Vendo a recusa dela em aceitar a realidade, fiz um sorriso irônico, puxando o canto da boca de maneira debochada.— Com nossa amizade de dez anos, desde a infância, compartilhando até o mesmo prato, eu sei até quantas vezes ele vai ao banheiro e quantos peidos ele solta num dia.Usei as palavras que Pedro uma vez zombou de mim e Sebastião.O corpo de Lídia vacilou, ela balançou a cabeça rapidamente.— Não é isso, não é...— Se não acredita, então experimente. — Respondi, com a voz áspera e ameaçadora.Lídia não conseguiu mais dizer nada. Ela ficou me encarando, um tanto desorientada, até que, após alguns segundos, virou-se e começou a andar para fora, vacilante.Observei seu corpo indo embora, pensando nas atitudes dela durante o dia. Depois de alguns momentos, decidi ligar para Sebastião.Nesse momento, eu esqueci completamente que ele estava desaparecido, não atendendo à ligação de ninguém.— Carol. — A voz de Sebastião soou do outro lado da linha.Ele atendeu minha ligação. O som da
Não acredito que estou sangrando pelo nariz.Antes, só via isso na televisão e achava engraçado.Não imaginei que fosse acontecer de verdade comigo.— Carina, você está com sangramento no nariz! — George exclamou, levantando a mão para me ajudar a limpar.Minha reação foi mais rápida, e eu logo apertei as narinas e inclinei a cabeça para trás. — Eu estou com calor. — Você está bebendo pouca água? — George perguntou, visivelmente preocupado.— Hum, é... — Só consegui culpar a falta de água.George tirou um lenço de papel e me entregou.— Você tem se esforçado tanto nos últimos dias, correndo de um lado para o outro, e não tem bebido água o suficiente. Isso também é culpa minha por não reparar.Ele se culpava por isso.E, na verdade, estava certo.Embora o sangramento não tenha sido por causa da correria e da falta de água, de certa forma, ele teve parte nisso.Felizmente, o sangramento parou logo. George, então, me levantou nos braços.O hospital estava cheio de gente, e ele me carrega
— Assim está bom. — Naquele momento, eu me sentia grato ao Gilberto. Não esperava que ele fosse tão dedicado.Afinal, para um professor do nível dele, realizar a cirurgia pessoalmente já era uma sorte imensa, mas ele ainda estava tão preocupado com a origem do coração.Eu sabia que isso era por causa da Luana.— Já há alguma previsão para a chegada do novo coração? —Pperguntei novamente.George abaixou os olhos. — Não sei.Olhei para o corredor frio e limpo do hospital. — E o que o Prof. Gilberto quis dizer? Vamos ficar internados esperando ou podemos voltar para descansar?— Melhor voltar e descansar. A Benê nunca saiu daquele vilarejo e nunca esteve em Cidade A. Eu queria levá-la para passear um pouco, — disse George.Concordei. Benedita nunca tinha tomado café, o que demonstrava como o mundo fora dali era estranho para ela. Embora tivesse lido sobre ele, nunca havia experimentado na prática.— Certo. — Eu disse, concordando com sua ideia.Então, lembrei-me da conversa que ouvi na es
Esse Felipe é realmente ostentoso, não tem medo de que alguém denuncie ele por estar envolvido com a máfia.Felipe estava em uma visita, e eu definitivamente não podia ir até lá, mas também não queria voltar ao quarto da Benedita, então resolvi ir para o pequeno jardim do hospital.— Você pode brincar de bola comigo, moça? — Uma garotinha de uns três ou quatro anos veio correndo até mim, com os olhos brilhando de expectativa.Na verdade, eu não queria brincar, mas ao ver o olhar da garota, não consegui recusar.— Tá bom.Eu pensei que iria brincar um pouco para agradar à menina e depois poderia ir embora, mas à medida que brincávamos, eu me lembrei de quando era pequena e meus pais brincavam comigo de bola.— Você é um pouco boba, né? — A menina comentou, me fazendo rir.— Você foi acertada de novo, moça!— Moça... Ela me chamou, brincando e rindo, me deixando um pouco constrangida. Brincar e ainda ser chamada de boba não era fácil, mas eu realmente estava me divertindo.— Talita! — U
Eu não pude deixar de responder, mas ao abrir a boca, acabei dizendo algo que talvez fosse melhor não ter dito: — Agora não é, mas isso não significa que não será no futuro.Felipe soltou uma risada, e Talita, em seus braços, também riu junto com ele, parecendo completamente feliz.— Papai, a moça é legal, ela está brincando comigo.Essa menininha realmente sabe como me elogiar.No entanto, a mãe de Talita logo fez uma cara feia, a expressão fechada e cheia de desconfiança, como se estivesse analisando uma estranha, provavelmente achando que eu era mais uma mulher por quem Felipe se interessava.— Então, tá, daqui para frente você brinca com essa moça. — Felipe disse, como se eu fosse alguém importante para ele.Eu abri a boca, mas, como estava na frente da criança, não sabia o que dizer, então preferi acreditar que ele estava apenas tentando agradar Talita.Felipe então pegou Talita no colo e veio até mim.— Tem algum tempo para brincar com minha filha? O preço é você quem escolhe.S
João não respondeu, e um arrepio percorreu meu corpo. Instintivamente, estendi a mão e segurei seu braço.— Tio, tio...Com um suspiro pesado, João lentamente abriu os olhos. Ele me olhou, com o olhar meio perdido, e disse: — Carol, quase não consegui acordar agora.Imediatamente, fiquei tensa.— Tio, vou chamar o médico!Mas João me segurou, a voz fraca, e disse:— Não é nada, não precisa se assustar. Isso já aconteceu antes, é só uma pressão no peito, é coisa de fantasma.Eu já tinha ouvido falar disso, mas sempre achei que era só uma piada. Agora, ele estava doente e ainda com câncer grave. Não parecia ser apenas uma brincadeira de fantasma, mas um sinal do agravamento de sua doença.Embora eu não fosse médica, tinha alguns conhecimentos básicos, e, além disso, tinha a Luana, minha amiga médica, que poderia me ajudar.— Tio, é melhor chamar o médico. — Não vou ficar tranquila assim, insisti e acabei chamando o médico.O médico veio e fez alguns exames de rotina, dizendo que não era
Os olhos de João estavam suaves enquanto me observava, com aquele olhar de pai que só um pai poderia ter ao olhar para a filha.— No coração do tio, você será sempre a criança que nunca cresce. — Ele disse, pausadamente, antes de continuar:— Mas, Carol, eu preciso te dizer algo. Ser séria e focada no trabalho é bom, mas na vida, isso não é sempre tão benéfico.Eu sabia o que ele queria dizer. Mas cada pessoa tem suas próprias convicções e personalidade, e como diz o ditado, "a natureza é difícil de mudar".— Carol, a felicidade vem quando a gente se permite ser um pouco mais leve, especialmente na vida pessoal. Nem tudo precisa ser tão claro e óbvio, entendeu? — Disse ele, com um tom de conselho que só um pai seria capaz de dar.Olhando para ele, com aquele olhar preocupado, e pensando na sua saúde, mesmo tendo minha própria visão sobre as coisas, acabei acenando com a cabeça em sinal de concordância.— Carol. — Ele me chamou.— Sim?Ele balançou a cabeça, como se estivesse prestes a
— Sou do escritório de demolição da Comunidade Aurora. Já colocamos o aviso de demolição no condomínio, agora ainda há alguns procedimentos para fazer. Você precisa vir imediatamente, está faltando só a sua assinatura. — A voz do outro lado da linha disse, e suas palavras imediatamente fizeram o meu humor, que já não estava bom, piorar ainda mais.Eu já sabia que precisaria assinar os documentos para a demolição, mas sempre deixei para depois. Para mim, parecia que, se eu não fosse assinar, o local não seria demolido, e assim a minha casa continuaria existindo.Porém, agora não havia mais jeito. Eu teria que assinar e, com isso, a demolição aconteceria.Não podia ser uma pessoa que impedisse a obra, prejudicando o progresso da demolição e, consequentemente, a mudança das outras pessoas para seus novos apartamentos.O bairro era, de fato, muito antigo. Quem não gostaria de morar em um imóvel novo, em um prédio novo?— Tudo bem, estou indo agora. — Eu respondi, com uma sensação de resign