Ele cerrou os punhos, mas não reagiu imediatamente.

Mariana, ao perceber, rapidamente segurou o braço de Rodrigo, lançando um olhar desdenhoso para os colegas.

— Acho que vocês estão com inveja porque o Rodrigo é bonito. Mesmo que ele não possa mais pintar, com esse rosto lindo ele entra no mundo do entretenimento e ganha mais do que vocês, nerds pobres, jamais conseguiriam em toda a vida. E daí que vocês são bons alunos?

Eu realmente não sabia se chamava Mariana de ingênua ou tola, por conseguir ofender toda a turma em apenas algumas frases.

— Ah, vamos ver nosso ex-gênio ascender ao estrelato! — Disse um rapaz com sarcasmo.

Mariana ignorou completamente, olhou para mim com provocação e, em seguida, virou-se, pendurando as mãos no pescoço de Rodrigo.

— Rodrigo, me beija.

Rodrigo segurou os ombros dela, meio sem jeito, e tentou acalmá-la: — Para com isso, tem muita gente aqui.

Mariana soltou uma risada fria: — O que foi, está com medo? Ou é porque na frente da sua amiguinha de infância, você não consegue se soltar?

Franzi a testa, mas antes que eu pudesse dizer algo, Rodrigo se adiantou: — Do que você tá falando? Você sabe que entre mim e Yolanda não tem nada além de amizade.

— Antes não tinha, mas agora, seus olhos quase grudaram nela...

— Espera aí, vocês dois.— Não consegui me segurar e me levantei para interrompê-los.

— Escutem, hoje é um encontro de turma. Se vocês querem flertar, por favor, procurem um lugar mais reservado. Não precisa tornar essa reunião, possivelmente a última vez que estaremos todos juntos, em algo tão desagradável. E, por favor, deixem meu nome fora da briga de vocês. Isso é... bem nojento.

Essa última palavra incendiou a raiva de Mariana. Ela avançou até mim, apontando o dedo com fúria: — Para de fingir, não pense que não sei das suas intenções. Na sua coleção de problemas de matemática ainda tem a carta de amor que você escreveu para o Rodrigo. Você é a mais nojenta.

Carta de amor na coleção de problemas de matemática?

Depois que acordei para uma nova vida, eu queimei aquilo.

Então, Mariana já sabia disso desde cedo, quando eu ainda a considerava amiga na vida passada.

Era verdade, realmente existiam pessoas que roubaram o amor platônico dos amigos.

Eu tinha que admitir, na minha vida passada, eu fui bastante cega na escolha de amigos.

— O quê, não vai admitir? Yolanda, você é uma falsa. Sabe por que o Rodrigo gosta de mim e não de você? Porque você é assim, falsa.

Rodrigo franziu a testa, tentando puxá-la: — Já chega, Mariana, você está bêbada.

Mariana empurrou a mão de Rodrigo e continuou: — Porque você é tão falsa, sempre diz uma coisa e faz outra. Pegue aquele concurso de matemática, por exemplo. Se fosse comigo, eu teria me vingado. E você? Tentando bancar a santa? Você acha que assim o Rodrigo vai sentir culpa e voltar para você?

Todos os colegas assistiam em silêncio àquela cena, e Rodrigo realmente parecia envergonhado.

— Falando nisso.— Eu sorri, me aproximando de Mariana. — Na época, estava tão ocupada estudando que esqueci de revidar. Você me impediu de participar do concurso, me fez perder a vaga garantida. Essa você vai ter que aguentar.

E, com isso, dei um tapa forte no rosto de Mariana.

— Yolanda, você ousa me bater! — Mariana praticamente enlouqueceu, avançando para revidar.

Os colegas imediatamente se colocaram à minha frente, enquanto ela foi puxada por Rodrigo.

Olhei friamente para Mariana: — Mariana, é perfeitamente normal ter uma queda por alguém do sexo oposto na adolescência, especialmente por alguém que foi tão bom para mim nos últimos anos.

— Mas eu nunca deixei esse sentimento afetar ele, nem a mim mesma. Minha consciência está limpa, então não tenho problema em falar sobre isso.

— Além disso, como Nara disse, nem todo mundo trata Rodrigo como um tesouro.

— O carinho dele, quanto vale?

O sorriso de Rodrigo desapareceu, e seus olhos transpareciam uma emoção complexa que eu não conseguia decifrar.

Terminei meu discurso, levantei um brinde com suco aos colegas e disse: — Desculpem-me, pessoal, mas vou nessa.

Essa situação deixaria qualquer um enojado, e algumas das minhas amigas se levantaram indignadas: — Que gente desprezível, Yolanda, vamos com você.

Saímos do clube, mas como não morávamos no mesmo caminho, elas foram embora antes. Fiquei esperando o ônibus à beira da calçada.

A brisa da noite de verão ainda estava um pouco quente, mas era agradável.

De repente, ouvi passos atrás de mim; ao me virar, vi que era Rodrigo.

Ele deu uma tragada no cigarro: — Não se preocupe com o que Mariana disse antes. Ela é durona por fora e mole por dentro, não estava te atacando de propósito.

Olhei para as luzes de neon à distância e, de repente, me dei conta de como a cidade era grande e de como eu era insignificante, como uma formiga.

Percebi que há um vasto mundo à minha espera, e perder tempo com essas pessoas mesquinhas era um desperdício.

— Rodrigo, vou te contar um segredo, embora não seja realmente um segredo. Eu realmente gostei de você.

Antes que Rodrigo pudesse responder, continuei: — Mas depois percebi que você não vale a pena. Gostar de você foi um erro meu.

— E sempre quis te perguntar: você é feliz com a Mariana?

Rodrigo me olhou, surpreso, mas logo respondeu com convicção: — Você... você também renasceu?!

Não tentei esconder e apenas confirmei: — Sim, renasci. Naquela noite em que você cortou os pulsos e foi levado ao hospital, quando nos cruzamos e você me disse aquelas palavras, percebi que você também tinha renascido.

Rodrigo ficou em silêncio por um longo tempo antes de dizer: — Desculpe, na vida passada fui muito impulsivo e fiz coisas terríveis para você.

Olhei para ele. Ele já não era mais o jovem que eu lembrava, e a camisa branca que vestia parecia deslocada nele.

Fitei-o e disse pausadamente: — Se realmente quer se desculpar, então agarre a Mariana e pule da ponte agora. Se não puder fazer isso, então não diga que sente muito, pois não aceito.

Rodrigo pareceu pego de surpresa com minhas palavras e ficou ali, perplexo.

De repente sorri: — Estou só brincando, não vá realmente pular no mar com ela, pois isso me tornaria uma assassina e prejudicaria meu futuro.

— Fique tranquilo, não vou contar nada e não vou interferir no seu relacionamento com a Mariana. Ah, se soubesse o resultado na vida passada, jamais teria contado aos seus pais, para evitar que você me odiasse tanto.

Rodrigo abaixou a cabeça: — O que aconteceu antes foi minha culpa, mas quero deixar claro que não tem nada a ver com a Mariana, não guarde rancor dela.

Interrompi: — Rodrigo, espero que nunca mais tenhamos qualquer contato. Da próxima vez que nos encontrarmos, vamos agir como estranhos.

Eu realmente achei que ele estava arrependido pelas ações do passado.

Mas, para minha surpresa, ele estava mais preocupado em eu guardar rancor da Mariana.

Eu realmente o superestimei no passado.

Mariana saiu do clube correndo e nos viu conversando na calçada.

Ela gritou enquanto avançava, desferindo um tapa em Rodrigo.

— Rodrigo, mal eu viro as costas e você já está de rolo com essa vagabunda. O que é isso, quer terminar comigo e voltar a correr atrás da sua amiguinha de infância? Você não tem coração? Sabe que foi por sua causa que me reprovaram na escola de artes? Estou grávida e agora não posso ser uma estrela. Eu fiz tanto por você, é assim que você me retribui?

Olhei surpreso para Mariana.

Ela estava grávida?

O táxi chegou e, antes de entrar, uma ideia maliciosa me ocorreu.

Aproximei-me do ouvido de Mariana e disse, em um tom que tanto ela quanto Rodrigo pudessem ouvir: — Mariana, não vá a uma clínica clandestina para abortar, você pode morrer.

Assim que terminei de falar, abri a porta do carro e entrei rapidamente.

Temia que, se demorasse um pouco mais, algo ruim acontecesse com Mariana, e Rodrigo, esse louco, viesse atrás de mim para se vingar.

Ao recordar a expressão chocada no rosto de Mariana, comecei a rir com satisfação.