Os olhos dele eram penetrantes. Foi a primeira coisa que Mira notou quando o viu. Sua pele era cor de oliva, destacava ainda mais o olhar. Era jovem, entre 20 e 24 anos. Usava um manto vermelho com detalhes dourados, cobrindo-o todo. Uma roupa de qualidade inigualável, nem o rei a menina havia visto usar algo do tipo.
O estranho era lindo, o homem mais bonito que a jovem havia visto até os dias atuais. Não havia muitos homens jovens na sua aldeia, a maioria estava no exército. Então a garota não tinha muitas referências.
O homem tinha um sorriso sarcástico nos lábios, como Jack. Mas a diferença entre ambos era que o idiota se achava superior. Aquele homem misterioso realmente o era, possuía com uma energia fortíssima que parecia prender Mira ali. E o seu olhar, o seu olhar parecia ver tudo o que havia em sua alma.
"Minha rainha", ele dissera.
— Não sei o que quer dizer com rainha. — ela respondeu.
O homem riu como se achasse sua confusão engraçada.
— Você é muito ingênua, e acha menos do que sabe. — disse arrogante.
Mira não gostou daquilo. Se sentou em uma das cadeiras e exclamou:
— Então me mostre o que devo saber! Mas antes, acho que deva me dizer quem é você.
Ela deveria sair dali, ou ao menos manter uma distância segura daquele desconhecido. A força estranha a prendia ali, porém parecia não ser ele. A menina o observou. Podia ir embora se quisesse, no entanto, o desconhecido a intrigou, a deixou curiosa. E algo que ela possuía com certeza era a curiosidade.
Mira olhou ao redor. O quarto possuía um sofá, uma estante ao lado, um tapete vermelho cobria o chão e havia uma mesa com duas cadeiras no canto. Uma onde havia se sentado e a outra onde o mais alto estava.
Ele era bem mais alto que a curandeira, talvez tivesse 1,80., comparado com ela que tinha, 1,62.
— Quem eu sou não importa. Você é a futura rainha do reino de Harlisze. Filha da rainha Sophie e do rei Neelas, irmã do rei atual. — respondeu sério o estranho.
Mira quase caiu da cadeira.
— Você está mentindo! Eu nunca seria uma princesa! Muito menos rainha! Eu não consigo nem me lembrar do preparo correto de um medicamento, imagine governar um reino? Eu sei que ele me conhece, mas irmã? Sério? Você está falando besteiras.
O homem sorriu.
— O que importa é que você o será. — Ele se levantou. — Você fala de um modo incomum para alguém que veio do seu reino.
— O amigo da minha mãe me ensinou. — disse se lembrando do modo estranho que Liam falava e que sua mãe ficava irada cada vez que ela falava informalmente daquele jeito.
O estranho se aproximou e disse:
— Você é mesmo curiosa, Mira, em vários aspectos.
O homem olhou pela janela, se dirigiu até a porta e disse:
— Acho que está na hora de dormir, certo? Eu tomei muito do seu tempo.
— O que? Mas é só isso? Nós nem conversamos. Me diga quem é você!
— Shiii.
A garota começou a sentir sono e então apagou.
— Ei, acorde! Mira!
Abriu os olhos e viu que estava no quarto do colégio.
Kendra estava com o uniforme dali: Saia, gravata e punhos do casaco pretos e camisa e casaco brancos.
—Vamos. Se vista. — disse à amiga. — A senhoria Betwein avisou que temos meia hora.
Mira se levantou e tomou um banho. Estava confusa sobre o que acontecera na noite anterior. Se é que aquilo havia ocorrido mesmo.
Depois de se trocar perguntou:
— Ela disse o que faríamos hoje?
Kendra negou.
Mira queria falar sobre o ocorrido com a outra garota, porém a coordenadora as esperava do lado de fora.
— Prontas?
— Para o quê? — perguntou Kendra, curiosa.
— Vamos descobrir mais sobre vocês. Se têm algum poder ou algo do tipo.
Elas se dirigiram para uma sala branca com um círculo no centro. Dentro deste, havia uma estrela de 8 pontas e dentro dela uma de 4.
— Esse círculo mágico vai nos mostrar qual poder vocês têm, se possuírem um é claro.
— A estrela de 4 pontas representa os 4 elementos básicos: Fogo, Terra, Água e Ar. A de 8 simboliza todos os poderes de cada elemento. Provavelmente, creio eu, que irão aprender mais sobre isso em sua primeira aula amanhã.
— Quem vai primeiro? Senhorita Millers, quer experimentar?
Kendra entrou no meio do círculo, indicado por Astrid. Sentiu algo incomum passar por seu corpo. A cor rosa clara percorria suas veias.
— O que está acontecendo comigo?
— Seus poderes estão aparecendo, senhorita Millers. O elemento principal é o ar, que tem a vidência como um poder, mas você já está acostumada com esse, certo?
Kendra saiu do círculo surpresa.
— Minha vez. — Sussurrou Mira para si mesma.
Ela estava apreensiva, mas foi mesmo assim. Quando entrou no círculo nada aconteceu.
A curandeira ficou parada por alguns minutos e nada.
— É, acho que não tenho poder algu...
De repente sentiu algo puxar sua perna. Uma mulher de pele e cabelos esverdeados a segurava.
— Quem é você? Me largue! — gritou Mira assustada.
— Senhorita Betwein! O que está acontecendo? O que é aquela luz azul ao redor dela? — gritou Kendra preocupada.
Quando a amiga tentou se aproximar a coordenadora a impediu.
— Não interrompa.
A estranha segurava seu rosto. A manga do seu vestido cintilante encostou em sua pele. A menina estava assustada. Queria se afastar, porém a criatura era muito forte. Seus olhos roxos encaravam Mira e ela ouviu a mesma voz que sussurrou em seus ouvidos naquela floresta do sonho:
“Um reino pintado de vermelho governarás.
Manchado com o sangue de inocentes.
Por uma guerra provocada por seus ancestrais,
Trará ruína ao seu lar.
Causado pela maldição que corre em suas veias.
Só se libertarás quando ressuscitar.
E a dor suportar.”
Seu corpo se encheu de luzes coloridas. A luz azul se apagou e a estranha desapareceu.
— Mira! — A mais baixa correu até a morena e se agachou ao seu lado. — Tudo bem?
Mira estava ofegante. Seu coração estava acelerado. Ela tremia, se sentia fraca e exausta.
— Quem era aquela? — conseguiu dizer.
—Era o oráculo, creio. — disse Astrid. — Isso não importa agora. Venha, querida — disse suavemente. — Acho melhor você descansar depois disso.
A de cabelos escuros se levantou e perguntou:
— O que todas as luzes significavam?
— Que você é mais forte do que imagina. — a mais velha respondeu dando um meio sorriso.
Mira queria perguntar se a coordenadora tinha alguma informação sobre sua mãe, mas quando notou, já estava deitada na cama.
Mais tarde a amiga estava dormindo, por isso Kendra saiu sozinha para comer algo. Pensou em levar algo para a amiga, mas não sabia quando esta acordaria.
Pegou seu prato e pegou um pouco de comida. No meio da multidão viu Jack. Queria acenar, porém hesitou vendo que ele estava acompanhado de dois meninos e duas meninas.
"Quem são elas? - pensou.
Ignorou aquele pensamento e saiu em busca de uma mesa. Sem que notasse alguém se aproximou.
— Está sozinha?
A garota deu um pulo, assustada.
— Desculpe. Não pretendia assustá-la. — disse Jack se sentando ao seu lado.
— Tudo bem, eu só não esperava. — Riu.
— Estamos atrapalhando o casal? —disse uma voz feminina rindo.
Ao lado de Kendra estava uma menina ruiva de olhos azuis-anil. A loira nunca havia visto olhos daquela cor. A menina também vestia um uniforme e tinha um colar em forma de um golfinho.
— Ahn... Nós não ... — ela tentou dizer.
— Ignore, minha irmã é sempre assim, inconveniente — disse um garoto que apareceu ao lado da de cabelos rubros.
Ele era um pouco mais alto que a Irmã, seus cabelos eram da mesma cor dos dela, porém seus olhos eram verdes-mar. Em seu pescoço havia um colar em forma de dragão.
— Bem, Elliot, parece que encontrei uma nova amiga. Ela e sua irmã entraram recentemente, pelo que soube. Certo? — disse a ruiva para Kendra.
— Bem... — tentou responder.
— Coitada, nem mal chegou e já tem que suportar vocês. — disse a segunda menina, de pele negra e olhos alaranjados.
— Como vocês são mal-educados. Nem se apresentam. — disse o último menino, o segundo mais alto depois de Jack, Cabelos negros, olhos puxados e olhos azuis quase roxos.
— Esses são os gêmeos, Elliot e Isabella Amnus. Eles controlam o fogo e a água. E sentem os sentimentos das pessoas. — disse ele apontando para os ruivos. — O Jack Prince você já conhece. — Depois apontou para a menina negra. — Aquela é Mirelle Seles, ela controla a terra, além de ser caçadora. — Por fim — apontou para si mesmo — Eu sou Rick Wing, e eu posso me teletransportar e meu elemento é o ar.
Quando ele se aproximou dela para beijar seu rosto, Elliot o impediu.
— A menina não precisa que você flerte com ela, idiota. Ela já tem o Jack.
Rick pareceu ofendido e começou a argumentar contra a frase dita pelo outro. Enquanto os dois discutiam, Isa se sentou com eles.
— Prazer, eu me chamo Kendra. — disse tímida. Ela não havia entendido metade do que haviam falado.
— Não se assuste, Kendra. Eles são assim mesmo — riu a ruiva. — Vocês namoram a quanto tempo? Você e Jack?
— Namorar?
— Você não sabe o que é isso? — disse Mirelle.
—Eu não sou daqui. Não conheço os costumes — explicou. — Na verdade... — hesitou — Não entendi muito do que vocês disseram.
Ela continuou enquanto apertava os dedos, apreensiva. Era rítmica perto de estranhos.
— É quando você conhece e se relaciona com alguém antes de se casar. — disse Isa.
— Como? Isso não é meio imoral para vocês? — ela perguntou surpresa, aquilo não era normal no seu mundo.
— Nem um pouco. — Mirelle respondeu com um sorriso tranquilo.
— Nós não namoramos. Somos só amigos. — disse Jack.
—Sei. — responderam as meninas.
Kendra o encarou, porque aquela frase a havia incomodado tanto?
— E onde está a Mira? — ele mudou de assunto.
— Ela não está se sentindo muito bem. — disse o encarando.
Ouviu-se o sinal tocar.
— Hora de ir. — disse Rick.
Os alunos começaram a se levantar e ir para seus dormitórios.
— Vamos. — Kendra ouviu Jack dizer.
Ele a puxou pela mão, levando-a para o lado oposto dos dormitórios.
— Para onde estamos indo? Você não tem aula?
— Você vai ver. — Ele sorriu.
Kendra seguiu Jack pelos corredores da escola.
— Para onde estamos indo? — perguntou novamente apreensiva.
— Shii. — disse ele pondo os dedos sob os lábios.
Eles andaram um longo caminho e desceram escadas. Jack abriu uma porta de vidro azulada. Entraram em um jardim cheio de flores coloridas e vibrantes. Eles caminharam dentre as flores.
— Que lindo! — Kendra exclamou abismada.
— Não é? Mas existe algo melhor ainda. Tenho um presente para você.
O menino tocou no chão e um buraco se abriu, revelando água. Água quente.
— Já volto. Não toque na água, certo? Se não pode se queimar.
O jovem mergulhou.
— Jack! Jack! Você está bem? — Kendra perguntou quando notou que ele estava demorando para voltar.
O garoto voltou e trazia algo consigo. Era um bracelete com pedras azuis escuras.
—Você está bem? — disse ela correndo até ele. — Não tem algo para que você possa se secar?
— Não se preocupe. Eu controlo o fogo, lembra? Logo estarei seco.
Ela assentiu ainda preocupada.
— Aqui! Para você. — Estendeu o bracelete.
— É lindo, obrigada! — disse surpresa e agradecida.
— Ele é mais que uma joia. — disse colocando-o em seu pulso. — Você Ainda tem aqueles sonhos?
— Ontem não, mas... foi uma exceção. — Seu rosto tomou uma expressão sombria.
O garoto acariciou seu rosto.
— Esse objeto vai te ajudar a dormir bem. As premonições podem vir em outros momentos, mas pelo menos você vai dormir em paz. Isso também pode te ajudar a anulá-las por um tempo, porém só quando você aprender a controlar o ar e inseri-lo em suas pedras.
— Obrigada mesmo. — Ela o abraçou. — Não acredito que fez isso por mim. Poderia ter se afogado. Além disso, por que o escondeu lá? — perguntou brava.
— Eu sou ótimo nadador, apesar do meu elemento — riu. — Bem, se te levasse para o meu quarto você poderia pensar coisas erradas de mim. E não queria te deixar sozinha a essa hora. Por isso pensei em esconder aqui — sorriu. — E... Eu faria qualquer coisa por você.
Quando ele disse aquilo ela se afastou, envergonhada.
— Você também sempre poderá contar comigo, Jack. Não importa no que seja.
Ele beijou sua testa.
— Vamos. Vou te deixar no seu quarto.
Kendra entrou no quarto e viu Mira dormindo. Se deitou na cama e tentou fazer o mesmo. Mas era difícil, porque seu coração não conseguia se acalmar. Jack e ela tinham um laço, uma ligação desde a primeira vez que seus olhos se encontraram.
Mira se viu no mercado perto de casa, em sua mão havia um cesto de flores. O homem que havia visto antes estava lá também, andando ao seu lado.
— O que faz aqui, perto da minha casa? — ela perguntou surpresa.
— Precisava falar com você.
— As pessoas vão achar estranho eu andar com um homem desconhecido. — ela respondeu alarmada.
Ele sorriu.
— Como é um sonho, acho que elas não vão se importar — disse fazendo-a sorrir também.
— O que o senhor queria falar comigo? — perguntou.
Agora achou que deveria tratá-lo mais formal já que o conhecia um pouco mais e não estava tão apreensiva e assustada como antes.
— Não me trate tão formalmente assim. Tenho a quase a mesma idade que você.
— Ou pelo menos aparenta. — respondeu Mira esperta.
— O que quer dizer? — Se fez de desentendido.
— Você não é humano, certo? — disse. Não tinha como aquele homem ser alguém normal. Ele era diferente de todos com quem havia convivido.
— Você me pegou. — Riu.
— E o que você é? — perguntou interessada.
— Não posso te dizer agora. — respondeu calmo.
O homem olhou em seus olhos, fazendo-a desviar o olhar. Se sentia envergonhada ao encarar aqueles olhos.
— O que te preocupa? — ele perguntou.
— Você deve saber sobre aquela mulher... O que ela disse é verdade? — respondeu preocupada.
— Você se refere à vidente?
A jovem confirmou.
— O fato de existir uma profecia não significa que você não possa mudá-la. O que ela disse é sim verdade. Se você deixar que aconteça, é claro.
— E como posso mudar isso? — perguntou.
— Só depende de você, Mira.
— E você? Não vai me dizer o motivo de estar no meu sonho?
— Eu queria te avisar sobre algo. Na próxima semana você voltará à sua antiga casa. E lá vai encontrar algo que o imperador procurava. Na verdade, ele o encontrou, mas acabou voltando para sua casa, para você. Quando o encontrar, fique com ele, porém você não pode permitir que o seu sangue caia sobre ele.
— Porquê?! — exclamou exasperada.
— Se isso acontecer, a joia nunca mais voltará para você. — o misterioso explicou.
— O que tem de tão importante nele? — Disse ela.
— Também não posso te dizer.
— Parece que você não pode me dizer nada! — exclamou irritada.
— Eu vou indo. — Sorriu. — É melhor você descansar.
— Mas eu já estou dormindo. — Fez biquinho.
— Tem que estar bem para a próxima semana.
— Você poderia me dizer o seu nome pelo menos. — falou manhosa.
— Talvez na próxima. — disse beijando-lhe a mão.
Lá estavam elas uma semana depois, com vestidos novos da cor vermelha, dentro da carruagem invisível, junto com a senhorita Betwein.
O sol estava se pondo. E o veículo passou pelo menos 10 vezes em torno da casa de Mira, verificando se não havia mais nenhum Dowykais por ali.
Entraram na residência. O local estava todo revirado. Em meio ao caos, Mira abaixou o capuz e tentou pensar no objeto ao qual o homem desconhecido havia se referido.
— Peguem o que necessitam e vamos! — Disse a senhorita Betwein.
— Mira, tem certeza que ele não queria nada? — perguntou Kendra.
— Tem algo. — disse se lembrando do que o homem havia dito.
Mira correu até o andar de cima. O quarto da mãe estava revirado, assim como os outros cômodos da casa. No entanto no porta-joias havia algo que a morena não via há muito tempo. Um colar com uma pedra vermelha cintilante. Só podia ser aquilo que o tal do imperador procurava.
Se sentou na cama e recordou-se da mãe. Um dia em específico lhe veio à mente, um dia onde a mais velha esperava por Liam.
Mira ajudou a mãe a fechar o vestido. Cobrindo a cicatriz que passava por metade das costas.
Alice era jovem. Tinha 28 anos. Ela a adotou quando tinha 17. Na verdade, fora a mãe de Alice, Agnes que encontrou a pequena perdida e sozinha na cidade.
A criança não se lembrava de nada. A única coisa da qual se recordava era o nome, gravado na correntinha que trazia no pescoço.
Agnes não podia cuidar da menina, estava velha e doente. Porém a filha podia. E desse modo, Alice se tornou a mãe de Mira.
— Pronto. — disse a jovem sorrindo.
— Obrigada, querida. — Beijou a testa da filha.
A mulher prendeu os cabelos avermelhados, e colocou um colar que caia em cima do vestido azul, realçando seus olhos castanhos. Alguém bateu na porta e ela correu para atender.
Era um jovem, de aparentemente 20 e poucos anos; cabelos vermelhos, escondidos pela touca, olhos amarelos e um sorriso travesso. Usava, como sempre, roupas esquisitas: camisa preta, capa da mesma cor e calças marrom, luvas pretas e botas marrons.
— Liam! Você veio? O que faz aqui?
Mira sabia que Alice não estava surpresa. A mais velha havia se preparado o dia todo para vê-lo, esperando que o moço viesse.
Fazia muito tempo que vira sua mãe se interessar por alguém daquela maneira. Na verdade, ela nunca havia visto a mãe se interessar por ninguém. Um homem fora o motivo da sua cicatriz. E um homem fez com que ela tivesse medo de se aproximar de alguém do sexo oposto novamente. Até o dia em que Liam apareceu.
Uma batida na porta a chamou de volta à realidade.
— Tudo bem? — perguntou Kendra.
— Sim, vamos! — respondeu.
— Um colar de sangue. Um objeto que volta para o dono. Ou pelo menos para o local mais próximo e com maior possibilidade de encontrá-lo. Como você sabia que ele poderia querer isso? — exclamou Astrid.
— Alguém me disse. — Mira disse desviando do assunto. — E agora?
— Vamos embora. — Concluiu. —Vocês ficam na escola e eu volto com mais pessoas para descobrir o que fazer.
— Espere um pouco. Por favor! Vou perguntar algo para as pessoas do vilarejo. — Pediu Mira.
O vilarejo continuava igual, o mesmo movimento pacato de sempre.
No comércio, as crianças corriam enquanto suas mães faziam compras com comerciantes carismáticos e alguns bem astutos que tentavam vender um produto por bem mais do que ele valia.
Elas perguntaram por Liam.
Uma senhora disse que o havia visto um dia depois do sumiço de Alice. Isso dava esperança à Mira. Ela não sabia direito quem o moço era, mas com certeza ele gostava da sua mãe e iria ajudá-la. Não sabia se ele era páreo para o tal do "Imperador", porém também não estranharia se o homem que a mãe amava não fosse humano como eles.
Quando entraram na carruagem a garota só esperava estar certa.
Alice acordou assustada. Se encontrava em um quarto iluminado, com paredes claras e cortinas cor de creme. Seus lençóis eram brancos e a colcha da mesma cor das paredes com detalhes dourados.A curandeira se lembrou do dia em que havia sido sequestrada pelo rei. Chegaram naquele reino desconhecido, em um castelo com altas Torres brancas com pontas azuis, largas portas de madeira e ferro, além de grandes janelas de vidro. Uma atmosfera estranha pairava no ar, uma névoa prateada e branca que se unia ao local, fazendo as paredes cintilarem. Os guardas a arrastaram pelos enormes corredores que vieram logo após a porta de madeira branca, quadros de vários homens e mulheres que pareciam ser reis e rainhas enfeitavam as paredes escuras. Após estas, foram vistas várias portas de madeira branca, algo muito raro de se encontrar. Eles pararam em frente à uma destas, e assim que pisou no cômodo a visão da mulher ficou turva, a névoa entrou por suas narinas e ela desmaiou. Atualmente, notou q
Dylan bateu os dedos impacientemente no seu trono. De manhã quando se levantou, o colar de Mira não estava mais lá. A menina tinha que cuidar bem dele, pois se não o fizesse, aquela mulher poderia tramar algo. O dia parecia tranquilo com o vento soprando suavemente e os pássaros cantando do lado de fora. Porém algo lhe dizia que isso era como uma miragem, escondendo o que realmente estava por vir.Quando Oswald, seu conselheiro, adentrou a sala do trono, o rei soube que suas suspeitas estavam certas. Os cabelos ruivos do seu velho amigo estavam presos em um rabo de cavalo, os óculos redondos e dourados apoiados no nariz. A camisa e calças verdes, juntamente com os broches dourados em formato de águia, mostravam a sua patente naquele local.Enquanto o ruivo passava pelo tapete bege e fino que cobria a maioria do caminho desde a porta até o trono, o mais jovem pôde ver o semblante preocupado no rosto do homem de 50 e poucos anos.— Majestade! — disse o mais velho. — Temos problema
As figuras encapuzadas andavam pela rua. Uma delas, vestindo um capuz azul, virava a cabeça a todo momento, como se conferisse se ninguém as estava seguindo. Logo viram barracas e lojas enormes de diferentes tipos e tamanhos, entraram em uma particularmente bizarra. Caveiras negras e prateadas decoravam o local, juntamente com olhos e cérebros em vidros. O lugar cheirava a mofo e não era limpo há tempos.A pessoa fez uma exclamação de nojo ao ver um rato passando pelas prateleiras.— Tem certeza que aqui é o lugar certo? — disse com uma voz feminina.— Sim — respondeu a outra, usando um capuz verde —, tenha paciência.Um homem careca, velho, corcunda, vestindo roupas pretas se revelou. Deu um sorriso com seus dentes tortos e fez uma referência.— Olá... Milady! Não a esperava tão cedo.— Preciso de uma informação... Sobre aquela pessoa e a família dela. A verdadeira. — disse a de vestimenta esverdeada.O sorriso do homem pareceu aumentar.— Oh. Eu tenho o que a senhorita deseja. E voc
Quando saíram e viram o vilarejo, os rostos das meninas se iluminaram. Era bom ver um local que não fosse o colégio. Ao contrário de Jack, Mira gostou de Isabella e Mirelle. Elas eram divertidas e pareciam conhecer tudo ali.— Há! — ela pulou de alegria. — Não aguentava mais ficar presa lá dentro.— Venham, vamos dar uma olhada. — disse Rick. O lado de fora do colégio era bem diferente da vila que as amigas conheciam. Primeiro tudo era iluminado com luzes coloridas, ou seja, magia. As casas simples eram substituídas por Torres e casas mais altas. As pessoas usavam saias, vestidos acima dos joelhos, cabelos coloridos, sapatos altos e outras roupas bem diferentes para quem só estava acostumada a usar vestidos e sapatos baixos. Claro que o uniforme era uma prova de como as vestimentas eram diferentes, porém ver aquilo fora do Luminus mostrava como tudo era incomum. Elas caminharam pelo mercado, havia pessoas de várias espécies que Isabelle foi diferenciando conforme passavam por ela
Mira estava na floresta novamente, porém o local não estava escuro ou morto como na sua visão. Talvez porque a garota não estivesse dentro da floresta em si, e sim ao lado dela. O som de água corrente podia ser ouvido. Tal líquido preenchia o rio, enquanto luzes coloridas atravessavam-no em direção ao fundo."Tenho certeza que está conectado ao lago da floresta" - pensou.— Você tem razão. Esse rio também é algo que vai morrer quando a floresta se esvair por completo.Ele estava lá, sentado em uma pedra, observando o rio, os olhos prateados a encarando. O estranho ( que não era mais estranho porque Mira já sabia o seu nome), segurava um cigarro enquanto soltava a fumaça em pleno ar. A jovem pensou em perguntar sobre aquilo, mas resolveu dizer algo antes: — Descobri algo sobre você. — disse se sentindo vitoriosa. — É? O quê? — perguntou curioso.— Você é o deus da cura, da saúde e da vida, certo? Eluin. Minha mãe orava muito para você. Ou melhor, para sua estátua.Eluin sorriu diver
A primeira coisa que as meninas fizeram foi correr até o quarto. As armas estavam em cima da cama. O fogo consumia os corredores. Azul e gelado como da outra vez.— Vamos nos preparar. O quarto pode ser consumido. — disse Kendra concentrada. A loira utilizou o ar para pegar duas mochilas e encher com coisas como roupas, poções, frutas e outras coisas necessárias que haviam recebido da coordenadora. Sorte que haviam tido essa aula a pouco tempo.Com as mochilas postas em seus ombros, elas partiram em direção ao corredor. O fogo agora parecia mais vivo, e Kendra ao encostar brevemente nele, notou que também queimava. Um calor mutável que logo depois de queimar, congelava.— Tudo bem? — falou Mira alto, a gritaria das pessoas era tanta que não podia ouvir a própria voz.— Sim, não foi nada. As meninas continuaram correndo, mas foram cercadas por Dowykais. As criaturas babavam e rosnavam. Mira sabia que não fariam mal à ela, mas quanto à outra era um caso diferente. Além disso, tin
Astrid pegou a taça de vinho. Provavelmente era sua terceira ou quarta. Ela não estava contando. Olhou para a janela de seu escritório, o vento soprando as cortinas. Sentiu algo molhado lhe cobrir a mão. O vidro havia quebrado e a mulher nem havia percebido.Aquilo era um mal presságio. O líquido lhe manchava a pele, como sangue. A mulher fechou os olhos, pensando em como sua vida era aquelas duas coisas: mal e sangue. Quando pequena o pai a prendia no castelo, só com a companhia dos criados e dos familiares. Sua irmã mais velha, aos 7 anos fora sequestrada e morta devido à guerra. No dia em que outra princesa nasceu, o rei quis protegê-la a todo custo. Não permitiria que outra filha morresse por sua culpa. A guerra já havia terminado, porém Edwin ainda possuía aquela culpa dentro de si. Sua única companhia era o irmão mais velho, Renien. Na adolescência só podia sair acompanhada de guardas e de sua dama de companhia. Astrid lhe dizia que podia se defender. Ela era uma guerreira.
O vento trazia o eco aos seus ouvidos, a areia fazia com que nada pudesse ser visto.Elas pegaram em suas bolsas e casacos para se protegerem do sol quente e do vento. Colocando as roupas em suas cabeças, as meninas começaram a caminhar pelo deserto.— Não tem um jeito de tornar isso mais fácil? — perguntou Mira ofegante. Ela estava com uma garrafa d’água que havia retirado da mochila, porém nem com o líquido escorrendo pela garganta a garota se sentia menos cansada.— Hmm — respondeu Kendra. A menina loira fechou os olhos e disse:— Ventismaximis. Logo após aquelas palavras, uma bola de ar surgiu em sua mão direita. Ela fechou os olhos como havia sido instruída pelos professores e imaginou a esfera cada vez maior. Desse modo, em pouco tempo ambas estavam dentro da enorme bola.— E agora? Essa coisa é segura? — perguntou Mira, estranhando aquilo.— Vamos ver. Tente andar. Quando Mira deu o primeiro passo, a bola transparente se moveu junto com ela. A menina sentiu a pressão