Silverborn: Destinada ao Alfa
Silverborn: Destinada ao Alfa
Por: Nana
I. Olhos na Escuridão

A lua cheia pairava no céu como um olho prateado, banhando a paisagem de Pembrokeshire com sua luz espectral. Serena puxou o casaco mais rente ao corpo, tentando afastar o frio cortante que invadia a noite. Caminhava lentamente pela trilha que levava de seu escritório até sua casa alugada, um trajeto que ela já conhecia de cor. As ruas estavam vazias, apenas o som distante das ondas quebrando contra as rochas ecoava na escuridão.

Desde pequena, Serena sentia um magnetismo estranho em noites como essa. Era como se algo dentro dela estivesse inquieto, ansioso por algo que nem mesmo ela sabia nomear. Mas ao contrário dos alfas da matilha local, que celebravam a lua cheia como um momento de conexão com suas naturezas lupinas, ela preferia ignorar. Não era parte daquilo. Nunca fora.

Suspirando, acelerou o passo. Ainda sentia os efeitos do longo expediente no escritório de arquitetura, onde passou o dia ajustando os detalhes de um novo projeto para um restaurante sofisticado no centro da cidade. Serena gostava do trabalho, da precisão das linhas, da simetria entre formas e cores. Criar algo belo e funcional era uma arte, e ela se orgulhava disso. Mas o cansaço a consumia agora, e tudo o que queria era um banho quente e uma noite de sono profundo.

O vento soprou forte, trazendo consigo um cheiro novo. Um aroma amadeirado, denso, misturado ao perfume de algo que ela não conseguia definir. Serena parou por um instante, franzindo o cenho. Seu lado ômega reagiu antes de sua mente, o estômago revirando em um misto de alerta e curiosidade. Olhou ao redor, mas não viu ninguém. Apenas a escuridão silenciosa.

“Estou ficando paranoica”, murmurou para si mesma, retomando a caminhada.

Chegou em casa pouco depois, destrancando a porta e jogando as chaves sobre a pequena mesa de madeira no hall de entrada. O espaço era modesto, mas aconchegante. Tons neutros, luzes amareladas e plantas cuidadosamente dispostas pelos cantos faziam dali um refúgio tranquilo. Serena chutou os sapatos, tirou o casaco e foi direto para o banheiro.

A água quente aliviou a tensão de seus músculos, mas não acalmou a sensação inquietante que persistia. Aquela fragrância ainda impregnava suas narinas, como se tivesse grudado nela de alguma forma.

Foi só quando se deitou na cama, envolta no cobertor macio, que sentiu seu corpo finalmente relaxar. Seus olhos se fecharam, e, por um momento, tudo pareceu normal.

Até o uivo ecoar na noite.

Serena se sentou de sobressalto, seu coração disparado. O som ressoou mais uma vez, profundo e carregado de uma emoção que ela não soube decifrar. Não era um uivo comum. Havia algo nele – algo que despertava um instinto primal dentro dela.

Levantou-se e foi até a janela, afastando a cortina com cuidado. Lá fora, a floresta que margeava sua rua parecia maior do que o normal, as sombras das árvores oscilando com o vento. Seus olhos percorreram a escuridão, buscando qualquer sinal de movimento.

Então, ela viu.

No limite da floresta, entre as sombras e a luz da lua, um par de olhos brilhantes a observava. Olhos prateados, penetrantes. Uma silhueta alta e robusta se destacava contra o fundo escuro, os músculos evidentes mesmo na forma humana. Um alfa.

Serena sentiu o ar sair de seus pulmões em um sopro curto. Ela não conhecia aquele homem, e, no entanto, algo nele fazia seu coração martelar contra o peito. Era o dono do cheiro que a perseguiu desde sua caminhada?

O estranho não se moveu. Apenas ficou ali, encarando-a, como se esperasse algo.

Seu lobo interior rosnou, inquieto.

E então, num piscar de olhos, ele desapareceu na escuridão.

O dia amanheceu com o cheiro da chuva pairando no ar, as nuvens ainda carregadas no horizonte. Serena despertou com a mente embaralhada, a lembrança dos olhos prateados ainda vívida em sua memória. Tinha sido real? Ou apenas um devaneio causado pelo cansaço?

Tentando afastar a sensação estranha, levantou-se e seguiu sua rotina matinal. O aroma forte de café preencheu sua pequena casa enquanto ela se sentava à mesa, distraída, rolando o feed do celular sem realmente absorver o conteúdo. Mas sua mente insistia em voltar à noite anterior.

Quando chegou ao escritório, ainda se sentia inquieta. O prédio era moderno e minimalista, com paredes de vidro que permitiam a entrada de luz natural. Seus colegas já estavam em suas mesas, imersos em projetos e conversas. Laura, sua colega mais próxima, percebeu seu olhar distante.

— Você está bem? — perguntou, franzindo o cenho. — Parece que viu um fantasma.

Serena hesitou antes de responder:

— Não é nada. Só não dormi muito bem.

Laura estreitou os olhos, mas não insistiu. Sabia que Serena não era do tipo que compartilhava suas preocupações com facilidade.

A manhã transcorreu sem grandes incidentes, até que, por volta do meio-dia, o cheiro voltou.

Aquele mesmo aroma amadeirado, agora mais intenso, invadiu seu espaço como uma tempestade. Serena congelou, sua respiração presa na garganta. E então, como se atraída por um ímã, seus olhos foram até a entrada do escritório.

Lá estava ele.

O homem da noite anterior.

Vestia uma camisa escura, dobrada nos antebraços, e calças jeans escuras que realçavam sua presença dominante. Seus cabelos eram negros como a noite, ligeiramente desgrenhados, e seus olhos prateados a prenderam no lugar.

Ele não desviou o olhar, atravessando a recepção sem hesitar, como se soubesse exatamente onde encontrá-la.

Serena engoliu em seco quando ele parou diante de sua mesa.

— Precisamos conversar — sua voz era baixa, firme, carregada de algo que a fez estremecer.

O coração de Serena disparou.

Ela não sabia quem ele era.

Mas tinha certeza de que sua vida jamais seria a mesma depois desse encontro.

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