A contagem do grupo revelou pelo menos dez lobos selvagens ao redor deles. Era evidente que, sem as armas que carregavam, todos ali teriam se tornado um banquete para os predadores naquela noite.Os homens locais, no entanto, demonstravam uma relação peculiar com o perigo. Parecia que, para eles, a situação era quase rotineira. Não apenas afastaram os lobos, mas também começaram a esfolar os animais com mãos ágeis e experientes. Em pouco tempo, pedaços de carne já estavam sendo assados sobre as chamas da fogueira.A mulher local ofereceu uma das pernas de lobo assada a Esther. Ela imediatamente balançou a cabeça em recusa, sentindo o estômago revirar. Só de lembrar do cheiro de sangue que impregnava suas narinas, seu apetite desaparecia por completo.Rita percebeu o desconforto de Esther e lhe entregou o que restava de um pedaço de pão, acompanhado de um pouco do líquido escuro extraído das folhas da árvore que haviam recebido mais cedo.Esther levou o líquido ao nariz, inalando o arom
Marcelo não hesitou ao responder:— Isso aqui é só um arranhão, não vai me atrapalhar.Durval, mesmo preocupado, assentiu com determinação.— Tudo bem, vou preparar tudo agora mesmo.Ele sabia que Marcelo não descansaria enquanto não tivesse notícias de Esther. O capitão parecia ter a mente completamente dominada pela preocupação. Enquanto Esther permanecesse desaparecida, ele não teria paz.Sem demora, organizaram a partida e seguiram viagem durante a noite rumo a Iurani....Esther se revirava, incapaz de dormir. A diferença de temperatura durante a noite tornava o ambiente ainda mais desconfortável. O calor escaldante havia dado lugar a um frio cortante. Aos poucos, as pessoas ao redor começavam a adormecer. O brilho intenso da fogueira enfraquecia gradativamente, até que restaram apenas brasas. Sem outra alternativa, ela se recolheu na barraca improvisada.Mesmo dentro da tenda, seus movimentos cautelosos não passaram despercebidos por Rita, que também não conseguia pregar os olhos
Esther acordou meio sonolenta, ainda perdida em seus pensamentos, e logo percebeu o cheiro de carne assada no ar. Ela abriu os olhos lentamente e, ao olhar para o lado, viu que a luz do amanhecer já começava a surgir no horizonte.O relógio mostrava que eram pouco mais de 5 horas da manhã. A diferença de temperatura entre o calor do fogo e o ar gelado da manhã era evidente. Esther se levantou da cama improvisada na barraca e, ao dar o primeiro passo fora, sentiu o vento frio cortar sua pele. Sem pensar, abraçou os próprios braços, tentando se proteger um pouco do frio cortante.As pessoas ao redor já estavam acordadas. A mulher fez um gesto para ela, apontando para o fogo que ardia à frente. July, que estava ao lado, traduziu:— Você não comeu nada ontem, então é melhor comer alguma coisa agora. Mais tarde, a gente vai ter que seguir viagem. No entanto, Esther não estava com apetite. Não era só o estômago vazio que a incomodava, mas algo em sua mente, um pensamento persistente que
July segurou Esther com força. A tensão em sua voz era evidente:— Srta. Esther, você viu o que está acontecendo aqui. Se voltar, vai ser como se estivesse indo direto para a morte!Esther, porém, tinha outra preocupação.— E a Rita? O que vai ser dela?July e a mulher local seguraram Esther firmemente.— A Srta. Rita sabe se defender. Tenho certeza de que ela vai ficar bem. Além disso, não estamos falando apenas de você e da Srta. Rita aqui. Se continuar assim, todos nós estaremos em perigo!July tinha razão. Esther sabia disso. O alvo deles era ela, não Rita. Se a capturaram, era porque precisavam dela para algo. Caso contrário, por que se dar ao trabalho?"Se for pega, não devem me matar tão rápido assim", pensou Esther, considerando as possibilidades. Talvez houvesse uma chance de usar isso a seu favor, assim como havia feito no passado. Ela poderia se infiltrar e virar o jogo.Mas com Rita era diferente. Rita agora era vista como uma traidora. A probabilidade de ela ser morta era
Esther podia sentir o chão tremendo sob seus pés. Instintivamente, ela se apoiou em uma árvore próxima, enquanto seus olhos observavam o céu, que estava completamente tingido de vermelho.De repente, o som de tiros ecoou à distância. Seus reflexos quase automáticos a fizeram virar na direção do barulho, mas o que viu a deixou paralisada.Vários homens trajando uniformes camuflados avançavam pelo vilarejo, empunhando fuzis que disparavam contra qualquer um que estivesse à frente. Onde eles passavam, corpos caíam como folhas secas ao chão, formando poças de sangue que se espalhavam por todo lado.Esther ficou imóvel, incapaz de se mover, com o corpo dominado pelo medo.Ela observou os homens entrarem nas pequenas casas do vilarejo. Quando saíam, traziam em mãos sacos e caixas, parecendo carregar tudo o que podiam saquear. Logo em seguida, os mesmos homens ateavam fogo às casas, transformando o vilarejo em um inferno de chamas.O horror nos olhos de Esther era evidente. Para ela, era inco
Os olhos do garoto carregavam uma melancolia profunda. Esther podia sentir o peso da dor em cada palavra que ele dizia. Aquele era um garoto que havia perdido tudo. O vilarejo que antes pulsava com vida agora estava reduzido a cinzas e corpos espalhados. De todos os moradores, apenas ele havia sobrevivido.Esther pressionou os lábios, em silêncio, antes de dar um passo à frente para ajudá-lo a mover os corpos para um mesmo lugar.— Eu vi tudo o que aconteceu. Esses homens não eram soldados? Será que foi algo que o seu vilarejo fez? — Ela perguntou com cuidado, tentando entender a situação.Os olhos do garoto endureceram, uma centelha de fúria iluminando seu rosto jovem.— Você acha que velhos, mulheres e crianças poderiam fazer algo para provocar isso? — Respondeu ele entre dentes. — Aqueles não são soldados! São homens do Faraó!Esther sentiu seu coração apertar com a intensidade da resposta.O garoto apertou os punhos com força, o maxilar trincado de tanto conter a raiva. Ele continu
Esther se aproximou devagar e falou com suavidade:— Sua mão está bem machucada. Eu não encontrei nenhum remédio eficiente, mas pelo menos vou passar um pouco de antisséptico para limpar o ferimento. Se não cuidarmos disso, pode piorar, e talvez você nem consiga mais usar a mão. Ah, e ficar descontando sua raiva nessa bandeira não adianta nada.O garoto apertava os punhos, o olhar fixo no tecido rasgado da bandeira, como se estivesse enfrentando seus próprios demônios.— Um dia... — Disse ele, com com um tom de ódio. — Eu vou cortar a cabeça do Faraó com as minhas próprias mãos!A sua avó, sua irmãzinha e sua irmão caçula... Todos mortos pelas mãos dos homens do Faraó. Eles levaram o pai dele. Ninguém nunca mais soube dele. Ele odeia aquele maldito do Faraó!Esther ficou em silêncio por um momento, tentando encontrar as palavras certas.— Eu também não gosto dele. — Disse Esther. — Mas, antes de qualquer coisa, você precisa cuidar de si mesmo. Se você não estiver forte, como vai enfren
— Anda logo e tenta me acompanhar. Essa floresta está cheia de cobras venenosas. — Disse o garoto, lançando um olhar de advertência para Esther enquanto acelerava o passo. — Certo! — Respondeu ela, agora ainda mais atenta aos arredores.Eles caminharam por mais de uma hora, enfrentando o calor sufocante e o terreno irregular da floresta, até finalmente alcançarem uma clareira. Assim como o garoto havia mencionado, a saída da mata levava a um pequeno vilarejo.Esther observou com atenção o novo cenário. Diferente do lugar devastado que tinham deixado para trás, ali havia sinais de vida. As casas de barro, embora simples, estavam rodeadas de galinhas e patos que ciscavam tranquilamente. Havia pequenas hortas bem cuidadas. Na entrada do vilarejo, um homem vendia produtos em uma caminhonete.O garoto foi direto até o homem e começou a falar em uma língua que Esther não entendia. Após alguns minutos, o garoto se virou para ela.— Vamos ficar aqui por enquanto. Só tem um problema: eu não te