Os olhos de João estavam suaves enquanto me observava, com aquele olhar de pai que só um pai poderia ter ao olhar para a filha.— No coração do tio, você será sempre a criança que nunca cresce. — Ele disse, pausadamente, antes de continuar:— Mas, Carol, eu preciso te dizer algo. Ser séria e focada no trabalho é bom, mas na vida, isso não é sempre tão benéfico.Eu sabia o que ele queria dizer. Mas cada pessoa tem suas próprias convicções e personalidade, e como diz o ditado, "a natureza é difícil de mudar".— Carol, a felicidade vem quando a gente se permite ser um pouco mais leve, especialmente na vida pessoal. Nem tudo precisa ser tão claro e óbvio, entendeu? — Disse ele, com um tom de conselho que só um pai seria capaz de dar.Olhando para ele, com aquele olhar preocupado, e pensando na sua saúde, mesmo tendo minha própria visão sobre as coisas, acabei acenando com a cabeça em sinal de concordância.— Carol. — Ele me chamou.— Sim?Ele balançou a cabeça, como se estivesse prestes a
— Sou do escritório de demolição da Comunidade Aurora. Já colocamos o aviso de demolição no condomínio, agora ainda há alguns procedimentos para fazer. Você precisa vir imediatamente, está faltando só a sua assinatura. — A voz do outro lado da linha disse, e suas palavras imediatamente fizeram o meu humor, que já não estava bom, piorar ainda mais.Eu já sabia que precisaria assinar os documentos para a demolição, mas sempre deixei para depois. Para mim, parecia que, se eu não fosse assinar, o local não seria demolido, e assim a minha casa continuaria existindo.Porém, agora não havia mais jeito. Eu teria que assinar e, com isso, a demolição aconteceria.Não podia ser uma pessoa que impedisse a obra, prejudicando o progresso da demolição e, consequentemente, a mudança das outras pessoas para seus novos apartamentos.O bairro era, de fato, muito antigo. Quem não gostaria de morar em um imóvel novo, em um prédio novo?— Tudo bem, estou indo agora. — Eu respondi, com uma sensação de resign
Ao pensar no acidente de carro dos meus pais, que já aconteceu há mais de dez anos, sorri ironicamente. — Ainda é necessário isso?— Se acontecer alguma coisa, é bom ter como te avisar. — Ele respondeu de forma tão direta.Já se passou tanto tempo desde o acidente, o que mais poderia acontecer? Mesmo assim, acabei deixando meu número de telefone como ele pediu e fui embora.Com a certidão de óbito em mãos, ainda faltava o atestado de cremação. Para isso, eu só poderia procurar o João, mas ele ainda estava doente, então tive que procurar a Cátia.— Carol, o que você está fazendo aqui? — Cátia perguntou, visivelmente mais surpresa do que feliz ao me ver.— Tia, vim tratar de um assunto, vamos conversar dentro de casa? — Eu não sabia se era por causa das corridas devido ao caso da Benedita ou se era por conta do meu período, mas hoje eu me sentia fraca e com a cabeça um pouco tonta.— Ah, tudo bem, mas... Vamos para o gazebo, aqui dentro está abafado. — Ela disse enquanto me segurava pel
Fiquei sem respirar.No segundo seguinte, uma voz familiar chegou aos meus ouvidos. — Sra. Cátia, eu não quero ficar aqui. Eu só quero ver o Sebastião. Se você deixar ele me ver, eu irei embora e não causarei mais problemas.Era Lídia. Ela tinha vindo até aqui!Pelo que ela disse, estava procurando por Sebastião. Eu já tinha tentado ligar para Sebastião, achando que ele entraria em contato com Lídia, mas agora parecia que eu estava completamente enganada. Essa mulher realmente tem coragem de vir até a família Martins.— Você está me ameaçando? — Perguntou tia Cátia, com firmeza.— Sra. Cátia, eu não estou. Eu só quero ver o Sebastião. — Lídia respondeu, ainda com aquele tom doce, suave e aparentemente inofensivo.Os mais velhos sempre dizem que não se deve julgar uma pessoa pela aparência, e, de fato, essa frase faz todo o sentido. Quando vi Lídia pela primeira vez, acreditei que ela fosse uma pessoa simples, até um pouco ingênua. Ao olhar para ela, dava até para ter a ilusão de qu
Eu sabia que a Lídia definitivamente não iria beber o veneno. Ela chegou até aqui justamente para alcançar uma vida de luxo e riqueza, e se aguentou toda a humilhação no hospital sem morrer, como poderia morrer agora?Aquilo não passava de uma estratégia dela para forçar a tia Cátia a revelar onde Sebastião estava.Ela achava que Sebastião estava escondido por João e Cátia, e queria interromper a relação deles de propósito.— A Srta. Lídia tem realmente se aprimorado nas suas táticas. — Eu disse, enquanto começava a caminhar para dentro.Cátia virou-se ao ouvir minha voz, seu rosto expressando claramente o pânico. Eu sabia que ela temia que eu pensasse que Lídia estava ali com alguma intenção ruim. Lídia, por sua vez, não parecia surpresa, provavelmente já me viu chegando, mas ainda estava nervosa, caso contrário, sua mão não teria tremido ao segurar o frasco.Logo, Lídia colocou uma expressão triste no rosto.— Eu não tenho mais opção, Sebastião desapareceu, não consigo mais falar com
Meu corpo vacilou por um momento, e foi Cátia quem me sustentou.Olhei para Lídia, que estava visivelmente agitada, com o rosto pálido como se estivesse prestes a desmaiar. Meu coração disparou por alguns batimentos. Será que minhas palavras acabaram de se tornar uma profecia?Na verdade, o que eu disse antes foi apenas uma suposição, uma tentativa de provocação, mas agora, parecia que a morte de Fernando não era tão simples assim.Se, de fato, isso tivesse algo a ver com Lídia, ou se ela tivesse planejado de propósito, então essa mulher era mais perigosa do que eu imaginava.Agora fazia sentido o motivo pelo qual os pais de Fernando a xingavam e a humilhavam com tanto ódio. Eles tinham razões para isso.— Lídia, você está nervosa, não está? — Continuei sem deixar de pressioná-la.Eu havia finalmente a colocado em um canto, e agora era o momento de ela mostrar sua verdadeira face.Lídia balançava a cabeça, tentando negar.— Você armou para Fernando porque ele se tornou um obstáculo nos
Principalmente Lídia, apesar de ser uma mulher detestável, o filho que ela carregava no ventre era inocente. Ainda mais sendo o único herdeiro de Fernando.Lídia foi embora, deixando Cátia tremendo de raiva. — Esse Sebastião é mesmo um idiota! Foi completamente manipulado por aquela mulher. Eu sempre achei ele esperto, mas dessa vez perdeu o juízo! — Desabafou Cátia, indignada.Ela se virou para mim e segurou meu braço com força.— Carol, você ouviu tudo, não foi?Eu soltei uma risada irônica. Claro que ouvi, afinal, eu mesma tinha dito tudo aquilo.— Carol, o Tião foi enganado, você sabe disso, né? Foi manipulado! — Insistiu Cátia, como se quisesse reforçar algo.— Tia, se Sebastião foi enganado, é porque ele deu abertura para isso. — Rebati, cortando qualquer tentativa de justificativa.Cátia abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. Por fim, suspirou:— Como essa mulher pode ser tão cruel? Chegar ao ponto de passar a perna no próprio marido...Pensei comigo mesma: “Os pássaros morrem
Eu tinha acabado de desmascarar a hipocrisia e os planos ardilosos de Lídia na casa da família Martins. Não era de se estranhar que ela estivesse furiosa.Lídia me olhava fixamente. De repente, segurou a porta do carro. Quando achei que ela fosse abri-la para me puxar ou me agredir, ela abaixou o corpo e, para minha surpresa, se ajoelhou diante do carro.Aquilo era algo que eu não esperava. Pensei que talvez ela fosse implorar, mas jamais imaginei que ela fosse se ajoelhar. Essa mulher era mesmo capaz de qualquer coisa, sabia se dobrar quando necessário.Porém, ela se ajoelhar não me afetava em nada. Eu podia muito bem aceitar isso, afinal, ela havia roubado meu noivo. Mas o problema é que ela estava grávida, e ficar ajoelhada assim podia prejudicar o bebê. Se algo acontecesse, com certeza colocariam a culpa em mim. Por isso, eu não podia permitir que ela continuasse assim.Mesmo assim, não desci do carro para ajudá-la. Essa mulher estava claramente se aproveitando da gravidez para me