Esther estava decidida a não dar mais atenção a Marcelo. Quando se preparava para sair da cozinha, Marcelo se virou de repente, os olhos cruzando os dela, e perguntou com um tom despreocupado:— Já está com fome? Já está quase pronto.Ela parou no meio do caminho, endireitando o corpo para encará-lo de frente.— Só quero saber quando você vai embora.Mas Marcelo desviou da pergunta, como se não fosse relevante.— Daqui a dez minutos a comida estará na mesa.Com essa resposta, ele voltou sua atenção para a panela, ignorando completamente o questionamento dela. Estava claro que ele preferia se concentrar na refeição que preparava do que em enfrentar a verdade da relação deles.Dez minutos depois, como prometido, Marcelo apareceu na sala carregando uma tigela fumegante de sopa de galinha. Ele a colocou delicadamente sobre a mesa, pegou uma toalha e secou as mãos antes de se virar para Esther.— Venha, está pronto. — Disse ele, com um sorriso de satisfação no rosto.Esther observou o cenár
Marcelo franziu a testa, visivelmente irritado, e respondeu com um tom frio:— Será que podemos falar sobre nós dois sem trazer outras pessoas para essa conversa?Esther riu, mas seu riso era ácido.— Quando você estava enrolado com a Sofia, também não parecia ser outra pessoa, né? Marcelo, eu realmente não consigo entender você. Eu já deixei o caminho livre para vocês dois, o que mais você quer?— Você está falando dessas passagens para a França? — Marcelo levantou os bilhetes no ar, agitando-os levemente. — Você me diz que vai comigo para a França, mas na verdade compra passagens para mim e para Sofia. É isso que você chama de me deixar livre?Esther olhou rapidamente para os bilhetes e respondeu com indiferença:— Mas você não foi, não é?Com um movimento rápido, Marcelo rasgou os bilhetes ao meio e jogou os pedaços rasgados na mesa. Seus olhos se fixaram nos de Esther com uma intensidade gélida, como se quisesse arrancar a verdade dela à força.— Você acha que está me fazendo um fa
Assim que terminou de falar, Esther se virou e correu para o quarto, batendo a porta com força atrás de si, como se quisesse isolar todo o caos que estava do lado de fora.No instante em que a porta se fechou, o silêncio tomou conta da sala. Marcelo continuou sentado na cadeira, seu olhar perdido no vazio, como se ainda tentasse processar tudo o que havia acabado de acontecer. Ele ficou ali, imóvel, por vários minutos, lutando para entender os motivos de Esther. Marcelo não conseguia aceitar que Esther estivesse disposta a carregar a criança de outro homem, um homem que, para ele, não valia nada. Afinal, o pai desse bebê nem sequer se importava com ela. Ele não sabia que Esther estava grávida, não sabia que ela vivia naquele pequeno apartamento, e, acima de tudo, nunca se preocupou com ela.Essa linha de pensamento só fazia Marcelo se sentir ainda mais derrotado. Não importava o que ele fizesse, parecia que Esther nunca ficaria satisfeita. Ele tentou de tudo, até mesmo preparou uma so
Era comum que os homens tivessem uma certa rebeldia dentro de si, aquela tendência de desprezar o que outros escolhiam por eles. Marcelo sempre achou que isso se aplicava a ele, principalmente em relação ao casamento arranjado com Esther. Porém, agora ele estava começando a ver as coisas de um jeito diferente. A verdade era que Marcelo estava muito mais envolvido com Esther do que queria admitir.— Não tem como ser o segundo motivo. — Disse Marcelo com a voz fria, endurecida pela raiva. — Ela tem outro cara na cabeça... E agora, até um filho desse sujeito!Ao ouvir isso, Hélio ficou em silêncio por um momento, processando as palavras do amigo. Um filho? Não era possível. Ele nunca tinha ouvido falar de nada assim.— Você tem certeza? — Hélio perguntou, ainda tentando assimilar a informação.— Se eu não tivesse certeza, acha que eu te diria isso? — Replicou Marcelo, sua voz grave, quase em tom de desafio.Hélio fez uma pausa, ainda duvidando.— E você tem certeza de que o filho não é
Quando Esther acordou, percebeu que o quarto estava vazio. Não havia mais ninguém ali, apenas o resquício de lágrimas ainda molhando seus olhos. A lembrança da discussão da noite anterior com Marcelo veio à tona. Ela estendeu a mão para o lado da cama, mas a ausência de qualquer indício de que alguém tivesse dormido ali a fez concluir que Marcelo tinha ido embora na noite passada.Suspirando, ela se levantou da cama, com o coração apertado, e caminhou até o guarda-roupa. Abriu a porta e, ao ver que as roupas de Marcelo ainda estavam lá, sentiu uma onda de alívio misturado com frustração. Aquilo significava que ele não pretendia ir embora de vez, que ele ainda iria voltar para continuar a se envolver em sua vida, para o bem ou para o mal. Esther fechou os olhos e soltou outro suspiro. Seu coração, que antes estava um pouco mais aliviado, voltou a sentir o peso das incertezas.Decidida a começar o dia, ela foi até o banheiro, tomou um banho para tentar se livrar daquela sensação pesada
Gabriela olhou para Esther, ainda irritada por dentro, mas sabia que para conseguir aquela entrevista exclusiva com Marcelo, precisaria da ajuda dela. Não havia outra alternativa. Além disso, garantir esse furo de reportagem seria a única maneira de recuperar o prestígio que havia perdido recentemente.Assim que Anabela saiu da redação, Gabriela não perdeu tempo e foi até a mesa de Esther. Seu tom estava visivelmente mais suave desta vez:— Esther, sobre o que conversamos ontem... O que você acha? Pensou no que te propus?— Acho que já te respondi ontem. — Disse Esther, sem sequer levantar o olhar para ela.Gabriela sentiu o sangue subir à cabeça, quase explodindo de raiva, mas conseguiu se controlar. Em situações normais, qualquer um que a enfrentasse assim receberia o troco na mesma moeda, mas sabia que, com Esther, precisava manter a calma por enquanto. No entanto, ela estava decidida. Assim que esse projeto fosse concluído, ela faria questão de dar uma boa lição em Esther.— Olha,
Eduarda ficou pensativa por alguns instantes. A resposta de Esther mostrava que ela não era apenas inteligente, mas também estava consciente das dinâmicas de poder naquele ambiente corporativo.Mudando o foco da conversa, ela perguntou:— Estamos indo agora pro orfanato?— Sim. A chefe quer que a gente dê uma olhada. Vamos comprar algumas coisas no caminho, depois pedimos o reembolso pra emissora. Isso tudo faz parte de uma ação de caridade. — Respondeu Esther, desviando o olhar rapidamente para a colega. — Pode ser que tenha algo maior por trás. Talvez eles estejam planejando usar esse projeto do orfanato em algum programa importante, ou até num reality show. Algo que cause impacto, sabe? Isso, claro, é só uma suposição minha.— Ah, você tá chutando ou recebeu algum sinal? — Eduarda perguntou, intrigada.— Nada confirmado. Mas quando a chefe começa a fazer muitas perguntas e parece mais interessada do que o normal, dá pra desconfiar que algo a mais está por vir. A gente vai saber logo
A diretora do orfanato assentiu lentamente, com os olhos cheios de lágrimas prestes a cair. A tristeza e o medo transpareciam em sua expressão.— Eles disseram que você mexeu no “bolo” deles, e agora vão mexer no seu. Disseram que você não pode mais vir aqui, Sra. Esther. E ameaçaram... Se você aparecer novamente, vai sobrar pra gente. Eu... Eu realmente não quero te afastar, Sra. Esther, mas as crianças... Não posso deixar que elas se machuquem. — A voz dela tremia, com um desespero quase evidente.— Isso é um absurdo! — Exclamou Eduarda, indignada, o rosto cheio de revolta. — Não importa o que tenha acontecido, tocar nas crianças? Isso é monstruoso, inaceitável! — Desculpe, diretora. Eu... Eu não queria que isso acontecesse. Eu nunca quis colocar vocês em perigo. Ela não imaginava que chegariam a esse ponto, que fariam algo tão baixo como atacar um orfanato, ainda mais machucar pessoas inocentes.— Não, Sra. Esther! — A diretora se apressou a dizer. — Você trouxe tanto para as cria