David
A vida é imprevisível, um emaranhado de momentos que podem virar o destino de cabeça para baixo quando menos se espera. Eu sempre me considerei um homem inabalável, dono de tudo e de todos ao meu redor. Mas hoje, o universo decidiu me provar o contrário.
Saio da cantina da faculdade com um café em uma mão e o celular na outra, lendo distraidamente as mensagens que continuam chegando, algumas casuais e outras da máfia.
O campus está agitado como sempre, mas nada aqui é novo para mim. Não vejo a hora da conclusão desse curso! Sinto-me entediado, como se tudo fosse previsível. Até que o destino me acerta com força, me deixando claro que nem tudo posso controlar.
Viro uma esquina apressado, sem prestar atenção no caminho, e literalmente esbarro em alguém. Não um encontro comum, mas um choque que me faz perder o equilíbrio e derrubar o café. Livros caem no chão, folhas voam, e sinto meu o coração acelerar.
— Cuidado! — a voz dela corta o ar, um tom de surpresa misturado com irritação.
Levanto os olhos, já pronto para retrucar, mas as palavras morrem antes de saírem. Ela está ali, parada na minha frente, e o mundo ao redor simplesmente desaparece.
Seus olhos... Nunca vi nada parecido. Um azul tão profundo que me faz esquecer onde estou. Os cabelos castanhos escuros estão desalinhados pelo impacto, mas isso só a torna ainda mais fascinante. Ela é linda, mas não de um jeito comum. Há algo nela, uma força, uma presença, que me deixa sem fôlego.
— Está surdo? — ela insiste, abaixando-se para recolher os livros que caíram.
Ainda atordoado, demoro alguns segundos para reagir. Finalmente, ajoelho-me para ajudá-la, tentando organizar o caos que causei.
— Eu... desculpe. Não te vi. — digo, e pela primeira vez, minhas palavras parecem insuficientes.
— Não viu porque estava ocupado demais com seu celular! — ela rebate, pegando os livros das minhas mãos sem sequer olhar para mim.
O tom é afiado, mas há algo nos gestos dela que contradiz as palavras. Por um breve momento, nossos dedos se tocam, e ela hesita. Seus olhos encontram os meus, e sinto como se o tempo tivesse parado. Ela também sente isso, tenho certeza.
Mas o momento é interrompido quando ela rapidamente se recompõe, voltando à sua postura defensiva.
— Da próxima vez, tente prestar atenção por onde anda. — diz, levantando-se.
Antes que eu possa responder, uma voz familiar surge ao nosso lado.
— Lizandra, tudo bem?
Daniel Malta aparece, com aquele jeito certinho de sempre. Ele a observa com preocupação, ignorando a minha presença por completo.
Ela se vira para ele, e o sorriso que oferece é tão genuíno que me incomoda profundamente.
— Sim, só um acidente. — ela responde, como se eu fosse um detalhe insignificante.
Daniel se abaixa para pegar o último livro dela e lança um olhar rápido na minha direção e pisca o olho, quase como um aviso. Não é um confronto direto, mas está claro que ele não entende a minha presença ali.
Ela agradece a ajuda dele, e juntos, eles começam a se afastar.
Fico parado por alguns segundos, tentando processar o que acabou de acontecer. Meu coração ainda está acelerado, mas não por causa do choque físico. É algo mais profundo, mais confuso. Nunca me senti assim antes, como se alguém tivesse tirado o chão sob os meus pés.
Enquanto a observo desaparecer ao longe com Daniel, sinto um misto de fascinação e frustração. Quem é essa garota? Por que ela me faz sentir assim?
O café derramado ainda mancha o chão, mas não me importo. O impacto do encontro não foi apenas físico, foi algo que atingiu diretamente meu ego e, talvez, algo mais. Pela primeira vez em muito tempo, sinto que encontrei um desafio.
E desafios sempre me atraíram.
No entanto, há algo nesse encontro que me deixa inquieto. Como se Lizandra não fosse apenas mais uma garota. Como se ela fosse o início de algo muito maior.
E enquanto dou as costas e sigo meu caminho, a pergunta ecoa na minha mente, até onde estou disposto a ir para desvendar o mistério que é Lizandra?
O vento sopra, frio e cheio de presságios, como se o universo soubesse que este momento é apenas o começo de algo muito mais intenso e perigoso.
LizandraTrês dias depoisO amor sempre foi algo que me intrigou. Hoje de manhã, ao passar pela cozinha, vi os meus pais aos beijos, tão alheios ao mundo que nem perceberam a minha presença. Eles têm esse amor tranquilo, mas intenso, que resiste ao tempo e às tempestades da vida. Às vezes me pergunto se terei algo assim algum dia. Um amor que seja grande, intenso e duradouro.Por mais que deseje isso, a vida tem um jeito estranho de brincar com os nossos desejos. A minha mente se perde, sem querer, em um par de olhos azuis penetrantes que cruzaram o meu caminho na faculdade. David Lambertini. Ele é tudo o que não quero, tudo o que evito. Um cafajeste assumido, arrogante, com aquele sorriso que parece carregar uma promessa de problemas. Droga, ele é lindo. Há algo no jeito másculo dele, na intensidade de seu olhar, que me faz sentir despida, como se enxergasse além do que estou disposta a mostrar.David Lambertini não deveria ocupar espaço nos meus pensamentos. Mas a verdade é que o
Daniel MaltaA vida tem um senso de humor peculiar. Aqui estou, com o coração batendo mais rápido do que deveria, enquanto observo Lizandra rir. Ela faz isso de um jeito tão natural, mexendo nos cabelos como quem não percebe o impacto que causa. O mundo parece desacelerar ao seu redor, mas, para mim, ele só gira mais rápido, como se cada movimento dela fosse uma força centrípeta puxando tudo para o centro do meu universo.— Daniel, você está me ouvindo ou está no seu mundo de novo? — ela pergunta, com aquele tom meio divertido, meio inquisidor.— Claro que estou — minto, tentando parecer natural, mas sei que ela não acredita.Lizandra é assim, cheia de luz e tão simples, mas ao mesmo tempo uma tempestade que deixa tudo ao redor mais vivo, mais caótico. Somos amigos desde sempre. Dividimos aniversários, memórias, sonhos e, no meu caso, um amor que nunca ousei confessar.Eu a amo. Amo de um jeito que parece ser parte de quem sou, algo gravado no fundo da minha existência. Mas Lizandra n
LunaA sala de aula está mergulhada em um silêncio tenso, quebrado apenas pelo som do professor escrevendo no quadro e pela respiração contida de trinta alunos. Direito Penal sempre me fascinou, mas hoje, a aula parece estar em outro universo. Meu coração bate descompassado, minhas mãos suam, e eu mal consigo acompanhar o que está sendo dito.— Luna Castro. — o professor me chama, interrompendo os meus pensamentos.Minha mente entra em pânico por um breve segundo, mas sinto o olhar de Darlan ao meu lado. Ele não diz nada, apenas me dá aquele sorriso encorajador que é quase imperceptível, mas que funciona como uma âncora. Respiro fundo e começo a responder à pergunta sobre dolo eventual, explicando os conceitos com a voz firme que não reflete a tempestade dentro de mim.— Boa resposta, senhorita Castro. — o professor elogia, e sinto os olhares de alguns colegas pousarem em mim. Clara, sentada algumas cadeiras à frente, me dá um sorriso de apoio, mas só consigo relaxar quando o professo
DavidO nome Jaime Orti martela na minha cabeça como uma sirene de alerta. O homem é uma bomba relógio, e cada interação com ele é um lembrete de que o tempo está correndo. Encosto no capô do carro, os braços cruzados, enquanto espero Darlan sair do prédio da faculdade. Meu irmão aparece minutos depois, os passos lentos e calculados, mas o aperto de mão que trocamos carrega uma tensão que não conseguimos ignorar.— Jaime continua o mesmo filho de chocadeira de sempre — ele solta, acendendo um cigarro com a calma de quem já esperava o caos.— Cada vez mais estranho quando se trata da família. — retruco, o olhar fixo no horizonte. — Você viu o jeito como ele olhou para a Luna?Darlan assente, soltando a fumaça devagar.— Vi. Aquilo me deu nos nervos. Mas sabe o que é pior? Ele fingir que não nos conhece.— Me fala a verdade, bastardo!— Já aconteceu algo entre você e a Luna?— Claro que não David, eu até já tentei, mas ela é osso duro de roer, nunca me deu mole, na verdade nem a mim,
Darlan LambertiniO caos sempre foi o meu lar. A escuridão da noite, as luzes de neon que parecem dançar ao som do baixo estrondoso, o aroma inebriante de álcool misturado ao perfume das mulheres que transitam como predadoras... É nesse ambiente que eu respiro, que meu coração bate mais forte. Às vésperas de completar 20 anos, dizem que sou jovem demais para entender o peso do mundo Lambertini, mas eu discordo. A bagunça e o prazer são a minha sala de aula preferida, e aqui, entre corpos e segredos, aprendi o que nenhum professor do meu curso de Direito poderia me ensinar, viver intensamente é tão viciante quanto perigoso.Entro no Sexy Night Club como um rei em seu castelo. Os seguranças apenas acenam, já acostumados com a minha presença, e o ambiente me recebe com uma familiaridade quase perturbadora. Luxo e decadência dividem o mesmo espaço, como amantes que não conseguem se largar. Esse clube é um dos negócios da família, uma fortaleza onde as regras são tão flexíveis quanto o ca
DarlanNatália e Fernanda se aproximam, cada uma com sua intensidade própria. Natália, com um sorriso malicioso, passa os dedos pelo meu cabelo enquanto sussurra algo ao pé do meu ouvido que me faz sorrir de canto. Fernanda, mais discreta, mas com olhos que brilham de curiosidade e desejo, deixa que as mãos falem por ela, explorando com um toque que mistura timidez e ousadia.As risadas ecoam pela sala enquanto os copos vazios de whisky e gin se acumulam na mesa ao lado. A tensão é quase tangível, e as luzes de neon que se infiltram pela sala de vidro pintam nossos corpos com tons de vermelho e azul, como se fossem reflexos do calor e da loucura que tomam conta de nós.Clara toma o controle novamente, puxando-me para o sofá enquanto Natália e Fernanda se posicionam ao meu lado, cada uma reivindicando um pedaço de atenção. As mãos encontram pele, os beijos se tornam mais intensos e mais quentes. As roupas, uma a uma, se juntam em um amontoado no chão, esquecidas.Clara ri ao me ver hes
David LambertiniO sangue Lambertini não é apenas azul, é um veneno que paralisa os fracos e uma chama que consome os ousados. Desde cedo, aprendi que poder não se herda, ele se toma, se impõe. Meu sobrenome é um brasão que abre portas e assombra mentes, uma marca que pesa tanto quanto glorifica.Eu sou David Lambertini tenho 21 anos, sou um jovem disciplinado, perfeccionista, com uma mente afiada e um futuro definido e se você acha que a minha juventude me torna menos letal, é melhor rever os seus conceitos. Não sou apenas um estudante de Administração, em breve herdarei o império Lambertini, um trono forjado em concreto, contratos e sangue, muito sangue. Nasci para liderar, e não há espaço para hesitação em meu caminho. Sou o reflexo de meu pai, o Don Vittorio Lambertini, e o eco silencioso das lições de minha mãe, uma mulher cuja força nunca precisou de palavras.E uma coisa é certa, quem tentar se colocar no meu caminho vai pagar um preço alto.Meu coração? Esse foi moldado pelas
LizandraSempre me intrigou como olhares podem carregar histórias que jamais serão contadas. É como se cada par de olhos fosse um quebra-cabeça incompleto, uma coleção de peças que só fazem sentido para quem carrega. Desde pequena, aprendi a observar esses fragmentos, a buscar nos outros aquilo que as palavras não revelam. Mas nunca gostei do que via quando o foco recaía sobre mim. Talvez fossem meus olhos azuis, tão cristalinos quanto um lago sob a luz fria da manhã, ou o jeito calmo e sereno que uso para atravessar o mundo. De uma forma ou de outra, as pessoas sempre esperaram algo de mim. Algo que eu mesma nunca soube o que era.Sou a Lizandra Hurst, 21 anos, e vivo em meu próprio compasso, distante da urgência que parece mover todos ao meu redor. Estou cursando Medicina Veterinária, um caminho que escolhi porque os animais, ao contrário das pessoas, não julgam. Eles não esperam mais do que podem oferecer, e talvez seja isso que me fascine. Minha vida é simples, mas profundamente s