Dylan bateu os dedos impacientemente no seu trono. De manhã quando se levantou, o colar de Mira não estava mais lá. A menina tinha que cuidar bem dele, pois se não o fizesse, aquela mulher poderia tramar algo.
O dia parecia tranquilo com o vento soprando suavemente e os pássaros cantando do lado de fora. Porém algo lhe dizia que isso era como uma miragem, escondendo o que realmente estava por vir.
Quando Oswald, seu conselheiro, adentrou a sala do trono, o rei soube que suas suspeitas estavam certas.
Os cabelos ruivos do seu velho amigo estavam presos em um rabo de cavalo, os óculos redondos e dourados apoiados no nariz. A camisa e calças verdes, juntamente com os broches dourados em formato de águia, mostravam a sua patente naquele local.
Enquanto o ruivo passava pelo tapete bege e fino que cobria a maioria do caminho desde a porta até o trono, o mais jovem pôde ver o semblante preocupado no rosto do homem de 50 e poucos anos.
— Majestade! — disse o mais velho. — Temos problemas.
Quando o outro disse isso, Dylan franziu o cenho.
— Continue, Oswald.
— Aquela organização, Shiake, está atacando novamente. Eles querem levar as crianças, majestade! Pensei em enviar os soldados.
— Não se preocupe, Oswald. — disse o rei com um sorriso. — Eu mesmo cuido deles.
O homem de cabelos prateados se levantou do trono. A longa capa cinza que cobria seus ombros caiu no chão, ele já estava preparado para uma situação do tipo. A espada, "lâmina de fogo", já se encontrava presa em sua cintura.
Enquanto se dirigia pelo corredor, os olhos cor de mel fitaram o quadro do pai. Olhou a imagem do homem de cabelos negros, semblante severo e olhos da mesma cor dos seus com nojo.
Sentiu a camisa branca que estava por baixo da malha negra se acentuar ainda mais em seu corpo quando respirou fundo. As lembranças da época do reinado do rei Neelas ainda estavam vivas em sua mente. Seu pai era um homem cruel que ensinou Dylan a matar e odiar o diferente, o que segundo o antigo rei, eram sujos. O jovem nunca concordou com isso, porém na época era muito fraco para fazer algo. Então, só seguia as ordens à risca.
No dia em que sua irmãzinha Mira despertou os poderes, ele soube que deveria fazer algo.
O louco provavelmente faria algo com a menina. O assassinato de mais famílias de fadas no dia anterior só comprovou aquilo. O jovem sabia que tinha que fazer algo.
Então quando Neelas enviou os soweetys atrás de Sophie, eles lutaram. Quando a espada atravessou o peito do velho, a única sensação foi de dever cumprido.
Abriu as portas do palácio, viu o sol iluminar a malha negra com detalhes dourados que cobria seu peito.
Ordenou que preparassem Athos, seu mais fiel cavalo. Quando suas calças negras encostaram no dorso do animal, Dylan soube que mais uma vez teria que cumprir seu dever.
A área comercial estava um caos. As pessoas corriam por todos os lados, fugindo da fumaça negra que as tentava envolver.
Mascarados de roupa preta de couro comum e capa cor de fogo gritavam, dizendo que procuravam um percursor da morte. Um deles ameaçava tirar uma criança de sua mãe.
Dylan pôs Athos entre eles, assustando o atacante.
— O que querem aqui cavaleiros da morte? Vocês não são permitidos no meu reino. Onde estão os mestres da escuridão? Com medo de aparecer e por isso enviaram seus cachorros para caçar? — Zombou.
Os invasores tentaram atacá-lo. O rei se esquivou, desceu do cavalo e puxou a espada.
— Venham!
— Majestade, o senhor vai lutar contra eles sozinho? — perguntou um senhor.
Dylan sorriu.
— Não se preocupem, vocês estão seguros.
O povo começou a suspirar aliviado. Seu rei estava ali, não havia nada o que temer.
Dylan evocou as chamas azuis. Estas preencheram todo o mercado, expulsando as sombras.
— Parece que nem conseguem pegar uma criança sem serem percebidos. Vocês são uns inúteis — riu.
Um homem vestindo o mesmo uniforme dos inimigos, porém sem máscara, estava entre eles. Seus cabelos negros estavam presos em um rabo de cavalo curto e os olhos castanhos esverdeados olhavam Dylan com asco.
— Não os culpe. Não esperávamos que o menino rei fosse aparecer. — disse outro de olhos azuis e cabelos roxos. Um brinco vermelho, pendia em sua orelha direita.
Ambos pareciam ter 25 anos, mas o soberano não era enganado por eles.
— Como vão vocês? Elijah, Ethan? Noah não tem coragem o suficiente para vir até aqui, depois da cicatriz que fiz em seu rosto?
— Wow! Você está me magoando, menino Dylan — disse Ethan. — Sinto falta de ouvir você me chamando de tio Ethan. Você se lembra quando dizia que queria ser descolado como eu? — Olhou para as roupas do rei. — Pelo menos isso você aprendeu — deu um sorrisinho sínico.
— Quando se é criança não se vê a maldade no mundo. Eu cresci e notei o quão podre vocês são — sorriu sínico — Como eu disse aos seus cachorrinhos, vocês não são bem-vindos.
— Não adianta discutir com o menino, Ethan. — Disse Elijah. — Ele só aceita algo na força bruta.
O homem de cabelos negros puxou a espada e partiu para cima de Dylan.
O mais jovem sorriu. Dylan cresceu com aqueles homens. Seu pai o levava para as reuniões e todos o adoravam. Eles os ensinaram a lutar, a usar a magia, a ser um homem. Muito mais que seu pai. A Shiake era como sua família, porém estavam do lado errado. Além disso, como rei seu reino vinha em primeiro lugar. Algo que Neelas nunca faria.
Puxou Lâmina de fogo e se defendeu. Já sabia o que viria a seguir. As sombras saíram da espada inimiga para se acumularem ao seu redor. Estas eram mais fortes que as anteriores.
Se esquivou, dando um pulo para trás. As sombras ficavam mais escuras e densas. Porém para ele aquilo não significava muita coisa.
As chamas dançavam em sua mão esquerda, afastando as coisas negras, no entanto não as extinguindo.
Dylan sentiu alguém atrás de si. Era Ethan. Atacou-o com uma rajada de vento cortante. O outro se defendeu criando um escudo de luz amarelo, que só serviu para desviar levemente o ataque. Poucos segundos depois os cortes em seus braços eram visíveis.
Eles continuaram atacando de ambos os lados. O de cabelos brancos pôde sentir a espada de Elijah perfurar a sua costela esquerda, enquanto Ethan o prendeu com cipós. Claro que ele podia contra-atacar e a luta continuaria o dia todo. Ambos os lados se atacando e se regenerando. Em uma batalha continua que só terminaria quando estivessem exaustos, ou mortos.
Porém um ruído foi ouvido. Era uma fênix que piava acima deles. Os inimigos sabiam o que significava aquilo, era hora de recuar.
— Nos vemos outro dia, menino Dylan. — disse Ethan.
Quando eles desapareceram na forma de uma poeira negra, o rei sentiu a mão tremer.
— Droga! — disse.
As marcas negras eram visíveis passando pela sua pele.
— Vejo que a maldição está avançando. — disse uma voz feminina.
A mulher estava lá novamente, aquela que amaldiçoou sua família. O motivo dele querer que sua doce irmãzinha retornasse para casa.
— O que quer? — disse irritado.
Tudo estava parado, como em todos os momentos em que ela aparecia. As pessoas comuns pareciam estátuas.
— Vim verificar você. — disse a encapuzada. — Te lembrar que o tempo está acabando.
O capuz azul escuro escondia seu rosto, só se podia ver uma mecha loira que caia em cima do seu vestido bege claro.
— Você não precisa me lembrar disso — rosnou.
A estranha riu. Ela se aproximou e o abraçou. Dylan fez uma expressão de nojo. Engraçado como o toque de uma pessoa da mesma família que a dela lhe trazia a sensação oposta.
— O tempo está passando, para mim isso não é problema. Já para você... Tic Tac, reizinho.
Ele sentiu os braços dela se afastarem e de repente, tudo estava normal novamente.
Dylan fechou a mão, apertando-a. Sua irmãzinha precisava estar em casa o mais depressa possível.
As figuras encapuzadas andavam pela rua. Uma delas, vestindo um capuz azul, virava a cabeça a todo momento, como se conferisse se ninguém as estava seguindo. Logo viram barracas e lojas enormes de diferentes tipos e tamanhos, entraram em uma particularmente bizarra. Caveiras negras e prateadas decoravam o local, juntamente com olhos e cérebros em vidros. O lugar cheirava a mofo e não era limpo há tempos.A pessoa fez uma exclamação de nojo ao ver um rato passando pelas prateleiras.— Tem certeza que aqui é o lugar certo? — disse com uma voz feminina.— Sim — respondeu a outra, usando um capuz verde —, tenha paciência.Um homem careca, velho, corcunda, vestindo roupas pretas se revelou. Deu um sorriso com seus dentes tortos e fez uma referência.— Olá... Milady! Não a esperava tão cedo.— Preciso de uma informação... Sobre aquela pessoa e a família dela. A verdadeira. — disse a de vestimenta esverdeada.O sorriso do homem pareceu aumentar.— Oh. Eu tenho o que a senhorita deseja. E voc
Quando saíram e viram o vilarejo, os rostos das meninas se iluminaram. Era bom ver um local que não fosse o colégio. Ao contrário de Jack, Mira gostou de Isabella e Mirelle. Elas eram divertidas e pareciam conhecer tudo ali.— Há! — ela pulou de alegria. — Não aguentava mais ficar presa lá dentro.— Venham, vamos dar uma olhada. — disse Rick. O lado de fora do colégio era bem diferente da vila que as amigas conheciam. Primeiro tudo era iluminado com luzes coloridas, ou seja, magia. As casas simples eram substituídas por Torres e casas mais altas. As pessoas usavam saias, vestidos acima dos joelhos, cabelos coloridos, sapatos altos e outras roupas bem diferentes para quem só estava acostumada a usar vestidos e sapatos baixos. Claro que o uniforme era uma prova de como as vestimentas eram diferentes, porém ver aquilo fora do Luminus mostrava como tudo era incomum. Elas caminharam pelo mercado, havia pessoas de várias espécies que Isabelle foi diferenciando conforme passavam por ela
Mira estava na floresta novamente, porém o local não estava escuro ou morto como na sua visão. Talvez porque a garota não estivesse dentro da floresta em si, e sim ao lado dela. O som de água corrente podia ser ouvido. Tal líquido preenchia o rio, enquanto luzes coloridas atravessavam-no em direção ao fundo."Tenho certeza que está conectado ao lago da floresta" - pensou.— Você tem razão. Esse rio também é algo que vai morrer quando a floresta se esvair por completo.Ele estava lá, sentado em uma pedra, observando o rio, os olhos prateados a encarando. O estranho ( que não era mais estranho porque Mira já sabia o seu nome), segurava um cigarro enquanto soltava a fumaça em pleno ar. A jovem pensou em perguntar sobre aquilo, mas resolveu dizer algo antes: — Descobri algo sobre você. — disse se sentindo vitoriosa. — É? O quê? — perguntou curioso.— Você é o deus da cura, da saúde e da vida, certo? Eluin. Minha mãe orava muito para você. Ou melhor, para sua estátua.Eluin sorriu diver
A primeira coisa que as meninas fizeram foi correr até o quarto. As armas estavam em cima da cama. O fogo consumia os corredores. Azul e gelado como da outra vez.— Vamos nos preparar. O quarto pode ser consumido. — disse Kendra concentrada. A loira utilizou o ar para pegar duas mochilas e encher com coisas como roupas, poções, frutas e outras coisas necessárias que haviam recebido da coordenadora. Sorte que haviam tido essa aula a pouco tempo.Com as mochilas postas em seus ombros, elas partiram em direção ao corredor. O fogo agora parecia mais vivo, e Kendra ao encostar brevemente nele, notou que também queimava. Um calor mutável que logo depois de queimar, congelava.— Tudo bem? — falou Mira alto, a gritaria das pessoas era tanta que não podia ouvir a própria voz.— Sim, não foi nada. As meninas continuaram correndo, mas foram cercadas por Dowykais. As criaturas babavam e rosnavam. Mira sabia que não fariam mal à ela, mas quanto à outra era um caso diferente. Além disso, tin
Astrid pegou a taça de vinho. Provavelmente era sua terceira ou quarta. Ela não estava contando. Olhou para a janela de seu escritório, o vento soprando as cortinas. Sentiu algo molhado lhe cobrir a mão. O vidro havia quebrado e a mulher nem havia percebido.Aquilo era um mal presságio. O líquido lhe manchava a pele, como sangue. A mulher fechou os olhos, pensando em como sua vida era aquelas duas coisas: mal e sangue. Quando pequena o pai a prendia no castelo, só com a companhia dos criados e dos familiares. Sua irmã mais velha, aos 7 anos fora sequestrada e morta devido à guerra. No dia em que outra princesa nasceu, o rei quis protegê-la a todo custo. Não permitiria que outra filha morresse por sua culpa. A guerra já havia terminado, porém Edwin ainda possuía aquela culpa dentro de si. Sua única companhia era o irmão mais velho, Renien. Na adolescência só podia sair acompanhada de guardas e de sua dama de companhia. Astrid lhe dizia que podia se defender. Ela era uma guerreira.
O vento trazia o eco aos seus ouvidos, a areia fazia com que nada pudesse ser visto.Elas pegaram em suas bolsas e casacos para se protegerem do sol quente e do vento. Colocando as roupas em suas cabeças, as meninas começaram a caminhar pelo deserto.— Não tem um jeito de tornar isso mais fácil? — perguntou Mira ofegante. Ela estava com uma garrafa d’água que havia retirado da mochila, porém nem com o líquido escorrendo pela garganta a garota se sentia menos cansada.— Hmm — respondeu Kendra. A menina loira fechou os olhos e disse:— Ventismaximis. Logo após aquelas palavras, uma bola de ar surgiu em sua mão direita. Ela fechou os olhos como havia sido instruída pelos professores e imaginou a esfera cada vez maior. Desse modo, em pouco tempo ambas estavam dentro da enorme bola.— E agora? Essa coisa é segura? — perguntou Mira, estranhando aquilo.— Vamos ver. Tente andar. Quando Mira deu o primeiro passo, a bola transparente se moveu junto com ela. A menina sentiu a pressão
Mira estava em um lugar familiar, ela não se lembrava de estar naquele local antes, mas com certeza o conhecia. Parecia o interior de um castelo. A menina não conseguia definir a cor de nada, já que via tudo em tons dourados. Estantes e móveis preenchiam o local, um tapete talvez de linho fino cobria o chão. Um retrato de uma família decorava uma das paredes. Ela estava lá, com talvez um ano de idade. Uma mulher de cabelos claros e vestido escuro a segurava nos braços, sentada em uma cadeira chique e ordenada. Ao lado direito dela, de pé estava um menino que parecia ter 7 anos com uma expressão séria, ele também tinha cabelos claros como a mãe. Ao lado dele, havia um homem de expressão severa e cabelos escuros. “Essa é minha família? Minha real família?” - perguntou para si mesma. De repente sentiu uma dor de cabeça inigualável, caiu de joelhos no chão enquanto tudo girava ao seu redor. Um barulho fino e irritante preencheu seus ouvidos. Em meio aquele som ensurdecedor, a garota
— Você acha que devemos aceitar?— Mira, não chame um deus por “você” — repreendeu Kendra, envergonhada.— Pode me tratar informalmente, senhorita Millers. Somos amigos. — Ele sorriu. — Quanto ao baile, acho que deveriam ir.— Mas roubar é errado. Mesmo que a recompensa seja boa. — disse a morena.—Você tem razão, mas nesse caso é necessário. Além disso, as ervas não pertencem mesmo à eles.— Fumar e agora roubar. Você dá péssimos exemplos. — Mira respondeu.— Talvez. — disse Eluin rindo.Mira tentou se sentar, mas uma tontura a conteve.—Vou buscar mais água e panos limpos. A febre precisa baixar mais. — disse Kendra se levantando. — Fique deitada.— Tem certeza que melhorarei até amanhã? — ela pergunta a ele.— Com certeza. Só descance.Mira olhou para ele e depois para si própria. Sorte que não estava de camisola, ela pensou no ocorrido. Fitou o deus preocupada e perguntou:— Quando meus poderes despertarão? Você me disse que eu tenho uma missão e tudo mais, porém a todo momento te