III. Sombras da dúvida

A brisa fresca da tarde soprou contra o rosto de Serena enquanto ela se apoiava na parede do lado de fora do escritório, tentando processar a presença intimidadora de Dominic. Era como se o ar ao redor dele estivesse carregado de algo que mexia com seus instintos, deixando-a inquieta. Dominic se mantinha a poucos passos de distância, com uma postura relaxada, mas ao mesmo tempo predatória, como se estivesse sempre pronto para agir.

Seus olhos prateados pareciam ainda mais hipnotizantes sob a luz difusa do fim de tarde. Os cabelos negros caíam sobre sua testa de forma despreocupada, e a camisa escura, justa ao corpo, destacava cada contorno de sua musculatura. Ele não precisava dizer nada para exalar domínio. Estava no jeito como se movia, no peso de seu olhar, até mesmo no cheiro amadeirado e profundo que Serena ainda tentava ignorar.

Ela cruzou os braços, num gesto defensivo.

— Você parece tensa — Dominic quebrou o silêncio, inclinando a cabeça de leve, observando-a com um sorriso quase imperceptível.

— E você parece muito confortável para alguém que acabou de aparecer na minha vida sem explicação — retrucou Serena, cruzando os braços.

Dominic soltou um suspiro curto e olhou para o movimento da rua antes de voltar os olhos para ela.

— Eu não queria ter que abordar você assim, mas precisava ter certeza de que você me ouviria.

Ela arqueou uma sobrancelha, cética.

— Ouvir você dizer que estou em perigo? Por quê? O que eu fiz para ser alvo de qualquer coisa? Se for apenas um truque para me assustar? Alfas são conhecidos por sua manipulação. Como sei que você não está jogando comigo?

O alfa hesitou por um instante, como se escolhesse bem as palavras.

— Não é sobre o que você fez. É sobre o que você é. — Pausou brevemente. — Eu entendo sua desconfiança. — Inclinou levemente a cabeça. — Mas você sente, não sente? Alguma coisa está errada. Isso vem te incomodando desde ontem.

Serena trincou o maxilar. Claro que sentia. Mas isso não significava que confiaria nele. O fato de um alfa misterioso e absurdamente atraente aparecer do nada dizendo que ela estava sendo caçada parecia uma trama digna de um romance barato. Quem, em sã consciência, acreditaria nisso de imediato? Resolveu retrucar com humor para disfaçar sua crescente e nova preocupação.

— Me deixe adivinhar: Sou uma ômega e isso, de alguma forma, faz de mim um alvo?

Dominic sustentou o olhar dela.

— Entre outras coisas.

Serena sentiu um frio subir por sua espinha. Ele não estava brincando, mas isso não tornava mais fácil confiar nele.

— Vamos dizer que eu acredite na sua história. — Serena estreitou os olhos. — Por que alguém estaria atrás de mim? Eu sou apenas uma loba comum. Nunca fiz parte de nenhuma matilha, nunca causei problemas. Mal me transformo. — Seu tom estava carregado de ceticismo. — Que possível interesse esses caçadores poderiam ter em mim?

Dominic deu um passo à frente, e Serena sentiu seus músculos se enrijecerem, como se seu corpo antecipasse algo que sua mente ainda resistia a aceitar.

— Talvez você seja mais importante do que pensa.

Serena bufou, cruzando os braços e se curvando ainda mais sobre a parede em que estava encostada na esperança falha de aumentar a sua distância em relação ao moreno enigmático em sua frente. 

— Isso não faz sentido. Eu não sou ninguém. Meu sangue não tem nenhuma linhagem especial, e eu escolhi ficar longe de tudo isso.

Dominic se inclinou um pouco mais, apoiando uma de suas mãos sobre a parede atrás de Serena de forma relaxada, ela retesou seu corpo em reação pela atitude inesperada.

— Escolheu, sim. Mas não pode fugir do que você é.

Serena revirou os olhos.

— Outra frase clichê de alfa. Você tem um livro com todas essas frases prontas? Ou simplesmente acha que toda loba vai se curvar diante da sua presença dominante?

Ele sorriu de leve, mas não era um sorriso de diversão, e sim algo mais calculista, como se estivesse tentando entender sua resistência.

— Eu não quero que você se curve, Serena. Quero que se proteja.

Ela o observou por um momento, analisando cada detalhe daquele homem. Havia algo nele que a incomodava. Ele era perigoso, mas não de forma ameaçadora. Era o tipo de perigo que poderia arrastá-la para um abismo do qual não conseguiria sair.

— E por que você se importa? — A pergunta saiu antes que ela pudesse conter.

O olhar de Dominic escureceu, e Serena viu uma centelha de algo desconhecido brilhar ali.

— Porque eu sou o único que pode te manter segura.

Serena sentiu o ar deixar seus pulmões por um instante, mas rapidamente recobrou o fôlego.

— E o que você ganha com isso?

Dominic aproximou-se mais do rosto de Serena, suas respirações quase se unindo, gerando calor no rosto um do outro, observando-a como um caçador observa sua presa. Serena arrepiou-se da pontinha do pé até o último fio de cabelo.

— Quero que você venha para minha matilha. Sob minha proteção. Assim, os caçadores não irão conseguir tocar em você.

Serena riu, descrente.

— E por que eu faria isso?

— Porque se continuar sozinha, não durará muito tempo.

As palavras foram ditas com uma frieza cortante. Dominic não parecia estar ameaçando-a, mas constatando um fato. Serena sentiu um frio na espinha.

Ela poderia simplesmente ignorá-lo, seguir sua vida e fingir que nada estava acontecendo. Mas e se ele estivesse certo? E se realmente houvesse algo à espreita nas sombras, esperando o momento certo para atacar?

Serena apertou os lábios, estudando-o por um longo momento. Tudo nela gritava para não confiar tão facilmente. Mas então, por que uma parte sua queria aceitar?

A dúvida continuava a ecoar dentro dela enquanto a noite começava a cair ao redor deles.

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