Capítulo 5
Rodrigo escolheu um caminho diferente nesta vida, permitindo-se cair no abismo.

Eu não podia seguir o mesmo caminho, precisava lutar por meus sonhos e me elevar.

Olhei ao redor, meus olhos já acostumados à escuridão prolongada, conseguindo distinguir os contornos da sala de equipamentos.

A sala tinha apenas duas saídas: uma era a porta atrás de mim e a outra, uma pequena janela.

O céu começava a escurecer e eu não podia mais perder tempo.

Tateei até encontrar um bastão de beisebol e o usei para quebrar o vidro com força.

O som da vidraça se partindo era estridente, mas a essa hora o campus estava deserto, então ninguém notou.

Subi lentamente pela moldura da janela, sentindo a cabeça girar.

A sala de equipamentos ficava no segundo andar, e lá embaixo só havia concreto, nem sinal de grama.

Sentada no parapeito, quase chorei de frustração. Se houvesse um gramado, eu poderia pular sem grandes consequências...

Tentei chamar por ajuda, mas não havia ninguém por perto.

Nesse momento, não pude evitar amaldiçoar Rodrigo umas oitocentas vezes.

O que eu queria mesmo entender era por que Rodrigo, alguém com quem cresci, sempre foi tão implacável comigo.

Se ele fosse um estranho, eu não ficaria tão magoada.

Mas ele costumava ser tão bom para mim.

Aquele garoto que me protegia e prometia cuidar de mim para sempre agora era o mais cruel de todos.

Era tudo por causa da pessoa que ele amava?

Mas eu não fiz nada contra essa pessoa.

Suspirei. Não adiantava remoer essas questões agora; eu precisava sair dali, ou não chegaria a tempo para a competição do dia seguinte.

Desci da janela, procurei uma corda na sala e amarrei-a na minha cintura, fixando a outra ponta em uma prateleira.

Depois de tudo pronto, subi novamente na janela, reuni coragem, fechei os olhos e pulei.

Não consegui chegar à competição no dia seguinte.

Tive muita má sorte; a corda estava velha e não suportou meu peso, rompendo-se no instante em que pulei.

Caí no chão, quebrei a perna e desmaiei na hora.

Na manhã seguinte, um professor que chegou cedo me encontrou e, assustado, ligou imediatamente para o resgate, que me levou para o hospital.

A professora da turma veio me visitar e balançou a cabeça com pesar.

— Suas notas eram boas, você poderia ter uma chance. As questões não estavam difíceis.

— Não fique desanimada, prepare-se bem para o vestibular. Com sua capacidade, você conseguirá entrar em uma boa universidade mesmo sem a competição.

As palavras dela não me confortaram, eu apenas encarava o teto, sem expressão.

Meus pais enxugavam as lágrimas, comovidos.

Rodrigo foi trazido pelos pais para pedir desculpas ao meu lado. Ofélia, sempre tão gentil e sensata, agora parecia exausta e envelhecida.

— Foi um erro nosso, Yolanda.— Ela segurou minha mão, lágrimas caindo pesadamente — Se eu não tivesse pedido para você falar com ele, talvez você não tivesse sofrido tanto.

Rodrigo, ao ver minha perna pendurada, ficou nervoso, gaguejando.

— Yolanda, eu não pensei que isso fosse acontecer.

— Mariana disse que só queria te dar um susto e que te soltaria cedo, não atrapalharia seu exame.

Eu tinha certeza de que ele estava apenas arranjando uma desculpa para Mariana na frente dos nossos pais.

Talvez o verdadeiro Rodrigo de dezessete anos gaguejasse assim, mas o Rodrigo da vida passada não faria isso.

Não o desmascarei.

Virei meus olhos ressecados para Rodrigo: — Então, você sabia o tempo todo que eu estava trancada pela Mariana?

Rodrigo não teve coragem de me encarar, assentindo em silêncio.

Dei uma risada amarga: — Então, porque eu fui falar com você, Mariana ficou irritada e você ajudou ela a se vingar de mim?

Rodrigo hesitou por um longo tempo, mas acabou confirmando com um aceno.

Minha mãe, não aguentando mais, começou a xingar Rodrigo.

— Rodrigo, pense bem, eu sempre te tratei como um filho. E realmente se importava com você. E agora, você acredita em tudo que aquela garota diz? Se ela realmente pretendia soltar Yolanda na manhã seguinte, por que Yolanda não foi descoberta até que o professor chegasse ao trabalho?

Yolanda sempre te viu como um irmão. Você pode se afastar dela por causa de uma garota sem importância, mas como pôde ajudar a prejudicá-la? Você sabe o quanto Yolanda se preparou para essa competição de matemática, o quanto ela se dedicou. Como você pôde fazer isso?

Minha mãe estava à beira das lágrimas.

Rodrigo ficou em silêncio por um longo tempo antes de pedir desculpas com uma voz rouca.

— Desculpa, Yolanda, mas eu juro... não queria te machucar.

De repente, senti um cansaço profundo. Não queria mais participar desse teatro com Rodrigo.

Também não queria vê-lo mais. Não era que eu não guardasse mágoas, mas estava em um momento crucial de mudança na minha vida e não tinha tempo para odiá-lo.

Além disso, sempre acreditei que ele iria se arrepender de se envolver com Mariana.

Fechei os olhos e disse: — Vá embora, Rodrigo.

— Vamos fingir que nunca nos conhecemos.

Depois daquele dia, nunca mais tive contato com Rodrigo.

Mesmo quando nos cruzávamos na escola e ele tentava falar algo, eu simplesmente o ignorava.

Mergulhei nos estudos de forma quase obsessiva, entre casa e escola, comprimindo todo o tempo possível para conseguir a melhor nota.

Rodrigo, por sua vez, se entregou completamente às loucuras, saindo todos os dias com Mariana para navegar na internet, beber, correr de carro e se beijar.

A juventude deles parecia um filme, cheia de loucura e liberdade.

E assim, eu e Rodrigo nos tornamos duas linhas paralelas que nunca se cruzariam.

O vestibular finalmente chegou.

Achei que ficaria nervosa, mas para minha surpresa, não fiquei.

Cada questão parecia familiar, como se eu já tivesse encontrado todas elas durante as noites de estudo.

Sobre esse vestibular, só posso dizer que dei o meu melhor.

Reviver essa juventude... não tenho arrependimentos.

Após o vestibular, voltei para casa e minha mãe estava ao celular.

Depois que desligou, balançou a cabeça com um suspiro.

— Ofélia acabou de me ligar. Disse que Rodrigo brigou com aquela menina na véspera do vestibular e ficou debaixo de chuva o dia inteiro. Na hora da prova, estava febril e deixou várias questões em branco. Acho que ele não vai passar dessa vez. Ofélia está com os olhos secos de tanto chorar, dizendo que não vai mais se importar com ele, que desistiu de vez.

De repente, me lembrei. Dias atrás, Rodrigo teve uma discussão com Mariana por causa do ex-namorado dela.

Naquele dia, estava chovendo, e Mariana saiu correndo, chorando.

Rodrigo foi atrás dela, correndo na chuva.

Como em uma novela romântica, eles discutiram, se abraçaram e se beijaram debaixo da chuva.

Minha mãe continuou a lamentar: — O que essa garota tem de tão especial? Parece até uma feiticeira, e como Rodrigo pode gostar tanto dela?

Não respondi.

Para ser sincera, também não sabia.

Talvez Rodrigo, cansado de uma vida sempre igual, tivesse se encantado por Mariana.

Ou talvez ele realmente a amou.

Mas, para mim, isso já não importava mais.

Após o vestibular, tirei meus óculos de armação preta, soltei a franja e comecei a aprender a me maquiar, trocando por um novo vestido.

A turma organizou um jantar de despedida para os professores.

Rodrigo apareceu com Mariana.

Mariana usava um conjunto caríssimo da última moda e uma maquiagem impecável, parecendo bem mais madura do que nossa idade.

Dessa vez, Rodrigo não estava com roupas extravagantes. Vestia uma camisa branca, talvez como uma forma de se despedir do ensino médio.

Ele tingiu o cabelo de loiro porque Mariana gosta dessa cor.

A professora, que não conseguia ver um ex-aluno promissor se tornar o que Rodrigo havia se tornado, logo se retirou.

O olhar de Rodrigo não saía de mim, surpreso com minha transformação.

Durante a pausa na competição de bebida, Mariana percebeu o olhar de Rodrigo e seu semblante imediatamente se fechou.

Nesse exato momento, minha colega de mesa olhou para Mariana com desdém: — Não é à toa que ela é a rainha da escola, toda vestida de grife...

Mariana ergueu as sobrancelhas, quase exibindo um sorriso de satisfação, quando ouviu minha colega continuar: — Quem não conhece, pode até achar que ela saiu de um daqueles clubes, porque esse monte de marca não consegue esconder o ar de vulgaridade.

A voz dela era tão alta que o silêncio tomou conta do ambiente.

Mariana adorava se exibir na escola; ela era bonita e tinha um namorado rico.

Mas suas notas eram um desastre e sua atitude não ajudava, então nenhuma das meninas da turma queria ser amiga dela.

— Eu estava me perguntando quem era, mas é só o cachorrinho da Yolanda, né? E aí, sua dona tá precisando de homem e te mandou pra atacar os outros? Ah, tem gente que é mesmo muito falsa, morrem de inveja e adoram fazer intriga pelas costas, mas nem coragem de aparecer têm.

Ela terminou, me encarando de forma desafiadora.

— Mariana, somos todos colegas, falar assim é demais.— Um colega ao lado, incomodado, lançou um olhar de reprovação para Mariana.

Mariana nem se deu ao trabalho de responder, mantendo o olhar fixo em mim.

Na última vez, Mariana me fez cair e machucar, o que me impediu de participar da competição de matemática, e por isso o diretor mandou que ela fizesse um pedido de desculpas em público.

Mariana se sentiu humilhada e desde então, tenta me prejudicar em qualquer oportunidade.

Minha colega de mesa, que não tem sangue de barata, se levantou na hora e rebateu: — Que piada! Quem é que tá de olho no seu namorado? Você pode achar o Rodrigo um tesouro, mas pra gente ele é o quê? Um pintor que não pode mais usar a mão, um herdeiro fracassado que nem passou na faculdade?

Rodrigo ouviu isso, e seu rosto ficou um tanto sombrio, ainda mais com os olhares dos colegas que pareciam assistir à cena como se fosse uma comédia, algo que o orgulhoso Rodrigo nunca suportaria.
Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP

Capítulos relacionados

Último capítulo

Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP