Luana sempre foi a mais lúcida, mas também a mais cabeça-dura. Em algumas situações, ela parecia fazer julgamentos sem sequer tentar entender todas as possibilidades.Eu, por outro lado, sempre acreditei que cada pessoa tem seu próprio tempo e forma de lidar com as coisas. E, por mais que nossa amizade fosse profunda, eu sabia que não podia interferir em suas escolhas.Cada um tem seu próprio caminho, suas próprias conclusões. Mesmo que nos conhecêssemos tão bem, ainda éramos indivíduos com experiências e pensamentos distintos.Passei a noite na casa de Luana e só voltei para casa no dia seguinte, sem ter visto George.Quando a empregada lá de casa perguntou se eu tinha ido viajar com o meu namorado, pois já fazia alguns dias que não o via, foi que eu percebi que George ainda não tinha voltado.Apesar de Ana ter dito que ele estava ocupado, eu já sabia o suficiente para entender que George só ficava naquela casa porque eu estava lá.Quando eu estava presente, ele voltava todos os dias;
Sabia que, nessa visita à casa dele, Benedita certamente havia revelado tudo o que estava acontecendo.— Se você gostar desse lugar, quem sabe... — Ele começou, mas parou sem continuar a frase.Levantei uma sobrancelha, desconfiada, e perguntei:— Quem sabe o quê?A garganta de George se moveu, engolindo em seco, e então ele disse, com um tom mais baixo:— Quem sabe... talvez possa ir lá descansar, quando for mais velha.— Sozinha? — Não consegui evitar a resposta rápida, antes de refletir.Ele olhou para mim com um sorriso leve e respondeu sem hesitar:— Eu posso te acompanhar, se você quiser. — E, como sempre, George era direto e sem rodeios.Mas, nesse momento, eu me recuei. O futuro era imprevisível, e nem pensar em algo tão distante como a velhice. Quem poderia garantir o que viria?— Eu procurei especialistas para Benedita nessa área, me passe os registros médicos dela. — Mudei de assunto, de forma direta.Na noite anterior, eu ainda estava pensando que Luana era uma covarde. Mas
O meu abraço repentino fez o corpo de George se tensar Depois de um momento, ouvi sua voz baixa perguntando:— Me acha um coitado?— Sinto doloroso de você! — Corrigi sua expressão.George não disse mais nada, nem me abraçou de volta, o que me deixou um pouco constrangida. Eu estava prestes a soltá-lo, quando, de repente, levantei a cabeça e vi Sebastião parado não muito longe.Ele também veio hoje?E Ana, essa fofoqueira, não me contou nada.Eu quase soltei a mão de George, mas então a apertei com mais força. Ele tentou se afastar, mas eu segurei sua mão com firmeza.— Não se mexa.Ele ficou imóvel, e eu continuei abraçando-o, perguntando em seguida.— Vai trabalhar até mais tarde hoje?— Hm? — Respondeu George, sem mudar de postura. Fiquei na ponta dos pés, me aproximando do ouvido dele, e sussurrei:— Quero comer a comida que você faz.Senti o som da engolida de George, a adiada vibração na sua garganta, seguida de um simples “hm” que me fez estremecer. Meu olhar, sem querer, se
Ana acenou com a cabeça:— Tenho, sim. Tenho esse parque de diversões, com todas essas luzes bonitas.Ela riu, e então me abraçou um pouco mais forte.— E tenho você, minha Carina.Essa boca pequena sabia como conquistar a gente.Chegamos à área onde o incidente ocorreu. George subiu para fazer a inspeção, enquanto anotava tudo em seu caderno.— O prejuízo total foi de duas seções, com 22 lâmpadas pequenas em cada uma, com 13 cores diferentes. — Disse George, enquanto olhava para as luzes danificadas e também para o guindaste trabalhando não muito longe dali.Ele então olhou para Ana:— Você pode chamar o Sr. Miguel para vir aqui? Precisamos atribuir responsabilidade e calcular o prejuízo.Ana respondeu com um simples "ah" e rapidamente pegou o celular para ligar para Miguel. Em pouco tempo, ele chegou, e quando me viu, parou por um segundo.Parece que ele não esperava me ver aqui. Depois de um breve momento de surpresa, sorriu:— Carol, veio fazer uma inspeção antecipada?Eu já não er
Minha mão foi agarrada com força.Quando virei a cabeça, encontrei os olhos de George. Ele me lançou um olhar suave, como se quisesse me tranquilizar, antes de virar-se para Sebastião. Sua voz, profunda e agradável, foi firme:— Antes de a inspeção ser concluída, não vou sair daqui.Esse era o temperamento dele.Quanto mais alguém queria que ele saísse, mais ele se agarrava ao seu lugar, como sempre fez. Eu estava prestes a ouvir a resposta de Sebastião quando senti a mão de George apertar a minha. Ele acrescentou:— Isso é o que prometi à Carina.A menção ao meu nome, seguida da frase sobre ele ter feito uma promessa a mim, fez meu coração disparar. E, ao mesmo tempo, a expressão de Sebastião mudou instantaneamente, ficando mais escura, enquanto o rosto de Miguel também mostrava sinais claros de desconforto.O silêncio caiu sobre todos, e a tensão no ar estava quase palpável.Eu respirei fundo e decidi falar, quebrando o silêncio pesado:— Sr. Sebastião, Sr. Miguel, embora eu já não
Eu o olhei fixamente, pensando no seu pai, aquele homem que, quando eu era criança, chamava de Vinícius. Agora, ao perceber o quanto George estava se aproximando de mim, não pude evitar perguntar:— George, você fica assim comigo por acaso porque... gosta de mim?Ele me encarou com a mesma intensidade, sem uma ponta de arrependimento, e respondeu sem hesitar:— E se for? Vai dizer que não?— Então, você tem algo a esconder de mim? Tipo... nós já nos conhecíamos há muito tempo?Naquele momento, enquanto caminhávamos de volta para casa, ou melhor, depois de saber da identidade de seu pai, eu já havia me questionado sobre isso várias vezes.George parecia hesitar por um breve momento, o olhar dele vacilou, e a voz dele ficou séria:— Quando você era pequena, eu te carreguei nas costas... e também... você me beijou.Essas palavras saíram de George como um golpe certeiro, e, se eu fosse uma garota mais ingênua, minha cara já teria ficado completamente vermelha. Felizmente, já não sou mais a
Pedro não me deu chance de recusar, e eu sabia o que aquilo significava.Segurando o celular, olhei para George e, depois de um momento de hesitação, caminhei até ele. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, George falou, sem me deixar começar:— Eu vou voltar depois de amanhã.Voltar?Eu parei de repente, surpresa pela notícia, e, quase sem pensar, perguntei:— Volta para onde?Ele continuou caminhando à frente, sem parar, e respondeu sem olhar para trás:— Para casa.Casa? Para a cidade B?Mas ele havia dito que ficaria aqui, e até havia alugado uma casa.Eu me lembrei da casa alugada, do futuro despejo e da dona da casa, que havia me pedido um favor. Eu ainda não tinha falado nada sobre isso com George. A ideia de que ele ia embora de repente me deixou desconcertada. Queria perguntar por que ele estava indo embora tão repentinamente, mas algo no ar, uma sensação de distanciamento que emanava dele, fez com que eu engolisse as palavras.— Eu vou ver os testes de iluminação amanhã
Aquele momento exigia de mim apenas uma coisa: fingir tranquilidade. Mesmo vendo Lídia caminhar em minha direção, e finalmente parar bem na minha frente, precisei manter a postura.— Carolina... — Chamou-me novamente, com os olhos cheios de lágrimas.Eu semicerrei os olhos, sem dizer nada. Apenas esperei que ela continuasse. Ela estava prestes a desabafar, e eu não queria estragar a ocasião.— Você pode ficar longe do Tião? — Ela finalmente falou, com a voz trêmula.Fiz uma leve careta, franzindo as sobrancelhas. — O quê?— Vocês já terminaram. Agora ele está comigo, e o que vocês tinham é coisa do passado. Não quero que você apareça perto dele sem motivo, atrapalhando o emocional dele. — Seus olhos brilhavam, cheios de lágrimas que pareciam prestes a cair.Eu ri, de repente entendendo tudo. Então era isso: ela estava me culpando pela bronca que Sebastião tinha dado nela minutos antes.— Ah, entendi... Você quer dizer que não tem como pagar a multa e está esperando que eu te ajude, é