“Melhor do que a criatura,fez o criador a criação.A criatura é limitada.O tempo, o espaço,normas e costumes.Erros e acertos.A criação é ilimitada.Excede o tempo e o meio.Projeta-se no Cosmos”.
Cora Coralina
“Eu morro ontem.
Nasço amanha.
Ando onde há espaço.
Meu tempo é quando”.
Vinicius de Moraes
“Pedi ás estrelas
que levem na sua luzo brilho dos meus olhosapaixonados até você.E á suave brisa queagora passou por aquipedi que leveum beijo doce de boa noitecarregado de amor e saudade.Mas longe ou perto,hoje e para sempre,meu coração bate por você,
e no meu pensamento,e no meu coração,estamos juntos,sempre perto,sempre unidos”.* Desconheço autoria
Amina dificilmente entrava em desespero, mas estava prestes a entrar naquele instante. O momento era propício a isso. Ela estava caindo e não tinha nenhum controle sobre sua nave. Mesmo com todo seu treinamento, ela não conseguia escapar do que parecia certo agora. Não conseguia nem mesmo se comunicar com sua central. Apesar deles terem seus dados, não conseguiam enviar resposta ao seu pedido de ajuda. _ Merda... Ela tentava uma resposta aos esforços de controlar a nave que girava desenfreada, caindo em alta velocidade, perdida na imensidão. _ Merda, merda...
A chuva pesada estava carregada de raios que criavam um espetáculo sem igual, que só a natureza poderia criar e ele estava no melhor lugar para presenciar isso. O chocolate o aquecia. A chuva não seguia uma direção e com os ventos fortes suas pernas estavam molhadas até os joelhos, mas ele não se importava. A beleza dos raios cortando o escuro fazia valer a pena. Com os trovões e raios logo ficaria sem energia. Já sabia como era e mantinha um estoque de fósforos, velas e lampiões de querosene. Também tinha lanternas e pilhas. Não era a primeira vez que se isolava na cabana. O lugar era seu refúgio. Tinha todo o tempo do mundo para ficar ali. Descansaria,
Apalpou com cuidado seus braços e pernas, procurando por fraturas. Sua coluna e pescoço pareciam bem. Não poderia deixá-la ali, tinha que arriscar movê-la ainda que não fosse o ideal. Voltou ao carro e pegou um cobertor que deixava no banco de trás. Embaixo do banco ele tinha um estojo de primeiros socorros. A cobriu e limpou com cuidado o sangue, do jeito que dava com aquela chuva, depois colocou uma gaze no corte. Quando tentava levantá-la, ela piscou abrindo os olhos, virando o rosto para ele. _ Ainda bem... Graças a Deus que voltou a si - disse preocupado. Tentava acalmá-la e a ele mesmo. Tinham que sair da chuva logo.
Carlo dormiu pouco durante a noite. Estava preocupado com a garota. Com cuidado redobrado ele a colocou na pick-up e a levou para casa, evitando ir muito depressa por causa dos solavancos. Queria lhe dar um banho, mas ficou com medo de piorar sua situação. Retirou a roupa que ela vestia, um macacão azul e botas pretas. Estava encharcada e infelizmente ele teve que retirar as roupas de baixo também. Usava uma camiseta fina branca e uma calcinha que parecia um shortinho, branca também. Limpou os ferimentos e buscou com atenção se havia algo quebrado. Tentou não notar como ela era bonita depois de limpa. Agora não era o momento de
Era uma arquitetura comum na Terra e tinha um ar aconchegante. Apesar disso, ela precisava descobrir onde estava realmente. Carlo entrou na sala e a viu sentada. Se aproximou. _ Que bom, acordou - parou ao lado do sofá com uma bandeja nas mãos. Ela levantou o rosto para olhá-lo e agora sim ele podia ver bem seus olhos cinza. Sorriu de leve. Não queria deixá-la nervosa. Parecia confusa ainda e sua postura mostrava um pouco de indecisão e timidez. Talvez uma certa desconfiança, o que era perfeitamente normal. _ Estava muito preocupado com você - colocou a bandeja na mesinha em frente ao sofá. Sentou
Ela concordou com um suspiro. Sua cabeça doía. Ter levantado depressa e ido atrás dele não tinha sido boa ideia. Ainda se sentia um pouco mole e detestava se sentir assim. Há muitos anos ela não ficava doente e fraca. “Há quanto tempo”? Não tinha certeza agora, não se recordava de certo as coisas. Sabia que teria que esperar até que as imagens voltassem a encher sua mente de novo. Mas sabia que adoecer era algo difícil e raro para ela. Em breve lembraria. Ainda estava apagada de sua lembrança, como ela tinha ido parar ali. Sabia que deveria estar em outro lugar, só não sabia onde. Pelo menos ainda não.
Ela o olhou sério. _ Você vai morrer? - se espantou. _ Espero que ficando aqui, não. Carlo explicou a ela sobre a pandemia de Corona vírus e ficou surpreso dela não saber sobre isso. _ Você é pilota das forças armadas? _ Não - pensou um pouco _ Mas sou pilota. _ Lembra-se disso? _ Sim... Mas não sou das forças armadas. _ Como sabe? _ Só sei - torceu os lábios.
Quando Amina despertou já estava escuro de novo. Mexeu a cabeça devagar. A cama era muito gostosa e tinha um cobertor por cima dela. Seu ombro já não doía e tocando a boca percebeu que ainda estava inchada, mas não como antes. Olhou pela janela. A chuva continuava, mas agora batia mais branda contra a janela e descia pelo vidro, deixando marcas. A porta do quarto estava aberta e a luz do corredor entrava, formando uma imagem espelhada da proteção da escada que descia. Voltou a fechar os olhos, reconfortada pelo calor da coberta. *******