A lua cheia pairava no céu como um olho prateado, banhando a paisagem de Pembrokeshire com sua luz espectral. Serena puxou o casaco mais rente ao corpo, tentando afastar o frio cortante que invadia a noite. Caminhava lentamente pela trilha que levava de seu escritório até sua casa alugada, um trajeto que ela já conhecia de cor. As ruas estavam vazias, apenas o som distante das ondas quebrando contra as rochas ecoava na escuridão.
Desde pequena, Serena sentia um magnetismo estranho em noites como essa. Era como se algo dentro dela estivesse inquieto, ansioso por algo que nem mesmo ela sabia nomear. Mas ao contrário dos alfas da matilha local, que celebravam a lua cheia como um momento de conexão com suas naturezas lupinas, ela preferia ignorar. Não era parte daquilo. Nunca fora.
Suspirando, acelerou o passo. Ainda sentia os efeitos do longo expediente no escritório de arquitetura, onde passou o dia ajustando os detalhes de um novo projeto para um restaurante sofisticado no centro da cidade. Serena gostava do trabalho, da precisão das linhas, da simetria entre formas e cores. Criar algo belo e funcional era uma arte, e ela se orgulhava disso. Mas o cansaço a consumia agora, e tudo o que queria era um banho quente e uma noite de sono profundo.
O vento soprou forte, trazendo consigo um cheiro novo. Um aroma amadeirado, denso, misturado ao perfume de algo que ela não conseguia definir. Serena parou por um instante, franzindo o cenho. Seu lado ômega reagiu antes de sua mente, o estômago revirando em um misto de alerta e curiosidade. Olhou ao redor, mas não viu ninguém. Apenas a escuridão silenciosa.
“Estou ficando paranoica”, murmurou para si mesma, retomando a caminhada.
Chegou em casa pouco depois, destrancando a porta e jogando as chaves sobre a pequena mesa de madeira no hall de entrada. O espaço era modesto, mas aconchegante. Tons neutros, luzes amareladas e plantas cuidadosamente dispostas pelos cantos faziam dali um refúgio tranquilo. Serena chutou os sapatos, tirou o casaco e foi direto para o banheiro.
A água quente aliviou a tensão de seus músculos, mas não acalmou a sensação inquietante que persistia. Aquela fragrância ainda impregnava suas narinas, como se tivesse grudado nela de alguma forma.
Foi só quando se deitou na cama, envolta no cobertor macio, que sentiu seu corpo finalmente relaxar. Seus olhos se fecharam, e, por um momento, tudo pareceu normal.
Até o uivo ecoar na noite.
Serena se sentou de sobressalto, seu coração disparado. O som ressoou mais uma vez, profundo e carregado de uma emoção que ela não soube decifrar. Não era um uivo comum. Havia algo nele – algo que despertava um instinto primal dentro dela.
Levantou-se e foi até a janela, afastando a cortina com cuidado. Lá fora, a floresta que margeava sua rua parecia maior do que o normal, as sombras das árvores oscilando com o vento. Seus olhos percorreram a escuridão, buscando qualquer sinal de movimento.
Então, ela viu.
No limite da floresta, entre as sombras e a luz da lua, um par de olhos brilhantes a observava. Olhos prateados, penetrantes. Uma silhueta alta e robusta se destacava contra o fundo escuro, os músculos evidentes mesmo na forma humana. Um alfa.
Serena sentiu o ar sair de seus pulmões em um sopro curto. Ela não conhecia aquele homem, e, no entanto, algo nele fazia seu coração martelar contra o peito. Era o dono do cheiro que a perseguiu desde sua caminhada?
O estranho não se moveu. Apenas ficou ali, encarando-a, como se esperasse algo.
Seu lobo interior rosnou, inquieto.
E então, num piscar de olhos, ele desapareceu na escuridão.
O dia amanheceu com o cheiro da chuva pairando no ar, as nuvens ainda carregadas no horizonte. Serena despertou com a mente embaralhada, a lembrança dos olhos prateados ainda vívida em sua memória. Tinha sido real? Ou apenas um devaneio causado pelo cansaço?
Tentando afastar a sensação estranha, levantou-se e seguiu sua rotina matinal. O aroma forte de café preencheu sua pequena casa enquanto ela se sentava à mesa, distraída, rolando o feed do celular sem realmente absorver o conteúdo. Mas sua mente insistia em voltar à noite anterior.
Quando chegou ao escritório, ainda se sentia inquieta. O prédio era moderno e minimalista, com paredes de vidro que permitiam a entrada de luz natural. Seus colegas já estavam em suas mesas, imersos em projetos e conversas. Laura, sua colega mais próxima, percebeu seu olhar distante.
— Você está bem? — perguntou, franzindo o cenho. — Parece que viu um fantasma.
Serena hesitou antes de responder:
— Não é nada. Só não dormi muito bem.
Laura estreitou os olhos, mas não insistiu. Sabia que Serena não era do tipo que compartilhava suas preocupações com facilidade.
A manhã transcorreu sem grandes incidentes, até que, por volta do meio-dia, o cheiro voltou.
Aquele mesmo aroma amadeirado, agora mais intenso, invadiu seu espaço como uma tempestade. Serena congelou, sua respiração presa na garganta. E então, como se atraída por um ímã, seus olhos foram até a entrada do escritório.
Lá estava ele.
O homem da noite anterior.
Vestia uma camisa escura, dobrada nos antebraços, e calças jeans escuras que realçavam sua presença dominante. Seus cabelos eram negros como a noite, ligeiramente desgrenhados, e seus olhos prateados a prenderam no lugar.
Ele não desviou o olhar, atravessando a recepção sem hesitar, como se soubesse exatamente onde encontrá-la.
Serena engoliu em seco quando ele parou diante de sua mesa.
— Precisamos conversar — sua voz era baixa, firme, carregada de algo que a fez estremecer.
O coração de Serena disparou.
Ela não sabia quem ele era.
Mas tinha certeza de que sua vida jamais seria a mesma depois desse encontro.
O dia amanheceu com o cheiro da chuva pairando no ar, as nuvens ainda carregadas no horizonte. Serena despertou com a mente embaralhada, a lembrança dos olhos prateados ainda vívida em sua memória. Tinha sido real? Ou apenas um devaneio causado pelo cansaço?Tentando afastar a sensação estranha, levantou-se e seguiu sua rotina matinal. O aroma forte de café preencheu sua pequena casa enquanto ela se sentava à mesa, distraída, rolando o feed do celular sem realmente absorver o conteúdo. Mas sua mente insistia em voltar à noite anterior.Quando chegou ao escritório, ainda se sentia inquieta. O prédio era moderno e minimalista, com paredes de vidro que permitiam a entrada de luz natural. Seus colegas já estavam em suas mesas, imersos em projetos e conversas. Laura, sua colega mais próxima, percebeu seu olhar distante.— Você está bem? — perguntou, franzindo o cenho. — Parece que viu um fantasma.Serena hesitou antes de responder:— Não é nada. Só não dormi muito bem.Laura estreitou os o
A brisa fresca da tarde soprou contra o rosto de Serena enquanto ela se apoiava na parede do lado de fora do escritório, tentando processar a presença intimidadora de Dominic. Era como se o ar ao redor dele estivesse carregado de algo que mexia com seus instintos, deixando-a inquieta. Dominic se mantinha a poucos passos de distância, com uma postura relaxada, mas ao mesmo tempo predatória, como se estivesse sempre pronto para agir.Seus olhos prateados pareciam ainda mais hipnotizantes sob a luz difusa do fim de tarde. Os cabelos negros caíam sobre sua testa de forma despreocupada, e a camisa escura, justa ao corpo, destacava cada contorno de sua musculatura. Ele não precisava dizer nada para exalar domínio. Estava no jeito como se movia, no peso de seu olhar, até mesmo no cheiro amadeirado e profundo que Serena ainda tentava ignorar.Ela cruzou os braços, num gesto defensivo.— Você parece tensa — Dominic quebrou o silêncio, inclinando a cabeça de leve, observando-a com um sorriso qu
O quarto estava imerso na penumbra quando Serena acordou de sobressalto, o coração disparado como se tivesse corrido quilômetros. Sua respiração estava irregular, e demorou alguns segundos para que percebesse onde estava: em sua cama, envolta pelo calor dos cobertores, sua casa ainda mergulhada no silêncio da madrugada.Mas o sonho ainda pulsava em sua mente.Ela se lembrava de estar na floresta, envolta por uma névoa densa que escondia as sombras ao seu redor. No meio da névoa, um par de olhos brilhantes a observava. Um lobo, majestoso e imponente, de pelagem escura como a noite. Ele não parecia ameaçador, mas sua presença era intensa, quase sufocante. Os olhos prateados perfuravam a escuridão, fixando-se nela com um reconhecimento silencioso. Serena queria se mover, correr ou ao menos falar, mas estava paralisada.Então, ele avançou um passo, e tudo ao seu redor desapareceu.O sonho ainda pairava sobre sua mente quando ela olhou o relógio ao lado da cama: 4h13 da manhã. Suspirando,
A noite parecia interminável.Serena rolava na cama, incapaz de desligar sua mente. O silêncio da madrugada deveria ser reconfortante, mas, em vez disso, tornava o peso da noite anterior ainda mais intenso. A sensação de estar sendo observada, o arrepio na espinha, a sombra que se moveu no limite da floresta... Tudo se repetia em sua cabeça como um ciclo sem fim.Ela fechava os olhos, tentava se forçar a dormir, mas, sempre que conseguia um pouco de descanso, um par de olhos prateados emergia da escuridão em sua mente.O mesmo lobo.Observando.Esperando.O som estridente do despertador a arrancou do torpor, fazendo-a se erguer de súbito, o coração disparado. Seu peito subia e descia enquanto piscava algumas vezes, tentando se situar. O quarto ainda estava em penumbra, iluminado apenas pelas frestas de luz que escapavam da cortina.Respirou fundo.Era fim de semana. Uma folga merecida.Ela precisava tirar a cabeça disso.☽❂☾Depois de um banho morno para aliviar a tensão, Serena escol
O silêncio entre Serena e Dominic era confortável.Ela estava recostada no banco do passageiro, sentindo a vibração do motor potente do Maserati Levante Trofeo, o carro preto luxuoso que Dominic dirigia com maestria. O interior era espaçoso, os bancos de couro macios, e o painel iluminado por uma luz sutil. O ronco do motor era baixo e constante, embalando seus pensamentos enquanto olhava para a paisagem que se desdobrava pela estrada. Serena silenciosamente se perguntava quem de fato era Dominic, mas aquele carro, suas vestes, sua aparência, modo de agir e seu grau de educação deixavam claros de que ele vinha de alguma família rica, talvez bem rica, ela só não conseguia distingir quanto ainda.A cidade logo ficou para trás, dando lugar a uma vasta região de mata fechada e estradas sinuosas. As árvores, altas e imponentes, formavam um corredor natural, e os raios da lua escapavam entre as copas, lançando sombras que dançavam conforme o carro passava. O ar ali era diferente—mais puro,
O primeiro som que Serena ouviu ao acordar foi o suave crepitar da madeira queimando na lareira. A luz fraca da manhã filtrava-se através das cortinas finas, tingindo o quarto de um tom dourado suave.Ela piscou algumas vezes, permitindo que a consciência a alcançasse. Durante alguns instantes, apenas permaneceu ali, sentindo o peso das cobertas sobre o corpo e ouvindo o silêncio do castelo. Era diferente de qualquer manhã que já tivera. Não havia o barulho da cidade, os ruídos abafados de vizinhos ou o som dos passos de desconhecidos no corredor de um prédio qualquer. Ali, tudo parecia… tranquilo.Tranquilo demais.Inspirando profundamente, afastou as cobertas e se levantou. Sentiu o piso frio contra os pés descalços e estremeceu levemente antes de seguir até o banheiro.A água quente do banho ajudou a despertar por completo. Enquanto massageava os ombros, observou o próprio reflexo no espelho embaçado.Serena sempre teve uma beleza incomum. Sua pele pálida contrastava com os longos
A noite caiu com uma suavidade inquietante, trazendo consigo uma aura de expectativa e tensão. No interior do castelo, Serena estava diante do espelho de seu quarto, observando sua própria imagem com um misto de curiosidade e hesitação.Sua pele pálida contrastava com os cabelos longos de um castanho avermelhado intenso, que caíam em ondas sobre seus ombros nus. Os olhos cor de mel refletiam a luz branda do ambiente, capturando suas emoções conflitantes. O vestido branco que usava era leve, fluido, com um caimento que se ajustava ao corpo sem ser vulgar. Os ombros expostos adicionavam um toque delicado, e a bainha alcançava a altura exata entre a formalidade e o conforto.Ela não era ingênua quanto à sua aparência. Sabia que, dentro do universo dos lobisomens, a estética lupina possuía uma característica naturalmente chamativa. Os traços bem definidos, os corpos ágeis e marcantes, tudo fazia parte de sua biologia. Mas nunca havia se sentido tão consciente disso quanto agora, prestes a
O jantar transcorria em completo silêncio. O único som que preenchia a sala era o tilintar ocasional dos talheres contra os pratos de porcelana, um ruído pequeno, mas que parecia ensurdecedor diante do peso das revelações recentes.Serena segurava os talheres com firmeza, mas a comida no prato estava praticamente intocada. Seu estômago se revirava, incapaz de aceitar qualquer coisa enquanto sua mente girava em torno das palavras de Dominic."Você foi roubada de sua família real."O choque ainda estava fresco, latejando em sua mente como um tambor incessante. Cada pedaço de sua vida, cada lembrança que acreditava verdadeira, agora parecia envolta em uma névoa de incerteza.Do outro lado da mesa, Dominic mantinha-se atento a cada pequeno movimento dela, como se temesse que a qualquer momento ela se levantasse e simplesmente fugisse. Seu olhar era intenso, mas também carregado de algo que Serena não queria interpretar no momento.Os demais à mesa pareciam igualmente afetados pela tensão