Acompanhado pelo grito de Augusto, joguei uma xícara de café direto no rosto dele. Augusto, que estava sentado, saltou da cadeira imediatamente, esfregando o rosto cheio de café enquanto gritava: — Você tá maluca, mulher?Segurando a xícara vazia, apontei para ele com firmeza: — Se você tentar me importunar de novo, vou quebrar essa xícara na sua cabeça e te mandar direto pra delegacia pra tomar café com a polícia! Augusto, que usava uma camiseta branca, agora estava todo manchado de café. O cabelo, encharcado, pingava restos de café, deixando-o com uma aparência patética. Mesmo assim, ele não perdeu a arrogância: — Carolina, você acha que isso vai me assustar? Eu não tenho medo de você, eu... Não esperei para ouvir o resto. Saí da cafeteria sem olhar para trás. Miguel veio logo atrás de mim: — Quem é esse cara? — O irmão da Lídia. — Respondi, enquanto puxava um lenço umedecido da bolsa para limpar os dedos sujos de café. — Ele te incomoda com frequência? — Miguel
— Carolina, você é tão grudenta. — Benedita comentou, me deixando um pouco sem graça. Mas, logo em seguida, completou com um sorriso travesso. — Mas eu adoro isso. — Boba. — Revirei os olhos, fingindo irritação, e ela caiu na gargalhada. Saí do quarto e olhei pelo corredor. Não havia ninguém de um lado nem do outro. Se ela disse que George tinha saído para atender uma ligação, então provavelmente ele havia ido para um lugar mais tranquilo. Pensei por um instante e segui em direção à escada de emergência. Assim que me aproximei, escutei a voz de George. — A oficina de carros já não existe mais, mas os mecânicos devem estar por aí. Dê um jeito de encontrá-los... Claro que é necessário. Preciso dar uma resposta para minha namorada, e também provar a inocência do meu pai. Ao ouvir isso, meu coração apertou. Nos últimos dias, eu vinha me perguntando se deveria investigar novamente o problema nos freios do carro no acidente de tantos anos atrás. Mas, pelo visto, George já estava
Meu coração deu um salto, pensando nos exames que Benedita fez hoje. Eu perguntei, preocupado:— Os resultados dos exames não foram bons?Luana, com as mãos no bolso do casaco branco, balançou a cabeça levemente e respondeu:— Não, o problema é com o doador.Eu, ainda confusa, franzi a testa e perguntei:— Hã?Luana suspirou e explicou:— O doador está em estado vegetativo irreversível. A família estava pronta para desistir e autorizou a doação de todos os órgãos, mas de repente mudaram de ideia.Eu comecei a entender. O doador era compatível com Benedita, e se a doação fosse cancelada, Benedita teria que esperar mais. Quanto tempo ela teria que esperar, ninguém sabia.Eu perguntei:— Você sabe por que desistiram da doação?Luana fez beicinho:— Não sei, só recebi a notificação. Você sabe que as informações sobre o doador são confidenciais.Ao pensar nas expectativas de Benedita em relação à nova vida, fico imaginando o quanto ela ficaria desapontada ao saber que, por enquanto, não pod
Chegou a menstruação!— Espera por mim! — Gritei para Luana, correndo atrás dela. — Como você falou, deu certinho. Minha menstruação chegou! Me empreste seus itens de emergência.Luana tirou a chave da sala de descanso do bolso e me entregou. — Pode pegar lá você mesma.Pegamos o elevador juntas para o andar da obstetrícia. Antes mesmo de sairmos, ouvimos gritos ecoando pelo corredor.— Sua sem-vergonha! Casou com o meu filho e ainda foi atrás de outro homem! Você matou o meu filho!— Agora está grávida de um bastardo e ainda tem coragem de dizer que é da nossa família Nunes!— Acha que a gente não sabe o que você quer? Só está interessada no dinheiro da indenização do meu filho!...Luana saiu correndo na direção do tumulto, enquanto eu fiquei parada, surpresa. Por que aquelas palavras me pareciam tão familiares?Embora eu precisasse urgentemente pegar um absorvente e ir ao banheiro, não consegui resistir e acabei caminhando em direção à multidão que se aglomerava. — Essa criança é d
Se isso acontecer, com certeza o filho da Lídia não vai escapar.Embora a senhora se recusasse a admitir que o filho era dela, Sebastião disse que a criança não tinha nada a ver com ele, que era um herdeiro do Fernando.Se algo acontecer, a família Nunes vai estar realmente acabada.Meu coração deu um pulo e levantei instintivamente a perna para correr em direção a ela.Luana, que estava mais perto, também sabia das consequências e segurou imediatamente a senhora.— A senhora não pode fazer isso.Lídia, nesse momento, também explodiu.— Deixa ela bater, esse é o neto dela! Se ela matar a criança, a família Nunes acaba!— Você ainda fala que essa criança é nossa? Hoje mesmo vou deixar você ver na hora se ele é ou não filho da família Nunes — disse a senhora, já completamente fora de si.— Então, veja, vou deixar você ver na hora se ele é ou não da família Nunes! — Lídia, também furiosa, não se deixou intimidar.Não é algo em que eu queira me envolver, mas uma criança é uma vida, sem men
Vendo a recusa dela em aceitar a realidade, fiz um sorriso irônico, puxando o canto da boca de maneira debochada.— Com nossa amizade de dez anos, desde a infância, compartilhando até o mesmo prato, eu sei até quantas vezes ele vai ao banheiro e quantos peidos ele solta num dia.Usei as palavras que Pedro uma vez zombou de mim e Sebastião.O corpo de Lídia vacilou, ela balançou a cabeça rapidamente.— Não é isso, não é...— Se não acredita, então experimente. — Respondi, com a voz áspera e ameaçadora.Lídia não conseguiu mais dizer nada. Ela ficou me encarando, um tanto desorientada, até que, após alguns segundos, virou-se e começou a andar para fora, vacilante.Observei seu corpo indo embora, pensando nas atitudes dela durante o dia. Depois de alguns momentos, decidi ligar para Sebastião.Nesse momento, eu esqueci completamente que ele estava desaparecido, não atendendo à ligação de ninguém.— Carol. — A voz de Sebastião soou do outro lado da linha.Ele atendeu minha ligação. O som da
Não acredito que estou sangrando pelo nariz.Antes, só via isso na televisão e achava engraçado.Não imaginei que fosse acontecer de verdade comigo.— Carina, você está com sangramento no nariz! — George exclamou, levantando a mão para me ajudar a limpar.Minha reação foi mais rápida, e eu logo apertei as narinas e inclinei a cabeça para trás. — Eu estou com calor. — Você está bebendo pouca água? — George perguntou, visivelmente preocupado.— Hum, é... — Só consegui culpar a falta de água.George tirou um lenço de papel e me entregou.— Você tem se esforçado tanto nos últimos dias, correndo de um lado para o outro, e não tem bebido água o suficiente. Isso também é culpa minha por não reparar.Ele se culpava por isso.E, na verdade, estava certo.Embora o sangramento não tenha sido por causa da correria e da falta de água, de certa forma, ele teve parte nisso.Felizmente, o sangramento parou logo. George, então, me levantou nos braços.O hospital estava cheio de gente, e ele me carrega
— Assim está bom. — Naquele momento, eu me sentia grato ao Gilberto. Não esperava que ele fosse tão dedicado.Afinal, para um professor do nível dele, realizar a cirurgia pessoalmente já era uma sorte imensa, mas ele ainda estava tão preocupado com a origem do coração.Eu sabia que isso era por causa da Luana.— Já há alguma previsão para a chegada do novo coração? —Pperguntei novamente.George abaixou os olhos. — Não sei.Olhei para o corredor frio e limpo do hospital. — E o que o Prof. Gilberto quis dizer? Vamos ficar internados esperando ou podemos voltar para descansar?— Melhor voltar e descansar. A Benê nunca saiu daquele vilarejo e nunca esteve em Cidade A. Eu queria levá-la para passear um pouco, — disse George.Concordei. Benedita nunca tinha tomado café, o que demonstrava como o mundo fora dali era estranho para ela. Embora tivesse lido sobre ele, nunca havia experimentado na prática.— Certo. — Eu disse, concordando com sua ideia.Então, lembrei-me da conversa que ouvi na es