capítulo 1.2

Apalpou com cuidado seus braços e pernas, procurando por fraturas. Sua coluna e pescoço pareciam bem. Não poderia deixá-la ali, tinha que arriscar movê-la ainda que não fosse o ideal.

Voltou ao carro e pegou um cobertor que deixava no banco de trás. Embaixo do banco ele tinha um estojo de primeiros socorros.

A cobriu e limpou com cuidado o sangue, do jeito que dava com aquela chuva, depois colocou uma gaze no corte.

Quando tentava levantá-la, ela piscou abrindo os olhos, virando o rosto para ele.

_ Ainda bem... Graças a Deus que voltou a si - disse preocupado.

Tentava acalmá-la e a ele mesmo. Tinham que sair da chuva logo.

Ela piscou fazendo uma careta e olhou para ele, mas estava tudo um borrão.

_ Tem mais pessoas no avião?

Ela não conseguia entender o que ele dizia, ainda que ouvisse bem. As palavras saiam de sua boca, mas não faziam sentido para ela.

_ Tem mais pessoas no avião? Onde caíram?

Ele pensava que ela estava em um avião e com certeza haveriam outros.

Amina o ouvia, mas não entendia suas palavras. Ela tentou falar e ele fez uma cara de espanto.

Ela tentou outro idioma e ele continuava a falar, mas ambos não se compreendiam.

Seu rosto foi clareando e ela pôde ver suas feições melhor. Tentou mais duas vezes e nada. A dor na cabeça a impedia de falar seu idioma correto.

Ergueu a mão suja de terra e tocou seu pescoço, apertando enquanto ele continuava a falar e fechou os olhos sentindo as vibrações de suas palavras no movimento de suas cordas vocais e aos poucos conseguiu captar o que representavam.

_ ... Por isso preciso tirar você daqui e...

_ Terra!

Ela abriu os olhos espantada e recuou a cabeça um pouco, o encarando sem acreditar.

_ Sim, está cheia de terra, mas não se preocupe com isso agora.

Ele entendeu que ela não queria entrar no carro por estar suja de terra.

_ Terra... Aqui é o planeta Terra? - segurou em seu ombro.

Carlo franziu a testa. Talvez a pancada na cabeça a tivesse deixado desnorteada.

_ Isso, está em casa, na Terra - tentou levantá-la e ela gritou _ Deus, o que foi?

_ Meu braço - fez careta de dor.

Ele apertou o braço e não achou fratura. Subiu e sentiu o ombro. Estava deslocado. Pensou um pouco e respirou fundo.

_ Me desculpe.

_ Por que? O que...

Ela gritou e xingou muito quando ele esticou seu braço.

_ Não posso deixar seu ombro assim.

Carlo segurou o ombro dela com força após ter esticado e forçado para colocar o osso de volta no lugar.

_ Sei que dói - ele já tinha deslocado o ombro uma vez em uma queda de moto quando era adolescente _ Onde estão os outros? Pode me dizer?

Ela sentou devagar com a ajuda dele, ainda tonta e sentindo a dor no ombro.

Pelo menos agora ela conseguia se comunicar com o estranho.

_ Não tem mais ninguém - disse baixo.

_ Está sozinha? - ele estranhou.

_ Ninguém mais...

Ela voltou a fechar os olhos e o corpo ficou mole. Sentiu que sua energia ficava fraca, seu corpo lento de novo.

Não queria, mas sabia que estava em companhia de um estranho e que ele tinha condições de ajudá-la, mais do que ela mesma.

Desmaiou de novo.

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