Luiz pegou o copo de vinho que estava ao lado e tomou um gole profundo. Ele sempre foi um homem controlado, racional. Mesmo nos momentos mais difíceis, mantinha a calma e sabia o seu lugar. Sempre esteve ali para Esther, em segundo plano, mas respeitando os limites de sua amizade. Nunca cruzou a linha, mesmo sabendo o que sentia por ela.Foi só quando bebeu demais que, certa vez, se permitiu confessar seus sentimentos. Sob o efeito do álcool, Luiz se abriu, compartilhando as frustrações que havia guardado por tanto tempo em seu coração. Mas então, soube que não podia avançar mais. Esther amava Marcelo, ele sempre soube disso. E esse era um dos motivos pelos quais ele nunca tentou mais. Ele não queria ser um fardo, não queria colocá-la em uma posição desconfortável. Acima de tudo, queria respeitá-la.Marcelo, no entanto, sempre foi diferente. Luiz admirava a forma como ele parecia agir sem medo, como se estivesse seguro de que o amor de Esther lhe pertencia. “Talvez seja assim para a
Marcelo entrou no pequeno apartamento de Esther e deu uma boa olhada ao redor. O espaço era tão pequeno que nem chegava a ter o tamanho do quarto deles na mansão. Caminhou lentamente, observando os detalhes. Tudo ali tinha a cara dela: organizado, limpo, sem excessos. Era um lar simples, mas aconchegante. E o que chamou sua atenção foi o par de chinelos felpudos com um desenho de coelhinho, largados logo na entrada.Ele levantou os olhos e olhou para Esther, que, ao perceber o foco de sua atenção, corou ligeiramente. Sem jeito, ela pegou os chinelos e os guardou rapidamente.— Já terminou de olhar? — Perguntou ela, um tanto impaciente.Marcelo ignorou a pergunta e se dirigiu ao pequeno sofá da sala. Era um sofá de dois lugares, simples, que contrastava fortemente com o luxo ao qual ele estava acostumado. Ele se sentou, analisando o ambiente e, com a voz baixa, comentou:— Está conseguindo se acostumar a morar aqui?— Dá pra se virar. — Respondeu Esther, seca.— Este lugar é muito peq
Agora, qualquer coisa que Marcelo dissesse parecia estranha para Esther. Ela respirou fundo, tentando manter a calma, e voltou a insistir:— Não tem espaço aqui para suas coisas.Marcelo olhou ao redor, observando o apartamento minuciosamente. Em seguida, abriu o armário e, notando um pequeno espaço vazio, respondeu com naturalidade:— Tem sim, aqui cabe. Eu não me importo com o espaço.Logo em seguida, ele deu uma ordem firme:— Gilberto!— Sim, senhor! — Respondeu Gilberto prontamente, começou a pendurar as roupas de Marcelo no armário com uma eficiência que parecia ensaiada.A rapidez com que eles trabalhavam dava a sensação de que, se hesitassem por um segundo, aquele espaço poderia ser ocupado por outra pessoa. Esther observava tudo, sem saber exatamente o que pensar. Por um lado, sentia que algo tinha mudado entre eles, mas, por outro, a realidade era que continuavam casados, e ela ainda não havia conseguido romper completamente o vínculo com Marcelo. Era como se, em vez de se a
Esther estava decidida a não dar mais atenção a Marcelo. Quando se preparava para sair da cozinha, Marcelo se virou de repente, os olhos cruzando os dela, e perguntou com um tom despreocupado:— Já está com fome? Já está quase pronto.Ela parou no meio do caminho, endireitando o corpo para encará-lo de frente.— Só quero saber quando você vai embora.Mas Marcelo desviou da pergunta, como se não fosse relevante.— Daqui a dez minutos a comida estará na mesa.Com essa resposta, ele voltou sua atenção para a panela, ignorando completamente o questionamento dela. Estava claro que ele preferia se concentrar na refeição que preparava do que em enfrentar a verdade da relação deles.Dez minutos depois, como prometido, Marcelo apareceu na sala carregando uma tigela fumegante de sopa de galinha. Ele a colocou delicadamente sobre a mesa, pegou uma toalha e secou as mãos antes de se virar para Esther.— Venha, está pronto. — Disse ele, com um sorriso de satisfação no rosto.Esther observou o cenár
Marcelo franziu a testa, visivelmente irritado, e respondeu com um tom frio:— Será que podemos falar sobre nós dois sem trazer outras pessoas para essa conversa?Esther riu, mas seu riso era ácido.— Quando você estava enrolado com a Sofia, também não parecia ser outra pessoa, né? Marcelo, eu realmente não consigo entender você. Eu já deixei o caminho livre para vocês dois, o que mais você quer?— Você está falando dessas passagens para a França? — Marcelo levantou os bilhetes no ar, agitando-os levemente. — Você me diz que vai comigo para a França, mas na verdade compra passagens para mim e para Sofia. É isso que você chama de me deixar livre?Esther olhou rapidamente para os bilhetes e respondeu com indiferença:— Mas você não foi, não é?Com um movimento rápido, Marcelo rasgou os bilhetes ao meio e jogou os pedaços rasgados na mesa. Seus olhos se fixaram nos de Esther com uma intensidade gélida, como se quisesse arrancar a verdade dela à força.— Você acha que está me fazendo um fa
Assim que terminou de falar, Esther se virou e correu para o quarto, batendo a porta com força atrás de si, como se quisesse isolar todo o caos que estava do lado de fora.No instante em que a porta se fechou, o silêncio tomou conta da sala. Marcelo continuou sentado na cadeira, seu olhar perdido no vazio, como se ainda tentasse processar tudo o que havia acabado de acontecer. Ele ficou ali, imóvel, por vários minutos, lutando para entender os motivos de Esther. Marcelo não conseguia aceitar que Esther estivesse disposta a carregar a criança de outro homem, um homem que, para ele, não valia nada. Afinal, o pai desse bebê nem sequer se importava com ela. Ele não sabia que Esther estava grávida, não sabia que ela vivia naquele pequeno apartamento, e, acima de tudo, nunca se preocupou com ela.Essa linha de pensamento só fazia Marcelo se sentir ainda mais derrotado. Não importava o que ele fizesse, parecia que Esther nunca ficaria satisfeita. Ele tentou de tudo, até mesmo preparou uma so
Era comum que os homens tivessem uma certa rebeldia dentro de si, aquela tendência de desprezar o que outros escolhiam por eles. Marcelo sempre achou que isso se aplicava a ele, principalmente em relação ao casamento arranjado com Esther. Porém, agora ele estava começando a ver as coisas de um jeito diferente. A verdade era que Marcelo estava muito mais envolvido com Esther do que queria admitir.— Não tem como ser o segundo motivo. — Disse Marcelo com a voz fria, endurecida pela raiva. — Ela tem outro cara na cabeça... E agora, até um filho desse sujeito!Ao ouvir isso, Hélio ficou em silêncio por um momento, processando as palavras do amigo. Um filho? Não era possível. Ele nunca tinha ouvido falar de nada assim.— Você tem certeza? — Hélio perguntou, ainda tentando assimilar a informação.— Se eu não tivesse certeza, acha que eu te diria isso? — Replicou Marcelo, sua voz grave, quase em tom de desafio.Hélio fez uma pausa, ainda duvidando.— E você tem certeza de que o filho não é
Quando Esther acordou, percebeu que o quarto estava vazio. Não havia mais ninguém ali, apenas o resquício de lágrimas ainda molhando seus olhos. A lembrança da discussão da noite anterior com Marcelo veio à tona. Ela estendeu a mão para o lado da cama, mas a ausência de qualquer indício de que alguém tivesse dormido ali a fez concluir que Marcelo tinha ido embora na noite passada.Suspirando, ela se levantou da cama, com o coração apertado, e caminhou até o guarda-roupa. Abriu a porta e, ao ver que as roupas de Marcelo ainda estavam lá, sentiu uma onda de alívio misturado com frustração. Aquilo significava que ele não pretendia ir embora de vez, que ele ainda iria voltar para continuar a se envolver em sua vida, para o bem ou para o mal. Esther fechou os olhos e soltou outro suspiro. Seu coração, que antes estava um pouco mais aliviado, voltou a sentir o peso das incertezas.Decidida a começar o dia, ela foi até o banheiro, tomou um banho para tentar se livrar daquela sensação pesada