II. O Alfa à Porta

O dia amanheceu com o cheiro da chuva pairando no ar, as nuvens ainda carregadas no horizonte. Serena despertou com a mente embaralhada, a lembrança dos olhos prateados ainda vívida em sua memória. Tinha sido real? Ou apenas um devaneio causado pelo cansaço?

Tentando afastar a sensação estranha, levantou-se e seguiu sua rotina matinal. O aroma forte de café preencheu sua pequena casa enquanto ela se sentava à mesa, distraída, rolando o feed do celular sem realmente absorver o conteúdo. Mas sua mente insistia em voltar à noite anterior.

Quando chegou ao escritório, ainda se sentia inquieta. O prédio era moderno e minimalista, com paredes de vidro que permitiam a entrada de luz natural. Seus colegas já estavam em suas mesas, imersos em projetos e conversas. Laura, sua colega mais próxima, percebeu seu olhar distante.

— Você está bem? — perguntou, franzindo o cenho. — Parece que viu um fantasma.

Serena hesitou antes de responder:

— Não é nada. Só não dormi muito bem.

Laura estreitou os olhos, mas não insistiu. Sabia que Serena não era do tipo que compartilhava suas preocupações com facilidade.

A manhã transcorreu sem grandes incidentes, até que, por volta do meio-dia, o cheiro voltou.

Aquele mesmo aroma amadeirado, agora mais intenso, invadiu seu espaço como uma tempestade. Serena congelou, sua respiração presa na garganta. E então, como se atraída por um ímã, seus olhos foram até a entrada do escritório.

Lá estava ele.

O homem da noite anterior.

Vestia uma camisa escura, dobrada nos antebraços, e calças jeans escuras que realçavam sua presença dominante. Seus cabelos eram negros como a noite, ligeiramente desgrenhados, e seus olhos prateados a prenderam no lugar.

Ele não desviou o olhar, atravessando a recepção sem hesitar, como se soubesse exatamente onde encontrá-la.

Serena engoliu em seco quando ele parou diante de sua mesa.

— Precisamos conversar — sua voz era baixa, firme, carregada de algo que a fez estremecer.

O coração de Serena disparou.

Ela não sabia quem ele era, mas tinha certeza de que sua vida jamais seria a mesma depois desse encontro.

O silêncio entre eles era carregado de eletricidade. Serena sentia o olhar de Dominic cravado nela, como se pudesse ver além da sua fachada de calma aparente.

— Quem é você? — sua voz saiu mais firme do que esperava.

Os lábios dele se curvaram em um sorriso enigmático.

— Dominic. — Ele fez uma pausa, como se esperasse que o nome tivesse algum efeito sobre ela. — E você é Serena.

Ela se enrijeceu. Como ele sabia seu nome?

— Precisa que me escute — continuou ele, inclinando-se levemente. — Não é seguro para você continuar aqui sozinha.

Serena riu, cruzando os braços.

— Você está brincando? Me perseguindo pela noite e agora aparecendo no meu trabalho? Parece que sou mais segura sem você por perto.

Dominic suspirou, mas seus olhos prateados brilharam, intensos.

— Você não entende, Serena. Você está sendo caçada. E eu sou o único que pode impedir isso.

Serena sentiu um arrepio percorrer sua espinha. As palavras de Dominic ecoaram em sua mente: Você está sendo caçada.

Ela cruzou os braços, tentando manter uma expressão firme, mas seu coração martelava contra o peito.

— Isso é ridículo. Por que alguém estaria atrás de mim? Eu não sou ninguém importante.

Dominic observou-a em silêncio por um instante, como se ponderasse até onde poderia ir com aquela conversa. Então, deu um passo à frente, inclinando-se ligeiramente sobre sua mesa, e Serena sentiu novamente aquele aroma amadeirado e intenso invadindo seus sentidos.

— Você pode achar que sua vida tem sido discreta, Serena, mas seu sangue conta uma história diferente.

Ela piscou, confusa.

— Meu… sangue?

Dominic assentiu, a expressão sombria.

— Você não faz ideia de quem realmente é. Nem do que significa ser um ômega como você.

Serena riu, mas a insegurança em sua voz a traiu.

— Eu sei exatamente quem eu sou. Vivo minha vida tranquilamente, trabalho, pago minhas contas e não me envolvo com matilhas. E você, um estranho, aparece do nada e quer me dizer que minha vida inteira foi uma mentira?

Os olhos prateados de Dominic brilharam com algo que ela não conseguiu decifrar.

— Não é tão simples. Há aqueles que a querem… e não pelos motivos certos.

O estômago de Serena revirou. Ela queria acreditar que aquilo era um jogo, uma brincadeira estranha de um alfa controlador tentando intimidá-la. Mas algo na forma como ele falava, na tensão sutil em seu maxilar, dizia que ele não estava mentindo.

— Quem? — sua voz saiu mais baixa do que pretendia.

Dominic hesitou por um breve segundo. Então, finalmente respondeu:

— Os caçadores.

A palavra pairou no ar como uma maldição, carregada de algo ancestral e perigoso.

Serena sentiu seu corpo reagir antes mesmo que sua mente processasse. Seu peito subia e descia rapidamente, a respiração curta. Ela já tinha ouvido histórias sussurradas sobre caçadores – aqueles que perseguiam lobisomens como se fossem feras a serem exterminadas. Mas eram apenas mitos… não eram?

— Isso é loucura — murmurou, desviando o olhar. — Essas histórias não passam de lendas.

Dominic franziu a testa, e quando falou de novo, sua voz estava mais baixa, quase um sussurro.

— Você acha que estou mentindo? Então olhe ao seu redor, Serena. Veja se não percebe os sinais. O cheiro estranho no ar, a sensação de estar sendo observada, a inquietação que tem te acompanhado. Isso não é coincidência.

O coração de Serena apertou. Ele estava certo. Desde a noite anterior, ela sentia algo errado, como se algo a perseguisse nas sombras.

Ela passou a língua pelos lábios, a mente girando.

— E o que você quer de mim?

Dominic ergueu uma sobrancelha, como se a resposta fosse óbvia.

— Quero te manter viva.

O silêncio entre eles se alongou, carregado de algo desconhecido. Serena queria rejeitar tudo aquilo, ignorar e seguir com sua vida como sempre fez. Mas uma parte dela sabia que, a partir do momento em que viu aqueles olhos prateados na floresta, não havia mais volta.

Dominic lhe oferecia uma escolha e ela precisava decidir rápido.

Mas afinal de contas, deveria ela confiar em um completo estranho?

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