Assim que terminou a ligação, Marcelo desligou o telefone com firmeza. Ele permaneceu segurando o aparelho, indeciso. Após alguns segundos de hesitação, decidiu tentar ligar para Esther.Do outro lado, entretanto, Esther estava em movimento, e o veículo onde ela estava percorria uma área sem sinal algum. Assim que Marcelo tentou, a mensagem automática ecoou:[O número que você está tentando chamar está fora de área. Por favor, tente novamente mais tarde...]Marcelo apertou o celular com força. Ele sabia que aquele território era uma zona de guerra, caótica e perigosa, onde a linha entre a vida e a morte era tênue. Como ela teve coragem de ir até lá?— Capitão Marcelo, tente não se preocupar. Vou emitir uma ordem para que usem todos os recursos disponíveis para localizar a senhora. Assim que soubermos de algo, aviso imediatamente. Agora o senhor precisa descansar. Sem isso, não teremos como concluir nossa missão ou nos comunicar com as outras equipes. — Disse Durval, que estava ao lado
O deserto onde Esther e sua equipe estavam era vasto e sem fim, se estendendo em todas as direções como um oceano de areia. O motorista, após verificar o motor do veículo, anunciou sua decisão de sair em busca de ajuda. O problema era que, no meio daquele cenário inóspito, a ida e a volta poderiam levar horas.Esther olhou ao redor, avaliando as possibilidades. O silêncio a fazia pensar, mas antes que pudesse expressar qualquer ideia, a mulher ao lado começou a acenar e gritar em uma língua que Esther não entendia. A criança ao lado dela repetiu o gesto, como se imitasse a mãe.— Ela está chamando aquelas pessoas. — Traduziu July, enquanto observava o grupo que se aproximava, montado em camelos.Esther ficou em silêncio.Em poucos minutos, os homens chegaram. A mulher gesticulou intensamente e apontou para Esther, que percebeu os olhares daquelas pessoas mudarem. Primeiro, eram apenas curiosos; depois, passaram a carregar uma mistura de desconfiança e julgamento.A troca de palavras en
Rita pegou a garrafa com o líquido escuro e, com firmeza, segurou o rosto de Esther, abrindo levemente suas bochechas para fazer o líquido descer.Esther começou a tossir de forma violenta. O sabor era terrivelmente amargo e o cheiro, forte e penetrante, parecia invadir cada célula do seu corpo. Ainda assim, o desconforto lhe trouxe uma clareza momentânea, como se tivesse levado um choque que a despertasse. Apesar disso, seu corpo estava tão fraco que ela não conseguia se manter ereta. Apenas se inclinou sobre a corcova do camelo, respirando com dificuldade.Rita observava Esther com preocupação. Tentou chamar por ela:— Esther, você está me ouvindo? Está bem?— Estou... — A resposta de Esther foi quase um sussurro, baixa e arrastada. Ela parecia completamente exausta, como um peixe fora d'água, lutando para respirar.Preocupada que Esther pudesse cair, Rita passou o braço ao redor de sua cintura, a segurando firmemente. No entanto, a jornada estava sendo cruel para todos. Depois de ho
A contagem do grupo revelou pelo menos dez lobos selvagens ao redor deles. Era evidente que, sem as armas que carregavam, todos ali teriam se tornado um banquete para os predadores naquela noite.Os homens locais, no entanto, demonstravam uma relação peculiar com o perigo. Parecia que, para eles, a situação era quase rotineira. Não apenas afastaram os lobos, mas também começaram a esfolar os animais com mãos ágeis e experientes. Em pouco tempo, pedaços de carne já estavam sendo assados sobre as chamas da fogueira.A mulher local ofereceu uma das pernas de lobo assada a Esther. Ela imediatamente balançou a cabeça em recusa, sentindo o estômago revirar. Só de lembrar do cheiro de sangue que impregnava suas narinas, seu apetite desaparecia por completo.Rita percebeu o desconforto de Esther e lhe entregou o que restava de um pedaço de pão, acompanhado de um pouco do líquido escuro extraído das folhas da árvore que haviam recebido mais cedo.Esther levou o líquido ao nariz, inalando o arom
Marcelo não hesitou ao responder:— Isso aqui é só um arranhão, não vai me atrapalhar.Durval, mesmo preocupado, assentiu com determinação.— Tudo bem, vou preparar tudo agora mesmo.Ele sabia que Marcelo não descansaria enquanto não tivesse notícias de Esther. O capitão parecia ter a mente completamente dominada pela preocupação. Enquanto Esther permanecesse desaparecida, ele não teria paz.Sem demora, organizaram a partida e seguiram viagem durante a noite rumo a Iurani....Esther se revirava, incapaz de dormir. A diferença de temperatura durante a noite tornava o ambiente ainda mais desconfortável. O calor escaldante havia dado lugar a um frio cortante. Aos poucos, as pessoas ao redor começavam a adormecer. O brilho intenso da fogueira enfraquecia gradativamente, até que restaram apenas brasas. Sem outra alternativa, ela se recolheu na barraca improvisada.Mesmo dentro da tenda, seus movimentos cautelosos não passaram despercebidos por Rita, que também não conseguia pregar os olhos
Esther acordou meio sonolenta, ainda perdida em seus pensamentos, e logo percebeu o cheiro de carne assada no ar. Ela abriu os olhos lentamente e, ao olhar para o lado, viu que a luz do amanhecer já começava a surgir no horizonte.O relógio mostrava que eram pouco mais de 5 horas da manhã. A diferença de temperatura entre o calor do fogo e o ar gelado da manhã era evidente. Esther se levantou da cama improvisada na barraca e, ao dar o primeiro passo fora, sentiu o vento frio cortar sua pele. Sem pensar, abraçou os próprios braços, tentando se proteger um pouco do frio cortante.As pessoas ao redor já estavam acordadas. A mulher fez um gesto para ela, apontando para o fogo que ardia à frente. July, que estava ao lado, traduziu:— Você não comeu nada ontem, então é melhor comer alguma coisa agora. Mais tarde, a gente vai ter que seguir viagem. No entanto, Esther não estava com apetite. Não era só o estômago vazio que a incomodava, mas algo em sua mente, um pensamento persistente que
July segurou Esther com força. A tensão em sua voz era evidente:— Srta. Esther, você viu o que está acontecendo aqui. Se voltar, vai ser como se estivesse indo direto para a morte!Esther, porém, tinha outra preocupação.— E a Rita? O que vai ser dela?July e a mulher local seguraram Esther firmemente.— A Srta. Rita sabe se defender. Tenho certeza de que ela vai ficar bem. Além disso, não estamos falando apenas de você e da Srta. Rita aqui. Se continuar assim, todos nós estaremos em perigo!July tinha razão. Esther sabia disso. O alvo deles era ela, não Rita. Se a capturaram, era porque precisavam dela para algo. Caso contrário, por que se dar ao trabalho?"Se for pega, não devem me matar tão rápido assim", pensou Esther, considerando as possibilidades. Talvez houvesse uma chance de usar isso a seu favor, assim como havia feito no passado. Ela poderia se infiltrar e virar o jogo.Mas com Rita era diferente. Rita agora era vista como uma traidora. A probabilidade de ela ser morta era
Esther podia sentir o chão tremendo sob seus pés. Instintivamente, ela se apoiou em uma árvore próxima, enquanto seus olhos observavam o céu, que estava completamente tingido de vermelho.De repente, o som de tiros ecoou à distância. Seus reflexos quase automáticos a fizeram virar na direção do barulho, mas o que viu a deixou paralisada.Vários homens trajando uniformes camuflados avançavam pelo vilarejo, empunhando fuzis que disparavam contra qualquer um que estivesse à frente. Onde eles passavam, corpos caíam como folhas secas ao chão, formando poças de sangue que se espalhavam por todo lado.Esther ficou imóvel, incapaz de se mover, com o corpo dominado pelo medo.Ela observou os homens entrarem nas pequenas casas do vilarejo. Quando saíam, traziam em mãos sacos e caixas, parecendo carregar tudo o que podiam saquear. Logo em seguida, os mesmos homens ateavam fogo às casas, transformando o vilarejo em um inferno de chamas.O horror nos olhos de Esther era evidente. Para ela, era inco