“Como pode uma pessoa ser tão sem vergonha?”, foi a primeira coisa que me veio à mente ao ver Lídia caminhando em minha direção.Se uma pessoa como essa, que é amante, tem algum resultado moral e ético, evitaria cruzar o caminho da namorada de verdade. Mas os tempos mudaram, e as amantes de hoje em dia não só não tinham vergonha, como faziam questão de se exibir, como se quisessem esfregar na nossa cara o quão espertas e poderosas eram.— Carolina, que coincidência, você também veio almoçar? — Lídia disse, fingindo simpatia, mas seus olhos estavam cravados em George.Desde que ela entrou no restaurante, seus olhos não desgrudaram dele.Eu já sabia o quanto George era atraente. Não havia uma pessoa que não olhasse duas vezes para ele, nem mesmo as senhoras mais velhas, como aquela vizinha do meu prédio.— Pois é, vim aqui para comer. — Respondi sem paciência. — Ou você acha que eu vim para visitar?Eu não era do tipo que guardava palavras doces para quem não merecia. Não é que eu fosse
Eu sabia que não devia ter olhado, mas o arrependimento veio tarde demais. Só me causou mais irritação.Estava prestes a desviar o olhar quando, de repente, vi Sebastião se virar. Seus olhos atravessaram a janela de vidro e se fixaram em mim, com as sobrancelhas visivelmente franzidas.Não dei muita importância e voltei minha atenção para George, que tinha acabado de escolher os pratos e me entregava o cardápio. Quando olhei para as opções que ele escolheu, percebi que eram todas as minhas comidas favoritas.Mas ele não me conhecia tão bem assim para saber disso, certo? Será que tínhamos gostos parecidos?Levantei os olhos para ele, querendo perguntar, mas hesitei. Movi os lábios, mas no final, achei melhor não falar nada. Algumas perguntas revelam demais, e eu não queria que George pensasse que eu estava interessada.Então, perguntei outra coisa:— Vai querer beber alguma coisa? Um vinho, talvez?— Eu não queria bebidas alcoólicas. — Ele respondeu prontamente. — E além disso, tenho co
Se naquele momento houvesse um buraco no chão, eu teria me jogado nele sem heisitar.Mas não havia. E eu sabia que, quanto mais eu evitasse falar sobre o assunto, mais George poderia interpretar mal.Além disso, parecia que, com ele, as coisas sempre iam direto ao ponto. Quando ele achava que tinha de falar algo, falava sem rodeios, como se tivéssemos uma intimidade que não existia.Respirei fundo e levantei a cabeça, tentando agir com naturalidade.— É mesmo? Mas palavras não provam nada.— É. — Ele respondeu, tomando um gole de água. — Posso...Assim que ele começou a frase, minhas antenas ficaram em alerta.— George, cala a boca!Eu sabia que ele ia dizer algo que me deixaria ainda mais envergonhada.— O que eu ia dizer. — Ele continuou, como se não tivesse me ouvido. — É que, se você quiser, posso fazer exames para comprovar.Embora não fosse uma frase ofensiva, ela me fez pensar em várias coisas ao mesmo tempo. Por que, afinal, eu precisaria de uma prova dessas? Eu não sou ninguém
Além disso, o jeito dele agora era claramente de ciúmes. Que canalha! Flertava com a viúva e, ao mesmo tempo, não queria me deixar ir. Ele queria ter tudo ao mesmo tempo.Fiquei no banheiro alguns minutos antes de sair e, assim que abri a porta, ouvi a voz de Lídia, num tom triste e melancólico:— Tião, você ainda gosta da Carolina, né?— Ela é minha noiva. — A resposta de Sebastião confirmou o que eu já imaginava: ele ainda tinha sentimentos por mim.— Mas ela já terminou com você. — A voz de Lídia soou suave, quase sussurrada.Tinha que admitir, ela sabia exatamente como agir na frente dos homens. Até seu tom de voz era perfeitamente calculado.— Foi ela quem disse que terminou. Eu nunca concordei com isso. Além do mais, ela não consegue viver sem mim. Ela só está magoada, mas vai passar. — As palavras de Sebastião me pegaram de surpresa.Então, ele achava que o nosso término foi só uma birra minha? Que eu era incapaz de seguir em frente sem ele?Mas o fato de ele dizer essas coisas
Fui para um bar.Desde as três da tarde até as nove da noite, fiquei lá, bebendo. Não bebi muito, mas o suficiente para que, no fim, minha mente ficasse um tanto vazia e meu corpo leve, quase flutuando.O dono do bar, Rafael, me conhecia há anos. Mesmo eu estando sozinha, ele não se preocupava, porque sabia que eu não causaria problemas.— Quando você vai embora? Alguém vem te buscar? — Rafael perguntou. Ele tinha por volta de cinquenta anos. Se meu pai estivesse vivo, teria mais ou menos a mesma idade.— Agora, acho. — Eu realmente não queria ir embora, mas sabia que tinha que trabalhar no dia seguinte e precisava descansar.Esse seria o meu último brinde ao que restava do meu relacionamento com Sebastião.Quando me levantei, apoiando-me no encosto da cadeira, Rafael se aproximou e bloqueou minha passagem.— Não vou deixar você sair assim. Vou pedir para alguém te levar.Rafael sempre foi cuidadoso. Há anos ele mantinha esse bar bem escondido em um beco, mas o lugar era sempre movimen
Parecia que fazia muito tempo que eu não andava de bicicleta.— De bicicleta. — Apontei para o lado.Miguel estava prestes a destravar uma bicicleta, mas eu me adiantei e já ia subir na bicicleta. Ele, no entanto, me impediu:— Você bebeu, não pode andar de bicicleta.— Como assim? Também verificam embriaguez para andar de bicicleta? — Inclinei a cabeça, intrigada.— Tem sim, e além disso... — Miguel segurou meu braço, mas de um jeito suave, diferente de Sebastião, que sempre apertava com força. — Você bebeu, é perigoso andar de bicicleta.Calmo e gentil como sempre. Se houvesse uma descrição perfeita para Miguel, seria essa.Sorri e disse:— Mas não estou sozinha, você está aqui, não está?— Se quiser andar de bicicleta, a gente faz isso outro dia, juntos. Mas hoje não. Vou te levar. — Ele disse, me conduzindo para sua bicicleta.Miguel subiu e, logo em seguida, me puxou para o banco de trás.— Carol, segura firme em mim, viu? Não quero que você caia.Segurei a camisa dele pela cintur
Aquela cena me pegou de surpresa e, ao mesmo tempo, me trouxe de volta à realidade. Era, sem dúvida, uma situação embaraçosa: uma mulher presa entre dois homens.Era óbvio que eu precisava tomar uma decisão para acabar com aquele impasse. E havia algo que eu sabia com certeza: entre Miguel e eu, nunca haveria nada.Se eu tivesse que escolher entre os dois, seria George, sem a menor dúvida.Eu quase me casei com Sebastião. Não havia como terminar com ele e, depois, me envolver com o irmão.— Irmão, estou cansada. — Falei, tentando aliviar a tensão.A palavra “irmão” surtiu o efeito desejado. Miguel apertou minha mão com mais força por um segundo, mas logo me soltou.George segurou minha mão e me puxou para longe. Eu não olhei para trás, mas podia sentir o olhar de Miguel me acompanhando enquanto me afastava.Não sei se foi por causa do álcool ou do turbilhão de emoções, mas, no caminho para o hotel, acabei tropeçando. No mesmo instante, George me pegou no colo.— Me coloca no chão. — Pe
— Hum. — Respondeu ele.Eu ia dizer algo, mas ele murmurou baixinho:— Eu não consigo me controlar, Carol. Não consigo deixar de querer me aproximar de você, de ser bom com você... E sim, de te seduzir também.É verdade, o amor era algo que, se fosse controlável, nem deuses escapariam de suas armadilhas.Fiquei sem saber o que responder por um momento. George, no entanto, me soltou e disse:— Beba mais água. Se precisar de alguma coisa, me ligue.Ele então apontou para minha bolsa.— Me dá o cartão do quarto, eu abro a porta para você.— Não precisa. — Respondi, voltando a mim e me afastando um pouco. — Eu mesma faço isso.Rapidamente, tirei o cartão e abri a porta do quarto. Entrei e me encostei na porta, sem conseguir processar tudo por um bom tempo.Quando Ana voltou, eu já estava deitada. Ela entrou com passos leves, provavelmente com medo de me acordar.Não abri os olhos porque não queria conversar, mas ouvi Ana resmungando baixinho:— Ela está dormindo bem! Então vim à toa.Ao ou