Eu o olhei fixamente, pensando no seu pai, aquele homem que, quando eu era criança, chamava de Vinícius. Agora, ao perceber o quanto George estava se aproximando de mim, não pude evitar perguntar:— George, você fica assim comigo por acaso porque... gosta de mim?Ele me encarou com a mesma intensidade, sem uma ponta de arrependimento, e respondeu sem hesitar:— E se for? Vai dizer que não?— Então, você tem algo a esconder de mim? Tipo... nós já nos conhecíamos há muito tempo?Naquele momento, enquanto caminhávamos de volta para casa, ou melhor, depois de saber da identidade de seu pai, eu já havia me questionado sobre isso várias vezes.George parecia hesitar por um breve momento, o olhar dele vacilou, e a voz dele ficou séria:— Quando você era pequena, eu te carreguei nas costas... e também... você me beijou.Essas palavras saíram de George como um golpe certeiro, e, se eu fosse uma garota mais ingênua, minha cara já teria ficado completamente vermelha. Felizmente, já não sou mais a
Pedro não me deu chance de recusar, e eu sabia o que aquilo significava.Segurando o celular, olhei para George e, depois de um momento de hesitação, caminhei até ele. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, George falou, sem me deixar começar:— Eu vou voltar depois de amanhã.Voltar?Eu parei de repente, surpresa pela notícia, e, quase sem pensar, perguntei:— Volta para onde?Ele continuou caminhando à frente, sem parar, e respondeu sem olhar para trás:— Para casa.Casa? Para a cidade B?Mas ele havia dito que ficaria aqui, e até havia alugado uma casa.Eu me lembrei da casa alugada, do futuro despejo e da dona da casa, que havia me pedido um favor. Eu ainda não tinha falado nada sobre isso com George. A ideia de que ele ia embora de repente me deixou desconcertada. Queria perguntar por que ele estava indo embora tão repentinamente, mas algo no ar, uma sensação de distanciamento que emanava dele, fez com que eu engolisse as palavras.— Eu vou ver os testes de iluminação amanhã
Aquele momento exigia de mim apenas uma coisa: fingir tranquilidade. Mesmo vendo Lídia caminhar em minha direção, e finalmente parar bem na minha frente, precisei manter a postura.— Carolina... — Chamou-me novamente, com os olhos cheios de lágrimas.Eu semicerrei os olhos, sem dizer nada. Apenas esperei que ela continuasse. Ela estava prestes a desabafar, e eu não queria estragar a ocasião.— Você pode ficar longe do Tião? — Ela finalmente falou, com a voz trêmula.Fiz uma leve careta, franzindo as sobrancelhas. — O quê?— Vocês já terminaram. Agora ele está comigo, e o que vocês tinham é coisa do passado. Não quero que você apareça perto dele sem motivo, atrapalhando o emocional dele. — Seus olhos brilhavam, cheios de lágrimas que pareciam prestes a cair.Eu ri, de repente entendendo tudo. Então era isso: ela estava me culpando pela bronca que Sebastião tinha dado nela minutos antes.— Ah, entendi... Você quer dizer que não tem como pagar a multa e está esperando que eu te ajude, é
Fiquei completamente surpresa com a resposta de Pedro. Ele sempre me tratou como uma irmã mais nova e, embora costumasse brincar, nunca tinha passado dos limites. Mas, dessa vez, parecia diferente.Edgar também ficou desconcertado, olhando para mim com uma expressão curiosa.Pedro, ignorando-o, inclinou-se na minha direção e disse suavemente: — Vamos entrar.Assenti para Edgar e segui Pedro. Ao sair, percebi que Edgar abriu a boca e levantou a mão, como se quisesse dizer ou fazer algo para me deter, mas acabou desistindo.— Aquilo foi para espantar minha chance de arranjar um namorado? — Perguntei, já imaginando as intenções dele.— Aquele cara não serve. Não tem jeito. — Pedro respondeu, com um tom sério, descrevendo Edgar de forma tão casual que me fez rir.Ele me lançou um olhar de soslaio. — Eu sempre sei avaliar as pessoas. E ele definitivamente não presta. Fique longe dele.— Certo. — Concordei, ainda rindo.— Estou falando sério. Não leve isso como brincadeira. — Pedro reforço
A porta se abriu, e logo fui recebida por uma gargalhada alta e espalhafatosa. Meus olhos foram direto para o homem sentado na cabeceira da mesa. Ele tinha um rosto familiar.Pedro, como sempre, foi o primeiro a falar:— Anthony, meu parceiro de sinuca e grande amigo.Eu olhei bem para o rosto dele e, de repente, o nome veio à mente: Anthony Furtado. Ele era filho de Felipe Furtado, o atual líder do Grupo Furtado.Já tinha pesquisado sobre ele antes. Um entusiasta de sinuca, chegou a vencer um campeonato amador. Mas, na época, não me ocorreu que ele pudesse ter alguma ligação com Pedro, quanto mais que fossem amigos próximos.— Então esta é a famosa Carolina sobre quem você sempre fala? — Anthony sorriu, mas, ao invés de me deixar confortável, um calafrio percorreu minha espinha.Embora todo o histórico de Anthony parecesse limpo, eu sabia que o passado de seu pai estava longe de ser impecável, e duvidava que ele fosse tão diferente assim.— Carol, o Anthony é um cara super confiável.
Os olhos de Anthony se estreitaram, mas o sorriso continuou no rosto. No entanto, havia algo diferente em sua expressão, um ar de interesse e curiosidade. Ele parecia estar tentando decifrar minhas intenções.Notei isso e fui direta:— Se for complicado para você, podemos esquecer.Ele riu, embora de forma forçada. — Complicado? Não seja por isso. Se for só um pedido, então está feito. Aliás, até se você quisesse a minha pessoa, eu aceitaria.O comentário soou impróprio, mas antes que eu pudesse dizer algo, Pedro soltou duas tossidas discretas, chamando a atenção do amigo.— Haha! — Anthony riu com um jeito despreocupado e fez um gesto para mim. — Damas primeiro.Sem perder tempo, posicionei o taco e, com movimentos precisos, limpei a mesa em poucos minutos, sem dar chance para Anthony jogar.Ele, no entanto, não demonstrou decepção. Pelo contrário, foi o primeiro a bater palmas.— Impressionante! Não é à toa que você é amiga do Pedro. Você tem talento de sobra.— Perdi essa, mas agor
— Não, é você quem tem mais habilidade. Eu sou só uma jogadora amadora. — Respondi, tentando soar humilde.— Amadora? Só se for no título. Dá pra ver que alguém te ensinou. Mas, pela sua técnica, não parece que foi o Pedro. Quem foi que te ensinou? — Anthony começou a me sondar.Minha habilidade com sinuca vinha de Sebastião. Ele nunca me ensinou formalmente. Eu apenas o observava enquanto ele jogava, e, quando estava entediada, praticava sozinha. Meu estilo era claramente influenciado pelo dele. Com o tempo, ele percebeu que eu sabia jogar e começou a me chamar para acompanhá-lo nos jogos.Antes que eu pudesse responder, uma voz familiar surgiu, carregada de sarcasmo:— Anthony, desde quando você virou uma comadre fofoqueira?Nem precisei olhar para trás. Eu conhecia aquela voz melhor do que gostaria.Era Sebastião. Ele também estava ali. O ambiente já estava bastante movimentado, mas sua chegada tornou tudo ainda mais animado.Ele se aproximou e parou ao meu lado. Não precisou fazer
— O quê? — Ele me olhou, confuso, com uma expressão de surpresa genuína.Dei um passo à frente, aproximando-me dele. Tão perto que consegui sentir o perfume de sabonete em sua pele, ainda fresco do banho. Era um aroma agradável e familiar.Me lembrei de como, na minha infância, meus pais usavam sabonete para tudo — lavar as mãos, tomar banho. Hoje em dia, quase todo mundo usa sabonete líquido ou gel de banho. Era raro encontrar alguém que ainda usasse o sabonete tradicional.— Você está escondendo alguma coisa, George? — Perguntei em tom de provocação.Ele franziu as sobrancelhas e olhou para si mesmo, como se estivesse tentando entender minha pergunta.— Quantas taças de vinho você bebeu? — Ele perguntou, com um tom levemente crítico.— Só uma. Não foi muito. Mas você percebeu, né?Minha resposta o fez sorrir de canto. Então, peguei a ponta de sua camisa e dei uma leve puxada, encarando-o com determinação.— George, não tente me enganar. Você é rico, né? E mais: você é o verdadeiro “g