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Sob o controle do CEO
Sob o controle do CEO
Por: Gisele Cargnin
Capítulo 1 - Rosa e a tempestade da Vida

Ela estava atrasada. De novo.

— Droga! — sussurrou, enquanto enfiava os pés nos sapatos molhados que havia deixado na entrada de casa.

Quando finalmente chegou ao portão de ferro da mansão dos Trajanos, Rosa já estava completamente molhada. O vento e a chuva haviam transformado seu coque em uma confusão de fios que caíam sobre seu rosto. Suas roupas coladas ao corpo, e seus pés encharcados, pareciam esponjas.

“Por que estou atrasada mesmo? Ah, claro, o despertador não tocou, a conta de energia estava atrasada, e a luz foi cortada na noite anterior. ...” – ela pensava.

Ao colocar sua bicicleta no canto do jardim lateral, Rosa correu para a porta de serviço.

Não queria ser vista pela senhora Trajano naquele estado miserável, mas seu plano foi destruído assim que ouviu uma voz cortante ecoar do alto da escadaria.

— Está atrasada, de novo! — A senhora Trajano apareceu, como sempre, com o olhar cheio de desdém. Vestida com seu roupão de seda caro, seus cabelos brancos perfeitamente arrumados, ela descia as escadas como se fosse uma rainha a inspecionar seu reino.

— Você acha que esse comportamento é aceitável? Como espera manter esse trabalho se nem consegue chegar no horário, menina?

— Desculpe, senhora Trajano. A chuva estava forte, e... — tentou explicar, mas a velha nem a deixou terminar.

— Chuva? Sempre uma desculpa. Parece que pessoas da sua... condição... sempre têm algo a culpar. — Ela desceu o último degrau da escada, sua expressão de desdém se intensificando à medida que avaliava a aparência de Rosa. — Olhe para você. Parece uma ratinha molhada. — Trajano deu uma risada curta e amarga. — Se você não sabe administrar o tempo, quem sabe possa investir em um transporte melhor do que essa bicicleta velha. — sua voz era cortante como gelo, enquanto os olhos afiados examinavam Rosa.

Rosa apertou os punhos por dentro do casaco. Sabia que, se respondesse à altura, as consequências seriam desastrosas. E ela precisava daquele emprego, por mais humilhante que fosse. Todo seu dinheiro ia para os remédios de sua mãe e as despesas da casa que com muito custo ela sustentava após o seu pai, um alcoólatra, ter abandonado a família definitivamente depois que a mãe foi diagnosticada com um câncer.

— Sim, senhora. Vou me apressar.

Virando-se rapidamente, Rosa se trocou e foi direto para a despensa pegar os produtos de limpeza. Ao retornar à sala de estar para começar a limpeza, a voz da velha voltou a ecoar pela mansão:

— Rosaaa! Quando terminar aí, vá limpar o escritório do meu filho. Ele deve chegar de viagem, e quero que tudo esteja impecável! E lembre-se, não toque em nada. Não quero que você bagunce as coisas, sei que pessoas como você não sabem o que é sofisticação. A velha Trajano saiu, deixando o eco de suas palavras no ar.

“Pessoas como eu?” – Pensou. “Você não sabe nada sobre mim, e, ele nunca vem para esta casa mesmo, muito menos para este escritório, ela sempre fala a mesma coisa” – sussurrou.

Ela terminou a sala o mais rápido que pôde, mas sem descuidar dos detalhes. Não queria ouvir outra série de críticas sobre sua “falta de dedicação” ou, como a velha costumava dizer, “falta de jeito para o serviço”.

A caminho do escritório do filho, o poderoso Ricardo Trajano, Rosa pensava nas histórias que ouvira sobre ele. O filho ausente, o magnata que viajava pelo mundo, controlando empreendimentos, jatinhos, e a admiração da velha Trajano. Todos naquela casa falavam dele como se fosse uma lenda, alguém inalcançável, cuja sombra, na cabeça de Rosa, ela nunca cruzaria. Ela mal sabia que aquele homem, que ela ainda não conhecia, teria o controle sob ela.

Ao chegar no topo da escada, parou por um momento diante da porta do escritório. Era sempre uma experiência estranha entrar naquele ambiente, talvez fosse o fato de que o filho nunca estava ali, mas seu espaço era tratado como um santuário sagrado.

O escritório parecia saído de uma revista de decoração cara: prateleiras cheias de livros enfileirados, que, provavelmente nunca foram lidos, um tapete que custava mais do que ela poderia ganhar em um ano, e aquela mesa brilhando.

Rosa puxou o balde e os panos, tentando não pensar muito na desigualdade gritante que aquela sala representava. Ao passar o pano sobre a mesa, algo chamou sua atenção. Um pequeno quadro pintado a mão, colocado em cima de uma pilha de papéis. Rosa pegou delicadamente o quadro e ficou observando, por alguns segundos, os traços da pintura.

"Ah, se a minha vida fosse assim… Tão tranquila quanto esse rosto pintado nesse quadro". – pensou, com um meio sorriso. Mas logo voltou à realidade.

Tinha que terminar aquele trabalho rápido, ou a senhora Trajano faria questão de infernizá-la. Antes que pudesse se recompor, ouviu passos ecoando pelo corredor. Droga, a senhora Trajano. Rosa rapidamente colocou o quadro no lugar, pegou o balde como se estivesse absolutamente concentrada no serviço. A velha senhora apareceu na porta, observando Rosa com seus olhos críticos.

— Você terminou aqui? — a voz dela era mais cortante do que nunca.

— Quase, senhora Trajano. Só mais um minuto e termino tudo — respondeu Rosa, com o tom mais educado que conseguiu.

A senhora Trajano estreitou os olhos, observando-a por um segundo, como se estivesse tentando captar algo fora do comum. Mas virou-se e saiu, resmungando algo sobre "pessoas que não sabem o valor das coisas".

Assim que ficou sozinha novamente, Rosa suspirou de alívio. Terminou de se organizar e saiu do escritório, imaginando como seria quando visse o famoso “filho” da velha.

Afinal, ele deveria voltar de viagem em breve. Como seria esse homem?

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