O celular que não parava de tocar, subitamente, silenciou.Naquele instante, o único som que preenchia o ar era o crepitar do fogo no fogão e o ritmo acelerado das batidas dos nossos corações.Tão próximos, nossas respirações se entrelaçavam. Eu podia ver claramente o brilho intenso nos olhos de George, como pequenas chamas dançando em um incêndio contido.Uma sensação forte me invadiu. Aquilo era o prelúdio de algo inevitável.De repente, ouviu-se um som seco: toc, toc. Logo após, a voz de Fernanda ecoou do andar de baixo:— George, a água aqui em casa está correndo muito devagar. Você pode vir dar uma olhada?O corpo de George, que estava colado ao meu, se afastou de repente. Aproveitei o momento para escapar também, caminhando rapidamente até o sofá, onde me joguei sem pensar duas vezes.Instantes depois, George saiu da cozinha e foi abrir a porta.— Dona Fernanda, vou com a senhora dar uma olhada.— Ótimo, ótimo. — Respondeu Fernanda, enquanto lançava um olhar para dentro do aparta
Sebastião também estava ali. Não esperava por isso, mas fazia sentido.Afinal, sendo o dono do parque de diversões, era natural que ele viesse conferir os testes de iluminação.Enquanto nossos olhares se encontravam, ele começou a caminhar em nossa direção.Senti um calor na mão. George havia segurado a minha. Não podia negar: ele realmente sabia interpretar o papel de namorado. Sempre que Sebastião aparecia, George ligava o modo “territorial” instantaneamente.O olhar de Sebastião passou por nossas mãos entrelaçadas. Seu rosto, no entanto, permaneceu inexpressivo. Até sua voz parecia calma e controlada:— A que horas começa?A pergunta era clara. Ele estava ali para assistir ao teste de iluminação.— Em dez minutos. — Respondeu George.— Qual o ponto de observação? — Perguntou Sebastião novamente.Senti a mão de George apertar a minha levemente. Olhei para ele, que me devolveu o olhar. Era como se ele estivesse me perguntando o que eu queria fazer.Claro que ele sabia onde era o ponto
Minha garganta apertou. O que George queria dizer? Que nós três iríamos dividir a mesma cabine da roda-gigante?Eu estava prestes a dizer algo, mas George já havia segurado minha mão e, para minha surpresa, nos levou em direção a outra cabine.— Vocês não vão nessa? — A voz de Sebastião soou atrás de nós.— Não é conveniente. — George respondeu, e antes que eu pudesse reagir, ele me levantou e me colocou dentro da cabine.Ele entrou logo em seguida e fechou a porta. Através do vidro, pude ver o rosto de Sebastião endurecer. Seus olhos pareciam lançar faíscas. Ele estava furioso, sem dúvidas.— Foi de propósito, não foi? — Perguntei, encarando George.— Foi. — Ele respondeu sem hesitar. — Não quero dividir uma cabine com ele.Era uma resposta arrogante, quase infantil, mas também cheia de um certo charme. Não pude evitar e soltei uma risada.George era um homem de muitas facetas. Às vezes, sério e frio. Outras, gentil e caloroso. E, agora, estava ali, agindo como um garoto mimado.— Geo
O mundo colorido desapareceu sob o toque cálido das mãos de George. Tudo ao meu redor ficou escuro, mas, curiosamente, não senti medo. Ele estava ali. O calor do seu corpo era mais reconfortante do que qualquer luz.— Faça o pedido. Enquanto eu estiver com você, seus desejos podem se tornar realidade. — Sua voz grave, profunda como um violoncelo, ressoou suavemente no meu ouvido.A música dentro da cabine continuava em um ritmo calmo. Meu coração, que antes estava tenso, começou a desacelerar.Mas... O que eu desejaria? Desde que perdi meus pais, não sabia mais o que queria.Quando estive com Sebastião, talvez meu desejo fosse de que nosso relacionamento durasse para sempre. Mas isso era algo que eu nunca disse em voz alta.Agora, se eu tivesse que fazer um pedido... O que seria?Pensei em meus pais. Pensei no acidente que os levou. E, finalmente, deixei escapar:— Quero descobrir a verdade sobre o acidente que matou meus pais.— Isso eu posso resolver para você. — George respondeu sem
A menina corria pelas ondas, e sua imagem me fez lembrar da sereia dos contos de fadas.Ela corria com tanta leveza e alegria, girando sobre as cristas das ondas como se estivesse dançando. Era tão linda, tão viva. Por um momento, pareceu que aquela menina não era apenas uma criação de luzes, mas uma criança de verdade brincando sobre o mar.Eu observava sem piscar, prendendo a respiração, com medo de que, ao desviar o olhar por um segundo, perdesse algo importante.De repente, uma grande onda se formou e, junto com ela, apareceu outra figura. Era um menino.Ele era alto e olhava para a menina. Ela também olhava para ele. Após alguns segundos, a menina correu em sua direção.— Irmão, meu nome é Carina. Qual é o seu?Ao ouvir aquelas palavras, meu coração deu um salto. Aquela menina era eu.— Irmão, não corra... Irmão, espera por mim!O menino parou e estendeu a mão para a menina. Eles se deram as mãos e começaram a correr juntos.— Irmão, estou cansada. Me carrega. Corre mais rápido, i
— Você é mesmo desprezível. — Sebastião rosnou, agarrando George pela gola da camisa.Meu coração disparou, e a tristeza que eu sentia deu lugar à preocupação. Estava prestes a intervir quando ouvi George responder de forma tranquila:— O que você chama de desprezível é, na verdade, algo que você nunca fez: cuidar de Carina com o coração.Os olhos de Sebastião se estreitaram, e ele retrucou com um tom ácido:— George, essas suas jogadas baratas para impressionar garotas não vão funcionar com Carolina. Ela não gosta de ilusões, entendeu?Eu não gostava de ilusões?Sim, eu tinha dito isso a Sebastião uma vez.Foi logo depois de começarmos a namorar. No nosso primeiro Dia dos Namorados, ele não me deu presente nenhum, nem mesmo um jantar.No dia seguinte, saímos com Pedro e outros amigos, e Pedro fez uma piada, perguntando como tínhamos passado o Dia dos Namorados.Fiquei extremamente constrangida, mas Sebastião se desculpou dizendo que havia esquecido. Para evitar mais desconforto, eu me
Naquele momento, foi minha vez de ficar confusa:— Como assim, você não quer mais? Ou será que...Antes que eu pudesse terminar a frase, as palavras foram caladas pelo beijo dele. Não foi um beijo profundo, apenas um toque suave que selou meus lábios. Em seguida, ele murmurou baixinho:— Eu quero.Sorri, sentindo meu rosto esquentar. George também parecia um pouco sem jeito...Apesar do tom bronzeado de sua pele não denunciar tanto, as orelhas dele estavam visivelmente vermelhas.Não dissemos mais nada. Ficamos ali, parados, de mãos dadas, sem saber o que fazer. Era uma situação estranha, mas ao mesmo tempo ninguém queria ser o primeiro a romper o contato.O tal "cheiro de romance no ar" devia ser isso. Um misto de desconforto e doçura, onde a vontade de estar mais perto era travada pela timidez.Será que eu e George íamos passar a noite inteira ali, abraçados, sem mexer um músculo?Definitivamente, não. Minhas pernas já estavam começando a ficar dormentes, e minha lombar começava a re
Anthony querendo me provocar, eu podia ignorar. Mas o convite pra ver Felipe era algo que eu não podia simplesmente deixar de lado.Ainda assim, a hora da mensagem me incomodava. Era tarde demais para ser algo casual.Se eu respondesse agora, ele podia aproveitar a oportunidade pra sugerir algo a mais. Se eu recusasse, ele provavelmente usaria isso contra mim na conversa com o pai. A melhor estratégia seria tratá-lo como fiz ontem: ignorá-lo.Respirei fundo e voltei minha atenção para Luana, que ainda falava algo que eu não tinha escutado direito.— Então, vocês oficializaram o namoro e agora acabou? Não vão dar o próximo passo?— Que próximo passo? — Perguntei, distraída pela mensagem de Anthony.— O próximo passo óbvio de um casal: dormir juntos. — Respondeu ela, com um tom malicioso.— George é um homem respeitável, sabia?— Respeitável? Desde quando isso exclui os instintos humanos? Ele não tem desejos? Não quer reproduzir a espécie? — Retrucou ela, revirando os olhos do outro lado