Esther não era tola. Já tinha ouvido falar bastante sobre Gabriela através de outras pessoas. Sabia que ela sempre queria ser a melhor em tudo e nunca permitiria que alguém novo na equipe ofuscasse seu brilho.Ao perceber que havia sido desmascarada de forma tão precisa, Gabriela ficou com a cara no chão e uma raiva crescente em seu peito.— Chega de conversa fiada, você tem que ir comigo! — Disse Gabriela, tentando manter a autoridade.— Tenho outras coisas para fazer. Vou indo! — Esther, no entanto, permaneceu firme.Ela passou diretamente por Gabriela, deixando claro que não se deixaria ser manipulada.Gabriela, vendo seu controle escorrer pelos dedos, bateu o pé no chão, frustrada, e gritou:— Esther!Mas Esther nem se virou para responder, continuando seu caminho como se Gabriela não existisse. Todo o escritório assistiu à cena em silêncio, sem ousar dizer uma palavra. Nunca tinham visto alguém tratar Gabriela com tanto desprezo.Saindo da emissora, Esther chamou um táxi e seguiu
Depois de entender melhor a situação do orfanato, Esther saiu do prédio e avistou uma menininha de uns três ou quatro anos sentada sob uma árvore de bambu, com um doce nas mãos, olhando para ele com uma concentração que comoveu Esther.Ao ver aquela cena, ela se aproximou, sentando-se ao lado da pequena.— Esther. — Chamou a menina, com uma voz doce e inocente, levantando o olhar cheio de ternura.— Por que você não está comendo o doce? — Esther sorriu e perguntou.A menina baixou os olhos, segurando o doce com delicadeza em suas pequenas mãos e, com uma voz suave, respondeu:— Eu não quero gastar tudo de uma vez.— E por que não? — Esther perguntou, curiosa.— Eu ouvi eles falando que esse doce é uma delícia, o melhor que eles já comeram. — Disse a menina, lambendo os lábios. — Tenho medo de acabar e nunca mais ter outro. Então eu pensei em lamber só um pouquinho de cada vez, assim vai durar mais, por muito tempo...Ela deu uma leve lambida no doce, com todo o cuidado, como se fosse a
As palavras de Marcelo eram diretas e um tanto ríspidas, mas suas ações diziam o contrário. Embora o Grupo Mendes já tivesse feito várias ações beneficentes, Marcelo nunca havia se envolvido pessoalmente dessa forma antes. — Não é que só eu possa vir aqui. É que, assim que eu chego, logo depois você aparece e manda os caminhões com doações. Não tem como não achar estranho. Mas se você diz que não foi, então eu não vou perguntar mais nada. — Esther então comentou.Ela sabia que tinha outras prioridades e não podia se dar ao luxo de ficar discutindo com Marcelo. Além do mais, ele claramente não estava nada satisfeito com a presença dela ali.Marcelo, por outro lado, franziu as sobrancelhas ao vê-la desinteressada com a situação. Ele já estava insatisfeito com várias atitudes dela, e agora sua frieza parecia ser a gota d’água.De repente, uma gritaria infantil interrompeu seus pensamentos.— Senhor! Senhor! — Várias crianças começaram a correr em direção ao carro de Marcelo, seus pequeno
Ao ver a reação das crianças, o semblante de Marcelo mudou. Ele parecia genuinamente confuso, sem entender o que tinha feito para provocar tal choradeira.Esther, sempre ágil e maternal, imediatamente se abaixou e abraçou as crianças, tentando acalmá-las com um tom suave e tranquilizador.— Pronto, pronto... O senhor não é o lobo mau. Ele é uma pessoa muito boa, não foi ele que trouxe as doações para vocês? Não precisa ter medo dele. Crianças que choram não são nada legais, né?Com os rostinhos ainda molhados de lágrimas, os pequenos começaram a enxugar os olhos e, entre soluços, tentaram se acalmar.— A gente não pode chorar... Somos os mais corajosos! — Uma delas murmurou, tentando conter o choro.Mesmo assim, quando olhavam para Marcelo, os lábios ainda tremiam. Eles se esforçavam para não chorar, mas o desconforto era claro.Marcelo lançou um olhar em direção a Esther. A forma como ela lidava com as crianças o surpreendia. Havia um carinho tão natural em seus gestos, como se fosse
— Acho que já estamos de partida. — Disse Esther, lançando um último olhar para a diretora.— Espero vê-los novamente em breve. — Respondeu a diretora com um sorriso caloroso, acenando para eles.Marcelo, com uma expressão satisfeita, olhou para as crianças e, antes de se virar para sair, perguntou, como se quisesse se certificar de algo muito importante:— E não esqueçam, como é que vocês nos chamam?As crianças, em coro, responderam com entusiasmo:— Bonitão, bela!Os rostinhos ainda carregavam um traço de inocência, mas agora estavam cheios de gratidão e educação.Marcelo, no entanto, não estava totalmente satisfeito. Ele insistiu, como se estivesse testando-os:— E se não for para nos chamar de bonitão e bela, o que devem dizer?— Senhor, senhora! — Responderam rapidamente, como se já tivessem memorizado a lição depois de tantas repetições.Esther observou a cena, percebendo o quanto Marcelo levava essa questão a sério. Para ele, parecia um jogo de paciência, mas a vitória estava e
— Esse lugar é bem isolado. Se você descer aqui, vai ter que andar alguns quilômetros até chegar a um local movimentado. Não faça besteira, Esther. Impulso não é bem o seu forte. — Comentou Marcelo, com os olhos fixos na paisagem além da janela do carro, falando de forma calma, quase despretensiosa.Esther olhou pela janela e percebeu que ele tinha razão. A estrada deserta se estendia até onde seus olhos podiam ver, e provavelmente levaria horas de caminhada até que encontrasse algum sinal de civilização. Já estava anoitecendo, e quem sabe o que poderia aparecer pelo caminho. Talvez até animais selvagens...Decidiu que, por questões de segurança, seria melhor não insistir. Às vezes, ceder era a escolha mais inteligente. Ela se acomodou no assento, em silêncio, engolindo a irritação momentânea. O carro seguiu seu caminho até parar em frente à emissora de TV. Assim que estacionaram, Marcelo, ainda observando o prédio imponente à frente, perguntou com um tom quase casual:— Parece que a
Luiz ficou completamente sem palavras. Não conseguiu reagir de imediato, chocado com a cena que se desenrolava diante dele.Esther, por sua vez, também parecia surpresa. Seus olhos se fixaram em Marcelo, incrédula. Ele realmente carregava a certidão de casamento consigo? Era difícil de entender. Ela conhecia Marcelo há muito tempo, mas naquele momento, ele parecia um completo estranho.Marcelo segurava o documento com firmeza, desatando pacientemente as várias camadas de tecido que o envolviam, até que, finalmente, o pequeno livreto vermelho apareceu. Ele o ergueu bem alto, como se fosse um troféu, garantindo que Luiz pudesse ver claramente.— Essa é a nossa certidão de casamento, Sr. Luiz. Está vendo? Eu e Esther somos casados! — Provocou Marcelo, com um tom de voz repleto de satisfação.Luiz apertou os lábios, tentando processar a cena diante de si. Sua expressão se tornou séria, e ele fitou Marcelo com uma intensidade nova. Algo nos olhos de Marcelo o incomodava muito, era um orgulh
Luiz pegou o copo de vinho que estava ao lado e tomou um gole profundo. Ele sempre foi um homem controlado, racional. Mesmo nos momentos mais difíceis, mantinha a calma e sabia o seu lugar. Sempre esteve ali para Esther, em segundo plano, mas respeitando os limites de sua amizade. Nunca cruzou a linha, mesmo sabendo o que sentia por ela.Foi só quando bebeu demais que, certa vez, se permitiu confessar seus sentimentos. Sob o efeito do álcool, Luiz se abriu, compartilhando as frustrações que havia guardado por tanto tempo em seu coração. Mas então, soube que não podia avançar mais. Esther amava Marcelo, ele sempre soube disso. E esse era um dos motivos pelos quais ele nunca tentou mais. Ele não queria ser um fardo, não queria colocá-la em uma posição desconfortável. Acima de tudo, queria respeitá-la.Marcelo, no entanto, sempre foi diferente. Luiz admirava a forma como ele parecia agir sem medo, como se estivesse seguro de que o amor de Esther lhe pertencia. “Talvez seja assim para a