— O quê? — Ele me olhou, confuso, com uma expressão de surpresa genuína.Dei um passo à frente, aproximando-me dele. Tão perto que consegui sentir o perfume de sabonete em sua pele, ainda fresco do banho. Era um aroma agradável e familiar.Me lembrei de como, na minha infância, meus pais usavam sabonete para tudo — lavar as mãos, tomar banho. Hoje em dia, quase todo mundo usa sabonete líquido ou gel de banho. Era raro encontrar alguém que ainda usasse o sabonete tradicional.— Você está escondendo alguma coisa, George? — Perguntei em tom de provocação.Ele franziu as sobrancelhas e olhou para si mesmo, como se estivesse tentando entender minha pergunta.— Quantas taças de vinho você bebeu? — Ele perguntou, com um tom levemente crítico.— Só uma. Não foi muito. Mas você percebeu, né?Minha resposta o fez sorrir de canto. Então, peguei a ponta de sua camisa e dei uma leve puxada, encarando-o com determinação.— George, não tente me enganar. Você é rico, né? E mais: você é o verdadeiro “g
Pensei no contrato e comentei:— A morte do seu pai provavelmente tem a ver com alguma coisa que meu pai fez. Só eu posso ir a fundo nessa história para descobrir a verdade.George me olhou fixamente.— Você já sabe de alguma coisa? — Perguntou ele, direto.— E você? Por que está atrás do Felipe? O que te levou a desconfiar dele? — Devolvi a pergunta, encarando-o.Ele levantou-se e foi até a janela. Sua postura era tão firme, tão decidida, que parecia capaz de sustentar o céu se ele desabasse.Enquanto o observava, deixei minha xícara de chá sobre a mesa e me levantei também, caminhando até ele.— George, eu sei que você já descobriu algo. Essa situação é perigosa, e você não quer me envolver. Mas, se isso tem a ver com os meus pais, eu não posso simplesmente ficar de fora.Fitei a luz da lua através da janela.— Eu não sou tão ingênua. Sei me cuidar. Além disso, você está ao meu lado, não está?George virou o rosto na minha direção. Seus olhos me analisaram por um momento antes de ele
Anthony me adicionando no Line, e tão tarde da noite... Meu instinto feminino me dizia que aquilo não era normal.Embora Pedro tivesse garantido que Anthony não ousaria fazer nada, graças à sua influência, eu sabia que precisava ser cautelosa.Aceitar um pedido de amizade de um homem, ainda mais no meio da noite, podia parecer algo muito imprudente. Então, ignorei a notificação por enquanto e continuei conversando com Luana.— O último caso de sucesso foi ele quem realizou, junto com uma mulher que era completamente compatível com ele. — A voz de Luana soou meio desanimada do outro lado.Pude sentir sua melancolia com clareza.Tendo vivido o amor, eu entendia o peso que a igualdade e a sintonia tinham dentro de uma relação. Embora Luana fosse uma excelente médica, reconhecida em sua área, ela ainda não estava no mesmo nível que o Gilberto, com sua carreira internacional.Para poupá-la, mudei de assunto. Conversamos sobre outras coisas antes de encerrar a ligação.Depois disso, fiquei o
As palavras dele me trouxeram imediatamente a imagem de George. Também me lembrei do que Pedro havia mencionado no dia anterior sobre um certo amigo investidor de sobrenome Junqueira.Olhei diretamente para Edgar e perguntei:— Sr. Edgar, esse "homem forte" que o senhor mencionou... Como seria exatamente? Ou será que você tem um amigo assim?Edgar pigarreou, parecendo um pouco desconcertado.— Difícil de explicar... É aquele tipo de homem cheio de vigor, postura impecável, sabe? Como... Bem, como aqueles ali.Ele apontou para a televisão da lanchonete. No telão, passava uma reportagem sobre a cerimônia de hasteamento da bandeira. Os militares, com suas posturas rígidas e impecáveis, exalavam um tipo de força que era impossível ignorar. Aquilo imediatamente trouxe George à minha mente novamente. E, observando Edgar, tive a sensação de que ele estava deixando algo no ar.Junqueira? Militares? Um homem forte? Tudo parecia apontar para George.Voltei a olhar para Edgar. Ele, por sua vez, p
Deixei Edgar em uma situação complicada. Na verdade, tudo era parte de uma estratégia para tentar descobrir quem era o grande investidor por trás dele.Por mais que minha intuição me dissesse que George dificilmente poderia ser essa pessoa, afinal, ele não tinha dinheiro algum, havia algo nas atitudes de Edgar que me fazia desconfiar.A tarde foi tranquila. Depois de uma reunião, abri o Line e vi o perfil de Anthony. Na página de chat, só havia a mensagem automática indicando que agora éramos amigos. Nenhuma outra mensagem dele.Já era tarde, ele com certeza tinha visto que eu o havia adicionado. Ignorar a notificação era claramente uma resposta ao fato de eu não ter aceitado o pedido de amizade na noite anterior.Essa atitude dele só confirmava o que eu já suspeitava: Anthony era alguém que guardava rancor por coisas pequenas, do tipo que nunca deixava nada passar. Agora eu entendia por que George e Sebastião haviam me alertado para manter distância dele.Mas já era tarde para isso. A
O celular que não parava de tocar, subitamente, silenciou.Naquele instante, o único som que preenchia o ar era o crepitar do fogo no fogão e o ritmo acelerado das batidas dos nossos corações.Tão próximos, nossas respirações se entrelaçavam. Eu podia ver claramente o brilho intenso nos olhos de George, como pequenas chamas dançando em um incêndio contido.Uma sensação forte me invadiu. Aquilo era o prelúdio de algo inevitável.De repente, ouviu-se um som seco: toc, toc. Logo após, a voz de Fernanda ecoou do andar de baixo:— George, a água aqui em casa está correndo muito devagar. Você pode vir dar uma olhada?O corpo de George, que estava colado ao meu, se afastou de repente. Aproveitei o momento para escapar também, caminhando rapidamente até o sofá, onde me joguei sem pensar duas vezes.Instantes depois, George saiu da cozinha e foi abrir a porta.— Dona Fernanda, vou com a senhora dar uma olhada.— Ótimo, ótimo. — Respondeu Fernanda, enquanto lançava um olhar para dentro do aparta
Sebastião também estava ali. Não esperava por isso, mas fazia sentido.Afinal, sendo o dono do parque de diversões, era natural que ele viesse conferir os testes de iluminação.Enquanto nossos olhares se encontravam, ele começou a caminhar em nossa direção.Senti um calor na mão. George havia segurado a minha. Não podia negar: ele realmente sabia interpretar o papel de namorado. Sempre que Sebastião aparecia, George ligava o modo “territorial” instantaneamente.O olhar de Sebastião passou por nossas mãos entrelaçadas. Seu rosto, no entanto, permaneceu inexpressivo. Até sua voz parecia calma e controlada:— A que horas começa?A pergunta era clara. Ele estava ali para assistir ao teste de iluminação.— Em dez minutos. — Respondeu George.— Qual o ponto de observação? — Perguntou Sebastião novamente.Senti a mão de George apertar a minha levemente. Olhei para ele, que me devolveu o olhar. Era como se ele estivesse me perguntando o que eu queria fazer.Claro que ele sabia onde era o ponto
Minha garganta apertou. O que George queria dizer? Que nós três iríamos dividir a mesma cabine da roda-gigante?Eu estava prestes a dizer algo, mas George já havia segurado minha mão e, para minha surpresa, nos levou em direção a outra cabine.— Vocês não vão nessa? — A voz de Sebastião soou atrás de nós.— Não é conveniente. — George respondeu, e antes que eu pudesse reagir, ele me levantou e me colocou dentro da cabine.Ele entrou logo em seguida e fechou a porta. Através do vidro, pude ver o rosto de Sebastião endurecer. Seus olhos pareciam lançar faíscas. Ele estava furioso, sem dúvidas.— Foi de propósito, não foi? — Perguntei, encarando George.— Foi. — Ele respondeu sem hesitar. — Não quero dividir uma cabine com ele.Era uma resposta arrogante, quase infantil, mas também cheia de um certo charme. Não pude evitar e soltei uma risada.George era um homem de muitas facetas. Às vezes, sério e frio. Outras, gentil e caloroso. E, agora, estava ali, agindo como um garoto mimado.— Geo