Ao ver a reação das crianças, o semblante de Marcelo mudou. Ele parecia genuinamente confuso, sem entender o que tinha feito para provocar tal choradeira.Esther, sempre ágil e maternal, imediatamente se abaixou e abraçou as crianças, tentando acalmá-las com um tom suave e tranquilizador.— Pronto, pronto... O senhor não é o lobo mau. Ele é uma pessoa muito boa, não foi ele que trouxe as doações para vocês? Não precisa ter medo dele. Crianças que choram não são nada legais, né?Com os rostinhos ainda molhados de lágrimas, os pequenos começaram a enxugar os olhos e, entre soluços, tentaram se acalmar.— A gente não pode chorar... Somos os mais corajosos! — Uma delas murmurou, tentando conter o choro.Mesmo assim, quando olhavam para Marcelo, os lábios ainda tremiam. Eles se esforçavam para não chorar, mas o desconforto era claro.Marcelo lançou um olhar em direção a Esther. A forma como ela lidava com as crianças o surpreendia. Havia um carinho tão natural em seus gestos, como se fosse
— Acho que já estamos de partida. — Disse Esther, lançando um último olhar para a diretora.— Espero vê-los novamente em breve. — Respondeu a diretora com um sorriso caloroso, acenando para eles.Marcelo, com uma expressão satisfeita, olhou para as crianças e, antes de se virar para sair, perguntou, como se quisesse se certificar de algo muito importante:— E não esqueçam, como é que vocês nos chamam?As crianças, em coro, responderam com entusiasmo:— Bonitão, bela!Os rostinhos ainda carregavam um traço de inocência, mas agora estavam cheios de gratidão e educação.Marcelo, no entanto, não estava totalmente satisfeito. Ele insistiu, como se estivesse testando-os:— E se não for para nos chamar de bonitão e bela, o que devem dizer?— Senhor, senhora! — Responderam rapidamente, como se já tivessem memorizado a lição depois de tantas repetições.Esther observou a cena, percebendo o quanto Marcelo levava essa questão a sério. Para ele, parecia um jogo de paciência, mas a vitória estava e
— Esse lugar é bem isolado. Se você descer aqui, vai ter que andar alguns quilômetros até chegar a um local movimentado. Não faça besteira, Esther. Impulso não é bem o seu forte. — Comentou Marcelo, com os olhos fixos na paisagem além da janela do carro, falando de forma calma, quase despretensiosa.Esther olhou pela janela e percebeu que ele tinha razão. A estrada deserta se estendia até onde seus olhos podiam ver, e provavelmente levaria horas de caminhada até que encontrasse algum sinal de civilização. Já estava anoitecendo, e quem sabe o que poderia aparecer pelo caminho. Talvez até animais selvagens...Decidiu que, por questões de segurança, seria melhor não insistir. Às vezes, ceder era a escolha mais inteligente. Ela se acomodou no assento, em silêncio, engolindo a irritação momentânea. O carro seguiu seu caminho até parar em frente à emissora de TV. Assim que estacionaram, Marcelo, ainda observando o prédio imponente à frente, perguntou com um tom quase casual:— Parece que a
Luiz ficou completamente sem palavras. Não conseguiu reagir de imediato, chocado com a cena que se desenrolava diante dele.Esther, por sua vez, também parecia surpresa. Seus olhos se fixaram em Marcelo, incrédula. Ele realmente carregava a certidão de casamento consigo? Era difícil de entender. Ela conhecia Marcelo há muito tempo, mas naquele momento, ele parecia um completo estranho.Marcelo segurava o documento com firmeza, desatando pacientemente as várias camadas de tecido que o envolviam, até que, finalmente, o pequeno livreto vermelho apareceu. Ele o ergueu bem alto, como se fosse um troféu, garantindo que Luiz pudesse ver claramente.— Essa é a nossa certidão de casamento, Sr. Luiz. Está vendo? Eu e Esther somos casados! — Provocou Marcelo, com um tom de voz repleto de satisfação.Luiz apertou os lábios, tentando processar a cena diante de si. Sua expressão se tornou séria, e ele fitou Marcelo com uma intensidade nova. Algo nos olhos de Marcelo o incomodava muito, era um orgulh
Luiz pegou o copo de vinho que estava ao lado e tomou um gole profundo. Ele sempre foi um homem controlado, racional. Mesmo nos momentos mais difíceis, mantinha a calma e sabia o seu lugar. Sempre esteve ali para Esther, em segundo plano, mas respeitando os limites de sua amizade. Nunca cruzou a linha, mesmo sabendo o que sentia por ela.Foi só quando bebeu demais que, certa vez, se permitiu confessar seus sentimentos. Sob o efeito do álcool, Luiz se abriu, compartilhando as frustrações que havia guardado por tanto tempo em seu coração. Mas então, soube que não podia avançar mais. Esther amava Marcelo, ele sempre soube disso. E esse era um dos motivos pelos quais ele nunca tentou mais. Ele não queria ser um fardo, não queria colocá-la em uma posição desconfortável. Acima de tudo, queria respeitá-la.Marcelo, no entanto, sempre foi diferente. Luiz admirava a forma como ele parecia agir sem medo, como se estivesse seguro de que o amor de Esther lhe pertencia. “Talvez seja assim para a
Marcelo entrou no pequeno apartamento de Esther e deu uma boa olhada ao redor. O espaço era tão pequeno que nem chegava a ter o tamanho do quarto deles na mansão. Caminhou lentamente, observando os detalhes. Tudo ali tinha a cara dela: organizado, limpo, sem excessos. Era um lar simples, mas aconchegante. E o que chamou sua atenção foi o par de chinelos felpudos com um desenho de coelhinho, largados logo na entrada.Ele levantou os olhos e olhou para Esther, que, ao perceber o foco de sua atenção, corou ligeiramente. Sem jeito, ela pegou os chinelos e os guardou rapidamente.— Já terminou de olhar? — Perguntou ela, um tanto impaciente.Marcelo ignorou a pergunta e se dirigiu ao pequeno sofá da sala. Era um sofá de dois lugares, simples, que contrastava fortemente com o luxo ao qual ele estava acostumado. Ele se sentou, analisando o ambiente e, com a voz baixa, comentou:— Está conseguindo se acostumar a morar aqui?— Dá pra se virar. — Respondeu Esther, seca.— Este lugar é muito peq
Agora, qualquer coisa que Marcelo dissesse parecia estranha para Esther. Ela respirou fundo, tentando manter a calma, e voltou a insistir:— Não tem espaço aqui para suas coisas.Marcelo olhou ao redor, observando o apartamento minuciosamente. Em seguida, abriu o armário e, notando um pequeno espaço vazio, respondeu com naturalidade:— Tem sim, aqui cabe. Eu não me importo com o espaço.Logo em seguida, ele deu uma ordem firme:— Gilberto!— Sim, senhor! — Respondeu Gilberto prontamente, começou a pendurar as roupas de Marcelo no armário com uma eficiência que parecia ensaiada.A rapidez com que eles trabalhavam dava a sensação de que, se hesitassem por um segundo, aquele espaço poderia ser ocupado por outra pessoa. Esther observava tudo, sem saber exatamente o que pensar. Por um lado, sentia que algo tinha mudado entre eles, mas, por outro, a realidade era que continuavam casados, e ela ainda não havia conseguido romper completamente o vínculo com Marcelo. Era como se, em vez de se a
Esther estava decidida a não dar mais atenção a Marcelo. Quando se preparava para sair da cozinha, Marcelo se virou de repente, os olhos cruzando os dela, e perguntou com um tom despreocupado:— Já está com fome? Já está quase pronto.Ela parou no meio do caminho, endireitando o corpo para encará-lo de frente.— Só quero saber quando você vai embora.Mas Marcelo desviou da pergunta, como se não fosse relevante.— Daqui a dez minutos a comida estará na mesa.Com essa resposta, ele voltou sua atenção para a panela, ignorando completamente o questionamento dela. Estava claro que ele preferia se concentrar na refeição que preparava do que em enfrentar a verdade da relação deles.Dez minutos depois, como prometido, Marcelo apareceu na sala carregando uma tigela fumegante de sopa de galinha. Ele a colocou delicadamente sobre a mesa, pegou uma toalha e secou as mãos antes de se virar para Esther.— Venha, está pronto. — Disse ele, com um sorriso de satisfação no rosto.Esther observou o cenár