Não esperava que esse ex-professor e agora apresentador se tornasse uma lenda da noite para o dia.Ele disse: — Deixamos o campo, deixamos nossa terra natal, nos mudamos para a cidade em busca de uma vida melhor, educação, saúde ou tantas outras coisas. Mas descobrimos, dolorosamente, que muitas vezes a cidade não acolhe nossa alma, e o campo já não abriga nosso corpo.— No fim, percebemos que não podemos voltar para casa, nem alcançar o distante.Ele não mencionou uma palavra sobre as laranjas, mas, de repente, as encomendas dispararam.Os internautas comentaram que não compraram as laranjas por recomendação dele, mas sim por saudade de suas raízes.Finalmente entendi por que Fábio me recomendou ele, é esse o poder das palavras.Para evitar problemas como atrasos na entrega ou frutas não tão frescas, organizei uma equipe da empresa para ficar no pomar do senhor, resolvendo qualquer problema rapidamente.Agora, o volume de pedidos ultrapassa a capacidade de trabalho da família do senho
Virei-me, seguindo a direção apontada por ele.Lá estava, não muito distante, um homem vestindo uma camisa branca. Ele usava um avental amarrado na cintura e, no rosto outrora atraente, havia uma leve barba por fazer.Após alguns anos sem vê-lo, Rodrigo parecia bem mais envelhecido, como se a vida tivesse suavizado suas arestas. Não parecia mais um jovem prestes a completar trinta anos, mas alguém que já havia sentido o peso das experiências.Quando Rodrigo me avistou, ficou claramente paralisado.Eu sabia que ele havia me reconhecido.Ele se aproximou, com passos um tanto vacilantes.Fábio sussurrou para mim que aquilo era consequência de um acidente de carro que Rodrigo sofreu anos atrás, e que não recebeu tratamento adequado na época.Ele cumprimentou Fábio naturalmente e, em seguida, voltou sua atenção para mim.— Yolanda, quanto tempo.Inclinei a cabeça levemente, esboçando um sorriso: — Quanto tempo, Rodrigo.— Você mudou muito, quase não te reconheci.Eu sabia que ele dizia por
Eu estava a todo vapor nos preparativos para o casamento quando minha mãe me deu a notícia:Rodrigo tinha se suicidado.A tragédia aconteceu numa noite silenciosa.Os gritos de desespero dos pais dele eram de partir o coração.Meu pai vestiu-se rapidamente e foi até lá, preocupado que algo pudesse acontecer aos dois velhos, já que não havia ninguém para cuidar deles.Na mesa de Rodrigo, havia uma carta de despedida que dizia: — Se eu pudesse começar tudo de novo, seria tão bom.Se Rodrigo teve uma segunda chance, isso não me interessou.Só sabia que uma pessoa tão egoísta como ele não teria uma vida perfeita, não importava quantas vezes recomeçasse.A vida era naturalmente cheia de arrependimentos, mas ele sempre culpou os outros por seus erros.Pessoas assim estavam destinadas a nunca encontrar a felicidade.Logo depois, os pais dele se mudaram da casa ao lado da minha, deixando a grande mansão completamente vazia.Meu casamento aconteceu como planejado, no dia de Natal.Esse dia tamb
— Ei, me passa o contato do Rodrigo.Mariana cutucou meu braço.Na sala de aula, a sombra de um garoto se destacava pela janela.Era Rodrigo, com 17 anos.Eu voltei a mim, ofegante, com a mão no peito.— O que houve?Quem me cutucava era minha colega de classe, Mariana, que havia chegado há uma semana e já fora eleita a mais bonita da escola.Na vida passada, ela também me abordou assim, confiante e atrevida: — Me passa o contato dele, em uma semana ele é meu.Naquela época, achei que ela estava se gabando.Mas naquela mesma noite, vi Mariana sentada na mesa, beijando Rodrigo.A estátua de gesso que devia estar sobre a mesa caiu e se quebrou em pedaços.Eu renasci!Voltei para a época em que nada havia acontecido.Minhas unhas se cravaram na palma da mão enquanto eu tentava controlar a voz trêmula.— Tudo bem, vou te passar o contato dele.Na vida anterior, não passei o contato e Mariana guardou rancor por muito tempo.Depois de uma breve operação no celular, eu disse: — Pronto, precis
"Essa jornada, sem dúvida, é difícil, mas não importa o quanto, estou disposta a tentar. Eu acredito que posso conseguir!" Eu pensei na mente.Ouvi Mariana se gabando para alguém.— Ah, por favor, Rodrigo é superestimado. Na verdade, ele não entende nada, é só um bobão com pincéis.— Vamos ser sinceros, se ele não tivesse participado de tantos concursos, se não tivesse nome, se não fosse bonito, quem iria querer sair com ele?Uma colega comentou: — Ah, Mariana, até para se gabar tem que ser realista. Ele é um gênio, acha que ele te nota? Ele só está interessado porque você é a cara da escola, é só um passa-tempo.Mariana deu uma risada: — Vocês estão com inveja. Mesmo que ele seja um gênio, posso facilmente conquistá-lo.— Querem prova de que ele não está de brincadeira comigo? Só esperar para ver.A colega disse: — Ouvi dizer que ele vai participar de um concurso internacional de pintura. Se você é tão boa, por que não impede ele de ir?Eu estava sentada ao lado dela.E eu sabia que o
Ofélia entrou na sala com a professora responsável, seu rosto carregando uma expressão fria e séria.— Quem é Mariana?Ela lançou um olhar afiado por toda a sala, e ninguém ousou dizer uma palavra.Mariana, que estava sentada ao meu lado, franziu a testa, rapidamente digitou algo em seu celular que estava embaixo da mesa, e então se levantou com calma.— Sou eu. E a senhora é?Ofélia, com as sobrancelhas finas e compridas franzidas, examinou Mariana de cima a baixo.O rosto de Mariana começou a corar, e ela parecia um pouco perdida.— Então é você, que está namorando meu filho todo dia e o levando para se meter em confusão?Mariana instintivamente quis negar, mas antes que pudesse falar, Ofélia lhe deu um tapa.— Essas suas manhas eu sugiro que você guarde, comigo não funcionam. Você acha que eu não sei quais são seus planos?— Tão jovem, mas com tantas artimanhas!O rosto bonito e marcante de Mariana ficou com a marca vermelha dos cinco dedos.Ela olhou incrédula para Ofélia e gritou:
Eu não dava a mínima para todo o resto. Passei todo o meu tempo resolvendo exercícios. Quando não sabia algo, perguntava à professora. Meus pais até contrataram um tutor para mim, e depois das aulas, focava especialmente nas matérias em que eu era mais fraco.Após o segundo simuladão, minhas notas subiram vertiginosamente e cheguei a ficar entre os dez melhores da escola.A professora me chamou para ir ao escritório dela. Ela deu um tapinha forte no meu ombro, e o orgulho em seu rosto era incontestável.Logo depois, ela ficou com uma expressão de pena.— O Rodrigo sempre foi muito próximo de você, uma pena.Outra professora, com um tom de frustração, comentou: — Era um ótimo aluno, mas aquela Mariana, sem estudar, ainda arrasta bons alunos com ela.Saí em silêncio do escritório e, ao passar pelo corredor, vi Rodrigo e Mariana compartilhando um cigarro.Mariana soltava a fumaça com cheiro de laranja no rosto de Rodrigo e, em seguida, o beijava, antes de colocar o cigarro pela metade n
Rodrigo escolheu um caminho diferente nesta vida, permitindo-se cair no abismo. Eu não podia seguir o mesmo caminho, precisava lutar por meus sonhos e me elevar.Olhei ao redor, meus olhos já acostumados à escuridão prolongada, conseguindo distinguir os contornos da sala de equipamentos.A sala tinha apenas duas saídas: uma era a porta atrás de mim e a outra, uma pequena janela.O céu começava a escurecer e eu não podia mais perder tempo.Tateei até encontrar um bastão de beisebol e o usei para quebrar o vidro com força.O som da vidraça se partindo era estridente, mas a essa hora o campus estava deserto, então ninguém notou.Subi lentamente pela moldura da janela, sentindo a cabeça girar.A sala de equipamentos ficava no segundo andar, e lá embaixo só havia concreto, nem sinal de grama.Sentada no parapeito, quase chorei de frustração. Se houvesse um gramado, eu poderia pular sem grandes consequências...Tentei chamar por ajuda, mas não havia ninguém por perto. Nesse momento, não pu