O tom de voz dele era ameaçador, como se estivesse pronto para me devorar. Mas eu não me intimidei. Na verdade, eu também tinha algo a dizer a ele, então soltei a mão de George.No entanto, antes que eu pudesse me afastar, George segurou minha mão de volta.Olhei para ele, surpresa. Ele também me olhou, e em seus olhos havia algo familiar. Era o mesmo brilho que vi em Cidade B, quando a Maitê armou para eu cair. Naquela ocasião. Era o olhar de alguém que queria me proteger.Mas naquele momento, não era necessário. Com um leve movimento, soltei minha mão da dele.— Ele não pode fazer nada comigo.George não insistiu, e eu segui Sebastião. Ele andava rápido e furioso, com Daniel tentando segui-lo até ser repreendido:— Isso não tem nada a ver com você! — Gritou Sebastião.Daniel parou, claramente assustado, e me lançou um olhar preocupado.Sebastião continuou andando, e eu não sabia onde ele estava me levando. Decidi interromper:— Chefe Sebastião, se você tem algo a dizer, diga agora.
Sorri e devolvi o comentário dele:— Só falta você me dizer que a confundiu comigo.— Eu... — Sebastião começou a falar, mas interrompi.— Sebastião, parece que você nem me beijou tantas vezes assim, não é verdade?O rosto dele ficou completamente embaraçado.Namorávamos por mais de três anos. Sim, nós tínhamos dado as mãos e nos abraçado, mas beijos intensos entre um homem e uma mulher? Quase nenhum. Mesmo quando ele me beijava, era sempre algo leve: um beijo na mão, na bochecha, na testa. E, se chegava a beijar meus lábios, era sempre de forma rápida, quase sem contato.Minhas palavras o deixaram sem resposta, e ele começou a ficar visivelmente irritado. De repente, soltou-me e passou a mão pelos cabelos com força.— É, eu fui um idiota que, por um momento, perdeu a cabeça e a beijou. Mas foi só um impulso, não significa nada!— Ah, então, dormir com ela é que significaria alguma coisa? — Retruquei, sarcástica.Sebastião ficou descontrolado.— Você realmente pensa que sou tão baixo a
Na sala de sinuca.Quando Pedro chegou, viu Sebastião jogando sinuca furiosamente. Ficava claro que ele estava ali para descontar a raiva.Pedro não o interrompeu de imediato. Pegou um taco de sinuca e, aproximando-se, sugeriu com um sorriso:— Vamos jogar como de costume?Sebastião o ignorou, continuando a bater nas bolas de sinuca com força, mas sem precisão. Depois de errar várias tacadas seguidas, jogou o taco sobre a mesa e saiu a passos largos.Pedro colocou o taco de volta no suporte e foi atrás dele.— O que foi que a Carolina fez dessa vez? — Perguntou ele, já conhecendo a resposta.— Quem disse que tem a ver com ela? Não mencione o nome dela na minha frente. — Sebastião respondeu, furioso.Pedro riu.— Quem mais te deixaria nesse estado? É porque ela não te quer mais, né? E você não consegue aceitar isso.Pedro sempre ia direto ao ponto, e dessa vez não foi diferente.Sebastião virou-se bruscamente e agarrou a gola da camisa de Pedro.— Cala a boca!— O que foi que eu disse d
Olhei imediatamente para George e repreendi Ana:— Você tá falando besteira, tá sonolenta. O que é que você tá dizendo?— Eu não tô falando besteira! Só tô dizendo que vocês dois são uns viciados em trabalho. Eu acho que não vou aguentar muito mais. — Ana se jogou no banco do carro, exausta.— Vai aguentar sim, falta pouco. — Eu tinha checado o cronograma hoje e, pelo nosso ritmo atual, terminaríamos tudo em cerca de dez dias.— Quanto tempo falta? — Ana parecia que não queria aguentar nem mais um dia.Olhei para o espelho retrovisor, onde vi George, e respondi:— Uns dez dias, eu acho.— Dez dias... — Ana suspirou como se fosse o fim do mundo.Quando chegamos ao hotel, Ana já estava dormindo profundamente. Chamei por ela várias vezes, mas não consegui acordá-la. Por fim, aproximei minha boca do ouvido dela e brinquei:— Se você não levantar, vou pedir pro George te carregar.— Pode carregar. — Ana estendeu os braços, ainda meio grogue.Ri da situação e puxei-a para fora do carro:— Va
— Mano? O que você tá fazendo aqui?Mesmo já sabendo a resposta ao vê-lo com aquela roupa, fiz a pergunta por pura formalidade. A situação, para mim, era tão absurda que eu não consegui evitar a curiosidade. Só porque George estava trabalhando comigo, agora a família Martins inteira precisava se envolver?O mais estranho era que Miguel tinha passado os últimos anos no exterior. Ele não devia estar voltando para lá? E agora, de repente, ele estava no Grupo Martins? Será que ele tinha decidido ficar no país de vez?— Estou aqui pra trabalhar, gerente Carolina. A partir de agora, conto com você. — Disse Miguel, com um sorriso que não escondia a ironia, estendendo a mão.Mesmo ainda chocada, apertei a mão dele, tentando manter a compostura.— Seja bem-vindo, irmão...Minha voz vacilou. Não sabia como chamá-lo. Agora que ele fazia parte da equipe, nosso relacionamento era profissional, e chamá-lo de "irmão" parecia inadequado.— Pode continuar me chamando de irmão. — Miguel sorriu com aquel
Não dava pra esconder nada dele.Afastei-me do peito de George e, para quebrar o clima, falei:— Você passou dos limites. O Miguel é meu chefe, e você simplesmente saiu distribuindo trabalho pra ele?— Ele chegou depois. Não vou deixar ele nos mandar, né? — George respondeu, e eu não tive como retrucar.Por mais que Miguel fosse competente, ele não entendia o que estávamos fazendo no momento.— O quê? Você quer trabalhar com ele? — George perguntou de repente.— Claro que não! — Neguei prontamente, e ao olhar para ele, vi um sorriso rápido passar por seus lábios.Continuámos nosso trabalho como de costume. Miguel não voltou a se aproximar, mas Ana logo veio correndo em nossa direção:— Carolina, o que tá pegando? O chefe veio fiscalizar pessoalmente?— Isso mesmo. E ele vai trabalhar com você no teste da iluminação. — Respondi, vendo os olhos de Ana se arregalarem.— Ah, não, Carolina! Não faz isso comigo! Eu não quero trabalhar com o chefe. Você que devia ficar com ele. Se fizer algum
Obedeci e parei de me mexer, mas, sem querer, o abracei ainda mais forte.Foi nesse momento que percebi o som forte e ritmado do coração dele batendo bem perto do meu ouvido. Só então me dei conta de que estava deitada contra o peito de George.Mas, apesar disso, o medo de cair ainda era mais forte do que qualquer outra sensação. Apertei-o com mais força, como se só o contato com ele pudesse garantir que eu não estava me mexendo e que era apenas a plataforma que balançava.Depois de um tempo, o balanço parou. Mas eu ainda estava agarrada a George, até que ouvi a voz dele:— Parece que temos mais uma nova colega de trabalho.Confusa, me afastei um pouco e olhei para baixo. Quando vi o que ele estava falando, fiquei estática. Além de confusa, uma onda de raiva subiu pelo meu corpo, e eu rapidamente desci a plataforma.Ao chegar no chão, dei de cara com Lídia, exibindo seu sorriso falsamente doce.— Gerente Carolina.Eu não estava no clima para ser educada. Com a voz carregada de desagrad
— Chefe Sebastião, agora só estou sendo cruel nas palavras. Pode ser que eu acabe sendo ainda mais cruel nas ações. Se você está preocupado, então tire ela daqui. Ou então... — Olhei para Miguel e completei. — Posso arranjar alguém pra protegê-la 24 horas por dia?Sebastião, sem perceber minha intenção, respondeu:— Ótimo! Se você mesma cuidar dela, eu fico ainda mais tranquilo.— Isso não vai acontecer. Não estou com tempo sobrando. — Finalizei, desligando o telefone na cara dele.Lídia aproveitou a deixa para falar:— Gerente Carolina, você não precisa ser tão hostil comigo. Eu sei me cuidar.— Você tem pernas e braços funcionando e, pelo visto, a cabeça no lugar. Também acho que pode se virar. Mas, como dizem, é melhor prevenir do que remediar. — Minha resposta fez Ana apertar os lábios, claramente segurando uma risada.— O chefe Sebastião mencionou no telefone que vai colocar alguém pra te proteger 24 horas. Mas acho que nem precisa disso tudo, né? Afinal, enquanto você dorme, a ún