Quantos segundos demoraria para que decidisse dar sua vida pela de alguém que ama? Mesmo sabendo que o custo seria alto, a mãe de Enn nem mesmo hesitou ao se oferecer, dando a filha uma vida na qual seu sangue pudesse pulsar. O que ela não imaginava era que a maldição dada por Mors naquela noite traria consequências terríveis e com elas, decisões também terríveis. Eu poderia continuar aqui lhe dizendo o quão catastróficas foram as consequências, mas por agora, fico em silêncio. Lá vem ela, vestida de preto, andando lentamente. Mors não tem pressa, pois tem uma única certeza solene: a de que nada é para sempre. E uma outra não tão certa assim: a de que Enn morrerá. E somente Mors a matará.
Ler maisEnquanto isso, no submundo...Hades encarou a pilha de ouro na sala de seu trono, não sabia o que faria com aquilo, logo ele, o rei do submundo... Compraria o que? Uma pilha de ossos para a decoração?— Então você trocou a vida dos dois por isso... Hum... Você nunca fez muito o tipo dinheirista — Alia apontou, tricotando uma toalha de borboletas.— A gente nunca sabe quando vai precisar, não é? — Ele sentou-se em seu trono, sorrindo de lado.— Você e Mors nunca se cansam, não é? De brincar com as vidas humanas? Ainda mais com a minha e a do meu filho? — Alia perguntou um tanto zangada.— Veja minha cara, Mors destrói e eu tento reparar a dor. — Hades rolava uma moeda por entre os dedos, era o óbolo pertencente a Logan — Achei o argumento daquele rapaz genial.— Loga
Tudo o que pôde ouvir foram vozes alteradas. Alguém estava gritando em seu ouvido, ou pelo menos pareceu ser em seu ouvido. Novamente aquela sensação de desconforto assolou-o e ele soube rapidamente que não podia sentir mais nada. — Como se atreve! Levante-se homem mundano! Logan tentou ficar em pé deparando-se com os olhos escuros e penetrantes de Hades encarando-o fixamente. — Como ousa entrar em meus domínios por meio das leis antigas dessa maneira?! — O óbolo é o objeto utilizado para se chegar até o submundo quando as pessoas morrem, está na lei, eu não fiz nada de errado — Logan contra argumentou percebendo seus pés, de certa forma, levitar do chão. — Não foi uma morte honrosa, meu jovem.
Ao acordar, Logan estava confuso e não sabia como tinha apagado. Ele estava sentado no chão, encostado na parede, com as pernas abertas. Ao mexer-se, sentiu sua nuca doer e o barulho de metal contra o chão. Abrindo os olhos, notou angustiado que seu quarto estava cheio de moedas brilhantes e joias preciosas espalhadas pelo chão. A verdade de tudo o que tinha acontecido aterrorizava-o solenemente, quando Enn lhe contou sobre uma recompensa, Logan pensara que viria de Enn por conseguirem derrotar a morte e não que a morte lhe daria a recompensa. Ele levantou-se serrando as mãos ao lado do corpo, encarou o criado mudo e a xícara, então abriu a carta sob ela. A janela projetava luz solar, atravessando as cortinas, enquanto Logan continuava em pé no centro do quarto, lendo o que Enn escrevera. Logan, quando ler esta carta, provavelmente não estarei mais aqui. Ele andou até sua bolsa, depositando o resto do dinheiro que tinha do cassino, sem mexer no
“Só existe uma única certeza solene a de que nada é para sempre”. Então vamos nos chamar de “nada” e talvez nos tornemos eternos. Enn respirou fundo, seus olhos encheram-se de lágrimas e ela então correu até sua mãe. Queria abraça-la propriamente, mas não o podia fazer devido à forma a qual ela se encontrava, então apenas a encarou por um longo tempo percebendo como eram semelhantes. Os olhos dela eram iguais aos seus e o nariz pequeno também, muito diferente do de seu pai, longo e fino. — E-eu... Quero dizer, eu não acredito que estou te vendo mamãe... Por tanto tempo eu pensei que nunca teria essa chance... — Enn estava em lágrimas agora, tentando se segurar e aproveitar ao máximo esse momento. — Mamãe, eu tenho que fazer algo, algo provavelmente ruim... — Eu sei querida. Por isso eu te esperei, para poder te dar o meu consentimento. — Ambas sentaram-se à cama, sua mãe segurou suas mãos entre as delas, apesar
Vá até onde você os deixa. Esta era a última pista. Ela encarou Logan como se ele pudesse saber sobre o quê o bilhete estava falando, mas quando retribuiu o olhar, soube que ele estava tão perdido quanto ela. O que aquelas palavras poderiam significar? O que diabos ela tinha deixado? — Nós temos que pensar como ela — Ele tamborilou os dedos no sofá olhando para além dela — O que a morte mais quer fazer você sentir? Algo que aconteceu nas duas últimas charadas... — Seus dedos tamborilavam mais rápidos. — Culpada? Eu estava carregando todo aquele fardo achando que fosse meu, em meus pensamentos a culpa de cada morte era minha e de mais ninguém. — Ela andou até ele e esperou as engrenagens em sua cabeça de algum modo fazer sentido. — Se este for o caso... — Logan se levantou indo até a outra ponta do quarto, seu semblante fixo em algo além das vidraças velhas e agora quebradas — Pode ser que as pessoas mortas teoricamente, por você, esteja
Sabendo que precisavam de algum lugar para descansar, Logan levou Enn para o segundo andar e, ao que parecia, não havia sangue e destruição, apenas quartos com camas velhas abandonadas. Ele a levou nas costas, não sabia exatamente se ela tinha apagado de exaustão ou desmaiado devido aos ferimentos, mas algo no modo como Enn não se mexia estava deixando-o preocupado. Sentou no sofá por alguns breves segundos, com a cabeça entre as mãos. Sua mente se encontrava repleta de perguntas, para as quais não havia respostas. A única coisa da qual ele tinha certeza era a de que queria de algum modo fazê-la sofrer, fazer Mors de alguma forma morrer. Sabia que ela é uma entidade e que matar a morte é uma coisa impossível, mas agora, ali naquele quarto, sentia necessidade de vingar-se. — Logan... Ele encarou Enn deitada na cama. Ela estava deitada de lado, sem as cobertas empoeiradas, encarando-o. Seu cabelo estava esparramado na cama cobrindo metade da maçã do rosto, os b
Ele estava confuso. Durante o trajeto que fizeram ao sair do vagão e perambular a procura de uma entrada para o esgoto, Logan observava o modo como Enn parecia estar inquieta, parecia estar mal. Logan andou pelo beco enquanto Enn agachava e puxava a tampa de esgoto de ferro redonda, indicando a ele que poderiam descer. Ele torceu o nariz ao passar por ela e entrar, no que parecia ser uma escuridão absoluta. Quando pisou em algo grudendo, não olhou para baixo a fim de saber o que era, sabia que se fizesse isso não encontraria uma resposta agradável. O cheiro era forte e ele achou que vomitaria, não tinha um estômago fraco, mas aquilo era demais até mesmo para ele. — Então, o que achou? Agradável, não é? — Enn perguntou de forma sarcástica ligando a lanterna de Logan. — Ao que tudo indica nós devemos ir por aqui — Apontou para a esquerda. Durante o trajeto, Logan não disse nada, apenas sentiu que algo estava o incomodando, algo que não era exatamente o esgoto q
“Amar não te faz imortal”. — Você tem certeza absoluta do que está fazendo? — Enn perguntou quando Logan a arrastou para muito perto do metrô — Não posso chegar perto das pessoas e esse é definitivamente um dos lugares onde mais existem pessoas aglomeradas. Logan, isso não parece ser uma boa ideia! — Ela agarra a manga do moletom dele. A atenção dele estava voltada para as escadas, procurando por pessoas. Se ele fosse rápido o suficiente conseguiria usar a passagem secreta que havia por trás da estação, sabia dela porque a utilizava para fugir quando estava sendo perseguido ou arranjava encrenca, o mundo das apostas podia ser selvagem quando queria. Quando ninguém mais estava subindo pelas escadas, ele segurou a mão de Enn com força entre seus dedos longos e a puxou do beco para o metrô. — Vem, eu tenho um plano! — Ele desceu as escadas correndo e antes que um homem, a dois metros de distância, distraído com seu celular fosse m
— Enn, o que tá acontecendo porr... A porta azul abriu-se sozinha fazendo Logan fechar a boca suja. Ele esperou que Enn entrasse ou fizesse algo, mas ela parecia estar desesperada. Por que ele tinha topado aquilo? Agora ele tinha que morrer graças a sua ganância. Dando passos para dentro arrastou Enn atrás de si encarando bem o lugar. Era uma sala pequena, porém aconchegante, as paredes ainda eram da mesma cor bege de antes e os móveis eram feitos de madeira, típicos de uma pequena fazenda. Os sofás estavam cobertos por capas velhas e vermelhas de crochê, como que feitas por uma mãe muito caprichosa há muito tempo. E o quadro na parede... O quadro na parede emoldurava o sorriso de um homem de barba rala por fazer e uma mulher de cabelos escuros, e lindos olhos cinza brilhantes tão parecidos com os de... Com os de Enn. Como que ouvindo seus pensamentos, a garota deu um passo à frente tocando no quadro com o polegar direito o sorriso do pai. A cena mudou, o ret