Pensei que eu fosse desmaiar bem ali. Minhas pernas ficaram fracas e senti o sangue sumir do meu corpo. Tudo o que eu menos precisava era virar assistente do filho do grande inimigo do meu pai. Tom Vanderbilt tinha acabado com a vida da gente. Ele fez meu pai perder o sonho da sua vida e se manter para sempre como um simples professor de empreendedorismo inovador, que nem um negócio próprio tinha – quanta hipocrisia! Isso o revoltou ainda mais. Deixou-o com “uma mão na frente e outra atrás” logo no momento mais importante de sua vida. Tom fechara negócio com os empresários e o deixara de fora do esquema, recebendo sozinho a mais do que generosa comissão pelo contrato firmado de fornecer transporte de qualidade e a baixos custos para facilitar a importação de produtos da Itália, projeto que tinham elaborado juntos nos últimos anos. Era um contrato milionário, e seu sócio o excluíra por puro egoísmo e ambição. Tom, que se dizia o seu melhor amigo, simplesmente virara as costas para ele sem piedade alguma. Todos os anos de parceria foram completamente esquecidos, jogados no lixo.
A proposta de Theodore não poderia ser mais obscena. Como eu poderia trabalhar na empresa Vanderbilt e ainda com um dos Vanderbilt em pessoa? Passei a vida ouvindo meu pai falar horrores deles, vendo-o recortar reportagens em jornais e revistas, e furar os olhos do Sr. Vanderbilt cada vez que aparecia um retrato dele estampado.
Quando eu já era mais velha, em uma das bebedeiras do meu pai, ele acabou contando a história completa. Disse que Tom e ele eram melhores amigos desde a época do colégio. O amigo o incentivou a ingressarem na mesma faculdade, para trabalharem juntos na área de transportes, que era especialidade da família Vanderbilt. Eles só precisariam achar o nicho deles dentro desse negócio, que já era muito lucrativo para a família Vanderbilt.
Valter Walker ficara na dúvida entre cursar Harvard ou Massachusetts Institute of Technology (MIT), ambas em Cambridge. Ficou tentado com a proposta de Tom, pois já sairiam da faculdade praticamente com um projeto em mãos. Deixou de lado o sonho de fazer Harvard e foi para MIT com o amigo.
Os pais de Tom alugaram um apartamento para ele em Cambridge, e ele convidara Valter para morarem juntos, já que havia dois quartos. Para Valter seria ótimo economizar passagem e tempo para ir até a faculdade todos os dias. Era a parceria perfeita, achava ele.
Durante os primeiros anos da faculdade, os dois eram inseparáveis. Pegaram as mesmas matérias e se especializaram o máximo que puderam em inovação tecnológica e eficiência operacional. A ideia era revolucionar o mercado de transportes dos Estados Unidos.
Então, em uma das festas dadas no alojamento do campus, Valter conheceu Diana. Ela também era da MIT, cursava Linguagens, Literaturas e Culturas Globais. Estava muito bêbada naquele dia e vomitando no gramado. Valter achou melhor ajudá-la a chegar de volta a seu quarto do alojamento, pois havia muitos relatos de garotas que sofriam abusos quando estavam semiconscientes. Só de pensar nisso, o coração dele se apertou. Pobre garota. Ela tinha apenas 18 anos nessa época, e ele, 20. Tom achou besteira salvar a garota, então voltou para a festa.
Valter ficou imediatamente encantado por aquele rosto angelical e cabelo ondulado castanho. Diana tinha um sorriso que iluminava o recinto. Tinha um jeito otimista de ver a vida e era muito brincalhona. Não tinha como ele não se apaixonar. Diana era tudo o que ele sonhara em uma mulher.
É claro que Tom ficou com ciúmes quando os dois começaram a namorar. Agora tinha que dividir a atenção do amigo. Diana vivia enfurnada no apartamento deles, e Tom acabava saindo de casa para não precisar conviver com ela e ver a cena dos pombinhos apaixonados. Tudo mudou a partir daí. Mas, eles continuaram seguindo os planos iniciais do projeto de inovação na área do transporte.
Quando se formaram, 2 anos depois, Tom devolvera o apartamento e voltou para Boston. Valter quis continuar em Cambridge para ficar perto de Diana, enquanto não se formava. Faltava cursar ainda mais 2 anos.
Quando Diana ia para as aulas, Valter ia a Boston visitar o amigo e trabalharem para concluir o projeto. Tinham feito um grande avanço até então, mas ainda era difícil conseguir clientes que quisessem apostar no investimento milionário para a solução inovadora de importação que bolaram. E, enquanto o projeto não saía do papel, Valter arrumara um emprego de professor temporário de empreendedorismo inovador em uma escola ali perto. Ensinava adolescentes a serem donos do próprio negócio. Precisava pagar pelo quartinho que alugara em Cambridge para ficar perto do alojamento de Diana, e por comida, é claro, e esse foi o melhor emprego que conseguira em meio período.
Assim que Diana se formara, Valter a pediu em casamento e convidou Tom para ser padrinho. A contragosto, o amigo aceitou. Foi uma cerimônia simples, pois ainda ganhava apenas como professor, e Diana era assistente de professora de português; ela ainda não havia conseguido uma vaga de titular.
Valter e Diana resolveram se mudar para Medford, uma cidade vizinha que tinha um custo mais baixo, mas ainda continuava perto de Boston, onde Valter trabalhava e ainda fazia o projeto com Tom após seu expediente escolar.
Passados 3 anos, o projeto já estava pronto há pouco mais de 1 ano, mas nunca tinham conseguido uma entrevista com potenciais investidores... até aquele momento. Quando Tom recebeu o telefonema de um amigo de seu pai dizendo estar interessado e querendo marcar uma entrevista, eles não acreditaram. Finalmente, o projeto poderia sair do papel, e eles teriam a chance de mudar a história do transporte para importações nos Estados Unidos. Era uma chance de ouro!
Marcaram a entrevista em um coworking que disponibilizava uma bela sala de reuniões. O pai de Tom pagara por ela, porque os rapazes ainda não tinham recursos suficientes. No dia e na hora marcados, Tom aguardava Valter, que estava bastante atrasado, pois haviam marcado 1 hora antes para combinar o que falariam na reunião. Tentou ligar para o amigo diversas vezes e nada... O telefone caía na caixa postal, como se estivesse desligado. O que será que tinha acontecido? O pai de Tom, então, foi até lá ajudá-lo na entrevista, para que ele não ficasse sozinho.
Os investidores italianos adoraram a proposta de importação inovadora e resolveram fazer um investimento de 10 milhões de dólares para fazer o projeto sair do papel e garantir uma importação eficiente de produtos da Itália para os Estados Unidos, a baixo custo para os exportadores. Tom manteve o semblante de seriedade que a ocasião exigia, mas por dentro estava explodindo de felicidade. Mal podia imaginar a cara de Valter quando contasse a novidade. Isso se o amigo aparecesse. Por um momento, se preocupou novamente com o amigo.
Quando saiu de seus pensamentos, viu o pai apertar a mão dos investidores e dizer que enviaria o contrato para assinatura no mesmo dia. Tom estava incrédulo. Sua vida iria mudar completamente a partir de então. Deixaria de morar com seus pais e se afastaria do pai controlador, que queria ditar todos os seus passos. Não podia negar que ele tinha sido de grande ajuda para fechar esse contrato, mas agora Tom e Valter assumiriam as rédeas do negócio.
Mais tarde, quando o pai chegou com os contratos já assinados pelos investidores, apenas para Tom assinar a parte dele, o pesadelo começou. O advogado do pai colocara Tom como o único responsável pelo projeto, excluindo seu sócio e amigo de infância. Tom questionou o pai e ouviu um sermão de horas sobre como seria ter um sócio irresponsável que nem aparecia na reunião mais importante da vida deles e que seria uma vergonha chegar com um novo contrato para os italianos assinarem, investindo um valor milionário no projeto que tinha um sócio fantasma. Depois de tanta pressão, Tom assinou a contragosto o contrato e acabou com a amizade de uma vida inteira.
Sara sentiu a dor do pai em cada palavra da história contada. E ele ainda nem tinha chegado na parte em que explicaria o seu sumiço repentino da reunião que poderia ter deixado ele e Diana milionários. O fato é que, naquele mesmo dia, Valter sumira porque tivera, ao mesmo tempo, a pior e a melhor notícia da sua vida, e tudo mudaria para sempre a partir de então.
Meu pai continuou contando sobre aquele dia fatídico. Disse que acordara animado para a reunião. Diana foi para uma entrevista de emprego, e ele estava se aprontando para ir para a reunião que poderia mudar tudo para eles. Chegaria mais cedo do que o acordado com Tom, pois estava ansioso e não aguentaria ficar mais tempo naquele apartamento vazio, sem ter ninguém com quem desabafar seu nervosismo.Valter foi pegar o celular, que deixara carregando a noite toda. Droga! Viu que o fio não estava encaixado direito e restavam só 10% de bateria. Mas, não tinha problema. Levaria o carregador e carregaria lá no coworking quando chegasse. Até a hora da reunião, já estaria com a bateria cheia.Nesse momento, seu telefone tocou. Atendeu rápido com medo de a bateria acabar e ser algo importante. Era do Lawrence Memorial Hospital. Sentiu a espinha gelar. O que poderia ter acontecido?– Por favor, fale logo do que se trata, a bateria do meu celular está acabando – suplicou Valter.– Sr. Walker, aqu
Senti as mãos grandes e braços musculosos me segurarem por trás e me levarem até o sofá, que ficava em um canto do escritório. Fiquei grata internamente por aquele suporte, pois achei que realmente desmaiaria bem ali, na frente do CEO. Apesar de arrogante, ele até que foi gentil neste momento. Bati os olhos num porta-retrato que estava bem em cima da mesinha de centro, de vidro, que ficava em frente ao sofá de couro caramelo onde Theodore a havia sentado. Meu coração parou por um instante, junto com minha respiração. Era uma foto de Tom Vanderbilt ao lado de uma versão mais jovem de seu filho. Nesta, ele não estava com os olhos furados, mas dava para identificá-lo muito bem. Theodore puxara os olhos dele, agora podia perceber. De repente, caiu em si.– Tire suas mãos de mim! – vociferei, ainda sentindo muito de perto o calor daqueles braços torneados.– Sua ingrata raivosa! Eu estava tentando te ajudar. Você estava prestes a cair dura bem no meio da minha sala – explodiu ele e se afast
Apesar de não querer tocar em Sara devido ao turbilhão de sensações que ela me causava, foi inevitável. Se eu não a segurasse, cairia bem no meio do meu escritório. Apoiei-a com uma mão em suas costas e outra segurando sua mão, direcionando-a ao sofá, para que pudesse repousar. A pele nua das costas em contato com minha mão fazia-me queimar de desejo, querendo descer e tocar seu corpo inteiro. Precisava ser rápido ao colocá-la no sofá, caso contrário, ela acabaria vendo o tamanho do meu desejo através da minha calça, que agora pulsava. Ao sentá-la, fiquei muito próximo do pescoço de Sara, pois o cabelo dela estava preso em um coque formal. Aquele pescoço à mostra me fazia querer beijá-lo de leve, até que todo o corpo dela se arrepiasse em antecipação. Podia ficar horas naquele pescoço, beijando-o e sentindo aquele perfume doce que era só dela. Depois subiria meus dedos por sua nuca, por debaixo dos cabelos e os puxaria para trás, gentilmente, mas com firmeza, fazendo-a arquear o corpo
Aaaargh! Que homem insuportável e mandão! Não acredito que acabou de me obrigar a aceitar ir visitar o pai dele, o maior inimigo de seu pai, única família que lhe restara e que acabara de deixá-la. Valter, definitivamente, devia estar se revirando no túmulo de tanta decepção da filha. Eu sentia como se estivesse traindo a única pessoa que nunca me abandonou, que esteve ao meu lado em tudo, momentos bons ou ruins. Como eu odiava aquele Vanderbilt filho, do mesmo modo como cresci odiando o pai e o avô dele. Deus me livre lhe passar meu endereço. Aí ele, no mínimo, desconfiaria de quem eu era filha, meu segredo seria revelado e perderia o único emprego que me permitiria pagar mais rápido as dívidas deixadas pelo pai. Era uma família de esnobes, que achava que podia comprar as pessoas.O próprio pai do Tom, depois da traição toda, quis recompensar meu pai com algumas migalhas de dinheiro. Meu pai, orgulhoso demais, jamais aceitou. Naquele dia em que ligou para o amigo, para contar o motiv
Era tarde da noite quando meu celular tocou. Quem seria a uma hora dessas? Ninguém nunca me ligava, muito menos à noite. Corri para atender. Podia ser alguma emergência com meu pai. Olhei o visor: Sara. O que, diabos, ela queria assim tão tarde? Será que queria cancelar a viagem de amanhã? Ah, mas isso ela não ia fazer mesmo. Atendi já com a raiva à flor da pele.– Alô – rosnei.– Sr. Vanderbilt? – ouviu-a dizer, com a voz trêmula de quem estava com medo. Seu corpo inteiro gelou.– Sara? O que houve? – questionei em tom mais acolhedor, mas ela teve uma crise de choro e não conseguia mais falar. Do outro lado do telefone, eu só conseguia ouvi-la se debulhando em lágrimas. Me senti completamente impotente. Um senso protetor me dominou e quis ir correndo tirá-la de qualquer sufoco que estivesse passando. Colocaria Sara em seus braços e não permitiria que nada a atingisse.– Me envia sua localização, Sara. Estou indo para aí agora.Ela devia estar mesmo desesperada, porque assim que desli
Me escondi entre uns cilindros de metal gigantes que ficavam no terraço. Coloquei minhas sacolas no chão e me sentei, apoiando meus braços e cabeça em minhas pernas dobradas. Estava difícil respirar. Tentei manter a calma, mas eu só conseguia visualizar minha sala toda revirada. Meu abajur preferido espatifado no chão. Cola nenhuma conseguiria resgatar meu fiel amigo de leituras noturnas.Assim que desliguei com o Sr. Vanderbilt, enviei a localização e me senti um pouco mais calma. Algo na voz dele me passou muita segurança. Estou indo para aí agora, dissera assim que percebeu meu desespero. Era bom saber que tinha alguém que se preocupava comigo, mesmo que fosse alguém como ele. Até deixei um pouco, só um pouco, a rivalidade de lado. Mas foi por puro desespero mesmo.Ouvi um estrondo quando a porta do terraço se abriu e gritei. Que ótimo! Agora saberiam onde eu estava escondida! Outra onda de desespero começou a me dominar e a querer impedir minha respiração. Me preparei para correr.
Como estava descobrindo mais sobre Sara naquele dia. Não tinha ideia de que ela perdera o pai recentemente. Fiquei muito furioso de saber que o homem tinha feito tantas dívidas e as deixado de herança para a filha. Ainda mais com um agiota! O que ele tinha na cabeça para fazer uma coisa dessas? Não contive minha ira e acabei chamando-o de irresponsável sem pensar. Sara não merecia me ouvir falar do pai recém-falecido em um momento em que ela já estava frágil. Só pioraria sua fragilidade. Mas engano meu. Em vez de ficar ainda mais vulnerável, Sara virou uma leoa raivosa. Quase sorri quando ela começou a gritar comigo. Minha Senhorita Encrenca estava de volta.Mantive o semblante sério para não parecer que eu estava zombando dela, caso sorrisse. Mas a verdade é que eu estava muito orgulhoso da mulher corajosa que Sara estava se mostrando. Gostei de ver a frag
Não tinha pensado nas consequências de permanecer em meu apartamento naquele estado. A porta arrombada não teria como ser trancada. E o tal agiota já sabia onde me encontrar. Daria outro recado? Esperava que não, mas não pagaria para ver. Apesar de arrogante, até que Theo estava se mostrando de muita ajuda para mim, que não tenho ninguém no mundo além de Brenda, que estava com o celular desligado quando eu mais precisava da minha melhor amiga. Theo não tinha obrigação nenhuma de me ajudar, mas em momento nenhum se negou a colaborar para me manter em segurança e ainda veio correndo assim que eu liguei para ele em desespero. Uma angústia me dominou. Agora, mais do que nunca, eu me dera conta de que estava completamente sozinha. Minha única família era meu pai, que não estava mais aqui. Como minha vida tinha ficado solitária sem ele. Engoli a emoção que estava prestes a me dominar. Eu precisava ser forte se quisesse sobreviver a esse mundo agora. Não teria mais ninguém para me apoiar e