July segurou Esther com força. A tensão em sua voz era evidente:— Srta. Esther, você viu o que está acontecendo aqui. Se voltar, vai ser como se estivesse indo direto para a morte!Esther, porém, tinha outra preocupação.— E a Rita? O que vai ser dela?July e a mulher local seguraram Esther firmemente.— A Srta. Rita sabe se defender. Tenho certeza de que ela vai ficar bem. Além disso, não estamos falando apenas de você e da Srta. Rita aqui. Se continuar assim, todos nós estaremos em perigo!July tinha razão. Esther sabia disso. O alvo deles era ela, não Rita. Se a capturaram, era porque precisavam dela para algo. Caso contrário, por que se dar ao trabalho?"Se for pega, não devem me matar tão rápido assim", pensou Esther, considerando as possibilidades. Talvez houvesse uma chance de usar isso a seu favor, assim como havia feito no passado. Ela poderia se infiltrar e virar o jogo.Mas com Rita era diferente. Rita agora era vista como uma traidora. A probabilidade de ela ser morta era
Esther podia sentir o chão tremendo sob seus pés. Instintivamente, ela se apoiou em uma árvore próxima, enquanto seus olhos observavam o céu, que estava completamente tingido de vermelho.De repente, o som de tiros ecoou à distância. Seus reflexos quase automáticos a fizeram virar na direção do barulho, mas o que viu a deixou paralisada.Vários homens trajando uniformes camuflados avançavam pelo vilarejo, empunhando fuzis que disparavam contra qualquer um que estivesse à frente. Onde eles passavam, corpos caíam como folhas secas ao chão, formando poças de sangue que se espalhavam por todo lado.Esther ficou imóvel, incapaz de se mover, com o corpo dominado pelo medo.Ela observou os homens entrarem nas pequenas casas do vilarejo. Quando saíam, traziam em mãos sacos e caixas, parecendo carregar tudo o que podiam saquear. Logo em seguida, os mesmos homens ateavam fogo às casas, transformando o vilarejo em um inferno de chamas.O horror nos olhos de Esther era evidente. Para ela, era inco
Os olhos do garoto carregavam uma melancolia profunda. Esther podia sentir o peso da dor em cada palavra que ele dizia. Aquele era um garoto que havia perdido tudo. O vilarejo que antes pulsava com vida agora estava reduzido a cinzas e corpos espalhados. De todos os moradores, apenas ele havia sobrevivido.Esther pressionou os lábios, em silêncio, antes de dar um passo à frente para ajudá-lo a mover os corpos para um mesmo lugar.— Eu vi tudo o que aconteceu. Esses homens não eram soldados? Será que foi algo que o seu vilarejo fez? — Ela perguntou com cuidado, tentando entender a situação.Os olhos do garoto endureceram, uma centelha de fúria iluminando seu rosto jovem.— Você acha que velhos, mulheres e crianças poderiam fazer algo para provocar isso? — Respondeu ele entre dentes. — Aqueles não são soldados! São homens do Faraó!Esther sentiu seu coração apertar com a intensidade da resposta.O garoto apertou os punhos com força, o maxilar trincado de tanto conter a raiva. Ele continu
Esther se aproximou devagar e falou com suavidade:— Sua mão está bem machucada. Eu não encontrei nenhum remédio eficiente, mas pelo menos vou passar um pouco de antisséptico para limpar o ferimento. Se não cuidarmos disso, pode piorar, e talvez você nem consiga mais usar a mão. Ah, e ficar descontando sua raiva nessa bandeira não adianta nada.O garoto apertava os punhos, o olhar fixo no tecido rasgado da bandeira, como se estivesse enfrentando seus próprios demônios.— Um dia... — Disse ele, com com um tom de ódio. — Eu vou cortar a cabeça do Faraó com as minhas próprias mãos!A sua avó, sua irmãzinha e sua irmão caçula... Todos mortos pelas mãos dos homens do Faraó. Eles levaram o pai dele. Ninguém nunca mais soube dele. Ele odeia aquele maldito do Faraó!Esther ficou em silêncio por um momento, tentando encontrar as palavras certas.— Eu também não gosto dele. — Disse Esther. — Mas, antes de qualquer coisa, você precisa cuidar de si mesmo. Se você não estiver forte, como vai enfren
— Anda logo e tenta me acompanhar. Essa floresta está cheia de cobras venenosas. — Disse o garoto, lançando um olhar de advertência para Esther enquanto acelerava o passo. — Certo! — Respondeu ela, agora ainda mais atenta aos arredores.Eles caminharam por mais de uma hora, enfrentando o calor sufocante e o terreno irregular da floresta, até finalmente alcançarem uma clareira. Assim como o garoto havia mencionado, a saída da mata levava a um pequeno vilarejo.Esther observou com atenção o novo cenário. Diferente do lugar devastado que tinham deixado para trás, ali havia sinais de vida. As casas de barro, embora simples, estavam rodeadas de galinhas e patos que ciscavam tranquilamente. Havia pequenas hortas bem cuidadas. Na entrada do vilarejo, um homem vendia produtos em uma caminhonete.O garoto foi direto até o homem e começou a falar em uma língua que Esther não entendia. Após alguns minutos, o garoto se virou para ela.— Vamos ficar aqui por enquanto. Só tem um problema: eu não te
Esther permaneceu em silêncio, mas seus pensamentos estavam em ebulição. A diferença entre as regiões de Iurani era gritante. No norte, os homens de Faraó haviam arrasado vilarejos inteiros com violência e pilhagem. Aqui, porém, ele era visto como um benfeitor. Essa discrepância a deixava intrigada, como se houvesse algo profundamente oculto por trás das aparências.Ela trocou um olhar significativo com o garoto, que logo entendeu e a seguiu em direção ao centro do quintal, onde a idosa e a menina estavam ajoelhadas, separando ervas medicinais. No chão, diante delas, havia uma pilha de raízes longas e finas que Esther nunca tinha visto antes.— Como se trabalha com isso? — Perguntou Esther, apontando para as ervas.O garoto, sempre atento, traduziu a pergunta imediatamente.A idosa levantou a cabeça ao ouvir a voz, seus olhos avaliando os recém-chegados. Para ela, Esther era apenas uma mulher jovem, talvez com pouco mais de vinte anos, e o garoto, um adolescente franzino.— Corte as ra
As crianças pulavam de alegria ao receberem os presentes. As meninas mais novas ganharam elásticos para o cabelo e presilhas brilhantes. Já os meninos receberam joelheiras, bolas de futebol e até livros escolares. Para as adolescentes, os itens eram diferentes: batons e produtos de cuidado com a pele.Uma das meninas, de olhos castanhos profundos e olhar curioso, pegou o batom com hesitação. Ela o examinava como se fosse um objeto exótico, completamente desconhecido.— Professor Bernardo, o que é isso? — Perguntou, franzindo as sobrancelhas enquanto girava o tubo entre os dedos.O homem sorriu pacientemente, se inclinando ligeiramente para ficar na altura da garota.— Isso é um batom. Ele serve para realçar a cor dos seus lábios. Em outros países, as pessoas usam maquiagem como essa para se sentirem mais bonitas. — Ele apontou para um pequeno frasco na sacola. — E este aqui é uma base líquida. Se você não souber como usar, posso arranjar um vídeo para te ensinar. Assim fica mais fácil
Esther segurava firme o braço do garoto enquanto caminhavam. Ela sabia que todo o vilarejo do jovem havia sido dizimado pelos homens de Faraó, e o professor Bernardo, à sua frente, parecia ter algum tipo de ligação com aquele Faraó. Temia que o garoto não conseguisse controlar o ódio e, sem entender bem a situação, acabasse expondo os dois prematuramente.Sentindo a pressão da mão de Esther, o garoto despertou do turbilhão de pensamentos.— Vamos embora. — Esther quebrou o silêncio.Na percepção de Bernardo, os dois eram claramente forasteiros. Ele os observava atentamente, analisando cada detalhe. Esther também havia notado a forma como os olhos do professor os avaliavam.Ela só queria entender quem era Bernardo, mas acabou sendo notada por ele antes do planejado. Não tinham outra escolha a não ser recuar para planejar melhor os próximos passos.Bernardo sorriu de forma discreta, não respondendo diretamente, mas aceitando a sugestão de Esther. Assim que ela e o garoto se afastaram, el