Amarrei meu cabelo num coque, enquanto Abby acelerava o carro sentido a Manhattan. Do Brooklyn para lá levava cerca de 50 minutos de transporte público e 40 de carro. Mas considerando a velocidade que Abby estava, chegaríamos em menos de 35 minutos. E eu estava torcendo para isso. Eu morava mais necessariamente em Crown Heights, na Albany Ave com a Eastern Parkway.
— Ethan vai arrancar meu fígado e comer na minha frente, por mais um atraso... Merda! — Me repreendi enquanto terminava de passar maquiagem no rosto.
— Eu queria que ele comesse outra coisa minha... — Abby deu um estalo com a boca de excitação. — Ver aquele homem todo tatuado em cima de mim... Meu sonho de piranha safada.
— Ele é todo seu... — Torci o nariz em repulsa. — Não fico com aquele homem nem se minha vida dependesse disso.
— Aham... — Ela riu. — Vocês vão acabar transando. E ainda aquele sexo selvagem, de deixar marca e ataque cardíaco no fim. — Mostrei o dedo do meio para ela.
— Deus me livre. Corajosa são as mulheres que transam com ele, o cara já pegou Nova York quase inteira. Não sei como ele tem disposição. — Fingi um arrepio na espinha de asco.
— Seu mal é falta de sexo meu amor... — Ela tamborilou os dedos no volante ao som da música que havia acabado de começar. — Faz quanto tempo que você não transa Heather? — Revirei os olhos e fingi que não estava ouvindo. — Desde o... — Levantei a mão interrompendo-a.
— Se você falar o nome do filho da puta, eu juro que vou dar na sua cara Abby Young! — Voltei a olhar para meu espelho de bolso, enquanto finalizava meu rímel.
— Não está mais aqui quem falou... — Ela levantou os braços rapidamente.
Olhei no relógio para verificar o tamanho do atraso. Peguei meu celular e resolvi mandar uma mensagem para o insuportável do Ethan.
“Vou me atrasar alguns minutos.”
— Mandando mensagem para ele? — Confirmei com a cabeça. — Nós poderíamos sair hoje, o que acha? — Tirei os olhos do celular e olhei para ela.
— Hoje é segunda-feira Abby. Eu trabalho amanhã, esqueceu? — Elevei os ombros, incrédula pelo convite.
— E qual é o problema? É só uma social... — Ela deu dois t***s na minha perna. — Bora! Colocar essas pernas para dançar. E já estamos chegando no final do ano, logo você pega uns dias de descanso. É só uma confraternização do pessoal da loja, vamos? — Ela fez biquininho e eu revirei os olhos.
Ela sempre conseguia me vencer com esse truque.
— Ta bom Abby... — Recostei no banco, me dando por vencida. — Mas nada de virar a noite, combinado? — Ela cruzou os dedos em forma de promessa.
— Eu prometo! — Seus dedos voltaram a tamborilar no volante e seu sorriso se elevou de felicidade. — Nem acredito que você topou! — Parecia uma criança quando ganhava presente.
— Não fala demais, senão eu recuso... — Dei um pequeno empurrão em seu ombro.Ela me deixou na cafeteria com exatamente 10 minutos de atrasos. Respirei fundo antes de sair do carro já sabendo o que me aguardava lá dentro.— Às vezes nem parece que o Ethan é esse ogro todo que você pinta... — Abby retocava o batom pelo retrovisor. — Ele parece tão galã, que não consigo imagina-lo esse grosseiro que você diz.— É porque ele quer te comer, por isso é galã! — Soltei na lata e ela deu risada. — Quando ele não quer transar com a pessoa ele fica insuportável. — Fiz uma careta e desci do carro.— Ou... — Abby me chamou atenção e abaixei, recostando os braços na porta do passageiro. — Ou ele é afim de você e não sabe como se comportar ao seu lado. E acaba usando o modo inverso, estilo psicólogo sabe. — Ela deu uma piscadinha para mim e comecei a rir.— Ethan afim de mim? É piada né? — Isso era impossível. — Amiga está assistindo muito filme clichê viu, para com isso. — Mandei um beijo para ela. — Agora tenho que ir. — Me desencostei do carro.— Te encontro as 21:00 horas no seu apartamento. — Ela gritou enquanto eu virava a esquina sentido a cafeteria.Antes de entrar amarrei o avental preto na cintura e verifiquei o coque pelo reflexo do celular. Respirei fundo e abri a porta no exato momento em que Ethan estava rindo de algo com o Dom. Nosso cliente assíduo e irmão dele também. Um pedaço de mal caminho que me deixava babando. Não só pela sua beleza, mas pela sua cordialidade com todos. Ele tinha a educação que o Ethan nunca soube o que era, às vezes até desconfiava que esse ser era adotado. A única explicação possível.— Já disse que isso é impossível Dom... — Ethan ria enquanto preparava um cappuccino com caramelo para o Dom.— Bom dia. — Me apressei e dei a volta no balcão. — Desculpa o atraso.— Mais uma vez não é, Heather!? — Não precisava nem me virar para saber que o Ethan estava revirando os olhos. — No dia que você chegar no horário vai chover.— Foi 10 minutos Ethan e não 10 horas... — Recostei no balcão. Respirava tão fundo que era capaz do meu pulmão sair pela garganta.— Dez minutos só hoje Heather... — Ele se apertava atrás de mim para entregar a bebida do Dom.— Engraçado que você pega no meu pé pelos atrasos, mas não lembra dos dias que fiquei até mais tarde te cobrindo, enquanto você saia para foder alguma mulher! — Rebati enquanto me virava em sua direção. — Pode deixar que eu compenso a merda dos 10 minutos, Ethan Carter!— Tô falando... — Dom disse entre risos, me deixando boiando sem entender.— Cala a boca Dominic! — Ethan retrucou enquanto terminava de ligar o som da cafeteria.Resolvi ir cuidar do meu serviço, antes que tacasse esse homem embaixo da cafeteira com água quente, para ver se tirava aquele sorriso descarado da cara dele.— Não se estressa com ele Heat... — Dom veio até meu balcão para deixar o copo vazio.— Seu irmão me tira do sério Dom... — Respirei fundo enquanto colocava os recém assados donuts nas prateleiras do balcão. — Vontade que eu tenho de afogar a cara dele na privada e dar descarga, várias e várias vezes viu! — Ele começou a rir. — Ri não cacete... — Comecei a rir também.— E quando você vai me dar uma oportunidade? — Quase engasguei e tive que segurar a tosse.— Oi? — Comecei a rir e senti minhas bochechas queimarem.— Falei algo de errado? — Meneei a cabeça de um lado para o outro.— Eu preciso trabalhar Dom. — Ele deu de ombros. — Não quero ouvir mais uma bronca do projeto de diabo do seu irmão.— Vocês dois ainda vão acabar juntos... — Dessa vez não aguentei e comecei a gargalhar alto.— Eu com o Ethan? — Apontei para nós dois. — Nunca nessa vida! E muito menos na outra!— Ta bom então... — Ele se apoiou no balcão e me deu um beijo na bochecha. — Até mais Heat. — Ele se afastou, indo em direção ao Ethan. — Você vai hoje lá maninho? — Ethan fez um positivo com a mão e o Dom saiu da cafeteria.Continuei arrumando as prateleiras em silêncio. Alguns minutos depois entraram os primeiros clientes. O Dom não contava, ele já tinha se transformado em cliente da casa. — Heat... — Ethan não precisou terminar de pronunciar meu nome, eu já estava indo até as clientes. — Bom dia! Bem-vindas na Coffee and prose, o que desejam? — Dei o meu melhor sorriso enquanto pegava o pedido delas. Ambas olhavam para o Ethan, que estava adorando toda aquela atenção. Mais uma para sua lista interminável de mulheres! Enquanto terminava de pegar os pedidos das duas garotas, entraram mais duas. Uma loira toda sorridente e uma morena com a cara fechada. Passei os pedidos para o Ethan, que geralmente ficava responsável em prepara-los enquanto atendia as outras clientes. — Caralho! — Ele falou baixo o bastante para as clientes não ouvirem. — Que gostosa essas duas! — não me contive e revirei os olhos. — Bom dia! O que vão pedir? — nunca vi às duas por aqui. Geralmente boa parte dos nossos clientes são
Cheguei em casa com o relógio batendo 19:00 horas cravadas. Tirei o tênis dos pés e coloquei na sapateira que tinha perto da porta. Passei a chave na porta e decidi ir tomar um banho antes de comer algo e fui tirando a roupa pelo caminho até chegar no banheiro. Deixei a água cair sob os ombros, tentando tirar todo o cansaço em que eu estava. Já estava quase desistindo de sair com a Abby, mas eu sabia que se eu fizesse isso, ela entrava aqui e me levava nem que fosse pelada. Me enrolei na toalha e fui até o meu guarda-roupa, procurar algo decente para vestir. Optei por uma saia justa preta, um body de costa aberta da mesma cor e uma sandália de salto nos pés. Soltei os cabelos e resolvi deixa-los ao natural. Passei uma maquiagem que realçasse meus olhos azuis, marcando bem os olhos e caprichando no rímel e finalizei com um batom nude nos lábios. Admirei meu reflexo no espelho, gostando do que estava vendo e fui até a cozinha, preparar algo rápido para comer.Me sentei no sofá com um l
Meu irmão Dom era uma comédia, e ouvi-lo tagarelando de como eu e a Heather acabaríamos juntos, me fazia rir dessa possibilidade totalmente improvável. Não que eu não a achasse bonita, pelo contrário, ela tinha uma beleza maravilhosa. Assim que a vi entrando pela cafeteria, com seus cabelos castanho claro, reluzindo parecendo ouro e seus olhos azuis que pareciam espelhos do céu. Eu poderia dizer que me apaixonei de imediato. Mas eu sabia que não era homem para ela. Não vou negar que não a cantei, pois eu fiz muito isso por quase 1 ano completo. E em todas as minhas investidas ela negava, mesmo seu corpo dizendo totalmente o contrário, sua boca falava um não atrás do outro. Eu sabia o motivo, eu sou o tipo de homem que não fica com uma mulher só, tive alguns breves relacionamentos e nos poucos que eu me entreguei, eu sai machucado. Então preferi me entregar a vida de cachorro por completo e assumir o que eu sempre fui. Hoje vejo a Heather como funcionária e amiga, alguém do qual eu
O resto do dia passou como um borrão, entrando um cliente atrás do outro, até o horário de fechamento da cafeteria. Quando o relógio bateu 18:00 horas cravadas a Heather quase arrancou o avental e se jogou na cadeira do salão principal, que ficava na frente do caixa. — Porra! Havia me esquecido o quanto era corrido em época de confraternização de fim de ano. — ela reclamava enquanto eu terminava de fechar o caixa. Contando nota por nota para ver se batia com o valor em sistema. Era a parte que eu menos gostava de fazer. Enquanto a respondia, senti seus olhos sob mim, me avaliando e eu daria tudo para saber o que se passava na cabeça dela. Não me imaginava me envolvendo com a Heather, por mais que as vezes batia aquela atração. Eu sabia que nosso envolvimento não daria certo, no fim ela sairia magoada e eu pediria demissão da cafeteria, pois não teria clima para continuar trabalhando no mesmo local. Ethan Carter não era homem de uma mulher só. Terminei de fechar o caixa e no camin
Assim que desliguei o carro e o barulho do motor cessou, apoiei a cabeça sob o volante e fechei os olhos. — Mas que porra que você está fazendo Ethan? — me recriminei pelos pensamentos que torturavam minha mente e nenhum deles eram sadios. Depois de alguns minutos tentando recompor minha sanidade mental, resolvi descer do carro e subir até meu apartamento. Assim que bati a porta, peguei o cigarro do bolso dianteiro da calça e o acendi. Dei uma tragada lentamente, soltando aos poucos a fumaça em formato redondo pela boca, eu adorava brincar com a fumaça dessa forma. Fui até a sacada e me sentei na cadeira de palha que tinha lá, apoiando os pés sob a mesinha de centro enquanto fumava meu cigarro. Assim que bati o filtro sob o cinzeiro senti meu celular vibrando, peguei-o do bolso e vi que era uma mensagem do Dom. “A festa começa as 20:00 horas! Vou te passar o endereço, é próximo da sua casa.” Com todo esse turbilhão de pensamentos havia me esquecido da festa. Eu estava realmente p
Entrei pela porta igual cachorro farejando um cheiro conhecido, parei no batente da cozinha assim que avistei as duas. Abby preparava doses de tequila para ambas, Heather ria enquanto conversava com sua amiga. Ela estava vestindo uma saia, curta e justa que acabava menos de um palmo abaixo da sua bunda, um body preto de costas abertas e uma sandália de salto nos pés. Os cabelos estavam soltos e ainda úmidos, provavelmente devido ao banho recém tomado, seu rosto não carregava mais as feições leves de antes, agora estavam maquiadas, a deixando mais gostosa do que eu pensei que era. Ela estava com postura de mulher, uma mulher que eu nunca na vida imaginei que veria. Pelo fato da diferença de idade entre eu e ela, de 8 anos, eu tendo 35 anos e ela 27 anos, nunca pensei que a veria sem as roupas básicas do serviço e vê-la assim, despertou algo desconhecido em mim. Abby estava gostosa como sempre, vê-la de vestido vermelho e curto, me traziam lembranças muito boas sobre ela. Principalmen
Ela foi a primeira a desviar, seguiu até um balcão de madeira com algumas bebidas e voltou com um copo cheio de algo cor de rosa, com um canudo de mesma cor dentro. — Veio sozinho? — Abby me tirou do meu foco de tentação. — Não... — balancei a cabeça discretamente, tentando recobrar o pouco de juízo que ainda tinha. — Na verdade vim... — Abby me olhava confusa. — Dom me convidou, mas eu vim sozinho de carro. Encontrei com ele depois aqui na festa. E você? Trouxe o Peter? — ergui uma sobrancelha para ela, que caiu na risada. — Claro que não! — ela me deu um tapa no braço. — Peter e eu não temos nada, não tem porque trazê-lo aqui. Vim com a Heather. Ela precisava sair um pouco, se divertir, beijar na boca e quem sabe transar... — essa última parte me pegou em cheio bem no ponto de mais desejo. — Entendi... — me aproximei do ouvido dela e sussurrei baixo. — Vocês vão brincar do jogo das garrafas? — assim que voltei a olhá-la, seus olhos brilharam. — Vão fazer aqui? — ela deu pequeno
A conversa com a Abby fluía de uma forma natural, ela é uma mulher extremamente cativante, engraçada e muito inteligente, com uma língua afiadíssima — para muitas coisas — nunca ficava por baixo em situações de estresse. E a melhor parte, ela lidava bem com o fato de nós dois sermos somente sexo um para o outro. — Então vamos jogar? — Dom chegou por trás, quase me deixando surdo. — O porra! — coloquei a mão livre no ouvido, tentando diminuir o zumbido deixado pelo seu grito. — Fala baixo caralho! — quando me virei o vi abraçado com a mesma mulher que eu peguei no começo da festa. Meu meio sorriso levantou, a fazendo rir e em seguida sorrir também. — Patrice, prazer! — ela esticou a mão para mim e eu apertei. — Ethan, o prazer é, meu... — ambos rimos novamente. — Dom arranjou uma gata para passar a noite. — deu um tapa com um pouco mais de força em seu ombro, afim de descontar minha quase surdez nele. — Milagres acontecem mesmo! — eu e as meninas rimos, e Dom me mostrou o dedo do m