de seriedade que a ocasião exigia, mas por dentro estava explodindo de felicidade. Mal podia imaginar a cara de Valter quando contasse a novidade. Isso se o amigo aparecesse. Por um momento, se preocupou novamente com o amigo.

Quando saiu de seus pensamentos, viu o pai apertar a mão dos investidores e dizer que enviaria o contrato para assinatura no mesmo dia. Tom estava incrédulo. Sua vida iria mudar completamente a partir de então. Deixaria de morar com seus pais e se afastaria do pai controlador, que queria ditar todos os seus passos. Não podia negar que ele tinha sido de grande ajuda para fechar esse contrato, mas agora Tom e Valter assumiriam as rédeas do negócio.

Mais tarde, quando o pai chegou com os contratos já assinados pelos investidores, apenas para Tom assinar a parte dele, o pesadelo começou. O advogado do pai colocara Tom como o único responsável pelo projeto, excluindo seu sócio e amigo de infância. Tom questionou o pai e ouviu um sermão de horas sobre como seria ter um sócio irresponsável que nem aparecia na reunião mais importante da vida deles e que seria uma vergonha chegar com um novo contrato para os italianos assinarem, investindo um valor milionário no projeto que tinha um sócio fantasma. Depois de tanta pressão, Tom assinou a contragosto o contrato e acabou com a amizade de uma vida inteira.

Sara sentiu a dor do pai em cada palavra da história contada. E ele ainda nem tinha chegado na parte em que explicaria o seu sumiço repentino da reunião que poderia ter deixado ele e Diana milionários. O fato é que, naquele mesmo dia, Valter sumira porque tivera, ao mesmo tempo, a pior e a melhor notícia da sua vida, e tudo mudaria para sempre a partir de então.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo