A brisa fresca da tarde soprou contra o rosto de Serena enquanto ela se apoiava na parede do lado de fora do escritório, tentando processar a presença intimidadora de Dominic. Era como se o ar ao redor dele estivesse carregado de algo que mexia com seus instintos, deixando-a inquieta. Dominic se mantinha a poucos passos de distância, com uma postura relaxada, mas ao mesmo tempo predatória, como se estivesse sempre pronto para agir.
Seus olhos prateados pareciam ainda mais hipnotizantes sob a luz difusa do fim de tarde. Os cabelos negros caíam sobre sua testa de forma despreocupada, e a camisa escura, justa ao corpo, destacava cada contorno de sua musculatura. Ele não precisava dizer nada para exalar domínio. Estava no jeito como se movia, no peso de seu olhar, até mesmo no cheiro amadeirado e profundo que Serena ainda tentava ignorar.
Ela cruzou os braços, num gesto defensivo.
— Você parece tensa — Dominic quebrou o silêncio, inclinando a cabeça de leve, observando-a com um sorriso quase imperceptível.
— E você parece muito confortável para alguém que acabou de aparecer na minha vida sem explicação — retrucou Serena, cruzando os braços.
Dominic soltou um suspiro curto e olhou para o movimento da rua antes de voltar os olhos para ela.
— Eu não queria ter que abordar você assim, mas precisava ter certeza de que você me ouviria.
Ela arqueou uma sobrancelha, cética.
— Ouvir você dizer que estou em perigo? Por quê? O que eu fiz para ser alvo de qualquer coisa? Se for apenas um truque para me assustar? Alfas são conhecidos por sua manipulação. Como sei que você não está jogando comigo?
O alfa hesitou por um instante, como se escolhesse bem as palavras.
— Não é sobre o que você fez. É sobre o que você é. — Pausou brevemente. — Eu entendo sua desconfiança. — Inclinou levemente a cabeça. — Mas você sente, não sente? Alguma coisa está errada. Isso vem te incomodando desde ontem.
Serena trincou o maxilar. Claro que sentia. Mas isso não significava que confiaria nele. O fato de um alfa misterioso e absurdamente atraente aparecer do nada dizendo que ela estava sendo caçada parecia uma trama digna de um romance barato. Quem, em sã consciência, acreditaria nisso de imediato? Resolveu retrucar com humor para disfaçar sua crescente e nova preocupação.
— Me deixe adivinhar: Sou uma ômega e isso, de alguma forma, faz de mim um alvo?
Dominic sustentou o olhar dela.
— Entre outras coisas.
Serena sentiu um frio subir por sua espinha. Ele não estava brincando, mas isso não tornava mais fácil confiar nele.
— Vamos dizer que eu acredite na sua história. — Serena estreitou os olhos. — Por que alguém estaria atrás de mim? Eu sou apenas uma loba comum. Nunca fiz parte de nenhuma matilha, nunca causei problemas. Mal me transformo. — Seu tom estava carregado de ceticismo. — Que possível interesse esses caçadores poderiam ter em mim?
Dominic deu um passo à frente, e Serena sentiu seus músculos se enrijecerem, como se seu corpo antecipasse algo que sua mente ainda resistia a aceitar.
— Talvez você seja mais importante do que pensa.
Serena bufou, cruzando os braços e se curvando ainda mais sobre a parede em que estava encostada na esperança falha de aumentar a sua distância em relação ao moreno enigmático em sua frente.
— Isso não faz sentido. Eu não sou ninguém. Meu sangue não tem nenhuma linhagem especial, e eu escolhi ficar longe de tudo isso.
Dominic se inclinou um pouco mais, apoiando uma de suas mãos sobre a parede atrás de Serena de forma relaxada, ela retesou seu corpo em reação pela atitude inesperada.
— Escolheu, sim. Mas não pode fugir do que você é.
Serena revirou os olhos.
— Outra frase clichê de alfa. Você tem um livro com todas essas frases prontas? Ou simplesmente acha que toda loba vai se curvar diante da sua presença dominante?
Ele sorriu de leve, mas não era um sorriso de diversão, e sim algo mais calculista, como se estivesse tentando entender sua resistência.
— Eu não quero que você se curve, Serena. Quero que se proteja.
Ela o observou por um momento, analisando cada detalhe daquele homem. Havia algo nele que a incomodava. Ele era perigoso, mas não de forma ameaçadora. Era o tipo de perigo que poderia arrastá-la para um abismo do qual não conseguiria sair.
— E por que você se importa? — A pergunta saiu antes que ela pudesse conter.
O olhar de Dominic escureceu, e Serena viu uma centelha de algo desconhecido brilhar ali.
— Porque eu sou o único que pode te manter segura.
Serena sentiu o ar deixar seus pulmões por um instante, mas rapidamente recobrou o fôlego.
— E o que você ganha com isso?
Dominic aproximou-se mais do rosto de Serena, suas respirações quase se unindo, gerando calor no rosto um do outro, observando-a como um caçador observa sua presa. Serena arrepiou-se da pontinha do pé até o último fio de cabelo.
— Quero que você venha para minha matilha. Sob minha proteção. Assim, os caçadores não irão conseguir tocar em você.
Serena riu, descrente.
— E por que eu faria isso?
— Porque se continuar sozinha, não durará muito tempo.
As palavras foram ditas com uma frieza cortante. Dominic não parecia estar ameaçando-a, mas constatando um fato. Serena sentiu um frio na espinha.
Ela poderia simplesmente ignorá-lo, seguir sua vida e fingir que nada estava acontecendo. Mas e se ele estivesse certo? E se realmente houvesse algo à espreita nas sombras, esperando o momento certo para atacar?
Serena apertou os lábios, estudando-o por um longo momento. Tudo nela gritava para não confiar tão facilmente. Mas então, por que uma parte sua queria aceitar?
A dúvida continuava a ecoar dentro dela enquanto a noite começava a cair ao redor deles.
O quarto estava imerso na penumbra quando Serena acordou de sobressalto, o coração disparado como se tivesse corrido quilômetros. Sua respiração estava irregular, e demorou alguns segundos para que percebesse onde estava: em sua cama, envolta pelo calor dos cobertores, sua casa ainda mergulhada no silêncio da madrugada.Mas o sonho ainda pulsava em sua mente.Ela se lembrava de estar na floresta, envolta por uma névoa densa que escondia as sombras ao seu redor. No meio da névoa, um par de olhos brilhantes a observava. Um lobo, majestoso e imponente, de pelagem escura como a noite. Ele não parecia ameaçador, mas sua presença era intensa, quase sufocante. Os olhos prateados perfuravam a escuridão, fixando-se nela com um reconhecimento silencioso. Serena queria se mover, correr ou ao menos falar, mas estava paralisada.Então, ele avançou um passo, e tudo ao seu redor desapareceu.O sonho ainda pairava sobre sua mente quando ela olhou o relógio ao lado da cama: 4h13 da manhã. Suspirando,
A noite parecia interminável.Serena rolava na cama, incapaz de desligar sua mente. O silêncio da madrugada deveria ser reconfortante, mas, em vez disso, tornava o peso da noite anterior ainda mais intenso. A sensação de estar sendo observada, o arrepio na espinha, a sombra que se moveu no limite da floresta... Tudo se repetia em sua cabeça como um ciclo sem fim.Ela fechava os olhos, tentava se forçar a dormir, mas, sempre que conseguia um pouco de descanso, um par de olhos prateados emergia da escuridão em sua mente.O mesmo lobo.Observando.Esperando.O som estridente do despertador a arrancou do torpor, fazendo-a se erguer de súbito, o coração disparado. Seu peito subia e descia enquanto piscava algumas vezes, tentando se situar. O quarto ainda estava em penumbra, iluminado apenas pelas frestas de luz que escapavam da cortina.Respirou fundo.Era fim de semana. Uma folga merecida.Ela precisava tirar a cabeça disso.☽❂☾Depois de um banho morno para aliviar a tensão, Serena escol
O silêncio entre Serena e Dominic era confortável.Ela estava recostada no banco do passageiro, sentindo a vibração do motor potente do Maserati Levante Trofeo, o carro preto luxuoso que Dominic dirigia com maestria. O interior era espaçoso, os bancos de couro macios, e o painel iluminado por uma luz sutil. O ronco do motor era baixo e constante, embalando seus pensamentos enquanto olhava para a paisagem que se desdobrava pela estrada. Serena silenciosamente se perguntava quem de fato era Dominic, mas aquele carro, suas vestes, sua aparência, modo de agir e seu grau de educação deixavam claros de que ele vinha de alguma família rica, talvez bem rica, ela só não conseguia distingir quanto ainda.A cidade logo ficou para trás, dando lugar a uma vasta região de mata fechada e estradas sinuosas. As árvores, altas e imponentes, formavam um corredor natural, e os raios da lua escapavam entre as copas, lançando sombras que dançavam conforme o carro passava. O ar ali era diferente—mais puro,
O primeiro som que Serena ouviu ao acordar foi o suave crepitar da madeira queimando na lareira. A luz fraca da manhã filtrava-se através das cortinas finas, tingindo o quarto de um tom dourado suave.Ela piscou algumas vezes, permitindo que a consciência a alcançasse. Durante alguns instantes, apenas permaneceu ali, sentindo o peso das cobertas sobre o corpo e ouvindo o silêncio do castelo. Era diferente de qualquer manhã que já tivera. Não havia o barulho da cidade, os ruídos abafados de vizinhos ou o som dos passos de desconhecidos no corredor de um prédio qualquer. Ali, tudo parecia… tranquilo.Tranquilo demais.Inspirando profundamente, afastou as cobertas e se levantou. Sentiu o piso frio contra os pés descalços e estremeceu levemente antes de seguir até o banheiro.A água quente do banho ajudou a despertar por completo. Enquanto massageava os ombros, observou o próprio reflexo no espelho embaçado.Serena sempre teve uma beleza incomum. Sua pele pálida contrastava com os longos
A noite caiu com uma suavidade inquietante, trazendo consigo uma aura de expectativa e tensão. No interior do castelo, Serena estava diante do espelho de seu quarto, observando sua própria imagem com um misto de curiosidade e hesitação.Sua pele pálida contrastava com os cabelos longos de um castanho avermelhado intenso, que caíam em ondas sobre seus ombros nus. Os olhos cor de mel refletiam a luz branda do ambiente, capturando suas emoções conflitantes. O vestido branco que usava era leve, fluido, com um caimento que se ajustava ao corpo sem ser vulgar. Os ombros expostos adicionavam um toque delicado, e a bainha alcançava a altura exata entre a formalidade e o conforto.Ela não era ingênua quanto à sua aparência. Sabia que, dentro do universo dos lobisomens, a estética lupina possuía uma característica naturalmente chamativa. Os traços bem definidos, os corpos ágeis e marcantes, tudo fazia parte de sua biologia. Mas nunca havia se sentido tão consciente disso quanto agora, prestes a
O jantar transcorria em completo silêncio. O único som que preenchia a sala era o tilintar ocasional dos talheres contra os pratos de porcelana, um ruído pequeno, mas que parecia ensurdecedor diante do peso das revelações recentes.Serena segurava os talheres com firmeza, mas a comida no prato estava praticamente intocada. Seu estômago se revirava, incapaz de aceitar qualquer coisa enquanto sua mente girava em torno das palavras de Dominic."Você foi roubada de sua família real."O choque ainda estava fresco, latejando em sua mente como um tambor incessante. Cada pedaço de sua vida, cada lembrança que acreditava verdadeira, agora parecia envolta em uma névoa de incerteza.Do outro lado da mesa, Dominic mantinha-se atento a cada pequeno movimento dela, como se temesse que a qualquer momento ela se levantasse e simplesmente fugisse. Seu olhar era intenso, mas também carregado de algo que Serena não queria interpretar no momento.Os demais à mesa pareciam igualmente afetados pela tensão
O escritório era um ambiente que, até pouco tempo atrás, Serena considerava seu refúgio. A previsibilidade das tarefas, a rotina organizada, as interações limitadas aos colegas e clientes—tudo isso a ajudava a manter um senso de normalidade em meio ao caos que sua vida às vezes se tornava.Mas, agora, sentada à sua mesa, revisando documentos e organizando planilhas, a sensação de normalidade parecia uma ilusão frágil, prestes a desmoronar a qualquer momento.A presença de Simon, ainda que discreta, era um lembrete constante disso. Ele não estava dentro do escritório, claro, mas Serena sabia que ele estava por perto. Do lado de fora do prédio, talvez encostado no carro, observando qualquer movimentação suspeita.Ela tentou ignorar esse pensamento e focar no trabalho. Havia prazos a cumprir, e sua chefe, Sra. Hollingsworth, não era do tipo que aceitava desculpas, por mais justificáveis que fossem.— Serena, posso falar com você um instante? — A voz da mulher a tirou de seu devaneio.Ser
A tensão pairava no ar como eletricidade antes de uma tempestade. Dominic não tirava os olhos de Serena, o olhar carregado de algo que ela não conseguia decifrar completamente—raiva, frustração, talvez até um resquício de algo mais profundo, mais primitivo.— Você tem ideia do que isso significa, Serena? — A voz dele era um rosnado baixo, perigoso.Ela engoliu em seco. O cansaço do dia, a ansiedade crescente e agora a intensidade sufocante de Dominic estavam começando a irritá-la.— Eu não sou burra, Dominic. É claro que sei o que significa.Os olhos dele brilharam com algo perigoso.— Então por que diabos você está agindo como se isso não fosse grande coisa?Serena cruzou os braços, tentando manter a compostura.— O que você quer que eu faça? Que me tranque aqui e espere vocês resolverem minha vida por mim?— Se for isso que for necessário para te manter viva, sim.Ela sentiu um calor subir pelo corpo—e não era apenas raiva. O jeito como ele falava, o domínio que exalava em cada pala