Fiquei completamente surpresa com a resposta de Pedro. Ele sempre me tratou como uma irmã mais nova e, embora costumasse brincar, nunca tinha passado dos limites. Mas, dessa vez, parecia diferente.Edgar também ficou desconcertado, olhando para mim com uma expressão curiosa.Pedro, ignorando-o, inclinou-se na minha direção e disse suavemente: — Vamos entrar.Assenti para Edgar e segui Pedro. Ao sair, percebi que Edgar abriu a boca e levantou a mão, como se quisesse dizer ou fazer algo para me deter, mas acabou desistindo.— Aquilo foi para espantar minha chance de arranjar um namorado? — Perguntei, já imaginando as intenções dele.— Aquele cara não serve. Não tem jeito. — Pedro respondeu, com um tom sério, descrevendo Edgar de forma tão casual que me fez rir.Ele me lançou um olhar de soslaio. — Eu sempre sei avaliar as pessoas. E ele definitivamente não presta. Fique longe dele.— Certo. — Concordei, ainda rindo.— Estou falando sério. Não leve isso como brincadeira. — Pedro reforço
A porta se abriu, e logo fui recebida por uma gargalhada alta e espalhafatosa. Meus olhos foram direto para o homem sentado na cabeceira da mesa. Ele tinha um rosto familiar.Pedro, como sempre, foi o primeiro a falar:— Anthony, meu parceiro de sinuca e grande amigo.Eu olhei bem para o rosto dele e, de repente, o nome veio à mente: Anthony Furtado. Ele era filho de Felipe Furtado, o atual líder do Grupo Furtado.Já tinha pesquisado sobre ele antes. Um entusiasta de sinuca, chegou a vencer um campeonato amador. Mas, na época, não me ocorreu que ele pudesse ter alguma ligação com Pedro, quanto mais que fossem amigos próximos.— Então esta é a famosa Carolina sobre quem você sempre fala? — Anthony sorriu, mas, ao invés de me deixar confortável, um calafrio percorreu minha espinha.Embora todo o histórico de Anthony parecesse limpo, eu sabia que o passado de seu pai estava longe de ser impecável, e duvidava que ele fosse tão diferente assim.— Carol, o Anthony é um cara super confiável.
Os olhos de Anthony se estreitaram, mas o sorriso continuou no rosto. No entanto, havia algo diferente em sua expressão, um ar de interesse e curiosidade. Ele parecia estar tentando decifrar minhas intenções.Notei isso e fui direta:— Se for complicado para você, podemos esquecer.Ele riu, embora de forma forçada. — Complicado? Não seja por isso. Se for só um pedido, então está feito. Aliás, até se você quisesse a minha pessoa, eu aceitaria.O comentário soou impróprio, mas antes que eu pudesse dizer algo, Pedro soltou duas tossidas discretas, chamando a atenção do amigo.— Haha! — Anthony riu com um jeito despreocupado e fez um gesto para mim. — Damas primeiro.Sem perder tempo, posicionei o taco e, com movimentos precisos, limpei a mesa em poucos minutos, sem dar chance para Anthony jogar.Ele, no entanto, não demonstrou decepção. Pelo contrário, foi o primeiro a bater palmas.— Impressionante! Não é à toa que você é amiga do Pedro. Você tem talento de sobra.— Perdi essa, mas agor
— Não, é você quem tem mais habilidade. Eu sou só uma jogadora amadora. — Respondi, tentando soar humilde.— Amadora? Só se for no título. Dá pra ver que alguém te ensinou. Mas, pela sua técnica, não parece que foi o Pedro. Quem foi que te ensinou? — Anthony começou a me sondar.Minha habilidade com sinuca vinha de Sebastião. Ele nunca me ensinou formalmente. Eu apenas o observava enquanto ele jogava, e, quando estava entediada, praticava sozinha. Meu estilo era claramente influenciado pelo dele. Com o tempo, ele percebeu que eu sabia jogar e começou a me chamar para acompanhá-lo nos jogos.Antes que eu pudesse responder, uma voz familiar surgiu, carregada de sarcasmo:— Anthony, desde quando você virou uma comadre fofoqueira?Nem precisei olhar para trás. Eu conhecia aquela voz melhor do que gostaria.Era Sebastião. Ele também estava ali. O ambiente já estava bastante movimentado, mas sua chegada tornou tudo ainda mais animado.Ele se aproximou e parou ao meu lado. Não precisou fazer
— O quê? — Ele me olhou, confuso, com uma expressão de surpresa genuína.Dei um passo à frente, aproximando-me dele. Tão perto que consegui sentir o perfume de sabonete em sua pele, ainda fresco do banho. Era um aroma agradável e familiar.Me lembrei de como, na minha infância, meus pais usavam sabonete para tudo — lavar as mãos, tomar banho. Hoje em dia, quase todo mundo usa sabonete líquido ou gel de banho. Era raro encontrar alguém que ainda usasse o sabonete tradicional.— Você está escondendo alguma coisa, George? — Perguntei em tom de provocação.Ele franziu as sobrancelhas e olhou para si mesmo, como se estivesse tentando entender minha pergunta.— Quantas taças de vinho você bebeu? — Ele perguntou, com um tom levemente crítico.— Só uma. Não foi muito. Mas você percebeu, né?Minha resposta o fez sorrir de canto. Então, peguei a ponta de sua camisa e dei uma leve puxada, encarando-o com determinação.— George, não tente me enganar. Você é rico, né? E mais: você é o verdadeiro “g
Pensei no contrato e comentei:— A morte do seu pai provavelmente tem a ver com alguma coisa que meu pai fez. Só eu posso ir a fundo nessa história para descobrir a verdade.George me olhou fixamente.— Você já sabe de alguma coisa? — Perguntou ele, direto.— E você? Por que está atrás do Felipe? O que te levou a desconfiar dele? — Devolvi a pergunta, encarando-o.Ele levantou-se e foi até a janela. Sua postura era tão firme, tão decidida, que parecia capaz de sustentar o céu se ele desabasse.Enquanto o observava, deixei minha xícara de chá sobre a mesa e me levantei também, caminhando até ele.— George, eu sei que você já descobriu algo. Essa situação é perigosa, e você não quer me envolver. Mas, se isso tem a ver com os meus pais, eu não posso simplesmente ficar de fora.Fitei a luz da lua através da janela.— Eu não sou tão ingênua. Sei me cuidar. Além disso, você está ao meu lado, não está?George virou o rosto na minha direção. Seus olhos me analisaram por um momento antes de ele
Anthony me adicionando no Line, e tão tarde da noite... Meu instinto feminino me dizia que aquilo não era normal.Embora Pedro tivesse garantido que Anthony não ousaria fazer nada, graças à sua influência, eu sabia que precisava ser cautelosa.Aceitar um pedido de amizade de um homem, ainda mais no meio da noite, podia parecer algo muito imprudente. Então, ignorei a notificação por enquanto e continuei conversando com Luana.— O último caso de sucesso foi ele quem realizou, junto com uma mulher que era completamente compatível com ele. — A voz de Luana soou meio desanimada do outro lado.Pude sentir sua melancolia com clareza.Tendo vivido o amor, eu entendia o peso que a igualdade e a sintonia tinham dentro de uma relação. Embora Luana fosse uma excelente médica, reconhecida em sua área, ela ainda não estava no mesmo nível que o Gilberto, com sua carreira internacional.Para poupá-la, mudei de assunto. Conversamos sobre outras coisas antes de encerrar a ligação.Depois disso, fiquei o
As palavras dele me trouxeram imediatamente a imagem de George. Também me lembrei do que Pedro havia mencionado no dia anterior sobre um certo amigo investidor de sobrenome Junqueira.Olhei diretamente para Edgar e perguntei:— Sr. Edgar, esse "homem forte" que o senhor mencionou... Como seria exatamente? Ou será que você tem um amigo assim?Edgar pigarreou, parecendo um pouco desconcertado.— Difícil de explicar... É aquele tipo de homem cheio de vigor, postura impecável, sabe? Como... Bem, como aqueles ali.Ele apontou para a televisão da lanchonete. No telão, passava uma reportagem sobre a cerimônia de hasteamento da bandeira. Os militares, com suas posturas rígidas e impecáveis, exalavam um tipo de força que era impossível ignorar. Aquilo imediatamente trouxe George à minha mente novamente. E, observando Edgar, tive a sensação de que ele estava deixando algo no ar.Junqueira? Militares? Um homem forte? Tudo parecia apontar para George.Voltei a olhar para Edgar. Ele, por sua vez, p