O escritório era um ambiente que, até pouco tempo atrás, Serena considerava seu refúgio. A previsibilidade das tarefas, a rotina organizada, as interações limitadas aos colegas e clientes—tudo isso a ajudava a manter um senso de normalidade em meio ao caos que sua vida às vezes se tornava.Mas, agora, sentada à sua mesa, revisando documentos e organizando planilhas, a sensação de normalidade parecia uma ilusão frágil, prestes a desmoronar a qualquer momento.A presença de Simon, ainda que discreta, era um lembrete constante disso. Ele não estava dentro do escritório, claro, mas Serena sabia que ele estava por perto. Do lado de fora do prédio, talvez encostado no carro, observando qualquer movimentação suspeita.Ela tentou ignorar esse pensamento e focar no trabalho. Havia prazos a cumprir, e sua chefe, Sra. Hollingsworth, não era do tipo que aceitava desculpas, por mais justificáveis que fossem.— Serena, posso falar com você um instante? — A voz da mulher a tirou de seu devaneio.Ser
A tensão pairava no ar como eletricidade antes de uma tempestade. Dominic não tirava os olhos de Serena, o olhar carregado de algo que ela não conseguia decifrar completamente—raiva, frustração, talvez até um resquício de algo mais profundo, mais primitivo.— Você tem ideia do que isso significa, Serena? — A voz dele era um rosnado baixo, perigoso.Ela engoliu em seco. O cansaço do dia, a ansiedade crescente e agora a intensidade sufocante de Dominic estavam começando a irritá-la.— Eu não sou burra, Dominic. É claro que sei o que significa.Os olhos dele brilharam com algo perigoso.— Então por que diabos você está agindo como se isso não fosse grande coisa?Serena cruzou os braços, tentando manter a compostura.— O que você quer que eu faça? Que me tranque aqui e espere vocês resolverem minha vida por mim?— Se for isso que for necessário para te manter viva, sim.Ela sentiu um calor subir pelo corpo—e não era apenas raiva. O jeito como ele falava, o domínio que exalava em cada pala
O silêncio do quarto contrastava com a tempestade de pensamentos na mente de Serena. Ela encarava a tela do celular, os dedos hesitantes antes de finalmente digitar a mensagem para sua chefe:"Sra. Hollingsworth, preciso me ausentar por algumas semanas. Espero que compreenda. Prometo compensar o tempo perdido assim que retornar."Aperta "enviar" e solta um suspiro frustrado. Ela se lembra da última conversa que tiveram no escritório, da promessa de que se dedicaria ainda mais ao trabalho. Agora, tudo parecia distante, como se sua antiga vida estivesse escapando por entre seus dedos.Com um suspiro cansado, deixou o celular de lado e se acomodou na cama, mas demorou a pegar no sono. Quando finalmente adormeceu, foi arrastada para um sonho enigmático.Serena estava na floresta, cercada por uma névoa densa e prateada. O ar era carregado com uma energia selvagem, e então ela o viu.O lobo negro.Os olhos prateados perfuravam-na como lâminas afiadas. Havia algo hipnótico naquela criatura—U
Serena ainda sentia a pele formigar, como se os olhos de Dominic ainda estivessem sobre ela.Mesmo após o invasor ter desaparecido na floresta, mesmo depois de todos terem retomado a postura, o peso daquele olhar ficou cravado nela como uma marca invisível. Não era o olhar frio e distante que ele sustentou a manhã inteira, mas também não carregava o mesmo calor dos dias anteriores. Era algo diferente. Intenso. Incompreensível.A adrenalina ainda pulsava nas veias de Serena enquanto os lobos retornavam à forma humana, um a um, na clareira próxima à cachoeira. O ar ao redor parecia carregado com eletricidade, e a tensão do ataque inesperado ainda pairava entre eles.Dominic permaneceu em sua forma lupina por mais alguns instantes, os olhos prateados fixos na direção por onde o invasor havia fugido. Seu peito arfava de forma controlada, mas Serena sabia que ele estava furioso. Quando finalmente se transformou de volta, seu olhar voltou-se para o grupo.— Temos companhia indesejada. — Sua
O peso da noite ainda pairava sobre Serena quando ela abriu os olhos. A escuridão de seu quarto era entrecortada apenas pelo brilho prateado da lua, filtrando-se através da grande janela. Seu corpo estava quente, como se estivesse em alerta mesmo durante o sono, e sua mente girava em círculos, relembrando as palavras que ouvira na biblioteca."Ele está confuso. Isso não é só sobre protegê-la."Serena se mexeu na cama, sentindo o coração bater contra as costelas. O que isso significava? Dominic não era do tipo que se deixava confundir. Ele era a essência do controle absoluto, da força e da convicção inabalável. Desde o primeiro momento em que o viu, ele carregava um magnetismo perigoso, uma presença que exigia respeito sem precisar dizer uma única palavra.E, ainda assim, algo nele mudara.Desde o jantar em que revelaram sua linhagem, Dominic começou a manter distância. Não como alguém que despreza, mas como alguém que teme se aproximar."Ele vai ter que decidir em algum momento."Sere
O peso da conversa com Dominic ainda pairava sobre Serena enquanto ela caminhava pelos corredores do castelo. O livro que ele lhe entregara estava firme em suas mãos, mas sua mente mal conseguia focar nas palavras impressas na capa de couro envelhecido."Porque eu não deveria me importar tanto."As palavras dele ecoavam em sua mente como um sussurro teimoso.Dominic não era um homem de confissões, muito menos de admitir fraquezas. O fato de que ele se sentia irritado – e que essa irritação vinha do quanto ele se importava – fazia algo estranho se remexer dentro dela.Ela suspirou, descendo as escadas até o salão principal. Havia um burburinho incomum na casa. Movimentos apressados, vozes discutindo em tons baixos. Ela encontrou Seth e Christopher próximos à porta da frente, observando algo do lado de fora.— O que está acontecendo? — perguntou, franzindo a testa.Seth olhou para ela e abriu um sorriso de canto.— Está prestes a ter uma aula prática sobre o que significa ser uma Luna.
A clareira onde Serena treinara mais cedo agora estava silenciosa, envolta pela brisa fria do final da tarde. O sol começava a se pôr, tingindo o céu com tons dourados e alaranjados, enquanto os pássaros noturnos cantavam ao longe.Depois do treinamento, os outros haviam se dispersado. Seth e Jeremy, exaustos, decidiram voltar para casa, e os demais também partiram, deixando apenas Serena e Dominic para trás.Ela se sentou sobre uma pedra coberta de musgo, sentindo a leve umidade da floresta na pele. Seus músculos estavam doloridos, mas de uma maneira boa. Pela primeira vez, sentia que tinha dado um passo concreto em direção a algo – mesmo sem saber exatamente o quê.Dominic permaneceu de pé por um momento, observando a paisagem, antes de caminhar até ela e se sentar sobre um tronco caído a poucos metros de distância.— Você não quebrou nada, então acho que podemos considerar isso um progresso.Serena revirou os olhos.— Você sempre tem que fazer um comentário sarcástico?— Eu chamo d
O caminho de volta ao castelo foi tranquilo, pontuado apenas pelo som de folhas secas sob seus pés e o farfalhar da floresta ao redor. Serena sentia o peso das revelações ainda pulsando dentro dela, como um nó apertado em seu peito. Seu passado, sua linhagem… a verdade parecia estar se desenrolando diante de seus olhos, mas ainda envolta em sombras.Dominic caminhava ao seu lado em silêncio, as mãos nos bolsos, sua presença tão sólida quanto as árvores ao redor. Pela primeira vez, ele parecia menos o Alfa imponente e mais um homem que carregava cicatrizes invisíveis.Ao se aproximarem da entrada do castelo, Dominic quebrou o silêncio:— Você precisa descansar. Amanhã será um dia importante.Serena arqueou uma sobrancelha, olhando para ele com desconfiança.— Por quê?— A matilha precisa reconhecer você. Oficialmente.Ela parou de andar.— Como assim?Dominic virou-se para encará-la. Seu olhar era firme, mas não duro.— Você é uma Luna. E, gostando ou não, isso faz de você uma peça cen