Ter Marina se abrindo daquela forma para mim, ao mesmo tempo em que era maravilhoso, também era assustador.
— Eu entendo. Mas se acostumar com uma pessoa não significa que você está feliz.
— Não significa se a outra pessoa não sente o mesmo. Sabe, a gente vai percebendo as rupturas nas pequenas coisas. Todas as vezes que ameaçava deixá-lo, ele se comportava como se não quisesse nossa separação. Conversava com minhas amigas, sondava e pedia para falarem comigo a seu favor. Mas porque ele próprio não fazia isso? Por que não falava o que sentia? Eu nunca soube o que ele realmente esperava do nosso relacionamento. Como um homem bonito, desejado por tantas mulheres, que adora se mostrar e se sentir o tal, não sabe expressar seus sentimentos? Toda vez que dizia que não estava dando mais, ele simplesmente falava pra eu fazer o que achasse melhor.
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Augusto ainda se lembra da face da mãe ao pronunciar tais palavras esmagadoras. Afonsina sabia que ele estava tentando lhe falar sobre Glória. E ao sentir os lábios dela nos seus, Augusto viu toda a paixão e esperança com que ela se agarrou a ele. Será que havia feito a coisa certa? Depois de tanto tempo deu voz aos seus sentimentos e se entregou a eles, sem nem pensar nas consequências. Ter Mercedes pela fazenda, sondando-o, instigando-o, não tornava as coisas mais fáceis. Sua beleza e ardor são tudo o que um homem espera numa mulher, entretanto, há algo nela que o impede de seguir o curso das coisas que lhe foi destinado. Seus passeios mostram seu encanto como mulher, mas não como a companheira que ele precisa na tomada de decisões, além do mais, havia a certeza de que teria seu pai no encalço, querendo estreitar muito mais do que laços entre sogro e genro.Tinha q
Augusto encara Gloria antes de responder sua pergunta:— Não. Se algo acontecer ao mercado externo, quero estar preparado. Vamos usar os entremeios dos pés e começar a produzir feijão, soja e outras culturas que ainda estou pesquisando. Se o café passar a não valer mais nada, derrubo todos os pés e planto cana de açúcar. Temos tudo para nos transformarmos em uma usina.— E quanto à indústria? Você não tem em mente entrar no ramo automobilístico como deseja Ângelo, ou mesmo na indústria têxtil?— Na têxtil, sim. Mas vamos devagar. Com dinheiro na mão é mais fácil pensar num negócio sem correr grandes riscos. Por enquanto está tudo bem. Vou passar no banco mais tarde e, a propósito Glória, distraia Ângelo. Não o quero aqui enquanto o José ensaca os grã
TO velho molha os lábios, antes de responder a Augusto:— Gostaria de convidá-lo a tomar parte no nosso corpo político. Em março do ano que vem, como bem sabe, será nomeado o sucessor do Presidente Washington Luiz, e esperamos que ele chegue a assumir o cargo.— E por que não chegaria a assumir? Nunca tivemos problemas com os sucessores, até que eu saiba.— Parece que os mineiros estão divididos quanto à indicação do Presidente. O nome de Júlio Prestes de Albuquerque foi o escolhido, frente ao do mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. Há três meses, em março, demos um banquete em Ribeirão Preto para selar a indicação e dar-lhe apoio. Convidei seu pai, porém ele não quis comparecer — sorriu afetuosamente — Continuando, essa preferência ao nome de Júlio Prestes deixou
Os olhos de Augusto encontram os de Mercedes por sobre o jornal e ela lhe sorri ruborizada. Conhecia-a desde a infância. Não se sentia totalmente estranho à ela, mas havia Glória. Uma mulher só, que ganhara o seu respeito conquistando seu espaço num mundo masculino. Adorava vê-la colocar Ângelo em seu lugar, distribuindo ordens aos empregados e tendo o respeito deles. Lembrava-lhe um pouco a mãe. Firme em suas decisões e ardente em sua paixão. Pôde sentir quando seus lábios se encontraram. Quase perdera a cabeça ao ter seu corpo molhado nas mãos. Nunca sentira tão pressionado quanto agora. Um homem de quase trinta e três anos perdendo-se nas teias femininas e nos imbróglios do Coronel Medeiros.— Fiquei feliz por nos acompanhar, Augusto. Sei como é difícil deixar os negócios e ser arrastado para a Capital para servir de guia para
— Eu... Não... Acredito. — disse, pausadamente — O que acontece com esses dois irmãos? Esse Augusto está mostrando as garrinhas agora. Como pôde se envolver com outra mulher? Ele não amava Glória?— Veja bem, Marina, nem sempre as coisas são o que parecem.— O que quer dizer? Pra mim está tudo muito claro. Ele é homem e, como todo homem, não presta. Quer ter as duas nas mãos. Estou morrendo de raiva.— Ele não vai ter ninguém, Marina! — Disse, acabrunhado. Ela me olhou, e seus olhos se abaixaram envergonhados.— Às vezes me esqueço da realidade. Mas é que não consigo deixar de me envolver com a estória. É tão real! Tão triste e ao mesmo tempo bizarra! Estou pensando apenas no sofrimento dessas garotas, quando deveria pensar em todos eles.— Vo
Aquele dia amanhecera feito pesadelo para uns e cheio de alegria para outros. Logo mais a noite celebrariam o aniversário de Dona Afonsina. A casa da fazenda encontrava-se em plena arrumação desde as primeiras horas do dia. Toalhas sendo passadas e arejadas, vasos repletos de flores esperavam por seus lugares nos cantos da sala de jantar e, à mesa, taças sendo preparadas para descansarem ao lado das porcelanas francesas. O aroma rescendia a assados e doces finos, supervisionados por Mercedes, enquanto os tachos fervilhavam na vaporosa cozinha.Ela, apesar da tristeza pela mãe, resolvera só pensar na alegria de comandar a noite e receber os convidados como a futura dona daquela casa. Faria de tudo para alegrar a vida daquelas pessoas, principalmente da aniversariante. Ângelo passeava pelos cômodos com passadas largas, em mangas de camisa arregaçadas, seguindo ordens da futura cunhada. Deixara-se levar pe
Como é possível um coração doer tanto? — pensava Glória, enquanto avaliava as travessas sobre a mesa impecável. Augusto fugia dela. Às vezes o pegava observando-a. Como queria que ele confessasse logo que a amava. Aquele beijo no rio fora o único que trocaram e ela pôde sentir o quão forte era o amor que guardava dentro de si, a sete chaves. Por que esconder? O que o impedia de ser feliz? Dona Helena sempre deixou claro que patrões ricos jamais se casavam com empregadas. Sabia que a família dele não a aprovava, contudo, não se importava. Seu amor seria mais que isso se ele a escolhesse. O fato de Mercedes ainda não tê-lo conquistado lhe dava esperanças. Ela tinha sondado Ângelo e ele havia dito que não sabia de nada. Parece que a viagem tinha sido estritamente profissional. Havia uma chance nessa noite de se encontrarem a
Pedro Henrique estacionava os primeiros carros que chegavam à fazenda ao cair da noite. A casa estava totalmente iluminada e enfeitada com arranjos florais. A orquestra tocava uma música suave, que ele não conhecia, quando Aldora chega, uniformizada, para dar um recado da mãe.— Mamãe disse para você ir comer alguma coisa assim que o último carro chegar, e depois ficar de olho nos convidados, não os deixando se esgueirar furtivamente por aí.— Isso vale para você, Aldora. Não quero que pense que pode dar um jeito de ir atrás daquele almofadinha.— Não tenho ideia do que está falando.— Pois fique avisada. Se ele tentar alguma coisa com você, já sabe.— Olha para mim, Rico! Vestida desse jeito, com tantas mulheres maravilhosas lá dentro, acredita que ele tentaria algo comigo?— Eu já vi