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CAPÍTULO TRÊS — Heather Watson

Amarrei meu cabelo num coque, enquanto Abby acelerava o carro sentido a Manhattan. Do Brooklyn para lá levava cerca de 50 minutos de transporte público e 40 de carro. Mas considerando a velocidade que Abby estava, chegaríamos em menos de 35 minutos. E eu estava torcendo para isso. Eu morava mais necessariamente em Crown Heights, na Albany Ave com a Eastern Parkway.

— Ethan vai arrancar meu fígado e comer na minha frente, por mais um atraso... Merda! — Me repreendi enquanto terminava de passar maquiagem no rosto.

— Eu queria que ele comesse outra coisa minha... — Abby deu um estalo com a boca de excitação. — Ver aquele homem todo tatuado em cima de mim... Meu sonho de piranha safada.

— Ele é todo seu... — Torci o nariz em repulsa. — Não fico com aquele homem nem se minha vida dependesse disso.

— Aham... — Ela riu. — Vocês vão acabar transando. E ainda aquele sexo selvagem, de deixar marca e ataque cardíaco no fim. — Mostrei o dedo do meio para ela.

— Deus me livre. Corajosa são as mulheres que transam com ele, o cara já pegou Nova York quase inteira. Não sei como ele tem disposição. — Fingi um arrepio na espinha de asco.

— Seu mal é falta de sexo meu amor... — Ela tamborilou os dedos no volante ao som da música que havia acabado de começar. — Faz quanto tempo que você não transa Heather? — Revirei os olhos e fingi que não estava ouvindo. — Desde o... — Levantei a mão interrompendo-a.

— Se você falar o nome do filho da puta, eu juro que vou dar na sua cara Abby Young! — Voltei a olhar para meu espelho de bolso, enquanto finalizava meu rímel.

— Não está mais aqui quem falou... — Ela levantou os braços rapidamente.

Olhei no relógio para verificar o tamanho do atraso. Peguei meu celular e resolvi mandar uma mensagem para o insuportável do Ethan.

“Vou me atrasar alguns minutos.”

— Mandando mensagem para ele? — Confirmei com a cabeça. — Nós poderíamos sair hoje, o que acha? — Tirei os olhos do celular e olhei para ela.

— Hoje é segunda-feira Abby. Eu trabalho amanhã, esqueceu? — Elevei os ombros, incrédula pelo convite.

— E qual é o problema? É só uma social... — Ela deu dois t***s na minha perna. — Bora! Colocar essas pernas para dançar. E já estamos chegando no final do ano, logo você pega uns dias de descanso. É só uma confraternização do pessoal da loja, vamos? — Ela fez biquininho e eu revirei os olhos.

Ela sempre conseguia me vencer com esse truque.

— Ta bom Abby... — Recostei no banco, me dando por vencida. — Mas nada de virar a noite, combinado? — Ela cruzou os dedos em forma de promessa.

— Eu prometo! — Seus dedos voltaram a tamborilar no volante e seu sorriso se elevou de felicidade. — Nem acredito que você topou! — Parecia uma criança quando ganhava presente.

— Não fala demais, senão eu recuso... — Dei um pequeno empurrão em seu ombro.

Ela me deixou na cafeteria com exatamente 10 minutos de atrasos. Respirei fundo antes de sair do carro já sabendo o que me aguardava lá dentro.

— Às vezes nem parece que o Ethan é esse ogro todo que você pinta... — Abby retocava o batom pelo retrovisor. — Ele parece tão galã, que não consigo imagina-lo esse grosseiro que você diz.

— É porque ele quer te comer, por isso é galã! — Soltei na lata e ela deu risada. — Quando ele não quer transar com a pessoa ele fica insuportável. — Fiz uma careta e desci do carro.

— Ou... — Abby me chamou atenção e abaixei, recostando os braços na porta do passageiro. — Ou ele é afim de você e não sabe como se comportar ao seu lado. E acaba usando o modo inverso, estilo psicólogo sabe. — Ela deu uma piscadinha para mim e comecei a rir.

— Ethan afim de mim? É piada né? — Isso era impossível. — Amiga está assistindo muito filme clichê viu, para com isso. — Mandei um beijo para ela. — Agora tenho que ir. — Me desencostei do carro.

— Te encontro as 21:00 horas no seu apartamento. — Ela gritou enquanto eu virava a esquina sentido a cafeteria.

Antes de entrar amarrei o avental preto na cintura e verifiquei o coque pelo reflexo do celular. Respirei fundo e abri a porta no exato momento em que Ethan estava rindo de algo com o Dom. Nosso cliente assíduo e irmão dele também. Um pedaço de mal caminho que me deixava babando. Não só pela sua beleza, mas pela sua cordialidade com todos. Ele tinha a educação que o Ethan nunca soube o que era, às vezes até desconfiava que esse ser era adotado. A única explicação possível.

— Já disse que isso é impossível Dom... — Ethan ria enquanto preparava um cappuccino com caramelo para o Dom.

— Bom dia. — Me apressei e dei a volta no balcão. — Desculpa o atraso.

— Mais uma vez não é, Heather!? — Não precisava nem me virar para saber que o Ethan estava revirando os olhos. — No dia que você chegar no horário vai chover.

— Foi 10 minutos Ethan e não 10 horas... — Recostei no balcão. Respirava tão fundo que era capaz do meu pulmão sair pela garganta.

— Dez minutos só hoje Heather... — Ele se apertava atrás de mim para entregar a bebida do Dom.

— Engraçado que você pega no meu pé pelos atrasos, mas não lembra dos dias que fiquei até mais tarde te cobrindo, enquanto você saia para foder alguma mulher! — Rebati enquanto me virava em sua direção. — Pode deixar que eu compenso a merda dos 10 minutos, Ethan Carter!

— Tô falando... — Dom disse entre risos, me deixando boiando sem entender.

— Cala a boca Dominic! — Ethan retrucou enquanto terminava de ligar o som da cafeteria.

Resolvi ir cuidar do meu serviço, antes que tacasse esse homem embaixo da cafeteira com água quente, para ver se tirava aquele sorriso descarado da cara dele.

— Não se estressa com ele Heat... — Dom veio até meu balcão para deixar o copo vazio.

— Seu irmão me tira do sério Dom... — Respirei fundo enquanto colocava os recém assados donuts nas prateleiras do balcão. — Vontade que eu tenho de afogar a cara dele na privada e dar descarga, várias e várias vezes viu! — Ele começou a rir. — Ri não cacete... — Comecei a rir também.

— E quando você vai me dar uma oportunidade? — Quase engasguei e tive que segurar a tosse.

— Oi? — Comecei a rir e senti minhas bochechas queimarem.

— Falei algo de errado? — Meneei a cabeça de um lado para o outro.

— Eu preciso trabalhar Dom. — Ele deu de ombros. — Não quero ouvir mais uma bronca do projeto de diabo do seu irmão.

— Vocês dois ainda vão acabar juntos... — Dessa vez não aguentei e comecei a gargalhar alto.

— Eu com o Ethan? — Apontei para nós dois. — Nunca nessa vida! E muito menos na outra!

— Ta bom então... — Ele se apoiou no balcão e me deu um beijo na bochecha. — Até mais Heat. — Ele se afastou, indo em direção ao Ethan. — Você vai hoje lá maninho? — Ethan fez um positivo com a mão e o Dom saiu da cafeteria.

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