Apalpou com cuidado seus braços e pernas, procurando por fraturas. Sua coluna e pescoço pareciam bem. Não poderia deixá-la ali, tinha que arriscar movê-la ainda que não fosse o ideal.
Voltou ao carro e pegou um cobertor que deixava no banco de trás. Embaixo do banco ele tinha um estojo de primeiros socorros.
A cobriu e limpou com cuidado o sangue, do jeito que dava com aquela chuva, depois colocou uma gaze no corte.
Quando tentava levantá-la, ela piscou abrindo os olhos, virando o rosto para ele.
_ Ainda bem... Graças a Deus que voltou a si - disse preocupado.
Tentava acalmá-la e a ele mesmo. Tinham que sair da chuva logo.
Ela piscou fazendo uma careta e olhou para ele, mas estava tudo um borrão.
_ Tem mais pessoas no avião?
Ela não conseguia entender o que ele dizia, ainda que ouvisse bem. As palavras saiam de sua boca, mas não faziam sentido para ela.
_ Tem mais pessoas no avião? Onde caíram?
Ele pensava que ela estava em um avião e com certeza haveriam outros.
Amina o ouvia, mas não entendia suas palavras. Ela tentou falar e ele fez uma cara de espanto.
Ela tentou outro idioma e ele continuava a falar, mas ambos não se compreendiam.
Seu rosto foi clareando e ela pôde ver suas feições melhor. Tentou mais duas vezes e nada. A dor na cabeça a impedia de falar seu idioma correto.
Ergueu a mão suja de terra e tocou seu pescoço, apertando enquanto ele continuava a falar e fechou os olhos sentindo as vibrações de suas palavras no movimento de suas cordas vocais e aos poucos conseguiu captar o que representavam.
_ ... Por isso preciso tirar você daqui e...
_ Terra!
Ela abriu os olhos espantada e recuou a cabeça um pouco, o encarando sem acreditar.
_ Sim, está cheia de terra, mas não se preocupe com isso agora.
Ele entendeu que ela não queria entrar no carro por estar suja de terra.
_ Terra... Aqui é o planeta Terra? - segurou em seu ombro.
Carlo franziu a testa. Talvez a pancada na cabeça a tivesse deixado desnorteada.
_ Isso, está em casa, na Terra - tentou levantá-la e ela gritou _ Deus, o que foi?
_ Meu braço - fez careta de dor.
Ele apertou o braço e não achou fratura. Subiu e sentiu o ombro. Estava deslocado. Pensou um pouco e respirou fundo.
_ Me desculpe.
_ Por que? O que...
Ela gritou e xingou muito quando ele esticou seu braço.
_ Não posso deixar seu ombro assim.
Carlo segurou o ombro dela com força após ter esticado e forçado para colocar o osso de volta no lugar.
_ Sei que dói - ele já tinha deslocado o ombro uma vez em uma queda de moto quando era adolescente _ Onde estão os outros? Pode me dizer?
Ela sentou devagar com a ajuda dele, ainda tonta e sentindo a dor no ombro.
Pelo menos agora ela conseguia se comunicar com o estranho.
_ Não tem mais ninguém - disse baixo.
_ Está sozinha? - ele estranhou.
_ Ninguém mais...
Ela voltou a fechar os olhos e o corpo ficou mole. Sentiu que sua energia ficava fraca, seu corpo lento de novo.
Não queria, mas sabia que estava em companhia de um estranho e que ele tinha condições de ajudá-la, mais do que ela mesma.
Desmaiou de novo.
Carlo dormiu pouco durante a noite. Estava preocupado com a garota. Com cuidado redobrado ele a colocou na pick-up e a levou para casa, evitando ir muito depressa por causa dos solavancos. Queria lhe dar um banho, mas ficou com medo de piorar sua situação. Retirou a roupa que ela vestia, um macacão azul e botas pretas. Estava encharcada e infelizmente ele teve que retirar as roupas de baixo também. Usava uma camiseta fina branca e uma calcinha que parecia um shortinho, branca também. Limpou os ferimentos e buscou com atenção se havia algo quebrado. Tentou não notar como ela era bonita depois de limpa. Agora não era o momento de
Era uma arquitetura comum na Terra e tinha um ar aconchegante. Apesar disso, ela precisava descobrir onde estava realmente. Carlo entrou na sala e a viu sentada. Se aproximou. _ Que bom, acordou - parou ao lado do sofá com uma bandeja nas mãos. Ela levantou o rosto para olhá-lo e agora sim ele podia ver bem seus olhos cinza. Sorriu de leve. Não queria deixá-la nervosa. Parecia confusa ainda e sua postura mostrava um pouco de indecisão e timidez. Talvez uma certa desconfiança, o que era perfeitamente normal. _ Estava muito preocupado com você - colocou a bandeja na mesinha em frente ao sofá. Sentou
Ela concordou com um suspiro. Sua cabeça doía. Ter levantado depressa e ido atrás dele não tinha sido boa ideia. Ainda se sentia um pouco mole e detestava se sentir assim. Há muitos anos ela não ficava doente e fraca. “Há quanto tempo”? Não tinha certeza agora, não se recordava de certo as coisas. Sabia que teria que esperar até que as imagens voltassem a encher sua mente de novo. Mas sabia que adoecer era algo difícil e raro para ela. Em breve lembraria. Ainda estava apagada de sua lembrança, como ela tinha ido parar ali. Sabia que deveria estar em outro lugar, só não sabia onde. Pelo menos ainda não.
Ela o olhou sério. _ Você vai morrer? - se espantou. _ Espero que ficando aqui, não. Carlo explicou a ela sobre a pandemia de Corona vírus e ficou surpreso dela não saber sobre isso. _ Você é pilota das forças armadas? _ Não - pensou um pouco _ Mas sou pilota. _ Lembra-se disso? _ Sim... Mas não sou das forças armadas. _ Como sabe? _ Só sei - torceu os lábios.
Quando Amina despertou já estava escuro de novo. Mexeu a cabeça devagar. A cama era muito gostosa e tinha um cobertor por cima dela. Seu ombro já não doía e tocando a boca percebeu que ainda estava inchada, mas não como antes. Olhou pela janela. A chuva continuava, mas agora batia mais branda contra a janela e descia pelo vidro, deixando marcas. A porta do quarto estava aberta e a luz do corredor entrava, formando uma imagem espelhada da proteção da escada que descia. Voltou a fechar os olhos, reconfortada pelo calor da coberta. *******
Tinha que manter seu controle e não sucumbir ao desespero de descobrir que estava longe demais de sua casa. Muito longe mesmo. Não deveria nem estar naquela galáxia. _ Amina? - a segurou _ Está tonta? _ Um pouco. Mentira. Estava muito tonta, mas com tudo o que estava acontecendo a ela agora. Sentiu o estômago embrulhar. _ Quer beber alguma coisa? - ele esboçou um sorriso _ Deve estar com fome. Dormiu o dia inteiro. _ Quero café - queria provar da bebida de novo. O cheiro e o sabor a agradaram. _ Não vou lhe dar mais café. Trarei um chá de camomila. É muito bom e relaxa.
_ A Terra pode vir a ser um mundo seco e deserto como Marte - disse pensativa _ Ele perdeu seu campo magnético e as correntes de vento solar, fazem com que perca sua atmosfera. Ele se mexeu no sofá, curioso e interessado no que ela dizia. _ As partículas carregadas que são liberadas do Sol... O vento solar... Interagem com a atmosfera do planeta e criam uma magnetofesra que... Sabe o que é isso, não é? _ Sei sim - sorriu de leve _ Magnetosfera é a região exterior de nossa atmosfera e que nos protege de tempestades magnéticas e partículas carregadas que podem interferir em satélites, bússolas, radares - mexeu o ombro. _ Isso mesmo - ajeitou o cabelo atrás da orelha _ E quase todos os planetas têm a sua. Pois em Ma
_ Sei, claro - deu de ombro _ Que me lembre é uma região no espaço que o campo dele é tão forte que nada consegue escapar, nem mesmo a luz. _ Pois então, cheguei a pensar que tudo se repetia. _ Sua cabeça está doendo? - estranhou. _ Não muito. Me sinto melhor do que antes - suspirou fundo _ Foi só um sonho que tive e quando abri os olhos me encontrei no escuro de novo. _ Bem, sinto muito - tocou seu joelho _ Isso costuma acontecer por aqui. _ Que atraso - se recostou na cabeceira. _ É uma cabana, em uma montanha. Não sei que milagre a região tem energia.