LizandraO calor do fim de tarde emana do asfalto, mas não é isso que faz meu corpo queimar. Minha mente ainda está embaralhada pelo que acabou de acontecer, e meus lábios... bem, eles ainda carregam o gosto dele. David Lambertini. O nome soa como um aviso, como se algo perigoso estivesse prestes a acontecer. E talvez esteja.Sexta-feira sempre é o pior dia. Aulas intermináveis da disciplina de Conclusão 1, tarde e noite, sugam a energia de qualquer um. Entre uma aula e outra, decido sair para caminhar pelo campus. Daniel está ocupado, conversando com um professor sobre algum trabalho, então aproveito para espairecer. Eu preciso de ar, de um pouco de paz. Mas paz é exatamente o que não encontro.Estou no caminho de volta para a sala quando o vejo. David Lambertini, encostado em um dos pilares do prédio, as mãos no bolso da calça jeans, Deus me livre, mas olhando assim, ele é muito gostoso, está distraído, aquele rosto perfeito, com a postura relaxada. Ele me encara, e aquele sorriso cí
David LambertiniEu deveria estar satisfeito, mas não estou. Esse beijo... foi diferente de tudo que eu esperava. Não é só o fato de ela ter correspondido, de os lábios dela terem se moldado aos meus com uma fome que parecia escondida há muito tempo. Não, não é só isso. É o que veio junto, a inexperiência, o nervosismo disfarçado de resistência. Lizandra não sabe o que está fazendo comigo, e isso me intriga mais do que qualquer coisa.Quando a vi hoje, caminhando pelo campus, algo me fez parar. Ela estava tão perdida em seus pensamentos que nem percebeu minha presença até eu falar. Aquela postura ereta, o olhar desafiador... Lizandra sempre age como se o mundo fosse um campo de batalha, e eu, o inimigo número um. Isso me diverte, mas também me fascina.— Lizandra — cumprimentei, só para ver como ela reagiria.E, como sempre, lá veio a resposta ríspida, carregada de hostilidade. Não é novidade. O que ela não percebe é que cada grosseria dela é como gasolina jogada no fogo. Faz o desafi
DavidEu entro no carro blindado, vejo a escolta se preparando para me acompanhar, a pistola firme na cintura e outra no tornozelo, enquanto o sol de Buenos Aires queima com uma intensidade que me lembra o calor do inferno, um inferno que, ironicamente, eu mesmo administro. Meu telefone vibra no bolso, e o nome na tela me faz franzir a testa, o infeliz do Pablo. Quando esse homem liga, nunca é para algo trivial. É sempre sangue, dinheiro ou poder e às vezes, os três juntos.Envio mensagem para Darlan, marcando local e de lá seguiremos em comboio, a minha escolta e a dele.Enquanto o motorista manobra pela cidade, observo as ruas cheias de vida. A maioria dessas pessoas nem faz ideia do que acontece nos bastidores. Elas não sabem que, por trás das fachadas brilhantes de nossas construções, um império de crime e corrupção pulsa como um coração negro. Eu e o meu irmão, Darlan, construímos mais do que prédios. Erguemos um reinado. E cada pilar tem o sangue de alguém que ousou nos desafia
DarlanGATILHO!!! Pessoas sensíveis devem evitar esse capítulo. GATILHO!!! Sextou!!!O cheiro de metal enferrujado e gasolina se misturam ao ar pesado do galpão. A luz da lâmpada oscilante sopra sombras grotescas nas paredes, como se o próprio diabo estivesse nos observando. Estou parado diante de um homem amarrado à cadeira, o rosto inchado e marcado pelos primeiros "avisos" que dei. Ele ainda não falou, mas vai falar. Todos falam. A questão é o quanto vai doer até lá.— Sabe o que eu odeio mais do que traição? — pergunto, minha voz baixa e cortante como uma navalha. — Acharam que você era esperto. Que podia brincar com a gente e sobreviver. Mas, amigo, eu vou te mostrar como termina essa história.Ele tenta falar algo, mas tudo que sai é um gemido engasgado. O sangue escorre do canto da boca, pingando no chão de concreto. Pego um alicate de uma bancada ao lado, girando-o entre meus dedos. A presença dele aqui, o simples fato de eu ter que lidar com isso, é um insulto pessoal. É co
Daniel MaltaSexta-feira, o sol de fim de tarde filtra-se pelas árvores do campus, mas meu foco está em outra coisa. Entro na lanchonete, o cheiro de café fresco e salgados fritos me envolve, e ali está Darlan, jogado em uma cadeira como se fosse o dono do lugar. Ele levanta os olhos para mim e sorri, aquele sorriso que sempre indica que alguma coisa está por vir.— Já ia pedir um café para você — diz ele, levantando a caneca. — Sexta-feira é dia de virar a noite, lembra?— É, ou de acabar com a semana em grande estilo — respondo, puxando a cadeira e me sentando.Entre goles de café e mordidas nos salgados, o papo flui como sempre. Piadas, provocações leves e aquele tom despreocupado que parece só acontecer quando estamos longe das obrigações.— Que tal hoje à noite? — pergunta ele, inclinando-se para a frente. — Gemini? Faz tempo que não escolhemos companhia por lá.— Fechado — respondo. — Mas primeiro, preciso deixar a Lizandra em casa.Ele arqueia a sobrancelha, com um sorrisinho
David LambertiniA verdade é que eu nunca estive tão motivado a ir para a faculdade. Não é pelo curso, pelas festas ou pela fama que eu sempre tive por aqui. A motivação tem nome e sobrenome, Lizandra Hurst.Ela é diferente. Não que eu não tenha visto mulheres lindas antes, mas Lizandra tem algo que nenhuma outra tem, a capacidade de me ignorar. Aqueles olhos azuis, que pareciam feitos para me hipnotizar, mal me encaravam, e isso era o suficiente para me enlouquecer. Eu estava acostumado a ter o que quisesse, quando quisesse. Mas ela... Ela me desafia sem nem perceber.Claro, ela acha que nossos encontros são casuais. No fundo, eu rio dessa inocência. Nada com Lizandra é por acaso. Coloquei um dos meus soldados de confiança para observá-la e me manter informado de cada movimento dela dentro da faculdade. Não que eu queira assustá-la ou invadir a vida dela, mas preciso saber onde ela está. Preciso vê-la. Preciso estar perto.E é por isso que, ultimamente, nós sempre "esbarramos". No co
Lizandra HurstEu finjo que não o vejo, mas é impossível ignorar David Lambertini. Ele está encostado no carro dele, a arrogância estampada no rosto, como se o mundo fosse dele. E talvez seja. Pelo menos o meu mundo está perigosamente girando em torno dele ultimamente.— Estou de saída, Lizandra. Quer uma carona? — a voz dele é casual, mas carrega aquela confiança insuportável.Nem olho para ele direito enquanto respondo:— Não, obrigada. Prefiro ir andando.Minha resposta é ríspida, como sempre. Não sei por que ele insiste. Aliás, sei sim. Ele está acostumado a conquistar tudo e todos. Só que eu não vou ceder. Não posso.Só que quando eu menos espero, ele já está no carro, dirigindo devagar ao meu lado. Baixa o vidro e me encara com aqueles olhos azuis que parecem ver através de mim.— Entra no carro, Lizandra.— Já disse que não quero carona, David.Mas ele sai do carro, me pega pelo braço e, antes que eu possa me soltar, me puxa para perto e me beija. Eu deveria ter gritado, ter me
DavidMinha mãe, Liana Lambertini, é um enigma fascinante. Uma mulher que parece saída de uma pintura renascentista, ruiva de olhos azuis, alta, com 1,76 de altura, e um corpo digno de passarela. Mas o que a define não é apenas sua beleza, é a sua força. Mamãe sempre soube equilibrar as facetas de sua vida, o lar amoroso que construiu com o meu pai, a dedicação incansável como mãe e a habilidade de enfrentar qualquer desafio com coragem e determinação.Papai, o grande Don, sempre a tratou como um diamante raro. Ainda hoje, os olhos dele brilham de ciúmes e orgulho quando a vê. Ele é o rei da máfia, mas, na nossa casa, todos sabemos quem é a sua rainha. Não há decisão importante que passe sem a aprovação de Liana. Dizem que por trás de um grande homem há uma grande mulher, mas no caso deles, ela está sempre lado a lado.Desde cedo, ela demonstrou que não seria apenas uma esposa ornamental. Apesar de aparentar fragilidade com seu jeito delicado, mamãe fez questão de aprender a se defend