Desafio

Lizandra

Três dias depois

O amor sempre foi algo que me intrigou. Hoje de manhã, ao passar pela cozinha, vi os meus pais aos beijos, tão alheios ao mundo que nem perceberam a minha presença. Eles têm esse amor tranquilo, mas intenso, que resiste ao tempo e às tempestades da vida. Às vezes me pergunto se terei algo assim algum dia. Um amor que seja grande, intenso e duradouro.

Por mais que deseje isso, a vida tem um jeito estranho de brincar com os nossos desejos. A minha mente se perde, sem querer, em um par de olhos azuis penetrantes que cruzaram o meu caminho  na faculdade.

David Lambertini. Ele é tudo o que não quero, tudo o que evito. Um cafajeste assumido, arrogante, com aquele sorriso que parece carregar uma promessa de problemas. 

Droga, ele é lindo. Há algo no jeito másculo dele, na intensidade de seu olhar, que me faz sentir despida, como se enxergasse além do que estou disposta a mostrar.

David Lambertini não deveria ocupar espaço nos meus pensamentos. Mas a verdade é que ocupa, e muito.

Hoje, nos corredores da faculdade, nosso pequeno embate foi mais intenso do que o normal. Estava recolhendo as minhas anotações que haviam caído da bolsa quando senti a presença dele, perto demais, seu perfume amadeirado inconfundível. Ao erguer os olhos, lá estava ele, com aquele sorriso arrogante, abaixando-se para me ajudar.

— Deixe-me ajudar — disse ele, com um tom que parecia uma combinação de gentileza e provocação.

— Não precisa! — retruquei ríspida, puxando os papéis da mão dele.

— Por que tanta hostilidade, Lizandra? — perguntou, arqueando uma sobrancelha, divertido.

Suspirei, já sem paciência e respondi: 

— Porque não gosto de cafajestes.

Ele riu, aquele riso baixo que parece ecoar dentro de mim, me irritando ainda mais.

— O que te faz pensar que sou um cafajeste?

— Ah, por favor, David. Sua fama corre solta. Não estou interessada em ser mais um nome na sua lista.

Ele me olhou, sério pela primeira vez. 

— E você acha que eu saio por aí espalhando nomes? Isso diz mais sobre os outros do que sobre mim.

Antes que eu pudesse responder, ele se inclinou levemente, como se quisesse me desconcertar ainda mais, e murmurou:

— Eu gosto de desafios.

E se afastou, me deixando ali, com a cabeça cheia de perguntas e o coração batendo mais rápido do que eu gostaria.

Mais tarde, quando contei para o Daniel sobre o ocorrido, ele apenas balançou a cabeça, frustrado.

— Liza, você sabe que ele não é para você. Não se deixa levar por esse tipo de cara.

— Eu não me deixo levar, Daniel. Só... odeio o jeito dele de achar que pode tudo.

Daniel me olhou fundo nos olhos, seu tom mais suave agora.

— Eu só quero que você seja feliz, longe de caras como ele.

O problema é que, mesmo com toda a razão do mundo, não consigo ignorar David Lambertini. Parece que ele está em todo lugar. Nos corredores, na biblioteca, até no estacionamento. Ontem à noite, ele apareceu enquanto eu esperava minha carona no portão da faculdade.

— Esperando alguém, Lizandra? — perguntou ele, encostando-se casualmente em um carro próximo.

Revirei os olhos, já cansada da insistência. 

— E se eu estiver?

Ele apenas sorriu, aquele sorriso provocante que me tira do sério.

— Eu conheço esse olhar. O olhar de quem tenta me odiar, mas não consegue.

— Você se acha demais, Lambertini. E, para sua informação, eu consigo.

— Não. Você tenta, mas não consegue.

Minha resposta ficou presa na garganta quando o carro de Daniel chegou. Entrei apressada, sem olhar para trás.

Mas naquela noite, sozinha no meu quarto, as palavras dele não me deixavam. 

“Você é um desafio que eu estou adorando.”

Eu deveria odiá-lo, deveria ignorar, mas havia algo ali, algo que ele fazia despertar em mim.

David Lambertini é perigoso. Ele é exatamente o tipo de problema que eu deveria evitar a qualquer custo. Mas, e se o verdadeiro problema não for ele? E se o verdadeiro perigo for o que estou tentando esconder de mim mesma?

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