Capítulo 4
Eu não dava a mínima para todo o resto.

Passei todo o meu tempo resolvendo exercícios.

Quando não sabia algo, perguntava à professora. Meus pais até contrataram um tutor para mim, e depois das aulas, focava especialmente nas matérias em que eu era mais fraco.

Após o segundo simuladão, minhas notas subiram vertiginosamente e cheguei a ficar entre os dez melhores da escola.

A professora me chamou para ir ao escritório dela. Ela deu um tapinha forte no meu ombro, e o orgulho em seu rosto era incontestável.

Logo depois, ela ficou com uma expressão de pena.

— O Rodrigo sempre foi muito próximo de você, uma pena.

Outra professora, com um tom de frustração, comentou: — Era um ótimo aluno, mas aquela Mariana, sem estudar, ainda arrasta bons alunos com ela.

Saí em silêncio do escritório e, ao passar pelo corredor, vi Rodrigo e Mariana compartilhando um cigarro.

Mariana soltava a fumaça com cheiro de laranja no rosto de Rodrigo e, em seguida, o beijava, antes de colocar o cigarro pela metade na boca dele.

Rodrigo parecia acostumado com as provocações de Mariana e começou a fumar com habilidade.

Ele não estava usando a camisa branca que sempre usava, mas sim uma camiseta com estampas exageradas, igual à de Mariana.

Quando Mariana me viu, deu uma cotovelada em Rodrigo e fez um gesto com o queixo na minha direção.

— Olha só, a sua amiguinha de infância. Não vai dar um oi? Agora ela é uma das dez melhores da escola.

Rodrigo lançou-me um olhar que parecia desconhecido, como se nunca tivéssemos nos conhecido.

Ele murmurou duas palavras com desdém: — Sem graça!

Mariana riu alto.

Desde que os pais do Rodrigo pararam de cuidar dele, ele se soltou completamente.

Alguns dias atrás, ele até brigou com um valentão da escola.

Esse homem era ex-namorado da Mariana e, ao ver os dois juntos, não resistiu a provocar.

Mariana não deixou barato e instigou Rodrigo a enfrentar o rapaz.

Rodrigo, obediente, quebrou o nariz do cara com um soco.

Ofélia veio pela segunda vez à nossa escola.

Aquela mulher rica e elegante teve que se rebaixar, pedindo desculpas aos professores e pais.

Rodrigo ficou ao lado, segurando firme a mão de Mariana, sem dizer uma palavra.

Ofélia estava tão furiosa que não conseguia falar.

A professora, não aguentando mais, repreendeu Rodrigo.

— Rodrigo, olha para você agora. Você era um garoto tão promissor. Como pôde se tornar tão irracional?

— Embora sua família seja abastada, seus pais não poderão te proteger para sempre.

— Para piorar, se você quer namorar, por que não escolhe uma garota decente? Você conhece a Yolanda desde criança. Por que não fica com ela, ao invés de...

Ela parou de falar, olhando para Mariana, que mascava chiclete sem se importar.

Frustrada, soltou uma última advertência: — Rodrigo, você está sendo irresponsável consigo mesmo!

Rodrigo levantou a cabeça e, com ironia, respondeu: — Como a Yolanda pode ser melhor que a Mariana?!

A professora bateu com força na mesa: — A Yolanda agora é a terceira da classe, entre os dez melhores da escola. Como ela não pode ser melhor que a Mariana?

Rodrigo, com uma expressão impassível, rebateu: — É só um nerd que só sabe estudar, sem graça nenhuma.

— Pois é, professora!— Mariana riu enquanto se agarrava ao braço de Rodrigo: — Se a gente não enlouquecer na juventude, como é que vai chamar de juventude?

Rodrigo franziu a testa com irritação.

— E mais, vocês podem parar de me ligar à Yolanda? A gente não tem nada a ver...

Ele parou de falar quando se deparou comigo entrando com um caderno de exercícios nas mãos.

Na verdade, eu já estava lá há algum tempo, e tinha escutado boa parte da conversa.

Eu só entrei agora porque a aula estava prestes a começar.

Em silêncio, coloquei o caderno na mesa da professora, e disse: — Professora, vou voltar para a aula.

Cumprimentei Ofélia, sem dar um único olhar a mais para Rodrigo e Mariana.

Ele tinha razão.

A gente realmente não tinha nada a ver.

A gente só tinha passado os primeiros anos da vida juntos por acaso, porque morávamos lado a lado nessa cidade enorme.

Rodrigo e eu éramos amigos de infância, nascemos praticamente no mesmo instante e no mesmo hospital, e nossas mães dividiram o mesmo quarto.

Desde que abrimos os olhos para o mundo, estivemos juntos.

Nossas vidas sempre seguiram trilhas quase idênticas.

Íamos juntos para casa depois da escola, fazíamos os deveres lado a lado, eu vivia na casa dele e ele na minha.

Ofélia sempre levava suas novas criações de vestidos para minha mãe provar, e Wilson convidava meu pai para degustar novos grãos de café.

Ofélia sempre fazia piada, segurando minha mão, dizendo que eu devia virar nora dela.

Eu sempre me escondia atrás da minha mãe, com o rosto corado, negando baixinho, mas no fundo, gostava da ideia.

Quem não gostaria de Rodrigo?

Ele me levava na garupa da bicicleta durante o verão, o vento levantando sua camisa branca e trazendo um cheiro bom.

Ele sempre me protegia quando alguém tentava me intimidar.

À noite, ele escalava a janela do meu quarto para me trazer presentes.

Lembrava de uma noite, sob a luz suave da lua, ele deitado na minha cama, perguntando:

— Yolanda, para qual universidade você quer ir?

Fiquei um pouco envergonhada, sem querer responder diretamente: — Ainda não pensei nisso, e você?

Ele se virou, olhando para mim com seriedade, seus olhos brilhando de alegria.

— Quero tentar a Universidade Nacional das Artes, e se puder, quero estudar na Academia de Belas Artes de Florença. Meu sonho é me tornar o maior pintor do mundo.

Olhei para aqueles olhos cheios de estrelas, e meu coração perdeu algumas batidas.

— Você é incrível, com certeza vai conseguir, mas eu não sei se posso.

Rodrigo segurou minha mão, sorrindo com os olhos brilhantes: — Então vou te esperar, Yolanda, a gente tem que ir para a universidade juntos.

Eu não tinha um objetivo claro sobre qual universidade frequentar, mas desde aquele dia, a Universidade Nacional das Artes ou a Academia de Belas Artes de Florença se tornou meu alvo.

Sempre achei que, no verão em que fizéssemos dezoito anos, entraríamos juntos na universidade.

Até que Mariana apareceu e quebrou tudo isso.

Voltei para a sala de aula, mergulhando novamente no mar de exercícios.

Ao chegar em casa, encontrei Ofélia sentada na sala de estar.

Seus olhos estavam vermelhos e inchados, com vestígios de lágrimas nos cantos, enquanto minha mãe a consolava, suspirando.

Ao me ver, os olhos de Ofélia brilharam um pouco mais.

Ela segurou minha mão: — Yolanda, você pode tentar convencer o Rodrigo? Ele sempre te ouvia.

Eu sorri amargamente e balancei a cabeça: — Temo que ele não vá me ouvir agora. Faz tempo que não conseguimos ter uma conversa.

Ofélia engasgou com emoção: — Mas... mas eu realmente não tenho mais o que fazer. Já tentei de tudo, já gritei, já o tranquei em casa, e ele ameaçou se machucar. Estou desesperada. Aquela garota, eu investiguei, é uma má influência. Se continuar assim, o Rodrigo realmente será arruinado por ela. Nada do que eu diga ele escuta. Por favor, estou te pedindo, me ajude, você pode falar com ele?

Diante do olhar desesperado dela, não consegui ser insensível.

Acabei concordando.

— Está bem, eu vou tentar, mas não posso prometer que ele vai me ouvir.

Pela bondade que Ofélia sempre teve comigo, no dia seguinte, depois da aula, fui encontrar Rodrigo.

— Rodrigo, podemos conversar?

Eu realmente não queria me aproximar muito, então mantive uma distância de três passos.

Rodrigo me olhou com impaciência: — O que você quer?

Fui direta ao ponto: — Sua mãe pediu para eu conversar com você. Rodrigo, por consideração a ela, vou te dar um conselho: eles não estão contra você namorar, mas o vestibular está chegando. Aguente um pouco, depois do vestibular, ninguém vai te impedir de namorar.

Rodrigo deu uma risada sarcástica: — Yolanda, desde quando você começou a repetir as mesmas frases que eles? Minha vida não é da sua conta.

Minha testa pulsou, e muitas vezes me questionei se eu estava cega por algum dia ter gostado dele.

— Fica por sua conta pensar sobre isso.

Virei-me para ir embora.

Mariana surgiu de trás de Rodrigo, segurando seu braço como se estivesse reivindicando território, e me olhou com desconfiança.

— Yolanda, você não está usando a mãe dele com desculpa para tentar nos separar, está?

Havia uma malícia clara nos olhos dela: — Você gosta do Rodrigo, não é?

A voz dela era alta, atraindo a atenção de muitos colegas ao redor.

Se eu ainda fosse aquela garota ingênua de antes, teria ficado apavorada e sem palavras.

Mas, infelizmente para ela, não sou mais assim!

Virei-me rapidamente para sair, como se estivesse me afastando de algo indesejado, e disse em voz alta: — Lixo combina com cachorro, juntos para sempre, vocês dois são perfeitos um para o outro. Não afetem outras pessoas!

Mariana avançou para me agredir, mas Rodrigo a segurou.

Desde então, Mariana começou a me importunar constantemente, e eu estava cansada disso.

Até me arrependi de ter provocado Mariana naquele dia.

Agora estava presa a essa louca, sem conseguir me livrar.

Por sorte, surgiu uma competição de matemática, e a professora decidiu me inscrever.

Eu valorizava muito essa competição, pois, se conseguisse um bom resultado, talvez pudesse disputar uma vaga de bolsa de estudos na escola.

Na véspera da competição, Rodrigo me enviou uma mensagem.

[Yolanda, Mariana realmente passou dos limites ultimamente, e eu peço desculpas por ela.

Precisamos conversar. Tenho algo a lhe dizer.]

De repente, lembrei-me do que ele disse quando foi levado ao hospital, e uma ideia assustadora me veio à cabeça.

Eu precisava encontrá-lo para confirmar.

Ele marcou para nos encontrarmos na sala de materiais, ao entardecer.

O lugar era pequeno, com apenas uma janela deixando entrar a luz do pôr do sol, enquanto o resto da sala estava mergulhado em sombras.

De repente, senti que algo estava errado e comecei a recuar para a porta.

— Rodrigo, onde você está?

Logo antes de sair da sala de materiais, a porta se fechou abruptamente do lado de fora.

Um suor frio escorreu pelas minhas costas enquanto eu corria para bater na porta.

— Não tranca, abre a porta...

— Tem alguém aqui dentro, abre a porta!

Mas o silêncio do lado de fora era total.

De repente, percebi que tudo isso era uma armadilha montada por Rodrigo.

Ele estava irritado achando que eu me intrometia demais, ainda mais depois de eu ter falado mal de algo tão precioso para ele. Ele queria me dar uma lição.

Dei um soco no portão de ferro e não pude evitar rir de mim mesma.

Por que eu precisava de confirmação? Como pude esquecer que quanto mais você sabe, mais rápido você se complica?

Escorreguei até sentar no chão, encostada no portão, abraçando-me com força.

Amanhã teria uma competição de matemática, e se eu faltasse, perderia definitivamente a chance de ganhar uma vaga especial na universidade.

Mas esperar alguém vir abrir o portão já não era mais uma opção.

Enxuguei o canto dos olhos e decidi me recompor.
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