MayaSaíram com Victor por outra porta e eu não pude vê-lo. Uma enfermeira nos tirou da emergência e nos levou até a sala de espera, no andar da cirurgia. Ela indicou-me um banheiro, onde eu podia tentar limpar o sangue que estava em minhas mãos, antebraço direito e um pouco em meu vestido, em cima do seio direito. Minha avó me levou até lá e ajudou-me a me limpar o que foi possível. Quando saímos do banheiro, encontramos tia Jenna com uma bolsa nas mãos.— Disseram que vocês estavam aqui — disse ela ao aproximar de nós. — Trouxe umas roupas. Sei que vai precisar. — Estendeu-me a bolsa.— Vem — chamou minha avó pegando a bolsa da mão da tia Jenna. — Vou lhe ajudar a tirar esse vestido sujo de sangue.Voltamos ao banheiro e ela ajudou-me a trocar de roupa. Vesti uma calça e uma camiseta, calcei as mesmas botas de cano baixo e voltamos para a sala de espera, nos sentando e ficando no aguardo por mais notícias do Victor. Passaram-se longas horas era uma cirurgia simples, mas tinha consciê
Maya— Bom dia — disse o médico ao entrar no quarto. — Como passou a noite? — perguntou ao Victor pegando seu prontuário sobre a pequena mesa nos pés da cama.— Dormi a noite toda — respondeu Victor.— Ótimo. Sente dor?— Não.— Vou levá-lo para repetir os exames e se tudo estiver bem, vou liberá-lo amanhã para casa. E você, mocinha? — perguntou virando-se para mim. — Está mais calma?— Estou — respondi chegando mais perto da cama e pegando a mão do Victor.— Sua filha esteve bastante preocupada com você — disse o médico sorrindo para mim e depois olhou para Victor, que fechou seu semblante enrugando a testa.— Ela não é minha filha — disse Victor rude, entrelaçando nossos dedos.O médico arregalou os olhos surpreso e nos encarou sem graça. Seu olhar desceu para nossas mãos unidas e só então ele entendeu.— Desculpem-me, eu...— Tudo bem — interrompi-o. — Vou esperá-lo aqui — disse ao Victor curvando-me até seus lábios e os selando com um beijo delicado e demorado.Levaram-no e eu apro
Maya— Pensando em quê? — perguntou Victor ao sair do banheiro, tirando-me dos pensamentos.Olhei para ele e sorri ao vê-lo sem camiseta. Como pode um homem com sua idade ser tão bonito e ter um corpo tão invejável? Que delícia de homem.— Sente aqui comigo — chamei-o batendo a palma da mão, sutilmente sobre o assento no sofá, à minha esquerda.Victor caminhou até mim e sentou-se vagarosamente ao meu lado.— Acho que você precisa descansar, querida — disse segurando minha mão.— Vou descansar quando formos embora daqui. — Sorri para ele, entrelaçando nossos dedos.— Para Houston? — perguntou com um sorriso no rosto.Abaixei minha cabeça e encarei nossas mãos juntas, pensando em como começaria esta conversa.— Sobre Houston, eu...— Tudo bem se não quiser ir morar comigo agora, Maya — interrompeu-me. — Só a quero por perto todos os dias, independente de estarmos morando na mesma casa ou não. — Aproximei mais, juntando nossos corpos e nossos rostos.— Nós nos veremos todos os dias, se po
MayaQuando cheguei no final do corredor, encontrei-me de frente com Noberto. Ele sorriu para mim, mas logo o desfez ao notar meus olhos molhados pelo choro e a bolsa em minha mão.— O que houve, Maya? — perguntou entregando sua preocupação na voz.— Ele está com a esposa dele — respondi engolindo o choro que subia embolado por minha garganta.— Espere — pediu apoiando sua mão em meu ombro esquerdo. — Logo ele irá colocá-la para fora.— Vou ter que viver sempre com isso? Ela aparece, eu tenho que sair de cena e esperar que ele a coloque para fora?Noberto deu-me um olhar de consolo e curvou seus lábios em um sorriso mínimo de compaixão.— Eu vou para casa.— Eu a levo — disse pegando a bolsa da minha mão e caminhando ao meu lado.— Maya! — A voz fina e intolerável da Eliza, ecoou pelo corredor ao chamar por mim.Parei e virei-me para trás a vendo se aproximar a passos largos, batendo seus saltos finos no chão liso do hospital. Um tapa ardeu em meu rosto, fazendo-me virar a cabeça para
Maya— Eu escutei vocês falarem sobre uma Hanna, no escritório aquele dia. Quem é ela? Eliza me disse naquele jantar de negócios, que você agrediu uma garota e a mandou para o hospital. Não que eu acredite que isso seja verdade, porque eu não acredito.— Eu não a agredi! — afirmou furioso. — Ela foi minha submissa por alguns meses, cerca de um ano atrás. Eliza descobriu sobre ela e ficou enfurecida, foi atrás da garota com ameaças. Foi ela quem pagou um homem para agredir a Hanna. A menina foi parar no hospital e depois na delegacia, ameaçando prestar queixa contra mim por agressão física. Ela sabia que quem havia feito aquilo era a Eliza, mas mesmo assim usou o acontecido contra mim. Para a Hanna fechar a boca e ir embora, dei a ela a quantia em dinheiro que me exigiu e, desde então, ela sumiu no mundo e nunca mais a vi. No fim, Hanna não passava de uma vadia interesseira — disse com amargura na voz.— Eu sinto muito por tudo o que passou com seu primeiro casamento. Você não merece ta
MayaO céu já estava escurecendo e os pais colocavam seus filhos para dentro. Aproximei-me da bicicleta para pegá-la e ir devolvê-la, mas o filho do vizinho ao lado se ofereceu gentilmente para levá-la até a menina. Agradeci a ele e tomei o rumo de casa. Antes de atravessar a rua, olhei para a esquina e vi que havia um carro preto estacionado com o vidro do passageiro meio aberto. Segui em frente e, antes que eu pudesse entrar na varanda, uma luz fraca piscou em minha direção. Cravei meus pés no chão e olhei novamente para o carro, que fechava os vidros e dava partida no motor. Tentei não me assustar com isso, pensando apenas que poderia ser mais um paparazzo.Entrei em casa e subi direto para meu quarto, depois de trancar todas as portas e janelas. Tomei um banho relaxante na banheira e deitei-me na cama com o celular na mão, encarando seu visor na esperança de que Victor me ligasse, mas foi agarrada a ele e a essa esperança, que adormeci, mas acordei horas depois com o toque estriden
MayaQuando chegamos, ele me levou direto para o quarto e sentou-me na cama. Contei a ele tudo o que houve e ele consolou-me da melhor maneira possível. Primeiro, ele tomou um banho bem quente comigo na banheira e depois vestiu-me em uma camiseta sua, me levando para a cama. Ele se deitou agarrado a mim, permitindo que eu sentisse o seu cheiro. Fiquei mais calma no calor dos seus braços, que me davam uma sensação boa de proteção. Ele beijou meus lábios de forma lenta e carinhosa, acariciou meus cabelos e meu corpo, até que eu adormecesse aos seus cuidados.Acordei com beijos no pescoço e em meu rosto. Abri meus olhos preguiçosamente e enxerguei as portas abertas que levavam à varanda. Uma brisa fresca invadia o quarto, fazendo as cortinas flutuarem pelo ar.— Bom dia — sussurrou Victor em meu ouvido.— Bom dia. — Virei-me para ele.— Como está se sentindo?— Melhor. Como está o seu ombro? — perguntei acariciando de leve o local.— Cicatrizando sem dor — respondeu com um sorriso confian
MayaFazia sete dias que minha mãe só dormia, sem exibir nenhum reflexo. Outro médico agora era responsável pelo caso dela e assim como nós da família e nossos advogados, ele também achava bastante estranho que não tenha sido notado o inchaço no coração da minha mãe ou a diabetes descontrolada. O próprio acreditava ser negligência médica por parte do médico anterior e das três enfermeiras responsáveis por acompanhar minha mãe no último mês. Victor precisou voltar há dois dias para Houston, foi necessário por causa do seu trabalho que estava boa parte lá. Ele quis muito que eu fosse com ele, mas eu não podia deixar minha mãe e minha família. Todos os dias, tinha quinze minutos com ela na UTI e os aproveitava da melhor maneira. Lendo um capítulo do seu romance favorito: Guerra e Paz, de Tolstói.Meus dias estavam sendo cinzas e pesados, ainda mais depois que o médico nos disse que talvez ela nunca mais acordasse, ou acordasse hoje ou daqui a um mês, não dava para saber quando isso ia aco