Veneno

David Lambertini

O sangue Lambertini não é apenas azul, é um veneno que paralisa os fracos e uma chama que consome os ousados. Desde cedo, aprendi que poder não se herda, ele se toma, se impõe. Meu sobrenome é um brasão que abre portas e assombra mentes, uma marca que pesa tanto quanto glorifica.

Eu sou David Lambertini tenho 21 anos, sou um jovem disciplinado, perfeccionista, com uma mente afiada e um futuro definido e se você acha que a minha juventude me torna menos letal, é melhor rever os seus conceitos. Não sou apenas um estudante de Administração, em breve herdarei o império Lambertini, um trono forjado em concreto, contratos e sangue, muito sangue. 

Nasci para liderar, e não há espaço para hesitação em meu caminho. Sou o reflexo de meu pai, o Don Vittorio Lambertini, e o eco silencioso das lições de minha mãe, uma mulher cuja força nunca precisou de palavras.

E uma coisa é certa, quem tentar se colocar no meu caminho vai pagar um preço alto.

Meu coração? Esse foi moldado pelas lições de ferro do meu pai e pela força silenciosa da minha mãe. Meu rosto é a imagem do meu pai, Don Vittorio Lambertini, o chefe supremo de nossa família. Amor, só pela família, nada mais. Mulheres são apenas para diversão. 

Minha vida segue como uma máquina implacável, cada engrenagem lubrificada por disciplina e perfeccionismo. Traição é um conceito que não tolero, e já aprendi, ainda adolescente, o preço de permitir que ela floresça. Aos 15 anos, eliminei um traidor, o contato com a arma era algo que fazia parte da minha rotina, e o peso dela em minhas mãos foi menor do que a decisão de apertar o gatilho. Não hesitei. Não podia. Aquele foi o dia em que compreendi o significado de liderança e os sacrifícios.

O relógio no meu pulso marca as quatro da manhã, mas a cidade de Buenos Aires ainda pulsa com vida. A boate Gemini é um universo à parte, onde a realidade se dissolve sob luzes estroboscópicas e o ritmo ensurdecedor da música eletrônica. O aroma de bebida, suor e perfume caro se misturam em uma atmosfera intoxicante. Aqui, o controle é uma ilusão fugaz, um jogo que nós, os Lambertini, sempre vencemos.

Estou no meio da pista, cercado por corpos que se movem em perfeita sincronia com a batida ensurdecedora. Uma garota desliza ao meu lado, seu vestido justo realçando cada curva. Não lembro seu nome, mas isso pouco importa. Seu sorriso provoca, seu perfume embriaga, e seus movimentos são uma promessa silenciosa. O copo de whisky na minha mão está quase vazio, e a queimadura da bebida na garganta combina com o calor crescente entre nós.

Ela se aproxima ainda mais, os lábios roçando o meu ouvido.

— Quer sair daqui?— sussurra com uma voz carregada de intenção.

Antes que eu possa responder, um arrepio gelado percorre minha espinha. Um alerta que não posso ignorar. Meu olhar varre o ambiente e, entre as luzes pulsantes, localizo o motivo da minha inquietação, um homem encostado na parede, parcialmente oculto pelas sombras.

Seus olhos fixos nos meus são impossíveis de ignorar.

— Me espera aqui.— murmuro para a garota, meu tom firme.

Ela assente sem questionar, mas algo na minha postura mudou, e eu sei que ela percebe.

Avanço pela multidão, meu corpo em tensão. Quando estou a poucos passos dele, minha voz corta o ar.

— O que você está fazendo aqui?

Ele sorri com desdém, os braços cruzados diante do peito.

— Fazendo meu trabalho. Sua segurança.

Cruzo os braços, sustentando seu olhar.

— E isso inclui me seguir até a pista de dança?

— Vocês sempre são monitorados, Lambertini. Esqueceu? — Ele dá de ombros, como se fosse uma constatação banal.

Minha mão coça para socar aquele sorriso arrogante de sua cara.

— Me erra.— Digo em tom cortante.

Ele não se move. Sua presença é um lembrete incômodo de que, mesmo no meu território, as sombras sempre me acompanham.

Volto para a garota, que me observa com um sorriso despreocupado. Seguro sua cintura, conduzindo-a em direção a uma área mais reservada.

Entramos em uma sala privada, onde as paredes de vidro refletem as luzes da boate como um caleidoscópio. O som lá fora se transforma em um murmúrio distante.

— Aqui ninguém nos vê. Pode ficar à vontade.

Ela sorri, um sorriso provocante, e começa a dançar apenas para mim. Seus movimentos acompanham o ritmo da música, cada gesto um convite silencioso. Enquanto ela se despe lentamente, sinto o calor subir, mas mantenho o controle. Sempre mantenho.

A noite se dissolve em intensidade, desconexão e desejo. Mas, como sempre, uso proteção. Por um breve instante, esqueço o mundo lá fora.

Mais tarde, já recompostos, brindamos em silêncio. Arrumo minha camisa, verifico o relógio no pulso e chamo o meu motorista. Descemos juntos, a garota ainda ao meu lado, enquanto os carros aguardam na entrada, prontos para a escolta.

Ao nos despedirmos, ela me beija. Um beijo quente.

Quando finalmente chego em casa, o ambiente silencioso me acolhe como um velho amigo. Tiro os sapatos no hall e caminho até a cozinha, servindo-me de um copo de suco gelado. Cada gole é uma tentativa de apagar a sensação que me acompanha desde a boate.

Subo as escadas devagar, sentindo o peso do dia, ou talvez do que ainda está por vir. No quarto, o silêncio é ainda mais denso, quase tangível. Tomo um banho rápido e me jogo na cama, mas meus olhos permanecem abertos, fixos no teto.

O ar ao meu redor parece pesado, carregado de uma tensão invisível. Então escuto.

Um som sutil. Quase imperceptível. Mas ele está lá.

A porta do quarto range levemente.

Minha respiração desacelera, meus sentidos se aguçam. Não estou sozinho.

Meus olhos focam na escuridão, e uma voz fria e sombria ecoa no meu subconsciente.

— Está preparado para o que está por vir, Lambertini?

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