Naquela manhã, Amber acordou com um objetivo diferente. Pela primeira vez, ela não estava apenas tentando sobreviver. Agora, ela queria construir alguma coisa. Algo só dela. Já vestida e arrumada, desceu para o café da manhã onde Maria, como sempre, já havia preparado tudo. A mesa estava cheia de frutas frescas, ovos mexidos e torradas quentinhas. Benjamin já estava ali, devorando uma tigela de cereal com leite como se estivesse atrasado para uma maratona. - Bom dia, dorminhoca - disse ele com a boca meio cheia. - Bom dia, comilão - respondeu ela, sentando-se ao lado dele com um sorriso discreto. John apareceu no corredor em seguida, se jogou na cadeira e olhou para ambos sorrindo com um pouco de dor no rosto. - Vocês dois vão à escola juntos hoje? - O Benjamim tem ido de moto para a escola, mas não custava perguntar, queria saber para não ficar de vela no carro. - Na verdade - disse Amber, pegando uma maçã - hoje é o dia da apresentação dos projetos eletivos. Eu e Carla v
Fazia uma semana desde que Amber havia se inscrito na oficina de moda e iniciado o "Ateliê Livre" na escola. A cada novo dia, a garota que antes se escondia em corredores silenciosos agora desfilava com firmeza pelos mesmos caminhos que antes evitava. Ainda sentia receio, claro. O medo não some de uma vez — ele se esconde nos detalhes. Mas havia algo diferente nela agora: coragem. Naquela manhã de segunda-feira, ao chegar na escola com Benjamin e Carla, Amber foi surpreendida por uma movimentação perto da sala da diretoria. Professores falavam baixo entre si, enquanto alguns alunos cochichavam com expressão surpresa. Ela não queria bisbilhotar — não mais — mas o comentário que ouviu a fez parar. — É sério! Disseram que a escola vai receber a Verônica de volta com uma bolsa integral. Amber congelou. Por um momento, tudo ao seu redor ficou borrado, como se as paredes da escola tremessem. Veronica. O nome ainda ecoava em sua cabeça como uma ferida mal cic
Muitas histórias começam com um “Era uma vez” ou se passam em um lugar “tão, tão distante”. Mas não essa. Essa é a minha história — e posso te garantir que ela está bem longe de terminar com um “felizes para sempre”.Prazer, meu nome é Amber. E eu sou o motivo pelo qual você vai começar a duvidar que contos de fadas realmente funcionem fora dos livros.Estou no último ano do ensino médio, mas diferente da maioria dos veteranos que brilham pelos corredores da escola, eu passo despercebida. Quer dizer... se desconsiderarmos o apelido “a órfã” que carrego desde que minha adorável prima resolveu transformar minha tragédia pessoal em fofoca de corredor.Minha escola é um teatro, dividido entre classes sociais e padrões de beleza. E eu? Eu não me encaixo em nenhuma dessas categorias. Estudo ali apenas porque minha tia Olga, além de diretora da escola, também é — para minha total infelicidade — minha guardiã legal. Mas não me entenda mal. A ingratidão é recíproca.Meus pais morreram quando eu
A escola, para mim, sempre foi o próprio inferno. Mas este ano não é nem pelos motivos de sempre. É pior. Minha tia continua sendo a diretora — sim, a própria Cruella em carne, osso e maquiagem cara — e minha prima? Rainha do baile por três anos consecutivos. Três. E adivinha? Vai ganhar de novo esse ano, com certeza. A única coisa que muda são os jogadores de futebol que ela escolhe por temporada para chamar de “meu amor”.Meu objetivo, como nos outros anos, é simples: sobreviver mais um dia e juntar grana pra faculdade. Nada de universidades de elite, claro. Meu sonho mesmo é qualquer canto bem longe da minha tia e do teatro que ela chama de família.Parada em frente ao espelho, vejo a garota de sempre: cabelos longos e rebeldes, olhos claros, pele bronzeada — cortesia dos dias entregando panfletos sob o sol — e, claro, aquele uniforme horroroso que parece ter saído de um dorama genérico. Sainha, camisa social e a maldita gravatinha. O modelo foi escolha da minha tia, inspirada no su
— E esse ano, teremos mais um novo aluno para completar o nosso time de estrelas que é o Colégio Bernoulli. É com muito prazer que dou as boas-vindas a Benjamin William.E lá estava ele. Jaqueta de couro, calça justa e um sorriso que faria até a Madre Teresa repensar seus votos. Uma onda percorreu meu corpo. O auditório virou uma arena, gritos por todos os lados. As meninas quase desmaiando. Era como assistir à eleição relâmpago do novo rei do baile. Minha tia, a broaca oficial, ainda falou mais umas bobagens antes de nos liberar. Saí em direção ao meu armário. Como num passe de mágica, os celulares apitaram em sincronia com o início das aulas. Nossa escola tem um aplicativo próprio — dá pra fazer de tudo por ali, de reclamações sobre professores a pedidos de transferência. Um clique e voilà. Carla e John se aproximaram.— Garota, tu viu aquele espetáculo de homem? — John disse, se abanando com a própria mão.— Para com isso, John, você sabe que ele não é do nosso nível — Carla abriu o
Cresci numa família de diplomatas. Em outras palavras: nasci em berço de ouro, com a certeza de que herdaria terras, empresas, lojas e tudo mais que o sobrenome William pudesse me oferecer. Mas meu pai nunca permitiu que eu me tornasse um mimado. Pelo contrário, fez questão de me mostrar de perto a dureza da vida — a fome, a pobreza, e principalmente, a ignorância.Hoje vou entrar na mesma escola onde ele estudou. Foi lá que conheceu e se apaixonou por minha mãe. Mas ele me avisou: as coisas mudaram. Disse que a nova gestão, liderada por uma diretora gananciosa, transformou o lugar. Segundo ele, meu nome — William — valeria mais do que minha própria personalidade. Eu teria que aprender a navegar nesse ambiente onde meu título pesava mais que quem eu sou: Benjamin.Com a ajuda da minha ama, em poucos minutos já estava vestido e alimentado.— Ben, seu carro já está pronto. Só falta você.— Obrigado, Maria. Não sei o que seria de mim sem você — aproximei-me e beijei sua bochecha. Ela sorr
Faz cinco dias desde que vi Benjamin. Ele virou a celebridade do momento, o príncipe encantado que desmaiou diante da escola inteira e, mesmo assim, conseguiu sair por cima. Já eu... continuo sendo ninguém.Minha tia, com sua criatividade habitual, decidiu me punir furando os pneus da minha caminhonete — junto com sua filhinha predileta. Sabem que estou juntando cada centavo para a faculdade, e me atingiram onde mais dói. Resultado: tive que trabalhar o dobro para repor o prejuízo.Hoje é dia de encarar mais um turno na lanchonete da empresa do pai do Théo. Não é o pior dos lugares... até os amigos dele aparecerem. A partir daí, começa o inferno: lanches no chão, bebidas derramadas em mim, e a palhaçada clássica de colocarem o pé para eu tropeçar enquanto sirvo os outros clientes.Não quero começar o dia já me irritando, então me levanto e me arrumo. O uniforme de garçonete não me cai tão mal, e por um segundo me pego pensando nisso — Droga, estou começando a pensar como aqueles idiota
— Maria, chame o Daniel para mim. — Peço, me sentando na cama.— Ei, o médico disse repouso absoluto. — Ela corre até mim, ajusta os travesseiros nas minhas costas com aquele jeito cuidadoso de sempre.— Ah, Maria… já não sou mais uma criança. Posso me cuidar.— Pode até não ser mais criança, mas quando o assunto é teimosia… você volta a ser um bebê de colo. — Ela revira os olhos. — Fica quietinho aí. Já volto com o Daniel.Assim que ela cruza a porta, pego meu laptop. Vou direto para a área de pesquisa. Tento encontrar qualquer informação sobre Amber… nada. Frustrado, fecho o laptop com um suspiro e me ajeito na cama novamente. Batem à porta.— Pode entrar.— Mandou me chamar, Ben? — Daniel entra e fecha a porta atrás de si.— Sim. Preciso de algumas informações. E você é o homem certo para isso.— O que tem de tão importante? — Ele leva a mão ao queixo, pensativo. — Está interessado em alguém, Ben?— Claro que não! O que vocês nessa casa pensam de mim?! — Jogo uma almofada nele.— Op