MayaCaminhei pacientemente e de cabeça baixa pelo passeio de pedras que cortava o estacionamento levando até um ponto de táxi na calçada, pensando na minha mãe que havia ficado dormindo e nessa situação difícil que enfrentávamos.— Maya!Parei e virei-me para trás.— Noberto! — exclamei sorridente e feliz em vê-lo. — Como vai? — perguntei aproximando-me dele.— Bem e você?— Eu estou bem. Minha mãe finalmente acordou. — Compartilhei alegre a notícia.— Eu soube, Victor me disse. Fico muito feliz por você e sua família.— Como ele soube? — Não resisti a perguntá-lo.— Clarice. Mas saiba que ela não contou por mal.— Tudo bem. — Respirei fundo e lhe dei um sorriso forçado. — Eu tenho que ir agora. Foi bom rever você. — Fiz menção de afastar-me.— Espere, por favor! — pediu tocando meu braço. — Estou aqui para falar com você.— Se for sobre ele, não quero saber.— Você o viu?— Você sabe que sim.— Então notou como ele está. Notou sua aparência devastada.— Honestamente, não me interess
Maya— Olha só, não tem nada de mais nessas fotos, okay? São apenas fotos de lingerie. Peças que toda mulher usa, incluindo as esposas e namoradas de quem estão fazendo piadinhas com o meu ensaio. O que há de errado nelas? Achei que você fosse gostar, sempre elogia meu corpo e diz que sou bonita!— E você é, Maya! E está certa, gosto do seu corpo, mas à mostra desse jeito eu gosto somente para mim e entre quatro paredes. Não sensualizando em páginas de revistas, que correm à solta por aí nas mãos dos meus policiais e do resto dos homens dessa cidade maldita! — disse ainda alterado.— Quer saber, Allan? Você está sendo um machista filho da puta, e já se foi a época que eu aceitaria isso de um homem. Não vou discutir esse assunto com você por telefone. A gente se fala quando eu voltar. — Encerrei a ligação e respirei fundo sentindo-me estressada mais uma vez.— Está tudo bem? — perguntou Clarice.— Está sim. Desculpe-me pelos gritos, é só que me alterei com alguém.— Quem é Allan? — per
Maya— Você saiu cedo para correr? — perguntou Sammy quando entrei pela porta da frente.— Sim. Bom dia. — Sorri.— Queria ainda ter esse ânimo.— Talvez amanhã vocês devam ir juntos — falou Clarice ao passar por nós indo para a cozinha. — Esse homem precisa se exercitar, Maya, são ordens médicas. Me ajude, querida, por favor. Já faz um mês que tento fazê-lo dar ao menos uma volta no quarteirão.— Deixe comigo. — Sorri e pisquei para ela. — Vou tomar um banho e depois desço para o café.— Tudo bem. Não vou ao hospital agora, mas vou deixar para você a chave do carro que era da Grace. Estará no porta-chaves perto da porta da frente.— Obrigada, Clarice.— Sem problemas.Tomei meu banho e me vesti calmamente. Depois do café, peguei o carro e fui para o hospital parando no caminho para abastecer. Foi impossível não me lembrar de todas as presepadas que eu e Grace fizemos juntas com aquele carro na época da escola. Ela me dava carona todos os dias e quando íamos às festas clandestinas no
MayaFui até a cozinha e ao entrar, vi que a empregada começava a preparar o almoço. Um jarro de cristal estava sobre a mesa do café com um lindo buquê de rosas brancas e desabrochadas. Ao me aproximar, meu peito se encheu de felicidade com a possibilidade de serem do Allan. Eu havia passado a ele o endereço e número de telefone da casa da Clarice, para caso algo acontecesse, ele ter por onde me procurar. Cheirei as rosas tão perfumadas e vi que havia um envelope de papel dourado preso ao jarro. Eu o peguei e abri. Ao puxar o cartão que havia lá dentro, logo meus olhos bateram nas iniciais timbradas no papel branco acetinado: “V. W.”.Querida, Maya.Sei que a última pessoa de quem quer receber flores no mundo sou eu, mas não resisti. Não achei outro meio de falar com você, a não ser desta forma.Em primeiro lugar, quero lhe pedir desculpas. Desculpas pela forma que lhe tratei e pelas palavras grosseiras que disse na última vez que esteve em minha casa. Sei que as frases que cuspi, pes
MayaMinha mãe estava sozinha, não havia nem meu pai ou minha avó com ela. Entrei no quarto e a encontrei dormindo tranquilamente. Ela parecia ter ganhado um pouquinho de peso nesses últimos dias desde que cheguei, ou seria inchaço? Sua cor não estava mais tão pálida e suas mãos estavam mais quentes. Sentei-me na cadeira ao seu lado e peguei uma revista que estava sobre o aparador para ler. Era a Vogue do mês passado. Um rastro claro de que Clarice esteve por aqui. Comecei a folhear a revista e ler algumas coisas, entretendo-me.— Oi — disse minha mãe com a voz baixa, atraindo minha atenção.— Oi, mamãe. — Levantei e me sentei à beirada de sua cama. — Como se sente?— Bem. Um pouco mais forte que ontem.— Quem bom. — Sorri. — Está com fome?— Não.— Acho que devia comer algo.— Não estou com fome agora.— Tudo bem. Você passou a noite sozinha? — perguntei a ela.— Não. Seu pai ficou aqui.— A noite toda?— A noite toda eu não sei dizer, porque adormeci. Mas quando dormi, ele estava aq
MayaNo final do dia, quando voltei à casa da Clarice, encontrei-a com Sammy tomando vinho tinto sentados na sala de estar e conversando animadamente.— Boa noite, querida — disse Sammy.— Boa noite — respondi.— Vinho, Maya? — ofereceu Clarice.— Não, obrigada.— O jantar está no forno. Quer que eu esquente? — perguntou ela.— Eu já comi. Vou subir e arrumar minha mala.— Você irá voltar amanhã? — perguntou Sammy.— Se eu não quiser ficar desempregada, tenho que voltar — disse humorada, mas triste.— Queria que você ficasse mais — falou Clarice com pesar.— Eu também. Mas voltarei e, quem sabe, para ficar.— Conto com isso e espero que aconteça em breve — disse ela com um sorriso triste.Depois de algum tempinho conversando com eles, subi e comecei a arrumar minha mala. O dia seguinte seria corrido, até fiz uma lista dos afazeres. Pela manhã, eu iria ao hospital; à tarde, até a casa da minha avó; e depois, à casa da tia Jenna para me despedir; e, às seis horas, pegaria meu voo de vol
MayaNa manhã seguinte, acordei cedo e tomei café na companhia da Clarice e Sammy, antes de ir para a delegacia. Quando cheguei me informaram que meu pai já havia saído minutos atrás e pegado um táxi. Entrei no carro e dirigi até o lago Green Pine. No caminho, parei no supermercado e comprei para ele algumas frutas, porções prontas congeladas, já que sabia que ele não gostava muito de cozinhar, geleias, torradas e alguns dos seus bolinhos favoritos. Eu sabia que a única coisa que ele andava colocando em sua boca era álcool. Estava tão magro, abatido e com aparência de doente, se é que não estava.Parei no estacionamento, peguei as sacolas no porta-malas e caminhei até a área onde tinha vários trailers estacionados. Eu não sabia qual deles era o do meu pai, então, perguntei a uma mulher que estendia roupas no varal. Ela disse saber de quem eu perguntava e me indicou o último trailer branco e amarelo. Caminhei até ele e bati na porta. A cortina da janela foi puxada e vi seu rosto aponta
MayaTomei o elevador e depois caminhei até o carro. Dirigi até a casa da minha avó e, depois de comer uma fina fatia de bolo de limão e tomarmos chá em sua varanda da frente, era hora de me despedir dela também. Deixei-a com o rosto banhado de lágrimas. Como hoje está sendo um dia cruel para mim.No caminho de volta para a casa da Clarice, liguei para a tia Jenna reforçando os pedidos de cuidados com meu pai. Ela estava tão chateada com seu comportamento quanto eu e se responsabilizou por mantê-lo longe do carro. Quando cheguei, subi e tomei um rápido banho. Logo o táxi chegou e levou-me para o aeroporto. Cheguei lá as seis em ponto, fiz o check-in e embarquei meia hora depois. O voo de volta foi mais longo do que imaginei, parecia não chegar nunca.Ao desembarcar, peguei minha mala e tomei outro táxi com destino a minha casa. Quando entrei no apartamento, tudo estava escuro e silencioso. Acendi as luzes e vi um bilhete preso no mural de contas a pagar.Seja bem-vinda de volta ao nos