Fui para um bar.Desde as três da tarde até as nove da noite, fiquei lá, bebendo. Não bebi muito, mas o suficiente para que, no fim, minha mente ficasse um tanto vazia e meu corpo leve, quase flutuando.O dono do bar, Rafael, me conhecia há anos. Mesmo eu estando sozinha, ele não se preocupava, porque sabia que eu não causaria problemas.— Quando você vai embora? Alguém vem te buscar? — Rafael perguntou. Ele tinha por volta de cinquenta anos. Se meu pai estivesse vivo, teria mais ou menos a mesma idade.— Agora, acho. — Eu realmente não queria ir embora, mas sabia que tinha que trabalhar no dia seguinte e precisava descansar.Esse seria o meu último brinde ao que restava do meu relacionamento com Sebastião.Quando me levantei, apoiando-me no encosto da cadeira, Rafael se aproximou e bloqueou minha passagem.— Não vou deixar você sair assim. Vou pedir para alguém te levar.Rafael sempre foi cuidadoso. Há anos ele mantinha esse bar bem escondido em um beco, mas o lugar era sempre movimen
Parecia que fazia muito tempo que eu não andava de bicicleta.— De bicicleta. — Apontei para o lado.Miguel estava prestes a destravar uma bicicleta, mas eu me adiantei e já ia subir na bicicleta. Ele, no entanto, me impediu:— Você bebeu, não pode andar de bicicleta.— Como assim? Também verificam embriaguez para andar de bicicleta? — Inclinei a cabeça, intrigada.— Tem sim, e além disso... — Miguel segurou meu braço, mas de um jeito suave, diferente de Sebastião, que sempre apertava com força. — Você bebeu, é perigoso andar de bicicleta.Calmo e gentil como sempre. Se houvesse uma descrição perfeita para Miguel, seria essa.Sorri e disse:— Mas não estou sozinha, você está aqui, não está?— Se quiser andar de bicicleta, a gente faz isso outro dia, juntos. Mas hoje não. Vou te levar. — Ele disse, me conduzindo para sua bicicleta.Miguel subiu e, logo em seguida, me puxou para o banco de trás.— Carol, segura firme em mim, viu? Não quero que você caia.Segurei a camisa dele pela cintur
Aquela cena me pegou de surpresa e, ao mesmo tempo, me trouxe de volta à realidade. Era, sem dúvida, uma situação embaraçosa: uma mulher presa entre dois homens.Era óbvio que eu precisava tomar uma decisão para acabar com aquele impasse. E havia algo que eu sabia com certeza: entre Miguel e eu, nunca haveria nada.Se eu tivesse que escolher entre os dois, seria George, sem a menor dúvida.Eu quase me casei com Sebastião. Não havia como terminar com ele e, depois, me envolver com o irmão.— Irmão, estou cansada. — Falei, tentando aliviar a tensão.A palavra “irmão” surtiu o efeito desejado. Miguel apertou minha mão com mais força por um segundo, mas logo me soltou.George segurou minha mão e me puxou para longe. Eu não olhei para trás, mas podia sentir o olhar de Miguel me acompanhando enquanto me afastava.Não sei se foi por causa do álcool ou do turbilhão de emoções, mas, no caminho para o hotel, acabei tropeçando. No mesmo instante, George me pegou no colo.— Me coloca no chão. — Pe
— Hum. — Respondeu ele.Eu ia dizer algo, mas ele murmurou baixinho:— Eu não consigo me controlar, Carol. Não consigo deixar de querer me aproximar de você, de ser bom com você... E sim, de te seduzir também.É verdade, o amor era algo que, se fosse controlável, nem deuses escapariam de suas armadilhas.Fiquei sem saber o que responder por um momento. George, no entanto, me soltou e disse:— Beba mais água. Se precisar de alguma coisa, me ligue.Ele então apontou para minha bolsa.— Me dá o cartão do quarto, eu abro a porta para você.— Não precisa. — Respondi, voltando a mim e me afastando um pouco. — Eu mesma faço isso.Rapidamente, tirei o cartão e abri a porta do quarto. Entrei e me encostei na porta, sem conseguir processar tudo por um bom tempo.Quando Ana voltou, eu já estava deitada. Ela entrou com passos leves, provavelmente com medo de me acordar.Não abri os olhos porque não queria conversar, mas ouvi Ana resmungando baixinho:— Ela está dormindo bem! Então vim à toa.Ao ou
Como eu esperava, o motivo da ligação de Cátia era para me chamar para almoçar juntos na casa.Eu sabia que o convite era só uma razão. Ela certamente queria falar sobre algo mais.— Tia, já provei seu mousse de maracujá, mas ir para casa agora é complicado. O parque está com o prazo apertado e estou trabalhando dia e noite. Assim que eu tiver uma folga, prometo que vou. — Não recusei de imediato, mas adiei a visita.— Ah, esse Sebastião malvado! Pra que te deixar trabalhando tanto? O mundo não vai acabar amanhã. Vou dar uma bronca nele. — Cátia fingiu estar brava.— Tia, não é culpa dele. O cronograma do projeto já estava definido. — Eu expliquei.Sebastião nunca misturou a nossa vida pessoal com o trabalho. Ele nunca usaria nossa situação para me prejudicar profissionalmente.— Tá bom, o trabalho é importante. — Cátia encerrou a ligação, mas era evidente que estava desapontada.Eu realmente tinha muito trabalho, mas mesmo que estivesse mais tranquila, não voltaria tão facilmente para
— Hum, a iluminação deu problema. — Expliquei enquanto Cátia já estava embaixo da escada onde George trabalhava.— Esse técnico aí não está usando o cinto de segurança. Isso é muito perigoso, a segurança tem que vir em primeiro lugar. — Cátia, como boa esposa de um presidente, já identificava o problema de imediato.Na verdade, George estava com o cinto de segurança, mas tinha acabado de descer e o tirou. Como ele subiu de novo rapidamente, acabou não colocando o cinto.— Sim, tem que prestar atenção. — Respondi e logo me virei para George. — Como é que você subiu sem o cinto de segurança? Desce logo!George, obediente, desceu na hora. Com um sorriso humilde, disse:— Foi erro meu. Vou prestar mais atenção, não vai acontecer de novo.Naquele momento, ele parecia uma criança que tinha feito algo errado e estava sendo repreendida, mas aceitava a bronca com sinceridade. De repente, senti como se estivesse sendo dura demais com ele, quase como se estivesse o intimidando.Cátia olhou para e
Cátia ficou surpresa por um momento, mas em seguida sorriu com ternura.— O que é isso que você está dizendo? Não pode deixar de acreditar nos homens só porque o Sebastão é um canalha. Existem canalhas, sim, mas tem muito homem bom por aí. — Cátia era uma mulher de personalidade leve e divertida. Apesar de já ter passado dos cinquenta, seu jeito de falar era moderno e descontraído.Eu não resisti e ri:— Claro que existem bons homens, mas agora eu não estou com cabeça para isso. Preciso de um tempo.Minha intenção era clara: fazer com que ela desistisse de qualquer sugestão que pudesse estar pensando.Algumas coisas não deviam ser ditas abertamente, ou acabaram gerando desconforto para todos.— Entendo. — Cátia respondeu, e eu soltei um suspiro de alívio.Mas, no segundo seguinte, ela fez um comentário inesperado:— Mas é bom não demorar muito. Namorado tem que arrumar logo, senão os bons acabam sendo escolhidos por outras.Eu sorri de novo, e Cátia acompanhou.— Você é tão bonita e um
Eu concordei, despedindo-me de Cátia e voltando ao trabalho. Contudo, ao procurar George, só encontrei Ana.— Cadê ele? — Perguntei.— Geovane o chamou. — Respondeu Ana, me encarando com um olhar penetrante. — Carolina, sua sogra veio até aqui para tentar te convencer. E você...— Eu e o Sebastião não temos mais volta. Não importa quem venha, não vai mudar nada. Não perca seu tempo pensando nisso. — Cortei o assunto, deixando claro mais uma vez minha posição.Ana suspirou, resignada:— A verdade é que a família Martins é perfeita em todos os sentidos, menos o próprio Sebastião.Ela estava certa. A família Martins era exemplar, mas eu não estava casando com a família. Eu estava casando com Sebastião, e se ele não era a pessoa certa, nada mais importava.Eu e Ana ficamos esperando George, mas depois de meia hora sem sinal dele, resolvi ligar. Para minha surpresa, ele havia deixado o celular na área de descanso.— Carolina, pelo jeito George não tem namorada. Olha só, quem tem namorada nu