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Capítulo 2 — A invasora azulada como a lua.

    A estranha possuía uma aparência segura e imponente.  Andava a passos leves que não podiam ser ouvidos. Seus olhos cinzas as encaravam friamente; tinha os cabelos loiros prateados, com mechas azuis, presos em um rabo de cavalo perfeito. Os óculos se encaixavam perfeitamente em seu rosto e as orelhas pontudas eram enfeitadas com brincos prateados.

 — Quem é você e o que faz aqui? —perguntou Mira apontando-lhe a faca que pegara rapidamente em cima da mesa.

 — Acho que não temos tempo para conversa, senhorita Collins. —  Respondeu a elfa. —  Eles estão atrás de nós, ou melhor, de vocês.

A invasora olhou para a faca apontada para si e riu.

 — Esse tipo de arma não é algo que pode me deter.

 — Quer ver? — disseram as meninas.

Podia-se ouvir a porta dos fundos sendo arranhada e os sons dos uivos adentando a casa.

— Querem se salvar ou preferem ficar para morrer? —  Disse a mulher as ignorando.

 A estranha observou o local, curiosa enquanto arrastava seu vestido azul-marinho de um lado para o outro.

Os uivos ficavam cada vez mais próximos, os barulhos da porta e janelas sendo arranhadas já faziam seus ouvidos chiarem.

 Mira tentou atacar a intrusa para obter respostas, no entanto a mais velha só balançou a mão e jogou a arma para longe.

— Não temos tempo para brincadeira, meninas. Vocês vêm ou não?

Mira a encarou por um tempo. Não sabia se podia confiar nela, porém quando viu um focinho preto enorme com presas prateadas atravessar a porta, ela sabia que não havia outra opção.

 — Vamos com você. —  Respondeu.

 — Tem certeza? Acha que devemos confiar nela? — perguntou Kendra ainda indecisa.

 — Não, não devemos. Mas ela parece ser nossa única chance — suspirou a curandeira.

 A elfa sorriu e apareceu com duas malas na mão.

 — Isso é o que poderão levar. Depois voltamos para pegar o resto.

Ninguém disse nada. As garotas seguiram a mulher pelos fundos, sem entender o que estava acontecendo. Porém os animais já haviam adentrado o local.

Do lado de fora havia uma carruagem que era "quase" invisível. O veículo era transparente, podendo-se ver o outro lado da rua. A localização desta só era reconhecida pela sombra da mesma. Entraram e enquanto se distanciavam, viram estranhos lobos, ora negros, ora cinzas, com luzes azuis nas patas adentrando a casa.

A locomotiva se camuflava por cada lugar que passava, no entanto, o interior não parecia mudar em nada.

Ao ver a expressão de confusão das adolescentes, a elfa exclamou:

— A carruagem e todos em contato com ela, se camuflam, assim enganamos os inimigos.

  Passaram pelo templo de cura, onde se cultuava o deus Eluin. Alice orava todo dia no templo pedindo sabedoria para ajudar aos enfermos. E segundo ela, ele sempre a atendia. Mira não costumava ser muito ligadas aos deuses. A menina só acreditava neles e ponto.

 Quando os cavalos negros levaram a carruagem para fora da cidade, Mira olhou para a estranha de óculos e disse:

 — Acho que agora temos tempo para explicações.

 — Você é determinada, senhorita Collins. Isso pode lhe ser útil no futuro. — Se ajeitou no assento e continuou — Me chamo Astrid Betwein.

 Os olhos cinzas dela as fitaram com curiosidade.

— Sou a coordenadora do colégio Lymnus Theorys. Vocês vão ficar lá por enquanto. É o único lugar seguro longe do imperador.

 — Senhorita Betwein, como soube que minha mãe havia sido raptada? —  Perguntou Mira, curiosa.

 — Nós estamos seguindo os passos do rei de Harlisze a um tempo.

 — Rei de onde? Nunca ouvi falar. —  Disse Kendra.

— Rei de Harlisze, o reino dos magos. É um reino fechado e controlado pelo sucessor do rei Neelas. Ninguém sabe o caminho até lá, só um cidadão do reino ou as fadas. Ele está te perseguindo há algum tempo, senhorita Collins, mas algo o impedia de te encontrar.

— Certo. E o que minha mãe e eu temos a ver com isso? — perguntou a de cabelos castanhos, impaciente.

 Astrid a olhou irritada.

 — Não é ela, menina tola. É algo que sua mãe ou você possui. Sua casa tem algo que ele precisa para acessar um local desse vilarejo. Além disso, tem algo relacionado com você.

 — Nós não temos nada. Não temos dinheiro que seja precioso para um Imperador, nem joias, nada. Não faço ideia do que esse homem procura e muito menos o conheço. Escolheu a pessoa errada. — Exclamou a jovem surpresa.

 — Ele não escolhe errado. Principalmente se a conhece. — respondeu seriamente a elfa.

 — Mas...  —  A menina tentou argumentar, porém foi ignorada.

— E como nunca ouvimos falar desse reino? —  Perguntou Kendra quebrando o silêncio.

Astrid as encarou e suspirou.

 — Há muito tempo, o mundo mágico e o dos humanos viviam unidos. Porém os deuses perderam parte do seu poder por um motivo misterioso, e assim sua influência quanto aos mortais diminuiu. Os humanos eram muito jovens na época e ficaram perdidos sem eles. Por isso, estes se afastaram das outras espécies, por medo.

 — Medo do que? — Mira perguntou.

 — Sempre existiu o sobrenatural, no entanto o preconceito sempre existiu também. Os sem poderes achavam os outros estranhos e vice-versa. Desse modo, os que não possuíam magia e eram mais jovens tiveram medo. Além do fato que sem a influência dos deuses, alguns humanos se tornaram gananciosos e egoístas, e desejaram o poder do mundo mágico. Para evitar guerras, um se afastou do outro. Com o tempo cada espécie foi sendo esquecida pela outra e uma divisão foi criada entre elas. Uma barreira tão forte que fez com que só os especiais pudessem atravessá-la.

 — E nós voltaremos para cá? Para o nosso mundo? — Kendra perguntou.

— Em uma semana. É o máximo de tempo que os Dowykais ficam em um mesmo local. — explicou a coordenadora. — No entanto teremos que voltar para o colégio. Aqui não estará seguro por um bom tempo.

 O resto da viagem ocorreu calmo. Mira acabou dormindo no ombro da amiga. Mas esta não tinha a mesma facilidade, Kendra não conseguia. Agora tudo havia mudado. Ela não queria dormir para não descobrir que o pior aconteceria. Como a loira tinha sonhos proféticos e visões desde criança, pensou novamente em como era estranho que naquele dia ela tenha dormido tão calmamente. Talvez os seus sonhos tenham passados para Mira, que disse ter tido pesadelos.

— Chegamos.  — Disse Astrid descendo da carruagem com elegância.

  De dentro da carruagem dava para ver que o colégio era magnífico com altas torres entre seus telhados de alturas baixas. Os tijolos pareciam ser feitos de vidro translúcido, onde luzes coloridas cintilavam, entregando aos olhos um efeito magnífico. Apesar disso, não era possível ver nada no interior do edifício.

Uma enorme ponte se estendeu sobre elas. Mira pensou que se o chão não fosse fosco ela teria a sensação de cair.

 Quando passaram pelo caminho uma porta enorme de vidro se abriu e o castelo pôde ser visto mais de perto. Era realmente lindo, as janelas enormes com detalhes prateados agora podiam ser observadas.

Mira desceu esfregando os olhos devido ao sono e a amiga foi logo atrás. Quando a menina de cabelos castanhos a ultrapassou, Astrid parou Kendra e sussurrou:

 — Você não contou a ela, certo? Não contou o que mais o Imperador disse. Além do fato de conhecê-la.

 A jovem ia dizer algo, mas a mulher já havia se afastado.

  

 Ao entrarem pela enorme porta do colégio e passarem por corredores com o mesmo piso transparente, mas opaco, como o da ponte e paredes cheias de quadros de diretores anteriores, a coordenadora exclamou:

 — Penso que vocês estejam com fome. Passem por essa porta e vão até o refeitório. Ainda deve ter algo. Eu volto para buscar vocês.

 — O que é um refeitório? — perguntou Kendra.

Mira deu de ombros e seguiu pela porta indicada.

  As meninas atravessaram o refeitório, que era um lugar cheio de mesas de madeira com cadeiras do mesmo material em volta, uma bandeira cinza com bordas pretas e uma coruja colorida no centro que cintilava pairava na parede principal. Além disso, havia uma mesa com pratos e atrás dela havia vários recipientes com comida, muita comida.

 A mulher baixinha com a pele queimada de sol e cabelo ruivo as olhou com cara feia e perguntou o que elas preferiam. Escolheram o ensopado de carne e pão. Era muito raro ver carne bovina onde elas viviam, o que com certeza mostrava o nível daquele colégio. Não havia ninguém ali, por isso se sentaram na primeira mesa que viram. Provaram a comida e era claramente, a melhor que já haviam experimentado.

 — Que lugar estranho! — exclamou Mira. — Nosso colégio não é assim.

 — Bem, nosso colégio é a sua casa. — Riu Kendra.

— Pelo menos a comida é boa. —respondeu a outra.

 Comeram depressa. Estavam com fome, pois não haviam tomado o café da manhã. Quando já estavam acabando, algo chamou a atenção, ou melhor, alguém.

 — Kendra! — a pessoa disse.

 Era um jovem, possivelmente 1 ano mais velho que elas. Tinha os olhos cor de mel, cabelos ruivos bagunçados e vestia o uniforme do colégio: a camisa, calças e casaco brancos, com a gola, punho e gravata pretos.

 — Jack? — a loira perguntou surpresa. — O que faz aqui?

 Ele sorriu e acertou os óculos.

 — Sou eu que deveria perguntar, certo?

O jovem se aproximou e beijou a mão da loira. Tentou fazer o mesmo com a outra menina, mas esta se afastou.

 Jack se sentou e disse:

 — O colégio havia me convidado, porém eu não tinha certeza se deveria vir. Assim, quando eu quase incendiei tudo, resolvi que deveria aceitar a proposta deles. Eles são bons em encontrar talentos. Tenho certeza que é por isso que você está aqui.

 — Há quanto tempo estuda aqui? —perguntou a loira.

 — Faz dois anos. Os dois anos que nós não nos vimos eu estive aqui. Eu queria te encontrar. Mas não pude. Me trouxeram às pressas, devido ao incêndio. Depois não pude mais sair.

— Espera. Você incendiou a casa? Como? — Mira perguntou sem entender nada do assunto.

— Oh! Esqueci que você não sabia.

 O jovem esticou a mão e as chamas apareceram diante delas.

 Mira pareceu surpresa que justo aquele menino dentre todas as pessoas possuía um poder assim. Ela fechou a cara.

— Eu não sabia que você controlava o fogo. — Mira disse séria.

— E eu também não sei qual é o seu poder, mas deve ter algum, já que você está aqui. Claro que não deve ser algo tão poderoso... — riu Jack.

Mira se levantou, irritada. Ambos não se gostavam. E adoravam se provocar.

 Kendra suspirou e tentou dizer algo para melhorar o clima, porém a senhorita Astrid apareceu, interrompendo-os e pigarreou antes de falar:

 — Senhoritas, fico feliz que tenham feito amizade, no entanto peço que me acompanhem agora. E o senhor, senhor Price... — se dirigiu a Jack — Creio que já deveria estar na classe.

  Jack deu adeus e as garotas acompanharam a coordenadora.

  Mira estava de cara fechada. Kendra tinha certeza que era por causa do Jack. Mira não gostava muito do moço, porém não havia ninguém que a entendesse tão bem quanto ele. Nem mesmo Mira a entendia quando se tratava dos seus poderes. A amiga podia acalmá-la, mas entendê-la era complicado.

 O jovem fora o único que a compreendera, como se ela fosse normal. Kendra olhou para o candelabro dourado no teto, uma vela havia se apagado como naquele dia, há quatro anos atrás.

 Kendra acordou assustada. A vela ao seu lado havia se apagado. Havia acontecido novamente, as malditas visões que a atormentavam. Se levantou, pondo um manto azul claro por cima da camisola rosa e fina.

— SinSin! — chamou o gato, mas nem sinal dele.

  Será que o que havia visto na visão já teria acontecido?

Desesperada, correu pela noite, as lágrimas escorrendo pelo rosto. “Por quê? Por quê tinha que carregar tal fardo?”

 Parou em um beco, ofegante, e gritou de raiva.

Chorou como nunca havia feito em toda a vida.

 — A senhorita está bem? — uma voz masculina perguntou.

Ela se virou e o viu.

 O jovem a olhava curiosamente e bondosamente.

 — Estou bem — se levantou e enxugou as lágrimas —, não foi nada.

 — Pessoas não se escondem em um lugar desses por nada. Vi você correndo e se escondendo aqui.  — Confrontou o garoto.

 — Não estou me escondendo. — disse irritada.

Ele riu.

 — Claro que está. Se não está se escondendo, está escondendo algo.  —Respondeu o jovem esperto.

A menina quis ir embora. Jack a segurou pelo braço.

 — Olhe! — exclamou ele.

 O jovem mostrou o que podia fazer. A mais jovem viu as chamas em suas mãos, coloridas, iluminando tudo. E era lindo. A coisa mais linda que havia visto.

 O garoto era estranho, não entendia por que ele fizera algo como aquilo do nada. Talvez quisesse demonstrar confiança. E surpreendente funcionou.

 — Eu vi meu amigo morrer. — explicou em um sussurro quase inaudível.

 — Sinto muito. — ele disse sincero. Muito estranho para alguém que nem conhecia.

 — Não, você não entendeu. Eu previ a morte dele. Previ um dia antes. Achei que fosse só um sonho, mas estava errada. Agora aconteceu o mesmo com o meu gato. Ele provavelmente será levado pela morte também.

 O garoto a abraçou. Não era certo um homem desconhecido abraçar uma jovem assim, mas Kendra permitiu, porque pela primeira vez desde o dia em que descobriu seus poderes, se sentiu segura. Segura e protegida.

  Meses depois, sonhou com a morte dos seus pais. No dia seguinte quando acordou o sonho havia se concretizado: eles foram mortos a facadas e deixados no chão, ensanguentados, como se suas vidas não possuíssem valor algum. O assassino nunca foi encontrado.

 

  No velório, Mira e sua mãe Alice, estavam lá por ela. E por mais conforto que recebesse delas, parecia não ser o suficiente.

 Quando todos estavam em sua casa, dando-lhe os pêsames, Kendra subiu até o quarto e chorou. Se tivesse previsto antes, poderia ter impedido.

A amiga a abraçou e disse que não era culpa dela, mas a morena não entendia, nunca entenderia. Se Mira possuísse um poder, logicamente não seria algo tão medonho e triste como o seu.

 Foi quando Mira desceu que ele apareceu. Jack a abraçou. Seus braços fortes a envolveram como se quisesse protegê-la.

 — Sinto muito. — Ele disse ofegante.

— Vim assim que soube. Acabei de chegar da aldeia vizinha.

 — Mira diz que não é minha culpa —o olhou com os olhos marejados —, mas se eu tivesse... — soluçou — Só um pouco antes...

 —Se você fosse até eles, provavelmente estaria morta. — Acariciou o rosto dela, limpando as lágrimas. — Eu sei que dá raiva ter um poder e ele só trazer sofrimento.

— Como você consegue me entender tanto?

 Jack sorriu.

 — Simples. Nós somos iguais.

 

  O ruivo beijou-lhe a testa. E se afastou quando a curandeira chegou, olhando-o com uma expressão nada agradável.

O moço saiu do quarto, sorrindo para Kendra. E parecia que toda a agitação dentro dela havia se acalmado.

  Foi trazida de volta à realidade quando a vela do candelabro pareceu acender-se. Viu a senhorita Betwein abanar a mão. Provavelmente acendeu o fogo com magia. Nunca havia acreditado naquilo, mas depois de ver fogo azul e lobos com caninos de prata, acender fogo do nada não era uma surpresa.

 Olhou para a amiga que a encarava preocupada, provavelmente a lembrança havia durado um tempo considerável.

Mira seguia a coordenadora até a sala da diretora. Kendra estava desatenta, devia estar pensando no tal Jack.

Ela suspirou. Não gostava muito do jovem, tinha algo errado com ele. Algo falso. Kendra sempre via o melhor nas pessoas e Mira sabia que isso iria trazer problemas a ela no futuro. No entanto, não podia fazer nada. Se a amiga gostava dele tinha que confiar nela.

  A senhorita Astrid bateu na porta de vidro. Nesta havia o nome: Sra. Murphys, Diretora. As letras estavam destacadas em letras maiúsculas e prateadas.

Uma voz suave e fina respondeu:

— Entre.

 Entraram na sala da diretora. O local era aconchegante. Não era nada que simbolizava o medo que deveriam sentir por quem a ocupavam: as paredes com um papel de parede amarelo-claro, o carpete cor de areia que cobria todo o chão, as cadeiras marrons e a própria diretora não traziam nenhuma sensação ruim à Mira.

A mulher era baixinha, um pouco menor que Kendra, tinha os cabelos acinzentados, olhos castanhos, poucas rugas, e as bochechas rosadas. Sorriu mostrando os dentes brancos, enquanto se ajeitava na cadeira. Arrumou o vestido esverdeado e cruzou as pernas antes de começar a falar:

 — Senhorita Collins e senhorita Millers, creio que saibam o meu nome devido à placa na porta, correto? Vou fazer algumas perguntas, antes de partimos para a conversa apropriada.

 A diretora começou tão rápido que as meninas nem tiveram tempo de perguntar como ela sabia seus nomes e sobrenomes.

 — Senhorita Collins, sua mãe Alice Collins recentemente desapareceu, possivelmente levada pelo Imperador, correto?

 A menina concordou com um aceno.

 — Ela te adotou quando você tinha 6 anos, correto? Você não se lembra dos seus pais verdadeiros, correto?

Mira concordou.

 — Você não tem conhecimento algum sobre o Imperador, correto?

A menina concordou novamente, irritada.

A diretora a analisou. Seus olhos ficaram azuis por um instante.

 — Conhece alguém que é próximo da sua mãe? Alguém que saiba o paradeiro dela?

A garota se lembrou de uma pessoa assim, um homem, Liam, que era muito próximo de sua mãe. 

 A jovem contou a diretora sobre ele. A mulher só sorriu e disse que tudo daria certo. O que não deixou esta contente.

— Como assim? Vocês não estão explicando nada. A senhora disse que teríamos uma conversa. Isso não parece uma conversa para mim! — exclamou irritada.

 — Acho melhor vocês descansarem e terminarmos amanhã, certo? — respondeu a diretora.

 Mira saiu contrariada e Kendra a seguiu, tentando acalmá-la.

 A Sra. Murphys olhou para Astrid e disse:

 — Parece que não precisaremos nos preocupar com a segurança de Alice, Astrid. Ela vai ficar bem.

 — A senhora sabe que o sequestro é só um chamativo. A mãe nunca foi o verdadeiro alvo. Ele quer a menina. Eu só não entendo o porquê depois de tanto tempo. Talvez o feitiço esteja perdendo o efeito.

 A outra sorriu e disse:

 — Claro. Acredito que esteja.

 — Mira, espere! Você não sabe para onde está indo! — gritou Kendra atrás dela.

  A jovem andava sem direção. A única coisa que desejava era sair de perto daquela sala.

— A senhorita Millers está certa. Você não sabe para onde está indo. — Astrid apareceu a sua frente.  — Venha. Vou lhes mostrar seu quarto.

As meninas seguiram a mulher. Não havia muito o que fazer sobre aquilo, e além disso, os corpos das jovens já estavam pedindo por descanso.

  O quarto com certeza era maior que o da sua casa, mas também não era tanto quanto elas esperavam. As camas eram maiores e macias. Muito melhores do que as que conheciam. Os lençóis eram brancos e as colchas negras. As paredes eram claras e não havia muitos móveis. Somente um guarda-roupa, dois criados-mudos, um do lado de cada cama e uma escrivaninha. A janela larga era coberta com cortinas claras e levemente rendadas.

O banheiro era inteiramente branco. A única coisa que Mira nunca havia visto era a banheira que lá havia.

 — O quarto é do mesmo modelo para todos. Ninguém aqui é privilegiado. — Se pronunciou a coordenadora.

Kendra olhou preocupada para Astrid.

 — E o pagamento?

 — Não é necessário. A única coisa que nosso colégio deseja é o talento de vocês.

Mira a encarou. Aquilo parecia um meio de exploração para ela.

A coordenadora ajeitou os óculos e deu um meio sorriso.

—Por que nos ajudou? — perguntou Mira, desconfiada.

—Não podia deixar aquele reino destruir mais alguém. — respondeu a elfa.

— E minha mãe? Porque você não pode ajudá-la também? — continuou.

— Ela não estava na casa. Eu só pude ver onde você estava. Às vezes o destino age de formas misteriosas, sinto que vocês deveriam estar aqui. Se eu tivesse salvo sua mãe, vocês não estariam aqui agora. Tomem um banho e descansem. Os uniformes e suas roupas estão no armário. Estou providenciando seus materiais. Amanhã vamos tentar resolver as coisas sobre sua mãe. Boa noite.

 Mira tentou fazer mais perguntas, mas a porta foi fechada na cara dela.

Kendra encarou a amiga.

 — O que você acha?

A outra a olhou pensativa.

 — Eu não sei. — Suspirou. — Acho que estão escondendo algo e ainda tem muita coisa que não entendo, mas penso que estamos seguras aqui. E você?

— Eu só quero dormir.

 Elas riram.

 Mira ficou quase uma hora na banheira, pensando sobre tudo aquilo. Quando saiu a amiga já estava dormindo. Apesar do sono, parecia que ela não podia descansar. Sentia algo dentro de si, alguma coisa a chamando, dizendo-a que tinha que sair. E foi o que fez.

 No entanto não sabia para onde ir. Olhou os detalhes e objetos próximos ao para saber o caminho de volta.  Havia um quadro de flores roxas na frente do quarto, andou pelo longo corredor até ver uma porta. Não era uma porta especial. Era feita de madeira desgastada. Porém algo dizia que a jovem deveria abri-la. Atrás dela havia escadas em formato de caracol.

 Começou a descê-las e quando o fez, parecia que os seus pés andavam sozinhos. Após finalmente chegar ao seu destino, ela o viu. Os olhos eram prateados e os cabelos escuros. Ele sorriu e lhe disse:

 — Eu estava lhe esperando, minha rainha!

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