CAPÍTULO QUATRO — Heather Watson

Continuei arrumando as prateleiras em silêncio. Alguns minutos depois entraram os primeiros clientes. O Dom não contava, ele já tinha se transformado em cliente da casa.

— Heat... — Ethan não precisou terminar de pronunciar meu nome, eu já estava indo até as clientes.

— Bom dia! Bem-vindas na Coffee and prose, o que desejam? — Dei o meu melhor sorriso enquanto pegava o pedido delas. Ambas olhavam para o Ethan, que estava adorando toda aquela atenção.

Mais uma para sua lista interminável de mulheres!

Enquanto terminava de pegar os pedidos das duas garotas, entraram mais duas. Uma loira toda sorridente e uma morena com a cara fechada. Passei os pedidos para o Ethan, que geralmente ficava responsável em prepara-los enquanto atendia as outras clientes.

— Caralho! — Ele falou baixo o bastante para as clientes não ouvirem. — Que gostosa essas duas! — não me contive e revirei os olhos.

— Bom dia! O que vão pedir? — nunca vi às duas por aqui. Geralmente boa parte dos nossos clientes são sempre os mesmos durante a semana.

— Hum! Eu quero um cappuccino com creme e um donuts. — A morena pediu e a loira pediu o mesmo. Aceno com a cabeça enquanto anoto e recebo o pagamento de ambas.

Entrego o pedido para Ethan, que tem um sorriso descarado na cara. Às duas vão para o próximo balcão para retirar seu pedido.

— Preparo com o maior prazer o pedido delas. — Fico de longe observando Ethan paquerar ambas.

A morena parece aborrecida, enquanto a loira se derrete pelo Ethan.

— A se ela soubesse o quanto ele não presta... — Falo baixo, para mim mesma.

A loira continua rindo das investidas do Ethan enquanto a morena revira os olhos. Ambas resolvem sair da cafeteria e eu volto a minha atenção aos clientes que acabaram de entrar.

— Elas poderiam passar aqui diariamente. Se quiserem passar na minha cama também, eu aceito!

— Sua cama deve ser pior que cama de motel... Misericórdia! — Solto sem dirigir o olhar a ele.

— Quer ir lá para tirar a prova? — Sinto seu hálito em meu pescoço e um pequeno arrepio percorre minha espinha.

“Heather Watson! Para com isso!” — Tento me repreender em pensamento.

— Tenho certeza que não vai se arrepender! — Ele sussurra em meu ouvido enquanto aperta minha cintura delicadamente.

— Sai daqui, Ethan! — Dou um tapa na mão dele e me afasto. 

 Tento controlar a respiração que ficou ofegante do nada.

Realmente eu precisava transar. Fazia meses que eu não sabia o que era isso, desde o meu último breve relacionamento. Tão breve que não durou nem um mês, o cara era mais galinha que o Ethan, se é que isso era possível.

— Vai dizer que você não gostou? — Ele se aproximou dando risada. — Eu vi você se arrepiando Heat. — Ethan mordeu o lábio.

— Claro, tem como não se arrepiar com uma assombração? — Rebati sua cantada e ele arqueou a sobrancelha.

— Se me visse pelado tenho certeza que mudaria de ideia... — Como ele era convencido.

— Deus me livre! Ia me traumatizar ainda mais com isso! — Me aproximei dele e dei um tapinha em seu ombro. — Para de ser tão convencido Ethan! Você sabe que nunca vamos ter nada. — Virei as costas e fui até a cafeteira para reabastecer.

— Eu sei... — Dava para notar o riso em sua voz. — Mas eu gosto de te provocar! Você é a única mulher que não sinto atração.

— Aleluia, pai! — Ergui as mãos para cima. — Que Deus conserve assim!

O resto do dia passou como um furacão. Atendi um cliente após o outro, mal tendo tempo para respirar.

Me senti agradecida quando o relógio bateu 18:00 horas, me avisando que meu expediente havia chegado ao fim. Desamarrei o avental e joguei em cima da mesa enquanto me jogava na cadeira.

— Porra! — Deitei a cabeça sob a madeira da mesa. — Havia me esquecido o quanto era corrido em época de confraternização de fim de ano. — Ethan terminava de fazer o fechamento do caixa. — Estou morta de cansaço.

— Se acostume, que é daí para pior. Você já sabe a correria que é. — Ele deu de ombros. — E logo mais nós fechamos por uns dias também. Dá para descansar e recuperar as energias. — Ele tinha os olhos sob as notas de dinheiro do caixa, contando uma a uma. Nesse momento pude perceber que ele também tinha sua beleza.

Quando cheguei na cafeteria, confesso que tive uma queda pelo Ethan. Ele vivia me chamando para sair e eu sempre recusava, por vergonha e por já saber a fama que ele tinha. Acredito que convivendo com ele, durante os 2 anos que estou aqui, acredito que desencantei. Mas não me impedia de acha-lo bonito.

— Por que você é assim? — Peguei ele de surpresa com a pergunta.

— Assim como? — Ele ergueu os olhos até mim, seu olhar era de pura curiosidade.

— Cafajeste... — Tamborilei os dedos na mesa, soltando na lata a resposta. — O tipo de homem que nunca se casou, não tem filhos e nunca teve um relacionamento sério.

— Já tive um relacionamento sério... — Essa eu não esperava. Arregalei os olhos e estava com a boca entre aberta de espanto. — O que foi? — Ele começou a rir.

— Ethan Carter já namorou? — Levei a mão até a boca, para esconder o riso. — Essa eu não esperava. — Levantei e fui até o balcão. Apoiei os cotovelos sob ele e o queixo nas mãos. — E o que houve? — Eu estava me corroendo de curiosidade.

— Não deu certo ué. — Ele deu de ombros. — Como todos os relacionamentos. Então percebi que sou melhor sozinho e eu gosto disso.

— Ninguém gosta de ficar sozinho... Não para sempre! — Tamborilei os dedos no balcão.

— E você está sozinha por quê? — Ele terminou de guardar as notas no caixa, o fechando em seguida e voltando sua atenção totalmente para mim.

— Acredito que não achei ninguém legal ainda... — Dei de ombros. :

— Meu irmão é louco para ficar com você. — Ele deu uma piscadela para mim e eu comecei a rir. — Você não é de se jogar fora Heather. Te acho muito bonita, só não faz meu tipo. — Ele encolheu os ombros e ergueu as mãos. — Mas faz o tipo do meu irmão.

— Dom é lindo, mas é romântico demais. Não estou numa fase para relacionamentos. — Baixei os olhos para o balcão, enquanto meu indicador passava por cima da bancada. Fazendo movimentos aleatórios sob as várias marcas e riscos que o tempo e os vários clientes deixavam.

— Dom é um romântico incurável mesmo. — Ele deu um tapinha no balcão, chamando minha atenção. — Quer carona para casa? — Seus olhos castanho-claro me encarava. Meneei a cabeça de um lado para o outro, cogitando o convite. — Pegar metro nesse horário vai ser um inferno. Mas... — Ele deu a volta no balcão, pegando suas coisas enquanto ia em direção a porta. — Você quem sabe!

— Ta bom. Eu aceito! — Peguei minhas coisas sob a mesa e fui em sua direção. Parando na quina da porta, nossos corpos estavam quase colados. — Mas sem gracinha Ethan! — Apontei um dedo para ele e tive que erguer bem o pescoço para conseguir olhar para o seu rosto.

— Eu prometo! — Ele ergueu às duas mãos.

Sai da cafeteria e aguardei enquanto ele trancava tudo. Seguimos ambos para seu carro em silêncio e antes de destravar as portas, ele abriu a capota como sempre fazia. Ethan me dava carona algumas vezes na semana, geralmente nos dias em que ele não me tirava muito do sério, ou nos dias em que ele não saia cedo para transar com alguém.

Ele ligou o som assim que entramos no carro, a voz de uma banda antiga do que gostava invadiu o carro, cantando bem na melhor parte da música.

Ethan girou a chave na ignição e deu ré para sair da vaga e pegar a 7th avenida, sentido Brooklyn.

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