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Lua Nova: O velório

          Já havia se passado um mês desde que minha vó morreu, mesmo assim ainda não entendi qual era a do colar, mesmo assim mantive ele comigo 24 horas por dia.

          Mas as coisas estavam estranhas nesse dia, meu pai chega do trabalho, entra no escritório de casa e se tranca lá por horas. Minha mãe e eu ficamos muito preocupadas, mas não ousamos entrar lá.

          Quando chegou a hora do jantar, ele se sentou a mesa, mas estava com uma péssima expressão destacada no seu rosto, passou o jantar calado, assim que ele resolveu falar algo a notícia não era nada boa.

- Tenho notícias nada boas, tivemos uma perda recente. - ele encara as mãos que estavam apoiadas na mesa.

- Quem que morreu? - minha mãe pergunta espantada com a notícia.

- Um amigo. - ele suspira.

- Que amigo seria? - pergunto.

- Vocês não conhecem, mas ele era muito importante para mim.

- Você vai no velório? - minha mãe pergunta.

- Sim. - respondeu com uma cara muito triste.

- Quando será? - minha mãe fez outra pergunta.

- Amanhã, vocês poderiam ir comigo? - ele pergunta nos encarado.

- Sim, querido. - minha mãe afaga uma de suas mãos.

- Não gosto de velórios, mas já que é importante para você, eu vou. - digo.

- Por hoje eu quero ficar sozinho, a morte dele está sendo muito dolorosa. - ele deixa a mesa e segue de volta para seu escritório.

          No dia seguinte, minha mãe fez eu vestir um vestido preto totalmente sem estilo, ela disse que devíamos ter respeito pelo morto, e não era hora para eu seguir meu estilo maluco de me vestir. Minha mãe no entanto estava bem elegante como uma pessoa tipicamente americana, ela gostava de estar elegante em diversas situações, eu deveria ter dito que não era momento para a elegância dela só para implicar, mas o momento não estava muito bom para isso.

          Ficamos esperando na sala, até meu pai descer para nos levar ao velório, ele desceu de cabeça baixa e estava usando um terno normal, mas totalmente preto e uma espada embainhada, não entendi o motivo dele está com uma espada, mas não era hora de fazer muitas perguntas, decidi respeitar seu luto e não falamos nada durante o caminho inteiro até o velório.

          Quando chegamos lá tinha 5 homens de cada lado ajoelhados em volta de um caixão preto com uma coroa desenhada em cima e tinha um homem em pé na ponta do caixão nada convencional.

          Meu pai dirigiu-se ao caixão, ajoelhou-se em um espaço entre dois homens, ele começou a sussurrar palavras juntos com os outros estranhos, haviam algumas mulheres de cabeça baixa só que distantes, não conhecíamos ninguém ali, eu e minha mãe nos juntamos as outras mulheres e ficamos observando o que estava acontecendo, ficamos caladas e eu não pensava em mais nada a não ser no que estava acontecendo.

          Alguns minutos depois entrou um garoto, mas assim que eu o vi não dei atenção, só percebi que ele tinha uma expressão obscura no rosto, então desviei o olhar, e continue do jeito que eu estava por mais meia hora, foi quando eu não consegui mais ficar lá, estava passando mal, por algum motivo muito estranho meu estômago começou a embrulhar, então pedi para me deixarem esperar no carro e foi para onde eu segui.

          Fiquei no carro por uma hora escutando músicas para relaxar, assim que sai do local meu estômago havia melhorado, mas eu estava cansada, esgotada e querendo fechar meus olhos e ter um maravilhoso sonho que desde que minha vó morreu a um mês eu não consigo ter.

          Quase sempre ela aparecia nos sonhos, falava e falava, mas eu não consigo me lembrar o que ela falava, sonhava com um lugar maravilhoso, mas ela aparecia na minha cabeça com uma cara preocupada, outras vezes sonhava com ela mais jovem e as vezes sonhava até com as histórias sobre sua adolescência que ela me contava, sonhava com tudo detalhadamente, mas mesmo que o sonhos não fosse um pesadelo eu acordava a noite e tinha a impressão de escutar sussurros quando ainda estava meio inconsciente, tento volta a dormir, mas nada adianta, então fico acordada. Outras vezes eu sonhava com pesadelos onde minha vó morria e eu acordava em um susto, realmente a morte dela havia me afetado muito, mas não comentei com ninguém, não queria meus pais preocupados comigo por eu estar com problemas para dormir, eles já tinham seus próprios.

           Não demorou muito para que eu caísse no sono, mas dessa vez não sonhei nada relacionado com a minha ela, sonhei com meu pai, com ele escondendo algo de nós, achei que talvez tivesse sonhado aquilo, pois estava curiosa para saber o motivo pelo qual aquele velório era muito estranho.

- Cecília, acorda. - minha mãe estava me balançando pelo ombro.

- Estou acordada. - acordo assustada.

- Não sabia que estava tão cansada assim.

- Só um pouco, nós já vamos? - perguntei me recompondo.

- Sim, seu pai vai ficar, mas antes vai jogar uma água no rosto para tirar essa cara de sono, enquanto eu vou avisar para seu pai que vamos ir de carro.

- Já estou indo. - saio do carro.

- E não fale com ninguém, esse povo me parece muito estranho. - ela olhou ao redor.

- Ok. - saio a procura de um banheiro no local.

           O local era fechado, não tinha muitas janelas, e as que tinha não eram grandes, tinham um estilo medieval, paredes de pedra, uns objetos antigos que não havia reparado quando eu entrei, pensei em procurar o banheiro, havia muitos cômodos no local, mas eu poderia acabar entrando em algum lugar indesejado, então perguntei a uma mulher que estava passando por mim.

- Com licença, senhora, mas você sabe me dizer onde é o banheiro?

- Nesse corredor, na última porta a direita. - ela apontou com o dedo.

- Obrigada. - sorri para ela e fui até o local indicado.

           Felizmente não tinha ninguém lá, me apressei em jogar uma água no meu rosto para sair logo, estava me dando medo, muito medo, ia ficando cada vez mais estranho e com certeza meu pai teria que me dar uma explicação.

Fiz o mesmo caminho de volta para o carro, minha mãe já estava me esperando lá dentro, e estava apressada, deu para ver sua impaciência de longe.

- Vamos sair logo daqui. - ela disse assim que eu entrei.

- Você não sabe o que está acontecendo aqui?

- Não sei, seu pai é cheio de segredos, acho que pelo menos ele poderia ter avisado "Gente, vamos em um velório, em um lugar esquisito, com rituais mais esquisitos ainda e com pessoas que parecem ter saído de um filme de terror, mas não se preocupem ninguém lá morde!" - ela disse com raiva e eu não consegui evitar de dá uma risadinha.

- Realmente é muito estranho. - digo enquanto observo o lugar se distanciando.

- Você viu a cara daquele garoto que chegou depois? Parecia que ele estava pronto para matar alguém, não sei sobre outras pessoas, mas quando você perde alguém querido você fica triste e as vezes chorando, e não com um olhar matador.

- Nem reparei nele, na verdade preferi não reparar em nada para não sair correndo apavorada.

- Eu já estava apavorada, acredita que desde que chegamos até agora seu pai ainda está naquela posição?

- Sério? Mas eu gostei, meio sinistro, parece muito com algo medieval.

- Nem me fale isso, você pode não ter reparado em nada, mas aquele garoto reparou em você por alguns minutos, só espero que você nunca mais o veja.

- E eu espero que sim, não é todo dia que um cara sinistro em um lugar sinistros repara em você, a vó falaria para eu casar com ele. - brinco.

- Engraçadinha. - ela diz sarcasticamente.

- Mas com certeza ela falaria isso.

- Eu nunca entendi sua vó, ela teve um marido perfeito e aconselha mal os netos sobre relacionamentos.

- Eu com certeza não vou ter a mesma sorte que ela para essa coisas. - viro para a janela.

- Mas vai ser bem sucedida quando a empresa for sua e você tomará conta dela muito bem. - ela muda de assunto.

- Não quero falar sobre isso. - tento fugir do assunto.

- Você tem sorte, você vive bem, tem tudo que você quer, tem uma empresa que no futuro será sua, mas prefere querer passar seu futuro "se aventurando" sabe o que é uma aventura?

- Não sei. - dei de ombros.

- Ser bem sucedida, pensa que aventura boa seria essa.

- Hum. - concordei com a cabeça e ignorei todo o resto que ela dizia.

           Eu realmente não queria nada daquilo para mim, mas ela insistia como se por ser mãe ela sempre soubesse o que era melhor para mim, mas naquela situação a felicidade dela era a minha infelicidade.

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